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sábado, 24 de junho de 2017
Resenha Cinema: Mulher-Maravilha
Finalmente!!!!!
Desculpem abrir a resenha com um desabafo seguido de tantas exclamações, mas foi inevitável.
Especialmente porque esse desabafo se deu em duas frentes: Ontem eu finalmente consegui assistir Mulher-Maravilha após dar com a cara na porta do cinema não uma, não duas, mas quatro vezes!
Tantas que acabei me convencendo de que o ideal era esperar a febre passar, mais ou menos como ocorrera com Deadpool ano passado. Que eu aprenda a lição e compre ingressos antecipados da próxima vez.
O segundo desabafo é que finalmente a Warner/DC entregou um filme irretocável de super-herói, capaz de rivalizar com as produções do Universo Cinemático Marvel diante de qualquer fã de quadrinhos e de cinema, e não apenas dos fãs inveterados da DC.
Mulher-Maravilha é tudo o que os demais filmes do universo compartilhado DC não haviam sido, e eu digo isso nos sapatos de alguém que gostou de O Homem de Aço e que achou que, em algum lugar de Batman vs. Superman: A Origem da Justiça, há um bom filme arruinado por Lex Luthor e Apocalypse.
Mulher-Maravilha não incorre nos erros de nenhum desses filmes, e nem do desgraçado Esquadrão Suicida, e é acertado, redondinho, e cativante, de uma maneira toda sua.
O roteiro de Allan Heinberg (com história de Jason Fuchs e Zack Snyder) e a direção de Patty Jenkins pegam na veia ao não tentar transformar Mulher-Maravilha em uma história trágica, sombria e carrancuda como seus co-irmãos, mas em narrar um conto de esperança, otimismo e aprendizado.
No longa, após um breve interlúdio no presente, viajamos ao passado para conhecer as origens da Mulher-Maravilha.
Diana nasceu em Themyscira, uma ilha paradisíaca criada com o último sopro de vida de Zeus após ele travar guerra contra Ares e se ver exaurido de toda a sua força. A Ilha Paraíso foi um presente do maior dos deuses do Olimpo às Amazonas, uma raça mística de mulheres-guerreiras que inspiraram os homens e lutaram ao lado dos deuses contra a corrupção do deus da guerra.
Em Themyscira as amazonas mantinham guarda sobre a arma definitiva forjada por Zeus: A Matadora de Deuses, uma espada tão poderosa que poderia eliminar mesmo Ares.
Um idílio oculto dos mortais na Terra, sob o reinado de Hipólita (Connie Nielsen) a ilha permanece segura, com as amazonas treinando arduamente para a batalha da eventual volta de Ares. A única habitante proibida de tomar parte nos treinamentos era a pequena Diana (Lilly Apell), filha de Hipólita.
Ainda assim, ou talvez por isso, Diana era quem mais desejava participar dos treinamentos, especialmente sendo sobrinha de Antíope (Robin Wright), irmã de Hipólita e mais poderosa guerreira da ilha, que percebendo o desejo de Diana, aceita treiná-la em segredo.
Eventualmente Hipólita descobre o estratagema, mas ao invés de pôr fim aos treinos de ambas, ela concorda de maneira relutante, mas ordena que Antíope treine Diana de maneira mais severa do que qualquer outra amazona em toda a História de Themyscira, e assim é feito.
Conforme os anos passam, Diana (Gal Gadot) cresce para se tornar uma guerreira tão exímia que é capaz de igualar Antíope em perícia e superá-la em poder, algo que vem a calhar quando um avião pilotado pelo espião americano Steve Trevor (Chris Pine) cai próximo da Themyscira, inadvertidamente atraindo soldados alemães até a ilha.
A chegada de Trevor e dos alemães à morada das guerreiras interrompe o idílio das amazonas com a notícia da guerra. "Que guerra?" pergunta Diana. "A Guerra", responde Trevor, "A Guerra para acabar com todas as guerras".
Trata-se da Primeira Guerra Mundial, e Trevor é um espião a serviço da Inteligência Britânica que, durante uma missão, descobriu que o general alemão Ludendorff (Danny Houston) e sua química de confiança, doutora Isabel Maru (a gatinha Elena Anaya) estão trabalhando em um novo tipo de gás venenoso, uma versão tão potente do gás-mostarda que mesmo máscaras de gás serão insuficientes para proteger os soldados e civis que forem atacados com tal arma.
Trevor deseja voltar à Inglaterra e entregar essa informação ao alto-comando do exército britânico, mas Hipólita não está disposta a simplesmente libertá-lo. Diana, porém, reconhece um um conflito tão terrível, que está custando a vida de tantos inocentes, uma óbvia influência de Ares, o deus da guerra banido por Zeus. E, como a mais poderosa guerreira amazona, ela entende que é seu dever de nascença deter os planos pérfidos do deus caído.
Assim, Diana se arma com a Matadora de Deuses e parte para Londres junto com Trevor, para, juntos, irem ao encontro de Ludendorff e impedir seus planos de boicotar o armistício negociado pelas nações custe o que custar.
Como eu disse ali em cima: Mulher-Maravilha é um filme de super-herói irretocável.
Mais do que isso, é um bom filme independente de rótulos.
É interessante que, enquanto nos últimos anos as grandes histórias publicadas pela DC e algumas animações sempre tenham escolhido retratar a Mulher-Maravilha pelo seu viés de guerreira amazona fria e vingativa, o longa de Patty Jenkins tenha escolhido vê-la como uma jovem idealista e ingenua.
Isso faz maravilhas pelo filme, pois finalmente oferece à DC um personagem que é sorridente, otimista e poderoso, como o Superman de Henry Cavill poderia ter sido, mas não foi por conta do espetáculo de tristeza e caras amarradas de Batman vs. Superman.
O grande poder da Mulher-Maravilha não é sua impressionante proeza física, seu Laço da Verdade ou sua espada matadora de deuses, mas sua compaixão.
Talvez por isso tenha sido tão impostante ter uma mulher no comando do longa.
Patty Jenkins é capaz de entender os desejos e pensamentos de uma mulher de uma forma que Zack Snyder já deixou bastante claro que não consegue, e isso se reflete na forma como o longa é conduzido, e sua história narrada, carregada de uma sensibilidade que inexiste em outros filmes do gênero.
Não quer dizer que Mulher-Maravilha seja um "chick flick", porém.
Há excelentes cenas de ação, tanto estreladas pela protagonista (a sequência iniciada em Terra de Ninguém é de longe a melhor do filme, evocando o mesmo senso de assombro da primeira aparição do Superman em 1978, ou do Homem-Aranha em 2002) quanto pelas demais amazonas em Themyscira, aliás, maneiro ver mulheres com mais de quarenta anos caindo na porrada. Hollywood pode ser muito injusta com mulheres que ainda não têm idade pra fazer papel de avó e que são "velhas demais" pra papéis de destaque. Connie Nielsen, Robin Wright e companhia mostram quanta lenha têm pra queimar se lhes for dada a oportunidades.
Mas por mais que haja uma bela quantidade de pancadaria no longa, uma produção extremamente caprichada e uma trilha sonora bacana de Rupert Gregson-Williams (o tema da Mulher-Maravilha de Junkie XL ainda é a melhor música do longa) e uma fotografia lindona de Matthew Jensen, o longa pertence de fato, a Gal Gadot e Chris Pine.
Pine consegue se sair muito bem em um papel que tinha tudo pra ser o de "donzelo em perigo". Seu Steve Trevor tem profundidade emocional, uma ironia divertida, não é transformado em um borra-botas para que Diana possa brilhar e a química que ele compartilha com Gadot é absolutamente inegável.
Quanto à protagonista, é hora do meu "mea culpa".
Eu fui um dos muitos que esculhambaram a escalação da atriz israelense para o papel da maior heroína dos quadrinhos, criticando sua aparência, seu físico e seu talento.
Bem, Gadot pode continuar não tendo uma beleza das mais convencionais, e fica até esquisita em certos ângulos, mas ela sem sombra de dúvida abraçou a personagem de maneira convincente e quase comovente.
Ela consegue ser curiosa, piedosa, sincera e casca-grossa sem jamais soar forçada ou parecer estar interpretando personagens diferentes quando faz cada uma dessas coisas, a Mulher-Maravilha interpretada por ela é magnética, evocando um heroísmo clássico comparável ao de Christopher Reeve em Superman e de Chris Evans em Capitão América, que provavelmente era quem tinha chegado mais perto até aqui.
O resto do elenco não recebe a mesma atenção que o casal principal. Saïd Taghmaoui é falsário Sameer, Ewen Bremner é Charlie, um atirador de elite escocês, Eugene Brave Rock é Chefe, um índio americano contrabandeando bens para os dois lados da guerra em nome do lucro. Nenhum deles é particularmente desenvolvido, mas todos têm uma história passada que é abordada de maneira correta, Saleem queria ser ator, mas tem "a cor errada", Charlie é assombrado pelos horrores que presenciou na guerra, e Chefe vê uma guerra onde não está em nenhum dos lados como uma oportunidade financeira após ter sido derrotado em sua própria guerra contra o homem branco.
O discurso político permeia o longa através desses personagens tanto quanto de Diana, vista como incapaz por todos os homens poderosos que lhe cruzam o caminho, e o fato de os atores os interpretarem de maneira comprometida, ajuda a fazê-los mais memoráveis.
Não é, porém, o caso dos vilões. Tanto Ludendorff quando a Doutora Veneno são personagens rasos e unidimensionais, e seus planos genéricos de destruição global são quase sonolentos, existindo apenas para oferecer um alvo à fúria da Mulher-Maravilha. Nenhuma novidade para quem se acostumou aos filmes do universo Marvel, com vilões absolutamente esquecíveis em nove de cada dez filmes, e que não chega a causar danos irreversíveis ao longa da princesa das amazonas.
A despeito de suas pequenas falhas, Mulher-Maravilha é um ótimo filme de origem, equilibrando ação, comédia e romance em uma embalagem bela e colorida, embalada por boas atuações do elenco (que ainda tem David Thewlis, Lucy Davis e James Cosmo) e uma direção segura.
O Homem de Aço pode ter sido o início desse claudicante universo cinematográfico DC, mas a Mulher-Maravilha é quem dá o primeiro passo decidido na direção correta. Que seja o primeiro de muitos.
"-Não é sobre merecer. É sobre o que você acredita. E eu acredito no amor. Apenas o amor pode realmente salvar o mundo."
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Foi uma ótima decisão que Patty Jenkins dirigiu o filme desde que ela sabia como lidar com o personagem perfeitamente. Adicionado a isso, o talento de Gal Gadot fez o filme algo bom. Ela sempre surpreende com os seus papeis, pois se mete de cabeça nas suas atuações e contagia profundamente a todos com as suas emoções. Na minha opinião, este foi um dos mehores filme da mulher maravilha que foi lançado. O ritmo é bom e consegue nos prender desde o princípio. O papel que realizo em a Mulher Maravilha é uma das suas melhores atuações, a forma em que vão metendo os personagens e contando suas historias é única.
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