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segunda-feira, 5 de junho de 2017

Resenha DVD: Assassin's Creed


Assassin's Creed, o game da desenvolvedora franco canadense Ubisoft que deu um respiro aos games estilo sandbox antes de se perder em si própria alguns anos atrás era um jogo tão cinematográfico que, francamente, me surpreende que não tenha virado filme mais cedo.
O primeiro game, de 2008, narrava a história de Desmond Miles, um bartender que era sequestrado pelo conglomerado industrial Abstergo e colocado em um aparato tecnológico chamado Animus para reviver as memórias de um ancestral, o assassino Altaïr Ibn La-Ahad, que durante as cruzadas se envolveu em uma guerra contra os templários para proteger um artefato de grande poder chamado de Pomo do Éden.
O game misturava luta com espadas, parkour, escalada e investigação em um ambiente de mundo aberto e, a despeito de ser um bocado repetitivo, foi o embrião de uma bem-sucedida franquia que se estende por dez anos com, pelo menos, um título lançado anualmente.
Quando foi anunciado que o game viraria filme, eu não fiquei surpreso. Surpreso eu fiquei quando descobri que Michael Fassbender seria o produtor e protagonista do longa.
E quando descobri que ele seria dirigido por Justin Kurzel, de Macbeth: Ambição e Guerra.
Não me lembro ao certo o motivo pelo qual não fui assistir Assassin's Creed no cinema em janeiro. É possível que eu tenha refugado ante a negatividade das críticas, ou que eu simplesmente tenha resolvido deixar pra depois e procrastinei até o filme sair de cartaz já que em janeiro eu acho que só fui ao cinema duas ou três vezes.
No sábado, após duas semanas sem conseguir passar na locadora, apanhei logo três filmes, e um deles foi justamente a adaptação da série dos matadores que trabalham nas sombras para servir à luz.
O longa começa na Espanha, em 1492, com a iniciação de Aguilar de Nerha (Michael Fassbender) na melhor tradição dos games. Em um sombrio quartel da ordem, ele presta seu juramento, e abre mão de seu dedo anular para brandir a lâmina oculta dos assassinos.
Daí corta para os anos oitenta. O pequeno Callum Lynch (Angus Brown) tenta executar proezas com sua bicicleta, saltando entre contêineres e telhados, após algumas tentativas frustradas, ele chega em casa e descobre o corpo de sua mãe, morta à mesa. Ao lado dela, o pai do menino está parado, segurando uma lâmina ensanguentada junto ao pulso. Ele ordena ao menino que fuja conforme utilitários pretos começam a cercar a casa.
O menino obedece.
Estamos no presente. Callum , já adulto (e com a cara de Michael Fassbender) aguarda a injeção letal, pena à qual foi condenado por assassinato. Ele recebe a visita de um padre, e brinca com o fato de que será executado em seu aniversário.
Quando recebe a injeção, ele experimenta breves alucinações antes de perder os sentidos.
Mas Callum não está morto.
Ele desperta em uma instalação industrial, onde a doutora Sophia Rikkin (Marion Cotillard) lhe explica que ele está legalmente morto. Callum, recebe a explicação de que foi sequestrado pela Abstergo, e que em seu DNA está a chave para a localização de um artefato que contém a semente da desobediência do Homem. E que de posse de tal objeto, a Abstergo, empresa que serve de fachada aos modernos templários, poderá, finalmente, acabar com a violência e trazer paz ao mundo.
Callum é levado até um moderno aparato em forma de garra, e lá, é levado a reviver as memórias de seu ancestral, Aguilar de Nerha, assassino espanhol do Século XV, que durante a Inquisição Espanhola precisa impedir que Tomás de Torquemada use o filho do sultão Muhamad XII, príncipe Ahmed de Granada, como moeda de troca para obter o Pomo do Éden.
Callum, então, é exposto a sucessivas sessões no Animus, ao mesmo tempo em que descobre que a instalação para onde foi levado abriga vários outros como ele, pessoas que descendem de assassinos, tais como Moussa (Michael K. Williams), que descende de um envenenador vodu chamado Baptiste, e seu próprio pai (agora vivido por Brendam Gleeson), que tentam convencê-lo a sabotar a busca dos templários, que pode pôr fim ao credo dos Assassinos, e, mais do que isso, ao livre arbítrio da humanidade.
Mas será que Callum, cheio de ódio pelos assassinos por conta do destino de sua mãe, irá acreditar nas palavras dos membros da ordem, ou ele será seduzido por Sophia e seu pai, Allan Rikkin (Jeremy Irons) e entregar a arma definitiva à Ordem dos Templários?
Eu me lembro de, quando as peças todas foram reveladas a respeito de Assassin's Creed pensar que o longa provavelmente seria o filme de videogame a dar um passo além com relação ao bom Warcraft: O Primeiro Encontro de Dois Mundos.
Eu, de fato, imaginei que o longa, com grande elenco, bom diretor e uma fonte genuinamente cinematográfica tinha todas as peças para ser um divisor de águas para as adaptações de videogames para cinema.
Mas não.
Infelizmente Assassin's Creed não decola.
O longa esbarra no mesmo problema que tantas outras adaptações de games:
A ausência da ação mão-na-massa, da interatividade de ter o controle do protagonista nas mãos na hora do vamos ver.
Com isso, o longa se torna um festival de falatório expositivo entrecortado por sequências de ação que, por mais bem intencionadas que sejam, pouco têm a oferecer em termos de novidade, soando sempre requentadas.
Chega a ser incômodo ver Fassbender, Cotillard, Williams, Irons, Labed e Charlotte Rampling perdidos no meio do festival de métodos extravagantes de alcançar suas agendas sinistras que os personagens, todos porcamente construídos e emocionalmente rasos feito pires, vomitam constantemente.
Ninguém parece real, nós não ligamos para nenhum desses simulacros, porque tudo o que eles fazem é avançar a história e dispensar informação narrativa crucial pra manter a audiência mais ou menos inteirada do que está acontecendo, mas a verdade é que, o resultado final é tão embaraçoso que talvez fosse melhor não estar tão por dentro de tudo e poder dar ao filme o benefício da dúvida. "Talvez eu não tenha entendido essa parte, por isso não gostei...".
Não é o caso, porém.
Assassin's Creed não é denso ou complexo, sequer é hermético.
É apenas vazio.
Pena.

"-Onde outros homens seguem cegamente à verdade, lembre-se...
-Nada é verdadeiro.
-Onde outros homens são limitador por sua moralidade ou lei, lembre-se...
-Tudo é permitido.
-Nós trabalhamos nas sombras para servir à luz.
-Nós somos assassinos."

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