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segunda-feira, 5 de junho de 2017

Resenha DVD: Quatro Vidas de um Cachorro


Acredito que todo mundo tenha ficado cinte da celeuma que se formou em torno de Quatro Vidas de um Cachorro pouco antes do lançamento do filme, quando o site TMZ divulgou um vídeo onde um pastor alemão era coagido a saltar na água contra a sua vontade para uma cena do longa.
Houve divisão na opinião pública, com gente achando normal que, eventualmente o cão fosse obrigado a agir contra seus instintos durante as filmagens (sabemos que praticamente todos os cães domésticos são forçados a agir contra seus instintos todos os dias em maior ou menor grau), enquanto outras pessoas, e especialmente organizações de proteção animal exigiram até mesmo que o longa fosse embargado e boicotado por partidários dos direitos dos animais.
Seja como for, a má exposição pública não pareceu ter afetado a bilheteria do filme, que com orçamento de 22 milhões de dólares fez uma robusta carreira de 193 milhões de bilheterias.
Ontem eu resolvi, a despeito da celeuma, dar uma chance ao longa, agindo contra os meus instintos, haja vista que sou dono de cachorro e um rematado chorão no que tange a películas estreladas por animais.
O longa dirigido por Lasse Hallström, o mesmo miserável que me faz chorar até na academia com Sempre ao Seu Lado a partir do livro de W. Bruce Cameron adaptado pelo próprio mais Cathryn Michon, Audrey Wells, Maya Forbes e Wally Wolodarsky conta a história do cão Bailey a partir do ponto de vista do próprio, dublado por Josh Gad.
Um golden retriever vermelho que, nos anos sessenta, é adotado pelo garoto Ethan (Bryce Gheisar) após sua mãe (Juliet Rylance) resgatá-lo do carro onde ele estava trancado, Bailey é um cão inquieto e brincalhão, e não tarda a se tornar o melhor amigo do jovem Ethan, e a dor de cabeça do pai do menino, um sujeito que não chega a ser mau, mas tem disposições complicadas e um fraco pela bebida.
Alheio aos problemas ao seu redor, Bailey só se interessa em estar próximo de Ethan, o que ele faz com facilidade conforme o garoto cresce.
Já na adolescência de Ethan (agora com a cara de K. J. Apa), Bailey segue ao seu lado enquanto ele se torna um prodígio do futebol americano secundarista, e se apaixona pela gatinha Hannah (Britt Robertson), formando um triângulo amoroso asquerosamente fofo.
Nem tudo são flores na vida de Ethan, porém.
Na mesma noite em que consegue uma bolsa de estudos integral na universidade do Michigan, Ethan recebe uma visita perturbadora do pai bêbado, e entra em uma briga com um colega invejoso, fatos que culminam em uma pegadinha que acaba muito mal.
De uma só vez, Ethan vê seu futuro ser arrancado de suas mãos, e é durante seus anos mais sombrios que Bailey, já velhinho, morre, sem ver seu amigo ser feliz novamente.
O que Bailey não sabia, porém, é que estava destinado a retornar.
E o faz, dessa vez na pele da pastora alemã Ellie, que ainda filhote é colocada sob a tutela do policial da divisão K-9 Carlos (John Ortiz), um homem sério e solitário, mas bom e justo.
Ellie demora a cativar o policial, mas quando o faz, é de maneira total e inapelável. A ponto de Ellie estar disposta a morrer por Carlos.
Em seguida, é a hora de Ellie retornar como o corgi galês Tino, adotado pela solitária Maya (Kirby Howell-Baptiste), uma estudante com dificuldades de relação a quem Tino serve como única companhia por anos.
Os dois vão juntos à toda parte e dividem tudo, tendo apenas um ao outro, ao menos até Maya finalmente se abrir, e Tino ver-se parte de uma família muito maior e ainda mais feliz.
Mas a vida de um cão é fugaz, e não tarda para Tino cumprir sua jornada, e voltar como Buddy, uma mistura de São Bernardo e pastor australiano que tem o azar de ser adotado por uma garota volúvel que vive com um caipira desalmado.
Ele cresce amarrado num quintal cheio de entulho até finalmente ser abandonado numa rodovia.
De lá, ele vaga por lugares desconhecidos até finalmente chegar a um lugar familiar. Uma antiga fazenda que não parece ter mudado muito nos últimos quarenta e tantos anos, e o fazendeiro não é ninguém menos do que Ethan (agora Dennis Quaid).
Bailey percebe, então, que tem a oportunidade de reencontrar seu velho amigo, e ajudá-lo a ser feliz como não conseguira antes, uma oportunidade que ele não está disposto a deixar passar enquanto aprende qual o verdadeiro propósito de um cachorro.
Quatro Vidas de um Cachorro está numa descarada categoria de filmes que parecem planejados pra ordenhar lágrimas da audiência, e o faz ao transitar por todos os sub-gêneros de filmes caninos que existem, do cão policial ao cão que envelhece vendo a família crescer passando pelo cão que vaga pelo mundo sem entender o que se passa, está tudo lá, como assistir Meu Melhor Companheiro, K-9: Um Policial Bom pra Cachorro, Marley & Eu e Sempre ao Seu Lado em uma hora e quarenta minutos de choro copioso com eventuais sorrisos pelo caminho.
Lasse Hallström manja de cinema, tem uma assinatura visual linda e, em seus melhores momentos, joga com as emoções da audiência como se fosse o Homem-Psíquico, filmes como Gilbert Grape: Aprendiz de Sonhador e Regras da Vida são testemunho do talento do sueco, que aqui, usa seu repertório descaradamente para o mal.
Não me entenda errado.
Quatro Vidas de um Cachorro não é um filme diabolicamente ruim, não. Mas é manipulativo além da conta, e o roteiro é um exemplo claríssimo da bagunça narrativa que ocorre quando temos cinco pares de mãos enfiadas em uma receita.
Há diversas chances desperdiçadas na adaptação, exceto a de espremer um pouco mais de choro de quem está sentado diante da tela.
Ainda que não seja um grande filme, e tenha sua cota de problemas narrativos, Quatro Vidas de um Cachorro é uma boa pedida pra quem adora esses amigões peludos de quatro patas e não tem vergonha de chorar feito um desgraçado diante da TV.
Pra assistir com um lenço na mão.

"-Eu tinha um propósito. Eu era necessário de novo e de novo e de novo. E a cada nova vida eu aprendia uma nova lição."

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