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sábado, 29 de julho de 2017
Resenha Cinema: Dunkirk
Christopher Nolan é um diretor que polariza opiniões. Mesmo entre a nerdalhada, geralmente referida como o público cativo que endeusa o cineasta britânico, ele não é essa unanimidade toda, e já vi até fãs do Batman picharem sua interpretação do homem-morcego com um pé na realidade. Gosto, já dizia aquela velha que comia ranho, é muito pessoal, e eu me enquadro entre o público nerd que, se não endeusa Nolan, certamente o respeita e reverencia pelo cinema de qualidade que produz, seja na trilogia das trevas, seja em filmes como Amnésia, Interestelar e O Grande Truque.
O cinema de Christopher Nolan pode não ser perfeito, mas fala comigo enquanto audiência de cinema, e eu jamais deixei uma sala de cinema após assistir um filme de Christopher Nolan sentindo que meu tempo fora desperdiçado ou que eu fora enganado.
Muito antes pelo contrário.
É por isso que eu assisto aos filmes de Nolan no cinema, e ontem, com um dia de atraso, fui assistir a Dunkirk, longa que relata um episódio pouco referido da Segunda Guerra Mundial, a Operação Dynamo, quando o fronte francês sucumbiu ao avanço alemão no final de maio de 1940, e quase quatrocentos mil soldados ingleses ficaram presos na cidade portuária de Dunquerque (como chamamos em português), no norte da França, onde as instalações portuárias permitiam uma evacuação marítima.
Com a força aliada presa entre uma divisão de tanques panzer alemães e o mar, onde os submarinos U-Boat nazistas patrulhavam as águas, e aviões da Luftwaffe sobre a cabeça, a única esperança de voltar para a Inglaterra era uma evacuação milagrosa que o próprio alto-comando inglês considerava impossível, tanto que dos 400 mil homens em Dunquerque, o esperado era resgatar de 30 a 45 mil.
no longa escrito e dirigido por Nolan nós acompanhamos esse resgate através dos olhos de três grupos distintos de personagens, o do soldado Tommy (Fionn Whitehead), que vê todo o seu pelotão ser baleado nas ruas de Dunquerque e mal consegue chegar à praia onde o comandante Bolton (Kenneth Brannagh) e o coronel Winnant (James D'Arcy) organizam a evacuação que se torna cada vez mais complexa; o do civil Dawson (Mark Rylance) que com seu filho Peter (Tom Glynn-Carney) e o jovem George (Barry Keoghan) resolve pegar seu iate de lazer, o Moonstone, e tomar parte nos esforços de resgate, e do piloto Ferrier (Tom Hardy), um dos aviadores da RAF designados para combater os nazistas no céu para tentar impedir a destruição dos navios.
O longa não perde tempo. Após cartões informativos nos darem a ideia geral da situação, já somos jogados atrás de Tommy e no meio da ação literalmente no primeiro minuto de Dunkirk, o enxuto longa de uma hora e quarenta e seis minutos não está interessado em situar o espectador, pelo contrário, o esforço parece ser feito exatamente para que a audiência experimente a confusão e o pavor dos personagens na tela, e o cardápio de confusão e pavor é generoso. Seja a presença das metralhadoras nazistas, dos aviões, dos submarinos, seja o medo de espaços confinados, de se afogar, de altura... Está tudo lá, e Nolan e o cinematógrafo Hoyte Van Hoytema parecem engajados em fazer com que seja tudo o mais vívido e angustiante possível para mostrar a experiência ao espectador pelos olhos dos personagens.
Talvez por isso a maioria dos personagens não tenha nome (Eu só descobri que o personagem de Fionn Whitehead se chamava Tommy ao ver o cast no IMDB, a mesma coisa com o Alex vivido pelo One Direction Harry Styles ou o "soldado trêmulo" interpretado por Cillian Murphy), para que eles se tornem avatares de quem assiste ao filme e nós sintamos na pele o terror que eles sentem a cada nova presepada. Mesmo os diálogos, geralmente uma queixa nos filmes de Nolan que apostam na exposição verbal de tudo o tempo inteiro, são econômicos em Dunkirk, quase sovinas.
Há sequências inteiras de vários e vários minutos sem diálogos audíveis, e tomadas longas onde coisas acontecem simultaneamente e nós nos pegamos escolhendo onde focar enquanto as pessoas na tela lutam por suas vidas num exercício de individualidade que se sobrepõe aos indivíduos sem background ou nome na tela.
Se tudo isso te faz pensar que Dunkirk é um daqueles filmes emocionalmente estéreis que são quase como um passeio no zoológico, não se apoquente. Não é o caso.
Nem teria como ser em um longa que retrata um esforço civil de resgate de soldados através do Canal da Mancha que resultou na formação da mais audaciosa frota não-militar do Século XX, especialmente com um elenco cascudo como o que temos aqui.
Mark Rylance é ótimo como o senhor Dawson, com uma estranha mistura de fleuma e candura em sua pétrea resolução de ir até Dunquerque de qualquer forma ajudar no resgate, Cillian Murphy e seu "soldado trêmulo" são o retrato de um trauma e seu arco dramático é particularmente tocante junto com Tom Glynn-Carney e Barry Keoghan, Kenneth Brannagh mantém a boa média e Tom Hardy impressiona ao passar praticamente o filme inteiro de máscara e, com os olhos, mostrar mais do que muitos atores conseguem mostrar com o corpo inteiro (experiência prévia com o Bane, talvez).
Claro que Dunkirk tem seus problemas, a trilha sonora de Hans Zimmer, por exemplo, é ótima, mas por vezes parece algo invasiva, o anonimato intencional de diversos personagens pode não funcionar para todas as audiências, e a estrutura narrativa do longa, dividida em três segmentos, um deles iniciado uma semana antes da evacuação, o outro um dia antes e o terceiro uma hora antes, pode atrapalhar os mais desatentos (a galerinha pra quem a vida não existe fora da rede social e que não tira a fuça do telefone), mas ainda que tenha resultado em pequenas licenças poéticas do longa que, pra justificar o timing de certas sequências se sustenta numa percepção algo relativa do tempo, se sustenta quando as três culminam em um desfecho simultâneo que sozinho já valeria um ingresso.
E Dunkirk inteiro vale a ida ao cinema.
É um épico de guerra sem grandes arroubos, sem sequências de batalha como as de Até o Último Homem ou O Resgate do Soldado Ryan, mas tem sua própria voz, seu próprio ritmo, e conta uma história que merece ser contada, mesmo dramatizada.
Um dos melhores do ano. Assista no cinema.
"-E se esse for o preço pra voltar pra casa?
-Eu vou viver com isso, mas é errado."
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O filme foi incrível! Um dos mais interessantes do gênero. A verdade esse filme me surpreendeu. Na minha opinião, este foi um dos melhores filmes de ação que foi lançado o ano passado. O ritmo é bom e consegue nos prender desde o princípio. Eu assisti o Dunkirk filme completo e devo dizer que foi uma surpresa pra mim, já que foi uma historia muito criativa que usou elementos inovadores. Também teve protagonistas sólidos e um roteiro diferente. Muito bom. É uma historia que vale a pena ver.
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