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quinta-feira, 6 de julho de 2017
Resenha Cinema: Homem-Aranha: De Volta ao Lar
Pra mim, enquanto fã de quadrinhos, é muito difícil fazer certas coisas. Me despir de certas expectativas e de certas noções pré-concebidas de como determinado personagem funciona.
Por mais que eu seja capaz de relativizar a morte de R'as Al Ghul em Batman Begins, eu não consigo fazer o mesmo com relação à carnificina de Batman vs Superman (especialmente porque matar dúzias e capangas e manter os arqui-vilões vivos é uma burrice sem tamanho). Da mesma forma que eu fui capaz de relativizar o quase-autismo do Peter Parker e a infalibilidade do Homem-Aranha de Tobey Maguire, ou a forma como eu fui capaz de relativizar o skate de Andrew Garfield e as falhas do roteiro de O Espetacular-Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro, que segue sendo meu filme favorito do personagem (ainda que Homem-Aranha 2 seja o que eu considero o melhor filme do personagem).
Acredito que isso signifique que, no meu papel de fã, eu estou disposto a aceitar muitas coisas se for pra ver um retrato fiel do que torna o personagem único pra mim. Provavelmente enquanto fã do Homem-Aranha eu estava disposto a ver filmes que não eram tão bem construídos porque o Homem-Aranha nesses filmes (nominalmente os dois O Espetacular Homem-Aranha) era, de fato e de direito, o personagem que eu li nos quadrinhos, e não a interpretação de Sam Raimi para esse personagem.
A forma como o diretor de A Morte do Demônio via o Homem-Aranha era "um rapaz que não conseguia fazer nada dar certo em sua vida sendo o maior dos super-heróis".
É uma interpretação plausível, justa, mas que não me cativava como poderia porque eu sou incapaz de dissociar Peter e o Homem-Aranha da forma como os filmes de Sam Raimi faziam a maior parte do tempo. Eu não sou um completo analfabeto cinematográfico, porém. Eu sei que Homem-Aranha e Homem-Aranha 2 são dois filmes de super-herói muito acima da média, mas eu era capaz de reconhecer o Peter Parker/Homem-Aranha dos meus quadrinhos da infância nos dois problemáticos O Espetacular, de forma que são os filmes que acabaram me cativando mais, tanto que eu nutria esperança de ver o personagem na pele de Andrew Garfield no Universo Cinemático Marvel, o que, óbvio, jamais aconteceu.
Após flertar com Asa Butterfield a Marvel escolheu Tom Holland para viver o mais icônico herói da casa das ideias em Capitão-América: Guerra Civil, e o resto já sabemos.
Ontem, bom nerd que sou, estava sentado numa sala de cinema à meia-noite esperando para conferir o primeiro voo solo do terceiro Homem-Aranha de carne e osso do cinema, e tive sentimentos conflitantes com relação ao filme.
O longa abre imediatamente após a batalha entre os Vingadores e o exército Chitauri de Loki. O conflito destruiu boa parte de Manhattan, e uma operação de recolhimento de resíduos está tomando forma com a empresa de Adrian Toomes (Michael Keaton) preparada para meter a mão na massa e limpar as ruas de Nova York de toda a tralha alienígena que ficou espalhada após os Vingadores rechaçarem o exército de Loki. A operação, porém, dura pouco. Antes mesmo que a empresa de Toomes tenha a chance de começar o trabalho de fato, executivos surgem para informar que todo o trabalho de remoção de material alienígena exótico será realizado por uma ação conjunta entre o governo dos EUA e as indústrias Stark, de modo que o contrato de Adrian com a cidade de Nova York não tem jurisdição válida.
Vendo seu negócio ruir, Toomes e seus associados mais próximos, Phineas Mason (Michael Chernus), Jackson Bryce (Logan Marshall-Green) e Hermann Schultz (Bokeem Woodbine) tomam uma atitude drástica, e resolvem manter um carregamento de tralha alienígena para si próprios, e que se danem Stark e o governo.
Corta pra oito anos no futuro (um lapso temporal esquisito, eu sei. Vingadores é de 2012, e estamos em 2017, então eu acredito que alguém comeu bola na hora de colocar esses letreiros na tela, ou eu não estou suficientemente inteirado de como funciona a linha do tempo da Marvel no cinema), o jovem Peter Parker (Tom Holland) está em um carro junto com Happy Hogan (Jon Favreau) fazendo um vídeo-diário a respeito de sua missão ao lado de Tony Stark (Robert Downey Jr.) e companhia mostrando os bastidores do que vimos durante Gurra Civil.
Após a missão, Peter é deixado em casa por Tony e Happy, e descobre que o traje criado pelo Homem-de-Ferro, agora é seu, e que ele será avisado da próxima missão quando chegar o momento.
Os meses se passam sem que Peter receba nenhuma notícia de Happy, a quem ele envia constantes relatórios a respeito de suas atividades, que incluem impedir roubos, orientar velhinhas perdidas e aprender a usar as funcionalidades de seu uniforme (que à certa altura ganha a voz da lindona Jennifer Connely).
Peter mantém sua rotina tentando conciliar suas obrigações de estudante do colégio de ciências Midtown com seus anseios de se tornar um Vingador em tempo integral, ele anda com seu melhor amigo Ned Leeds (Jacob Batalon), ouve conselhos de sua tia May (Marisa Tomei), seca vergonhosamente sua paixonite escolar, Liz (Laura Harrier) enquanto lida com o constante assédio do bully Flash Thompson (Tony Revolori) e sonha em ganhar o respeito de Tony Stark, algo que imagina estar muito além de seu alcance já que está combatendo os mais rasteiros tipos de crime de Queens.
As coisas mudam de figura quando Peter impede um roubo a caixas eletrônicos promovido por uma gangue usando armamento de altíssima geração, vendo na gangue de negocia tais armamentos a chance de dar um salto na cadeia alimentar super-heroica, mas ao confrontar Shocker e o Abutre, Peter percebe que talvez tenha abocanhado mais do que pode mastigar, e precisará aprender muito se quiser dar o próximo passo na sua jornada de herói.
Como eu disse ali em cima, tenho sentimentos conflitantes com relação ao longa.
Acho que podemos sintetizar isso dizendo que eu gostei de diversos conceitos apresentados pelo filme, mas não gostei da execução de vários deles.
O principal ponto positivo do longa, pra mim, foi ver o Homem-Aranha fazendo um meio-campo entre os heróis mais urbanos e pé-no-chão da Marvel (nominalmente os Defensores da Netflix), e o lado mais fantástico e mágico desse universo. Por mais que nós jamais vejamos Tom Holland dividindo uma cena com Charlie Cox (o que é uma pena), essa ideia fica bastante clara na forma como o herói transita entre esses dois mundos, impedindo roubos de bicicleta e tráfico de armas, mas armas com tecnologia Chitauri, enquanto é tutoreado pelo Homem de Ferro.
Tom Holland faz um bom trabalho, seu Homem-Aranha é bem mais próximo da versão piadista e tagarela que Andrew Garfield emulou à perfeição, do que da versão inchada e quase-muda de Tobey Maguire, o visual é correto, embora eu deva dizer que simplesmente odiei o traje cheio de tecnologia criado por Stark, que de tão exagerado é deixado de fora do clímax do longa.
O Peter Parker de Holland é um adolescente na acepção da palavra, inseguro, impaciente, tomando más decisões, ele fica longe da versão considerada "descolada" por alguns dos fãs nos filmes de Marc Webb, mas não parece ter problemas cognitivos como a versão imortalizada por Sam Raimi, no que soa como um esforço pra agradar todo mundo. O ator inglês faz o possível para interpretar o personagem da mesma forma com e sem uniforme, e isso, por si só, já é um esforço digno de nota.
A ausência a origem do personagem é compreensível, já vimos essa história duas vezes nos últimos quinze anos, e o personagem já apareceu como super-herói em Guerra Civil, ainda assim, não se pode deixar de notar que, ao deixar de fora a morte de Ben Parker, o roteiro escrito a doze(!) mãos por Jonathan Goldstein, John Francis Daley, Jon Watts, Christopher Ford, Chris McKenna e Erik Sommers simplesmente abre mão de qualquer tipo de drama. O problema, aqui, é que ao fazê-lo, Homem-Aranha: De Volta ao Lar se torna um filme excessivamente adolescente no pior sentido da palavra, algo que acabamos sentindo com mais clareza porque já vimos o Homem-Aranha em muito melhor forma, fosse em filmes melhores ou interpretado de maneira mais interessante.
A direção de Jon Watts é tão estéril quanto a de qualquer outro filme da Marvel, os efeitos visuais se dividem entre OK e bons, a trilha sonora é esquecível, exceto pelo tema do desenhos dos anos sessenta revisitado por Michael Giacchino, que infelizmente aparece pouco no filme. As sequências de ação são OK, a melhor do filme, sem sombra de dúvida é a que se passa em Washington, mas tanto a cena da balsa quanto o clímax no avião são interessantes. Há boas piadas no filme, e outras nem tanto, e há ao menos uma cena pós-créditos mostrando o que o futuro reserva a Peter (são duas, uma na metade dos créditos e outra no final), e eu tenho certeza de que essa abordagem do personagem vai cair nas graças da geração que tornou Transformers uma franquia bilionária, e dos fãs neófitos que jamais abriram um quadrinho e que têm Tobey Maguire como o Homem-Aranha definitivo, mas pra alcançar o coração de um cabeça de teia veterano como eu sou, francamente, o filme precisava de mais do que oferece. Nem sequer uma boa cena fazendo referência direta a um dos mais marcantes momentos do Homem-Aranha nos quadrinhos dos anos 60 foi suficiente para me cativar, mas nós sabemos que o Homem-Aranha voltará, e terá outras chances para retornar aos píncaros que já alcançou.
Apesar dos problemas, porém, Homem-Aranha: De Volta ao Lar é um bom e despretensioso divertimento pra quem não cresceu com o personagem na cabeceira, e deve garantir duas horas e treze minutos de entretenimento.
"-Eu consigo fazer isso. Vamos Peter. Vamos Homem-Aranha."
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Realmente faz a diferença é a participação de Tom Holland e Zendaya neste filme, já que pela grande experiência que eles têm no meio da atuação fazem com que os seus trabalhos sejam impecáveis e sempre conseguem transmitir todas as suas emoções, inclusive aqui: HOMEM ARANHA DE VOLTA AO LAR vão passar na TV, por se acaso você não tenha visto, essa será uma excelente oportunidade e garanto que você não irá se arrepender.
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