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terça-feira, 31 de março de 2020

Resenha Série: Better Call Saul, Temporada 5, Episódio 7: JMM


A proposta bombástica de Kim no episódio passado de Better Call Saul havia ficado sem resposta, mas a primeira cena de JMM acaba com o suspense. Jimmy não estava pronto para deixar Kim e ficar apenas com os bons momentos que eles viveram juntos. Ele escolheu a alternativa.
O sétimo episódio da temporada começa com Jimmy e Kim preparando-se para assinar a papelada e oficializar o casamento qje, eles planejam, os colocará em um caminho de honestidade absoluta, protegida pelo cobertor da segurança jurídica que só o matrimônio pode oferecer.
O problema é que, de imediato, esse plano encara um obstáculo monumental:
A prisão de Jorge de Guzmán, também conhecido como Lalo Salamanca.
Lalo não apenas segue controlando sua organização criminosa de dentro da penitenciária (através de Ignazio), mas também não está disposto a permanecer enjaulado, e, para lutar em seu fronte no campo de batalha legal, ele convoca Saul Goodman.
Lalo demanda ser solto sob fiança, e garante a Saul que, se o advogado conseguir realizar essa magia legal, ele tem chance de se tornar um "amigo do cartel".
E se, por um lado, ainda há Jimmy McGill o suficiente em Saul Goodman para que ele sinta sua consciência pesar sob as lágrimas da família da vítima de Lalo, por outro, ele se vê a um passo de cair nas graças de um homem capaz de levantar uma fortuna para pagar uma fiança, e de todo o prestígio e dinheiro que esse tipo de conexão é capaz de angariar para um advogado disposto a exercitar com vigor o vácuo moral exigido pela profissão.
E ainda que o relacionamento entre Jimmy e Kim seja capaz de perder a balança para o lado, senão dá retidão, da razão, a verdade é que Jimmy claramente permanece ressentido dos olhares de superioridade que recebeu durante toda a sua vida... Isso fica claro na maneira como ele explode na cara de Howard durante um encontro casual no tribunal.
Falando em explodir, Lalo, sabendo ou não que seu infortúnio teve o dedo de Gus, segue com o dono da Los Pollos Hermanos em sua alça de mira, e do conforto de sua cela, segue mexendo os pauzinhos para sabotar os negócio de Fring, e no meio desse cabo de guerra está Nacho.
Se ele chegou a pensar que a prisão de Lalo era seu passaporte para sair da coisa toda levando seu pai a tiracolo, Mike deixa claro que, se Salamanca continua operando de dentro da prisão, então a guerra continua.
Mike, por sinal, parece ter encontrado seu lugar no mundo.
Ele lê O Pequeno Príncipe para sua neta dormir, ajuda sua nora a lavar a louça e chega a sorrir lembrando da infância de Mattie. Mike está, de fato, disposto a jogar o jogo que se apresenta com as cartas que tem, mesmo que uma dessas cartas seja um certo advogado escamoso de Albuquerque para ajudar Gustavo Fring no conflito.
Gus, por sua vez, esteve em Houston enquanto Lalo tramava contra ele, participando de uma reunião do império do fast food da Madrigal onde cada um dos ramos da companhia apresentava seus relatórios de desempenho Lara o cabeça da companhia, Peter Schuler (Norber Weissler, retornando ao papel) que está menos interessado nas batatas fritas em espiral com o sabor do sudoeste do que no impacto que a querela de Gus terá sobre o super laboratório secreto e na sua própria saúde. Após ser acalmado por Gus e Lydia (Laura Fazer, de volta, também), Peter sossega, enquanto Gus decide, novamente, jogar no longo prazo, e fazer um sacrifício.
O que mais salta aos olhos em toda essa situação é que se Jimmy vai de fato mergulhar de cabeça nesse lado do submundo do crime, e quem viu Breaking Bad sabe que eventualmente ele o faz, é o tamanho do risco em que ele está colocando Kim (sim, eu continuo preocupado com a Kim...). Se Mike pode simplesmente aparecer na porta do apartamento dela, o que impede Gus, Lalo ou Krazy Eight de fazer o mesmo?
Embora ela, relativamente alheia ao risco que corre por seu relacionamento com Saul, tenha tido uma saborosa vitória pessoal nesse episódio...
Vamos ver como as coisas vão se desenrolar na sequência, conforme os desdobramentos da guerra fria entre Gus e os Salamanca se seguirem, aparentemente, com Saul Goodman desempenhando um papel mais ativo na contenda.
Eu francamente não sei o que os escritores de Better Call Saul comem, mas é uma pena que mais roteiristas não mantenham uma dieta semelhante. O trabalho desses sujeitos semana após semana parece alcançar um novo nível de excelência, uma regularidade que nenhuma outra série chega perto de ter.
Por hora, vamos aproveitar o momento, e ver o canal protagonista curtir sua vida de recém casados enquanto os negócio de Saul Goodman não infectam tudo...

"Eu navego em mundos que você nem imagina! Você não pode conceber o que eu sou capaz de fazer! Eu estou muito à frente de você! Eu sou um deus em roupas humanas! Relâmpagos disparados das pontas dos meus dedos!"

Resenha Série: Star Trek: Picard, Temporada 1, Episódio 10: Et In Arcadia Ego parte 2


O derradeiro episódio da primeira temporada de Star Trek: Picard foi, possivelmente, o mais movimentado e repleto de fan service da temporada.
Seguindo os eventos da primeira parte do season finale, Picard está isolado após ser capturado por Sutra e Soong, a quem Agnes parece ter se unido, enquanto, na La Sirena, Rios e Raffi tentam achar uma forma de usar a flauta mágica de Saga para consertar a nave, aleijada pelo ataque das Orquídeas no início do capítulo passado.
Não é tudo o que está acontecendo, porém.
No Cubo Borg, enquanto Sete de Nove e Elnor se tornam bons amigos, Narek se infiltra para ter uma última reunião com Narissa antes de preparar o terreno para a chegada da Zhat Vash enquanto Soji abraça com gosto a causa sintética e passa a trabalhar na construção de um farol que irá sinalizar e abrir um portal para que as poderosas inteligências artificiais dos confins do cosmos cheguem à nossa galáxia e cumpram os sombrios vaticínios que movimentam os fanáticos Romulanos.
As coisas não vão bem para os orgânicos desse setor do universo a menos que algumas disposições não sejam tão sombrias quanto imaginávamos...
Conforme eu disse ali no início, Star Trek: Picard ofereceu um final de temporada sólido, com uma boa mistura de ação, momentos importantes para seus personagens e uma boa dose de fan service polvilhada por cima de tudo.
O tema central da temporada, que girou ao redor do desenvolvimento desse novo momento da vida de Jean Luc Picard e da maneira como ele lidou com suas próprias falhas, conseguiu fechar um círculo que, se não foi totalmente redondinho, também não virou um triângulo escaleno como aconteceu com outras revisitas a personagens clássicos, tampouco ficou no vácuo como alguns arcos secundários dentro da própria série.
A segunda parte de In Arcadia Ego ainda contou com boas atuações de Alison Pill e Isa Briones, além da competência habitual de Stewart, que tem um longo histórico de se comprometer com o roteiro de Star Trek mesmo em momentos onde os escritores parecem ter dormido em cima do teclado.
Falando em dormir no ponto, é difícil não ver as duas metades do Seasons finale e não sentir que a decisão de cortar o capítulo final em dois foi questionável, como se fosse melhor reeditar a coisa toda como um capítulo com tamanho de longa metragem, talvez. Nem todas as pontas soltas foram amarradas, mas elas continuaram existindo para servir à narrativa principal, que sim, foi resolvida de maneira adequada, a despeito de algumas decisões bastante questionáveis (ainda que facilmente previsíveis) dos roteiristas...
A temporada, como um todo, segue sendo terrivelmente irregular, algo que era mais facilmente perdoável em, por exemplo, A Nova Geração, com seus vinte e tantos episódios basicamente isolados por temporada, do que em uma série com dez capítulos pensada para contar uma história só.
Se houve uma coisa que In Arcadia Ego entregou de maneira significativa, foi justamente a conclusão do arco de personagem de Jean Luc Picard.
Como os demais personagens da série, Jean Luc começou a temporada alquebrado, e foi se reconstruindo tijolo por tijolo até voltar a ser o Picard que conhecemos em A Nova Geração, usando as armas que nós sabemos que ele domina em sua tentativa de impedir uma guerra.
Mais importante do que isso, ele foi capaz de se livrar da culpa pelo destino de Data em Nêmesis com a ajuda do próprio (aliás, o rejuvenescimento digital de Brent Spiner nesse episódio só faz a aparição de Data na Premiere parecer mais esquisita. Não podiam ter usado a mesma tecnologia, então?).
A primeira temporada de Star Trek: Picard pode ter falhado em entregar um bocado do que a audiência esperava, mas o que conseguiu entregar em seu desfecho quase compensa pelas más ideias às quais os roteiristas e showrunners quase morreram abracados. A sensação de finalmente enterrar um amigo querido que partiu traz o tipo de sensação de encerramento capaz de nós fazer perdoar as piores transgressões.
Vamos ver o que a segunda temporada nós trará.

"-Medo é um professor incompetente."

sexta-feira, 27 de março de 2020

Resenha Série: Better Call Saul, Temporada 5, Episódio 6: Wexler v. Goodman


Uma coisa que nós aprendemos nos anos recentes em que acompanhamos a saga de Jimmy McGill em sua transformação em Saul Goodman é que o advogado escamoso não é uma pessoa necessariamente ruim, mas ele simplesmente é incapaz de resistir a um golpe. Mesmo em seus melhores momentos, Jimmy se vê inebriado pela beleza de um conto do vigário bem aplicado, pela sutileza de uma jogada que sai exatamente de acordo com o planejado, com o ardil que encontra sua presa e não lhe permite fuga.
E isso, aparentemente, está acima de todo o resto para Jimmy/Saul.
Quando a arapuca está montada e o pato está na mira, Jimmy é incapaz de pisar no freio, não importa quem lhe peça para fazê-lo.
E é essa a lição que Kim aprende às duras penas em Wexler v. Goodman.
No final do episódio passado havia ficado claro que Kim descobrira algo que ela, através de Jimmy, poderia usar contra Kevin Wachtel e o Banco Mesa Verde para salvar a casa do teimoso senhor Acker.
Quando encontramos os dois novamente essa semana, Jimmy está se preparando à todo o valor para usar os achados de Mim, sejam quais forem, contra Wachtel.
A questão é que, em meio à confecção do golpe, com a ajuda da equipe de produção áudio-visual costumeira, Kim tem uma mudança de disposições.
Ela está disposta a encontrar seu chefe no meio do caminho mesmo que precise pagar de seu próprio bolso pela nova casa de Acker.
Em um primeiro momento Jimmy parece aceitar a ideia... Mas apenas em um primeiro momento.
Enquanto isso nós descobrimos que o discurso de Gus a respeito de vingança no episódio passado surtiu efeito.
Mike está totalmente concentrado em sua tarefa atual, no caso, ajudar Fring a derrubar Lalo Salamanca a qualquer custo. E isso exige que o ex-tira use todos os subterfúgios do seu livrinho para colocar o sobrinho de don Hector debaixo dos holofotes de terceiros...
Mike está concentrado em sua missão, mas não tanto a ponto de fazer ouvidos moucos ao apelo que Nacho lhe faz a respeito de seu pai. Por mais que Ehrmantraut entenda o desejo de vingança de Fring, é bem possível que Ignazio tenha apertado o botão certo ao apelar pela segurança de um homem inocente após todo o estrago que a morte de Werner causou em Mike.
Seja como for, o próprio garante a Nacho que isso será algo a que ele irá atender depois de lidar com Salamanca.
E quanto a Kim?
Bem, aparentemente essa temporada de Better Call Saul parece determinada a matar a audiência do coração no tocante a Kim. Ela é uma das poucas personagens centrais cujo destino nós realmente não conhecemos em Breaking Bad, e já faz algumas temporadas que Better Call Saul acena com um destino terrível esperando Kim depois da curva ali na frente, e essa penúltima temporada está fazendo um trabalho significativo no sentido de finalmente quebrar a advogada.
Kim é frequentemente a personagem mais fascinante da série, e Wexler v. Goodman nos dá um insight inédito dela, chegando até a explicar a razão pela qual ela é atraída por Jimmy, e pessoas ferradas em geral, haja vista sua obsessão com o trabalho de defensoria pro-bono... A cold opening do capítulo nos mostrou uma pequena Kimmie Wexler sozinha no estacionamento da escola à noite, carregando um violoncelo enquanto esperava por uma pessoa obviamente atrasada.
Essa pessoa é sua mãe, que chega com o rádio a todo o volume e obviamente bêbada. A mulher tenta amenizar a situação, se desculpando casualmente e prometendo remediar tudo com um jantar divertido e uma noite de TV. Não deixa de parecer um pouco com a forma como Jimmy tenta vaselinar Kim depois de aprontar das suas, mas Kim foi capaz de dar as costas para sua mãe, então, mas, talvez, ainda não esteja pronta para dar as costas para Jimmy.
O desfecho do capítulo é surpreendente, mais um tour de force de Rhea Seehorn, e traz consigo uma péssima ideia. Uma com potencial para levar a estrada de Kim e Jimmy ao seu fim...
Mais um episódio nota dez do que é, fácil, a melhor série disponível atualmente.

"Eu te avisei. Você entrou com os dois olhos abertos."

quarta-feira, 25 de março de 2020

Resenha Série: Star Trek: Picard, Temporada 1, Episódio 9: Et In Arcadia Ego


O fim começou. Após dois meses, a primeira temporada de Star Trek: Picard chegou à sua reta final com a primeira de duas metades de Et In Arcadia Ego, season finale que traz em seu título em latim uma mensagem sobre a inevitabilidade da morte mesmo em uma utopia, a utopia, no caso, é a estação Coppelius, no quarto planeta do sistema Ghulion.
Mas antes de chegar à tal utopia e às revelações lá ocultas, a tripulação da Lá Sirena precisa enfrentar uma luta aérea contra a nave de Barro, que segue no encalço de Soji mesmo após a tentativa quase suicida de Agnes de se livrar de seu perseguidor.
Em desvantagem contra a nave de combate, Picard e sua equipe são salvos no último instante pelo Cubo Borg pilotado por Sete de Nove, que desequilibra a luta ao menos até a chegada de espaçonaves em forma de orquídea (pois é), que arrastam todos os envolvidos no combate para a superfície do planeta (de uma maneira tão indelicada que o Cubo Borg deveria ter causado um evento de extinção no planeta, mas enfim...).
Seja como for, durante a aterrissagem de emergência, Picard sofre um desmaio, aparentemente um sintoma de sua doença cerebral degenerativa, que ele assume diante da tripulação deixando todos terrivelmente tristes (embora somente Raffi o conhecesse a mais do que alguns dias..), e após uma breve reunião com Elnor e Sete de Nove, Jean Luc e seu entourage partem em busca da origem de Soji.
E Cooppelius é mesmo um idílio de andróides onde sintéticos dos mais bonitos aos mais esquisitos vivem em paz e harmonia sob a tutela do doutor Altan Inigo Soong (Brent Spiner, interpretando seu enésimo Soong em Star Trek), que junto com o falecido Bruce Maddox criou as impressionantes inteligências artificiais de Cooppelius, incluindo Sutra, mais uma "gêmea" de Soji e Dahj.
Sutra parece comandar Cooppelius com Altan, e enquanto a Zhat Vash vê a inteligência artificial como uma ameaça a ser parada a qualquer custo, a jovem sintética vê uma oportunidade.
Após realizar a fusão mental com Agnes (sim, Sutra consegue realizar a fusão mental Vulcana...), Sutra tem acesso à Advertência sobre a vida sintética, e onde os Romukanos veem o apocalipse ela vê a aurora do domínio dos andróides sobre a galáxia.
Sutra e Altan sabem de outros sintéticos ocultos pelo cosmos, e essa é a oportunidade de uní-los contra a vida orgânica, a menos que Picard e a tripulação da Lá Sirena possam fazer algo, embora cada vez mais, as chances estejam contra eles à medida em que os inimigos se empilham e os aliados se afastam...
Após oito episódios nos quais as coisas se encaminhavam para um confronto entre Picard e os Romukanos, a série muda o foco ao mostrar que os sintéticos podem se tornar uma ameaça tão grande quanto a Zhat Vash imaginava.
O próximos episódio encerra a temporada com a promessa de um confronto definitivo no horizonte, onde Picard precisará salvar os andróides dos Romulanos, mas também de si próprios, em uma batalha pela alma de Soji.
A despeito de algumas inconsistências, a primeira parte de Et In Arcadia Ego preparou o terreno para o final da temporada de maneira comoetente, especialmente qua do Consideramos a média da temporada.
Na próxima sexta veremos se o season finale será digno como Jean Luc Picard merece.

"-Continue salvando a galáxia.
-É com você, agora..."

quarta-feira, 18 de março de 2020

Resenha Cinema: Bloodshot


Os últimos filmes de Vin Diesel explicam em muito porque é que nós já estamos nos aproximando do décimo Velozes e Furiosos. Quando assistimos porcarias como Triplo X ou Riddick, fica claro que sem os filmes da franquia de carrinhos e assaltos que, a despeito da má qualidade geral de seus filmes, segue faturando nas bilheterias, é provável que Diesel já tivesse morrido de fome porque, afinal de contas, ele dificilmente iria conseguir viver só de dizer "Eu sou Groot" nos filmes da Marvel.
Talvez a veia nerd de Diesel, aliada à popularidade de longas baseados em quadrinhos tenham sido responsáveis por levá-lo a estrelar a adaptação de Bloodshot como tábua de salvação para sua vida após o fim da franquia V&F (se ela realmente se encerrar após o décimo filme...).
O filme dirigido por Dave F. Wilson, diretor de efeitos visuais fazendo seu debute como diretor de longas metragens, baseado em um quadrinho da Valiant Comics conta a história de Ray Garrison (Diesel), um Black Ops fodão que realiza missões insanas em nome do governo dos EUA. Ele é capacitado, implacável e durão.
Após sua mais recente missão bem-sucedida, Ray volta pra casa e viaja com sua esposa Gina (Talulah Riley) a uma bela cidade costeira da Itália, apenas para ser capturado por Martin Axe (Toby Kebbel) um terrorista sádico e dançarino que tortura e mata Gina, e então Ray.
Quem dera o filme tivesse terminado nesses dez minutos, mas infelizmente não é o caso. Ray desperta no laboratório de última geração da Rising Spirit Tech onde o doutor Harting (Guy Pearce) lhe explica que faz parte de uma organização secreta que reabilita soldados feridos em missões pelo mundo.
Ray é o maior sucesso de Harting, pois se o cientista já foi bem-sucedido substituindo membros perdidos e órgãos destruídos em outros soldados, Ray é o primeiro homem trazido de volta da morte através da aplicação de nanitas (insetos robôs microscópicos) em seu sangue.
Esses pequenos nano-robôs dão a Ray força e velocidade sobre-humanos, a capacidade de invadir sistemas eletrônicos e de regenerar seu corpo após danos severos.
Enquanto se aclimata às duas novas habilidades, porém, Ray é assaltado por flashbacks da morte de Gina, e eventualmente escapa da sede da Rising Spirits Tech para ir atrás de Martin Axe e se vingar.
Após uma (não) espetacular sequência de ação, ele finalmente obtém sua vingança, apenas para ser levado de volta até o laboratório, ter sua memória apagada e começar a experimentar novos flashbacks da morte de Gina, mas com outro homem no papel de assassino.
Ray está tendo sua mente controlada por Harting que o está usando para matar seus inimigos numa intrincada teia de manipulação de onde Ray não pode escapar. Ao menos não sem ajuda...
Bloodshot é o tipo do filme de ação descerebrado que mesmo plagiando filmes melhores não consegue se sustentar. O roteiro de Jeff Wadlow e Eric Reisserer é uma maçaroca de O Vingador do Futuro, RoboCop e Soldado Universal desprovido do que todos esses longas tinham de bom, mas sendo um pastiche passivo-agressivo em sua falta de qualidade, por vezes apontando seus próprio problemas de escrita da maneira que Era Uma Vez um Deadpool fez, mas sem Fred Savage para perguntar por que, se havia a consciência de que o roteiro era fraco, não escrevê-lo melhor ao invés de fazer uma piada a respeito.
As sequências de ação são mornas na melhor das hipóteses e nem mesmo a grande sequência de ação que encerra o filme entrega o que promete já que não existe senso de espaço ou localização (diretores de ação deveriam ser obrigados a assistir Mad Max: Estrada da Fúria). As atuações do elenco (que conta com a bela Eiza Gonzales, Sam Heughan, Lamorne Morris e Siddarth Dananjay) são nível Vin Diesel de qualidade, os efeitos visuais são de OK pra menos e à certa altura do filme eu estava me perguntando quanto tempo faltava pra terminar.
Bloodshot é um típico mau filme de ação, carregado de auto-consciência mas vazio de ideias. É um balaço na cara do pretenso "Universo Cinemático Valiant" almejado pela Sony, um de que, ao contrário do protagonista, a franquia dificilmente vai se regenerar.

"Pra onde, agora?
-Não faço ideia.
-Perfeito."

Resenha Série: Better Call Saul, Temporada 5, Episódio 5: Dedicado a Max


O quinto capítulo da temporada de Better Call Saul, revolve de forma bastante insistente ao redor do tema de vingança, e da forma como a vingança que se imagina justificada, passa por justiça.
Veja Kim Wexler, por exemplo
Se no capítulo passado ela parecia estar agindo com o coração no lugar certo em sua tentativa desesperada de manter o senhor Acker em sua casa à revelia da iminente construção do call center do Banco Mesa Verde, chegando a contratar Jimmy como advogado do velho teimoso, em Dedicado a Max, ela parece ter uma mudança de estância bastante flagrante.
Não que isso tire do episódio a leveza da guerra fria que Saul Goodman trava contra a equipe legal do banco e as autoridades locais enquanto usa subterfúgio após subterfúgio para manter a equipe de demolição do lado de lá da cerca da casa número 1130 da Arroyo Vista (ou seria número 1240?), Numa série de jogadas "Saul Goodmanianas" da melhor estirpe.
Claro, Jimmy parece estar se divertindo a valer com a oportunidade de unir suas habilidades de golpista e de advogado para o bem, mas ele sabe que, em última análise, essa jogada só levará ele, Kim e o senhor Acker até certo ponto. A lei, afinal de contas, está do lado da pessoa jurídica de Kevin Wachtel. A única alternativa para uma vitória, Jimmy explica, seria ir atrás de Kevin Wachtel, pessoa física, numa guerra que seria muito mais bagunçada, suja e pessoal.
A questão é, justamente, que, à essa altura, para Mim, a questão já se tornou pessoal, e ela não pensa duas vezes antes de aceitar a proposta de Jimmy, o que nos leva a uma nova participação de Sobchak (Steven Ogg, o Trevor de Grande Theft Auto 5, retornando após aparecer na primeira temporada da série).
E se inicialmente parece que Sobchak (ou Sr. X) não conseguiu encontrar nada em sua missão de detetive particular nas entranhas da mansão de sete dormitórios de Wachtel, Kim parece ter visto algo que escapou do "sargento massacre".
Sobchak, por sinal, não é mais senão a segunda opção de Jimmy para o serviço. A primeira seria, claro, Mike Ehrmantraut, que, infelizmente está indisponível, recuperando-se de uma facada em um pequeno vilarejo mexicano erigido por Gus Fring em homenagem a seu parceiro, Max, assassinado por dom Hector anos atrás.
É lá, cercado pelo idílio de uma escola com crianças usando uniformes alinhados, um consultório médico com equipamento de primeiríssima linha e uma fonte jorrando água límpida de forma perene, que Mike reencontra seu benfeitor, e o confronta a respeito de seus motivos.
Eles não poderiam ser mais claros. Gus simplesmente quer se vingar dos Salamancas, Mike conhece a família de traficantes, ele próprio esteve a um passo de meter uma bala em Hector mais de uma vez, e essa é toda a razão de que Gus precisa para convocar Mike como um soldado. Uma guerra contra um inimigo desprezível é melhor do que brigar bêbado com marginais do gueto de Albuquerque até a morte.
Claro, nós, que conhecemos os caminhos que esses personagens irão trilhar até o fim de suas vidas em Breaking Bad, sabemos que eles não irão se despedir em grandes chamas de glória. Eles poderão ser explodidos em asilos, baleados no ermo... Sabemos que Jimmy inevitavelmente irá acabar caindo do arame enquanto tenta se equilibrar entre os lados certo e errado da vida, de modo que a grande dúvida aqui, é o que acontece com Kim Wexler, que nesse momento está bem no meio do caminho entre uma resistência fútil e vingança pura e simples. O destino de Kim pode, perfeitamente, ser decidido em seus próximos passos.
Os próximos sete dias vão custar a passar...

"-Por que eu?
-Porque eu acredito que você entende.
-Entendo o que?
-Vingança."

segunda-feira, 16 de março de 2020

Resenha Série: Star Trek: Picard, Temporada 1, Episódio 8: Broken Pieces


Chegando finalmente à sua reta final, essa primeira temporada de Star Trek: Picard tem sido de alto e baixos, ao menos pra mim.
Se por um lado foi ótimo voltar a ver Jean Luc Picard, sem contar outros membros eventuais da Enterprise, por outro o seriado vem incorrendo na mesma mania que diversas histórias que revisitam personagens após hiatos longe do olhar do público têm exibido em anos recentes, que é mostrar os personagens que aprendemos a amar no passado despidos de todas as características que amávamos, com seus feitos tendo sido inócuos para o universo que eles habitam, suas vidas mais fodidas do que atriz pornô aposentada enquanto eles vagam sem rumo meramente existindo e esperando a morte até serem levados de volta à uma última aventura...
Jean Luc estava um pouco assim. Definitivamente não tão irreconhecível quanto Leia, Han e especialmente Luke no Star Wars da Disney, mas certamente seguindo os passos de Wolverine em Logan. O grande acerto de Star Trek: Picard até o momento foi nos dar, ao menos eventualmente, vislumbres do Picard que conhecemos na ponte da Enterprise-D, o que, novamente, ao menos pra mim, foi o que me fez continuar voltando para a série semana após semana, mesmo quando ela estava longe de ser um primor de escrita ou de trama.
Broken Pieces, eu devo admitir, mostrou outra boa faceta do programa ao deixar claro que, a despeito da generosidade de Star Trek: Picard para com seus coadjuvantes, por vezes inchando os episódios com histórias secundárias de qualidade variável, a série não perdeu sua linha narrativa principal de vista.
Esse oitavo episódio, entre outras coisas, mostra à audiência que mesmo o personagem que aparentemente não tinha nenhuma ligação com os androides, digo, "sintéticos", tem um momento em seu passado que está ligado a eles e meio que define sua vida.
Antes dessa revelação, porém, voltamos 14 anos no passado para ver uma cerimônia de iniciação da Zhat Vash, a versão mais secreta da organização romulana Tal Shiar, criada exclusivamente para impedir a proliferação de formas de vida sintéticas.
A Zhat Vash se dedica a impedir que a história se repita, a história em questão, especificamente, é a de um mundo que há milhares de anos ultrapassou um limite na inovação de vida sintética, levando ao surgimento dos Destruidores. A iniciação da Zhat Vash ocorre em Aia, O Planeta do Luto, em um rito onde as recrutas são expostas à memória desse evento, um doloroso processo que pode levar à loucura e até à morte, e mesmo os que sobrevivem à provação, não saem ilesos, prova disso é que as duas sobreviventes da cerimônia que acompanhamos na sequência que abre o episódio são Narissa, e sua tia, a ex-Borg que deu um achaque ao interagir com Soji n'O Artefato.
Mesmo aqueles que recebem a informação em segunda mão, como Agnes, são intimamente afetados por ela (no fim das contas, Agnes não estava vendo o futuro quando a comodoro Oh usou a fusão mental nela, mas sim as memórias partilhadas da Zhat Vash). Isso pode explicar por que a doutora Jurati matou Bruce Maddox, mas não justifica. A pobre cientista continua sendo, no mínimo, parcialmente responsável pelo assassinato, ainda que a expressão de desapontamento de Picard quando a confronta sobre o assunto seja, por si só, uma tremenda punição.
Falando no almirante reformado, após ter sido basicamente o centro do episódio passado, em Broken Pieces o francês mais britânico da TV fica meio escanteado nesse capítulo. À exceção de uma boa cena onde ele e Soji conversam a respeito de Data, ou sua ligação para a almirante Clancy, são os demais personagens que dirigem a ação no capítulo, seja na La Sirena, seja bem, bem longe dela.
N'O Artefato quando estava prestes a ser capturado, Elnor vê seu pedido de socorro aos Fenris Raiders ser respondido por ninguém menos que Sete de Nove (é sempre bom ver Jeri Ryan). Mesmo em dupla, porém, os dois não são páreo para a grande quantidade de Romulanos no Cubo, o que leva a ex-borg a tomar uma medida desesperada para assegurar sua sobrevivência, uma que leva a um dos melhores momentos do episódio.
Raffi, por sua vez, passa a maior parte de Broken Pieces literalmente juntando os pedaços (rá) do passado de Cris Rios.
Totalmente sóbria após pedir que o holograma de hospitalidade a mantivesse longe de substâncias (uma decisão que não recebe o peso que merece já que ninguém pareceu perceber que a mulher mal conseguia parar de pé dois episódios atrás), Raffi tenta entender por que o capitão Rios se trancou no quarto abalado pela mera visão de Soji.
Para descobrir isso, a ex-imediata de Picard leva a cabo uma pequena investigação que inclui conversar com os cinco hologramas de emergência da La Sirena (incluindo um holograma de engenharia que, claro, tem um sotaque escocês) numa série de sequências que tem um tom quiçá um pouco cômico demais, mas que culminam em uma importante revelação do passado de Rios e de Soji (mais ou menos...).
Broken Pieces, então, encerra com a La Sirena tomando o caminho até o planeta natal de Soji, com Narek e, por consequência a armada Romulana, em seu encalço, preparando o terreno para o que pode ser um grande final de temporada já que o último episódio do ano será dividido em duas partes.
Broken Pieces não foi nenhuma obra-prima, mas conseguiu ser um bom episódio, brincando com noções de destino e livre-arbítrio em meio à toda a exposição que despejou em cima a audiência. O capítulo foi particularmente gentil com Narissa (e, por consequência, com a bela Peyton List). A personagem sempre pareceu uma vilã de cartilha das mais óbvias, mas retratá-la como uma personagem com motivações guiadas por pavor e senso de dever a tornou muito mais palatável.
Em geral esse oitavo episódio da temporada colocou Star Trek: Picard em sua reta final de maneira promissora, e após um bom tempo, eu estou realmente ansioso pelo próximo capítulo.

"O passado está escrito, mas o futuro é nosso para escrever."

quinta-feira, 12 de março de 2020

Resenha Cinema: O Homem Invisível


Uma das boas coisas que Tom Cruise fez em sua carreira foi sepultar o Dark Universe da Universal em 2017.
O estúdio estava com o pé que era um leque para começar uma franquia compartilhada de monstros clássicos, havia enchido uma sala de astros talentosos e respeitados e distribuído as camisas para Javier Bardem, Russel Crowe, Angelina Jolie, Johnny Depp e Cruise para, com Alex Kurtzman como maestro, iniciar uma franquia imensa para rivalizar com o MCU.
Mas Kurtzman está longe de ser um grande cineasta ou contador de histórias, A Múmia foi uma bomba de proporções cataclísmicas, os astros debandaram, o Dark Universe virou história e a Universal, antevendo o inevitável fim da franquia Velozes e Furiosos precisava encontrar alguma outra forma de faturar com seu catálogo de monstros clássicos.
A saída do estúdio foi se aliar ao barão do horror de baixo orçamento Jason Blum, habituado a transformar filmes modestos em estrondosos sucessos de público e crítica (veja Corra!, Uma Noite de Crime, Sobrenatural, Atividade Paranormal...) e ver o que ele poderia fazer com isso.
Um dos primeiros resultados é esse O Homem Invisível de Leigh Whannell, mesmo do bem-intencionado Upgrade e de Sobrenatural: A Origem, que atualiza a história clássica do cientista que enlouquece com o poder da invisibilidade para a era do movimento Me Too ao transformá-lo em um marido abusivo.
O longa, inclusive abre bebendo da fonte de uma das mais clássicas histórias de marido abusivo do cinema (não tão) recente, já que, de imediato, encontramos Cecilia Kass (Elisabeth Moss) empreendendo uma fuga de casa reminiscente à Dormindo com o Inimigo enquanto ela deixa pra trás o marido Adrian Griffin (Oliver Jackson-Cohen) na calada da noite.
Após uma tensa escapada, Cecilia consegue chegar ao carro da irmã Emily (Harriet Dyer), que a leva para a segurança da casa onde o policial James (Aldis Hodge) e sua filha Sidney (Storm Reid) acolhem a sobrevivente.
Corta para duas semanas mais tarde, Cecilia segue enfrentando as sequelas do trauma. Após anos de isolamento vivendo sob o jugo de um homem violento e controlador ela não tem forças sequer para chegar na beira da calçada para recolher a correspondência. Nem mesmo quando ela descobre que Adrian se suicidou, e deixou para ela uma vasta fortuna, fruto de seu inovador trabalho no campo da ótica, Cecilia tem paz. Ela não acredita que alguém como Adrian pudesse tirar a própria vida. Para ela, é apenas mais um joguete do pesquisador, e quando coisas sinistras começam a acontecer, a audiência percebe que ela deve ter razão.
O Homem Invisível é um típico filme de horror/suspense da Blumhouse, e isso não é um elogio.
Logo de cara fica óbvio que Leigh Whannell, que além de dirigir escreve o roteiro do longa, está muito interessado nas consequências físicas resultantes da assombração de um abusador invisível do que nas consequências psicológicas do abuso. Mais do que isso, o longa perde a oportunidade de brincar com a percepção da audiência e erguer um véu de dúvida a respeito da sanidade da protagonista. Em nenhum momento o longa deixa dúvida de que há um cara invisível atormentando a personagem, e é uma pena.
Elizabeth Moss é uma excelente atriz, e em nenhum momento ela interpreta como se estivesse em um terror de baixo orçamento. Ela é sempre crível, transparecendo a fragilidade e a hesitação titubeante de uma pessoa que comeu o pão que o diabo amassou e não é capaz de relaxar nem por um instante. A dedicação de Moss é ainda mais importante à medida em que Whannell não dá à audiência nenhum vislumbre da vida de Cecilia com Adrian, tudo o que temos é o que Elisabeth Moss nos dá com seus olhos esbugalhados e seu sorriso hesitante que por vezes parece um espasmo.
É uma pena que o filme não faça jus à protagonista.
O longa sofre de falta de suspense, é apressado, tem personagens se virando contra Cecília por mera conveniência de roteiro e tomando todas as decisões idiotas que são o pão com manteiga de filmes de terror desde sempre, além de uma linha temporal que, por vezes, parece confusa, e o resultado é um filme ruim com uma protagonista excelente, mas nem mesmo o comprometimento de Elisabeth Moss é capaz de salvar O Homem Invisível de ser um filme descartável que, ironicamente, é melhor não ver.

"Ele disse que onde quer que eu fosse, ele iria me encontrar, andar até mim, e eu não poderia vê-lo."

quarta-feira, 11 de março de 2020

Resenha Série: Better Call Saul, temporada 5, episódio 4: Namaste


Um dos testemunhos da qualidade de Better Call Saul é a maneira como, ao contrário de outras séries, o espectador não precisa ficar contando os episódios pra ver a coisa engrenar. Só agora, quando comecei a escrever a resenha do episódio disponibilizado ontem na Netflix, me dei conta de que fora o quarto episódio, e cheguei a sentir uma ponta de tristeza ao imaginar que a temporada estava chegando à metade, até me lembrar que Better Call Saul tem dez episódios por ano e não oito, e respirar aliviado.
Seja como for, eu não assisto ao programa esperando as coisas engrenarem, porque Better Call Saul está sempre onde deveria.
Namaste começa com Jimmy visitando uma loja de penhores, onde procura por um item em particular, sem saber ao certo o que é. É um daqueles momentos em que alguém entra em um estabelecimento e, quando encontrar o que deseja, saberá.
Mas então voltamos no tempo, para a manhã seguinte à noite que encerrou o episódio passado, após Kim retornar com o espírito quebrado de Tucumcari e suas interações com o senhor Acker.
Kim, por sinal, ainda não terminou com sua incessante busca por tomar o lado do homem comum nas pelejas legais da vida. E após tentar, sem sucesso, convencer Kevin Wachtell a realocar seu call center e deixar o rancho do senhor Acker em paz, ela resolve apelar para a artilharia pesada e conseguir, para o velho teimoso, a melhor ajuda legal possível na batalha contra o banco Mesa Verde...
Enquanto isso, Gus Fring está em sua própria batalha, para se manter um passo a frente do inimigo em sua guerra contra os Salamancas e o DEA na forma de Hank Schrader e Steve Gomez.
Se havia alguma dúvida do quanto Gus está absolutamente enfurecido com os mais recentes desdobramentos de sua querela com Lalo, basta ver o tratamento glacial que o normalmente afável gerente da Los Pollos Hermanos dispensa a Lyle, seu funcionário na lanchonete enquanto aguarda estoicamente pelo fatídico telefonema de Victor, que irá confirmar o andamento do plano que ele criou para manter as aparências à custa do sacrifício de seus ganhos pessoais.
Eu dizia, na época em que assisti Breaking Bad, que Hank Schrader merecia seu próprio spin-off, tratando de minerais, sua vida com Marie e sua luta contra o tráfico de drogas na fronteira dos EUA com o México. Em Namaste eu me lembrei por que. É bastante claro que o policial percebeu alguma coisa de errado com toda a operação, mesmo que ela tenha sido, em essência, um sucesso, envolvendo prisões e apreensões (pra quem assistiu Breaking Bad, a maior apreensão de sua carreira até ali, talvez?), da mesma maneira que, à certa altura, Jimmy consegue perceber que há algo errado com o convite de Howard para um almoço amigável.
Se em um primeiro momento Jimmy parece balançar diante da oferta de emprego do sócio de seu falecido irmão, afinal de contas, ela representa o tipo de validação pela qual Jimmy brigou ferozmente por três temporadas enquanto era afastado da firma por Chuck, basta que ele veja a placa do Jaguar de Howard para perceber que a oferta de emprego é muito mais um passo na jornada que redenção que Howard deseja trilhar do que a chance de ouro pela qual Jimmy McGill esperou por tantos anos.
Ele é Saul Goodman, agora, e Saul Goodman não faz prisioneiros, não importa se ele tem que falar grosso com um par de viciados imbecis no xadrez, armar uma ceninha durante um julgamento, ou usar recursos visuais incomuns para convencer um cliente em potencial a aceitar sua representação. Saul/Jimmy conhece as pessoas, e esse é seu maior trunfo, mais do que sua persistência ou sua lábia, e quanto mais Jimmy entender isso, mais profundamente ele estará enterrado sob os paletós extravagantes de Saul Goodman e sua lista de clientes mais perigosos.
O que, por sinal, nos leva de volta até Mike.
O ex-policial segue na fossa. A exemplo de Gus, ele ainda está juntando os pedaços após todo o caso da fuga de Werner, e se para Gus as perdas decorrentes disso foram basicamente materiais, Mike parece ter executado uma parte de sua alma junto com o engenheiro alemão. Seu estado é tão óbvio que Stacey diz, com todas as letras, que prefere que ele não cuide da neta na sua noite de plantão. Até que ele consiga curar o que está o corroendo por dentro, Mike não é bem-vindo como babá e nem provedor, e isso o lança ainda mais fundo no poço, e em um caminho de situações potencialmente auto destrutivas que termina de maneira surpreendente dando a entender que Gus Fring está reagrupando suas tropas, e que o momento para paz chegou ao fim...

"-Foi um pouco não-ortodoxo, mas se liga nisso. As duas mais belas palavras da língua inglesa: 'Julgamento anulado'."

segunda-feira, 9 de março de 2020

O Segundo trailer de Viúva Negra

A Marvel lançou mais cedo o segundo trailer de Viúva Negra, tardio filme solo de uma das personagens fundamentais do MCU. Na nova prévia podemos ver Natasha se reconectando com sua irmã, a apresentação do vilão Treinador (com direito a demonstrações de seu reflexo fotográfico), e o núcleo familiar formado por Natasha, Yelena, Melina e Alexei.
Confira abaixo:



Dirigido por Cate Shortland Viúva Negra é protagonizado por Scarlett Johansson, à ela juntam-se Florence Pugh, Rachel Weisz, David Harbour, Ray Winstone, William Hurt e outros.
A estréia do longa está marcada para o dia 30 de abril.

Resenha Série: Star Trek: Picard, Temporada 1, Episódio 7: Nepenthe


Uma das coisas que Star Trek: Picard vem fazendo com bastante insistência desde seu primeiro episódio, é se afastar o máximo possível de A Nova Geração.
É um movimento obviamente calculado por parte da equipe criativa, provavelmente com intenção de fazer com que o novo seriado pareça menos com uma sequência da série-mãe, e mais como uma outra história situada naquele universo, afinal, Picard não é uma série sobre explorar novos mundos e encontrar novas formas de vida e novas civilizações, mas sobre chafurdar na podridão oculta sob a superfície da Frota Estelar.
Nepenthe, sétimo episódio da temporada muda sensivelmente esse paradigma ao nos colocar em contato, não com um, mas com dois membros da tripulação da Enterprise D, os agora casados Will Riker (Jonathan Frakes) e Deanna Troi (Marina Sirtis) vivem no planeta que dá título ao capítulo, onde construíram uma vida idílica com direito a pizzas feitas de tomates plantados na terra em um forno ao ar livre e uma filha adolescente que vaga pela floresta caçando com arco-e-flecha.
Seria bom, pra mim, saber que Riker e Troi tiveram um final feliz, mas não é o caso.
Os dois tiveram sua cota de tragédias na vida, uma ligada aos eventos que colocaram a trama da série em movimento, e que assombra todos os membros da família Troi-Riker e que, ao longo do capítulo, a audiência vai recebendo a conta-gotas até que todo o mosaico seja revelado.
Isso dá a Frakes e Sirtis a oportunidade de reprisar personagens profundamente conhecidos com novas notas de tristeza e reflexão, nessa tarefa eles são ajudados por Lulu Wilson, que interpreta Kestra, a filha do casal, que a despeito de sua vivacidade também não mascara seus sentimentos de luto.
O mais interessante é que essas interações também trazem à tona o melhor de Picard.
Na companhia de seus velhos colegas de elenco, Patrick Stewart se aproxima novamente da candura de A Nova Geração em detrimento da encarnação por vezes desastrada que temos visto em episódios recentes de Star Trek: Picard (sério, nem me deixe começar a listar as bobagens que o almirante reformado vem aprontando.).
Se a estada em Nepenthe é uma ótima para Picard, não se pode dizer o mesmo de Soji, que já na chegada é confrontada com o fato de que não é um ser humano de verdade (Kestra não é particularmente polida na hora de perguntar se a filha de Data é uma androide). Interrogada a respeito de violinos, Sherlock Holmes, saliva e muco a jovem fica bastante agressiva, e chega a entrar em modo Regiane Alves e dar um safanão em Picard, em quem deixa claro que não confia plenamente, até ser amaciada por Riker e Troi, mais habituados com a presença de crianças birrentas em seu meio. Jonathan Frakes parece se divertir bastante nos momentos em que ele e Picard finalmente conversam sem a barreira de postos militares entre eles, chegando a se referir à "clássica arrogância de Picard", enquanto Deanna vai ainda mais longe e chama o seu ex-capitão na xinxa. O mais interessante nessas interações é que, a despeito de não haver mais hierarquia militar entre eles, o que cria um novo grau de liberdade, os três personagens são obviamente amigos de longa data, e eventualmente estão trabalhando em uníssono para trazer Soji para o seu lado.
Tais interações inclusive, melhoram Soji, que fica mais humana (embora continue irritante...) .
E enquanto Nepenthe dá a Picard alguns de seus melhores e mais reflexivos momentos, o resto da tripulação da La Sirena está lidando com problemas cada um à sua maneira.
N'O Artefato, Hugh e Elnor estão lidando com os membros da Tal Shiar da melhor maneira que podem. O ex-guarda-costas de Picard, por sinal, tem a chance de mostrar que pode, sim, levar uma espada para um tiroteio e levar a melhor, até mesmo contra Narissa, mas até mesmo o discípulo das freiras guerreiras de Romulus tem seus limites, e eventualmente ele se vê encurralado o suficiente para precisar pedir socorro (o que, talvez, traga de volta Jeri Ryan?).
na La Sirena as coisas estão um pouco menos desesperadoras, mas apenas um pouco.
Após a cena de abertura do episódio nos mostrar o que realmente aconteceu entre Agnes e a comodoro Oh no Japão as ações da doutora Jurati ficaram um pouco (mas apenas um pouco) menos nebulosas. Ela matou Bruce Maddox a mando da comodoro (e de eventuais demais conspiradores por trás da derrocada moral da Frota Estelar), mais do que isso, ela é o ponto de ligação entre a La Sirena e Narek, que sai em perseguição à nave de Cris Rios usando Agnes como objeto de rastreio.
Isso dura até a cientista ser assoberbada por uma crise de consciência ao se dar conta que seus laços com o lado malvado da história ameaçam envenenar os demais membros da tripulação uns contra os outros, e tomar medidas drásticas.
Como todas essas linhas narrativas irão confluir na sequência permanece por ser visto agora que a La Sirena tem um novo destino, o planeta sem nome onde Soji e Dahj nasceram...
Conforme eu disse lá no começo, é preocupante que uma série que está tão obviamente preocupada em andar com as próprias pernas como é o caso de Star Trek: Picard, tenha seus melhores momentos justamente quando abraça o material-fonte com mais decisão.
Por sorte Nepenthe foi um dos melhores episódios do seriado em um momento chave. Após dois capítulos que não primaram pela qualidade, esse sétimo episódio deu uma renovada no fôlego do programa e garantiu que eu esteja interessado em voltar à La Sirena essa semana.

"-Então você quer ficar até a bunda em Romulanos pelo resto da vida..."

quarta-feira, 4 de março de 2020

Resenha Série: Better Call Saul, temporada 5, episódio 3: The Guy for This


Tem coisas nessa vida que eu francamente já desisti de entender. Por exemplo, quando alguém diz que Demolidor não é a melhor série de super-heróis que já foi feita, eu sou capaz de respeitar a opinião da pessoa, mas sei que ela está irremediavelmente errada. Ou quando a morena mais linda do mundo me diz que não é linda. Ou que o Inter não joga melhor sem D'alessandro. Ou que Better Call Saul não é a melhor série na TV nos dias de hoje.
Até os episódios menores de Better Call Saul são acima da média. O programa flutua entre notas 9 e 10, e em seus melhores momentos é nota doze...
The Guy for This, o terceiro episódio da temporada atual, disponibilizado ontem na Netflix está na (altíssima) média da série, mas se destaca tanto por nos mostrar que, mais uma vez, Jimmy McGill ainda não é Saul Goodman em sua totalidade, quanto por trazer à Better Call Saul dois personagens de Breaking Bad pela primeira vez.
Após uma vinheta incrivelmente "Breaking Badiana" mostrando formigas avançando paulatinamente sobre o sorvete abandonado por Jimmy no final do episódio passado após ser convidado para um passeio de carro por Nacho, nós vemos o primeiro encontro entre nosso advogado preferido e Lalo Salamanca.
Se inicialmente Jimmy pensa que irá receber alguma tardia punição por seu encontro prévio com Tuco e a abuelita Salamanca na primeira temporada, ele respira de alívio ao ser elogiado por sua lábia e contratado como representante legal para Krazy 8, ao menos até descobrir que, como tudo o que envolve os Salamanca, seu contrato não é exatamente o que parece, e ele está, inadvertidamente, assumindo um lado na guerra entre Lalo e Gus Fring, e entrando pela primeira vez em contato com o DEA na forma de dois agentes federais que os fãs de Breaking Bad conhecem muito bem e que são apresentados com a pompa que lhes é devida.
Seja como for, Jimmy faz o trabalho para o qual fora contratado, menos um serviço legal, e mais a aplicação de um golpe, com a sua habitual competência, mas se ele achava que aquele seria um serviço único, Lalo não tarda a informá-lo de que ele não tem muita voz ativa no acordo que eles acabaram de firmar.
O que ainda é um destino menos complexo do que o de Nacho Varga, que está preso em um doloroso pingue-pongue entre as duas facções e que tem em jogo não apenas a sua vida, mas também a de seu pai. A preocupação do pobre Ignacio, por sinal, o leva a tentar uma jogada em nome da segurança de Manuel, que não sai como o planejado.
Enquanto isso, Kim também está experimentando alguns dissabores em sua vida profissional.
Após ter passado um bom tempo colhendo os frutos de sua adesão à Schweikart e Cokely, deixando que estagiários lidassem com os assuntos do Banco Mesa Verde para que ela pudesse fazer o trabalho pro bono que realmente ama, Kim foi arrastada para Tucumcari com uma missão das mais desagradáveis: Expulsar um velho da casa onde vive há mais de trinta anos.
A situação, nefasta por si só, fica ainda pior à medida em que o dono da casa, o arrendatário Sr. Acker (o veterano Barry Corbin) pode não ter a lei a seu lado, mas certamente se sente no terreno moralmente elevado.
Tanto é assim, que suas palavras realmente afetam Kim, que se fragiliza o suficiente para revelar um pouco de seu passado ao velho teimoso e por consequência à audiência. E o que Kim nos conta mostra o suficiente da personagem para que, tanto o trabalho que ela faz, quanto sua relação com Jimmy, sejam plenamente justificados.
Quem não encontra justificativa para as própria ações é Mike.
O ex-policial transformado em matador do cartel segue com dificuldades para digerir o destino de Werner. Ele enche a cara em um bar local, demanda (e depois implora) que um postal com a Opera House de Sidney seja tirado da parede diante da qual ele está sentado, e depois extravasa seu ódio embriagado à sua maneira andando por uma vizinhança pouco recomendável.
O mais interessante em The Guy for This é a maneira como o episódio mostrou as almas de todos os personagens sendo algo arrancadas do corpo enquanto eles tinham que tomar decisões difíceis, ou lidar com as decisões tomadas por outros. As palavras de Nacho a respeito de como as vontades são irrelevantes nessa linha de trabalho vale para cada um dos personagens centrais. Nacho sabe bem disso, pois sente na pele o peso de estar sob o jugo de Lalo e de Gus ao mesmo tempo. Mike precisou assassinar seu amigo para manter os negócios de Gus em segurança, Jimmy foi arrastado por Lalo para uma seara muito mais perigosa do que os crimes não-violentos com os quais ele tinha intenção de lidar, e mesmo Kim foi forçada a oferecer o quinhão do diabo ao atender ao chamado de Kevin Watchell e garantir que o call center do banco Mesa Verde seja erguido onde estava planejado.
A grande diferença entre Nacho e Mike e Kim e Jimmy é que o Kim chega em casa para acender um cigarro e tomar uma cerveja com Jimmy na sacada, e mesmo em silêncio, eles podem encontrar conforto na cumplicidade que, a despeito de todos os solavancos, ainda mantém, nem que seja em uma atitude tão idiota quanto destrutiva antes de ir pra cama.
Eles têm um ao outro.
Ao menos por enquanto.

"Não é a respeito do que você quer. Depois que você está dentro, está dentro."

terça-feira, 3 de março de 2020

Substituível


Há alguma tempo atrás eu estava pensando na hipótese de que há personalidades e atores em Hollywood que, quiçá inadvertidamente, disputam os mesmos espaços alheios ao fato de que são, basicamente, variações do mesmo tema. Pessoas, homens e mulheres, que são intercambiáveis, que se prestam ao mesmo tipo de papel seja por serem fisicamente parecidas, ou terem o mesmo grau de talento, ou por se perfilarem dentro de um mesmo estilo, ou todas essas coisas simultaneamente, ou, surpreendentemente, nenhuma delas...
A hipótese me surgiu na cabeça após assistir O Escândalo e precisar de quase oitenta minutos para perceber que Mark Duplass não era Ron Livingstone. Esses dois atores, um observador mais atento irá saber, não se parecem nem um pouco, mas são sujeitos que ocupam o mesmo "espaço social" digamos. Eles são sujeitos brancos que passam por trinta e tantos a quarenta e tantos anos, não são particularmente memoráveis em termos de visual, e quando se pensa no marido da protagonista que tem que saber atuar, mas não deve ofuscá-la, qualquer um dos dois serve.
Após perceber esse fator estepe entre os dois, me pus a pensar em outros intérpretes que se encaixam no mesmo campo.
Halle Berry e Paula Patton, por exemplo. Berry é mais afamada, mais velha, e reconhecida por mais do que apenas sua beleza já que chegou a levantar uma estatueta do Oscar. Mas se um diretor pensar em um papel perfeito para Halle Berry apenas pela aparência da bela atriz, ele poderia trocá-la pela igualmente bela Paula Patton sem nenhum prejuízo. Malcolm McDowell e Terence Stamp... Dois atores britânicos de inegável talento e aparência física que, numa descrição apressada (estatura mediana, cabelos brancos calvos, olhos azuis), são basicamente a mesma pessoa. Na dúvida sobre quem será o intérprete da mente brilhante por trás da organização terrorista? Dá pra decidir no cara e coroa.
Essa breve lista é toda composta por atores que, como eu disse antes, não são necessariamente parecidos fisicamente, apenas ocupam um espaço semelhante em termos de descrição geral.
Depois há intérpretes que se parecem fisicamente, embora tenham graus de talento e/ou reconhecimento variados...
Amy Adams e Isla Fisher. Precisando de uma ruiva bonita em um longa-metragem? Dependendo de quais profundidades dramáticas seja necessário atingir, Amy Adams, dona de múltiplas indicações a prêmios diversos pode ser a aposta segura, mas se estiver disposto a arriscar e dar uma chance para ver o alcance dos talentos da australiana conhecida por papéis cômicos, é provável que o espectador médio não note a diferença. Falando em ruivas bonitas, e Bryce Dallas-Howard e Jessica Chastain? De quantas olhadas um frequentador eventual de cinema precisa para discernir quem é quem?
Javier Bardem é a versão espanhola, mais mastigada e mais talentosa de Jeffrey Dean Morgan, e já que entramos nas esferas dos atores com três nomes, alguém duvida que Logan Marshall-Green é a opção quando um diretor tem um papel para Tom Hardy mas o orçamento está apertado para contratar o astro de Venom? Ou que se pode fazer um leilão para decidir entre escalar Nicholas Hoult ou Ed Skrein para um papel... Ou que Arnold Vosloo e Billy Zane canibalizam um ao outro na disputa por papéis?
Seja como for, a conclusão à qual cheguei após dedicar algum pensamento à essa epifania, foi o de que há um estepe para todo mundo. De que não há, no mundo, ninguém que seja insubstituível, e que é tolice pensar o contrário.
Mas aí eu lembro de ti.
E a minha teoria cai por terra.

segunda-feira, 2 de março de 2020

Resenha Série: Star Trek: Picard, Temporada 1, Episódio 6: The Impossible Box


Um dos maiores problemas de Star Trek: Picard até o momento é a maneira equivocada como o programa escolhe os personagens que movimentam a trama. O quanto do andamento da série depende, por exemplo, de Soji e Narek, dois personagens que, na melhor das hipóteses, não foram desenvolvidos a contento pelo roteiro até aqui. O fato de os dois, e seu relacionamento, não terem caminhado a despeito de ocupar boa parte da trama, rouba de The Impossible Box muito do impacto que o capítulo obviamente queria causar.
No sexto episódio da temporada, Jean Luc e a tripulação da La Sirena chegaram ao espaço Romulano onde está O Artefato. O cubo Borg transformado em estação de pesquisa que é o paradeiro de Soji conforme Bruce Maddox informara logo antes de ser assassinado por Agnes Jurati no fim do episódio anterior.
Chegar até o local foi a parte fácil da conversa, receber permissão para adentrar o lugar são outros quinhentos, e demandam um bocado de malabarismo por parte de Raffi que, por sinal, entrou de cabeça em todos os vícios possíveis após o passa-fora que levou do filho em Stardust City. À certa altura eu achei que ela faria como Lloyd Bridges em Apertem os Cintos: O Piloto Sumiu, e em cada cena iria aparecer usando um tipo diferente de droga.
A despeito de mal conseguir ficar em pé, Raffi obtém uma credencial para Picard abordar O Artefato, mas há uma série de imposições e condições, entre elas a de que ele deverá fazê-lo sozinho, e em um espaço pré-determinado (embora ele esse espaço seja uma sala vazia de onde ele é deixado para vagar livremente... Vá entender esses protocolos de segurança).
Enquanto lida com os traumas que a espaçonave Borg lhe traz, Jean Luc é amparado por Hugh (Jonathan Del Arco), mais um que conhece o trauma de ser assimilado pela coletividade, e que pode levá-lo até Soji.
O problema é que Soji chegou a um ponto crucial, extremamente próximo da ativação, e Narek viu a oportunidade de agir, e não pretende desperdiçá-la, numa jogada que finalmente coloca Soji e Jean Luc Picard juntos, e em fuga.
Conforme eu disse lá em cima, muito do que não funciona em The Impossible Box é o quanto o capítulo é focado em Soji. Tudo nesse episódio advoga contra os showunners e a maneira como eles escolheram retratá-la. Em um episódio nós fomos capazes de nos conectar e conhecer Dahj mais do que conseguimos em cinco com a outra irmã. Soji simplesmente não tem reações humanas que justifiquem a sua importância. Ela é desprovida de profundidade ou personalidade sendo pouco mais do que uma tela em branco onde os outros podem projetar suas opiniões a respeitos de androides (desculpe, sintéticos...).
Não ajuda que seu relacionamento com Narek seja totalmente despropositado e livre de qualquer química de uma forma que faz com que os dois personagens pareçam mais antipáticos por conta do envolvimento, ela burra e ele mal-intencionado.
Por sorte o capítulo foi bondoso com Jean Luc, ao dar a Patrick Stewart a oportunidade de revisitar seu momento mais sombrio durante seu período como Borg, e também re reconectá-lo com Hugh, personagem egresso da quinta temporada d'A Nova Geração, e que partilha das atribulações do almirante reformado.
Claro, a nostalgia para com ANG é responsável por parte do que faz as interações entre ambos eficientes, mas finalmente ter alguém disposto a ajudar Jean Luc Picard sem ressalvas após seis episódios de gente mandando o maior capitão da história da Frota Estelar se foder uma vez atrás da outra foi um alívio.
E falando em ajudar Picard e se foder, o desfecho do episódio sugere que a tripulação da La Sirena tenha perdido um de seus membros...
Entre idas e vindas, The Impossible Box foi um bom episódio apesar de irregular. Star Trek: Picard passou tanto tempo preparando terrenos que eu francamente esperava que a segunda metade da série fosse bem melhor, mas os roteiristas seguem cometendo erros no que deveria ser a principal força do programa: Seus personagens.
Vamos ver se, a bordo da La Sirena, Soji consegue se tornar uma personagem menos vazia, ou se a trama consegue avançar de maneira mais suave sem precisarmos acompanhá-la sozinha a cada semana.

"-Por favor, meus amigos, escolham viver."

Resenha Série: Better Call Saul, temporada 5, episódio 2: 50% Off


Better Call Saul começou sua quinta temporada com grandes promessas em Magic Man, promessas que o programa segue fazendo, e cumprindo, em seu segundo episódio, disponibilizado pela Netflix no dia seguinte ao lançamento da premiére, ao manter o crescendo da história enquanto fazia uma interessante lembrança tanto da primeira temporada da série quanto do Saul Goodman que conhecemos em Breaking Bad.
O esforço promocional de Jimmy, digo, Saul, no episódio passado se mostrou surpreendentemente popular entre a bandidagem rasteira de Albuquerque. No início do capítulo nós inclusive temos a oportunidade de seguir dois desses imbecis por uma noite típica quando eles fazem todo o tipo de idiotice, incluindo alguns crimes não-violentos, para sustentar seu vício numa estilosa e divertida montagem.
Quem não está no ramo de crimes não-violentos é Gustavo Fring.
O proprietário da Los Pollos Hermanos obviamente não gostou de se ver sob o escrutínio de Lalo Salamanca no capítulo anterior, e sua resposta respinga com força no pobre Nacho. Arrancado de sua cama no meio da noite pelos capangas de Gus, ele recebe uma ameaça tão clara quanto apavorante, e uma missão: Ganhar a confiança de Lalo, custe o que custar.
É testemunho do brilhantismo da escrita de Better Call Saul e do talento de Michael Mando que Nacho guarde, a despeito de ser um traficante de drogas intermediário no meio da engrenagem do comércio de narcóticos do Novo México, dignidade e humanidade o suficiente para que nós nos preocupemos com ele o suficiente para nos apiedar de sua situação no pingue-pongue criminal entre Fring e os Salamanca e ficar na ponta da cadeira quando ele resolve arriscar o próprio pescoço para agradar a gregos e troianos no meio do capítulo.
Ao mesmo tempo, Jimmy e Kim continuam sapateando ao redor de seu relacionamento.
Kim se ressente do fato de os métodos de Jimmy/Saul serem eficazes o suficiente para fazê-la cruzar seus próprios limites morais não apenas com o sistema, mas também com seus próprios clientes, como Bobby, o cretino do episódio anterior. Jimmy, por sua vez, sabe que ela está frustrada, mas parece não entender ao certo por que, ainda assim, ele consegue cavar um buraco no silêncio da namorada ao levá-la para visitar uma casa à venda onde, após um pouco de otimismo, Kim se abre a respeito do que a preocupa.
Jim, no entanto, parece não perceber o quão delicada é sua situação com Kim, agora. Talvez porque, nas temporadas anteriores, eles já tenham estado nesse estágio e ela sistematicamente vem ficando ao lado dele vez após outra, e uma das razões talvez seja exatamente o fato de Jimmy não estar propositalmente testando os limites do relacionamento, de fato, a visita à casa parece funcionar, ao menos como paliativo, para a situação do casal.
Menos cândido na abordagem de suas aflições é Mike.
Após ser colocado no banco de reservas por Gus, ele aceita tomar conta de Kaylee em um momento onde ele obviamente não deveria estar lidando com nenhum tipo de ser humano, crianças em especial. Apesar de se esforçar para ser carinhoso com a neta, ele eventualmente explode, e o resultado não é bonito. Mike parece saber que, após a morte de Werner, ele não pode se dar ao luxo de afastar sua neta, mas, tomado pelo luto, ele não está em posição de agir racionalmente, e o preço que ele vai pagar pelo que aconteceu após ele levar o engenheiro para o deserto ainda está por ser visto.
Pra fechar a conta, após operar um tremendo esquema para adiantar todos os processos possíveis após pegar todos os casos que chegaram até ele, Jimmy está saindo do tribunal em modo Saul Goodman total, com direito a fone bluetooth e tudo, quando seu caminho volta a se cruzar com o dos Salamancas na forma de Nacho, que precisa de um advogado após a prisão de Krazy 8. O retorno de Jimmy, agora na pele de Saul, ao convívio dos cartéis é um tremendo déjà vu e uma promessa: Essa temporada irá pegar pesado no quesito tensão.

"Que tal um desconto especial?"