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segunda-feira, 2 de março de 2020

Resenha Série: Star Trek: Picard, Temporada 1, Episódio 6: The Impossible Box


Um dos maiores problemas de Star Trek: Picard até o momento é a maneira equivocada como o programa escolhe os personagens que movimentam a trama. O quanto do andamento da série depende, por exemplo, de Soji e Narek, dois personagens que, na melhor das hipóteses, não foram desenvolvidos a contento pelo roteiro até aqui. O fato de os dois, e seu relacionamento, não terem caminhado a despeito de ocupar boa parte da trama, rouba de The Impossible Box muito do impacto que o capítulo obviamente queria causar.
No sexto episódio da temporada, Jean Luc e a tripulação da La Sirena chegaram ao espaço Romulano onde está O Artefato. O cubo Borg transformado em estação de pesquisa que é o paradeiro de Soji conforme Bruce Maddox informara logo antes de ser assassinado por Agnes Jurati no fim do episódio anterior.
Chegar até o local foi a parte fácil da conversa, receber permissão para adentrar o lugar são outros quinhentos, e demandam um bocado de malabarismo por parte de Raffi que, por sinal, entrou de cabeça em todos os vícios possíveis após o passa-fora que levou do filho em Stardust City. À certa altura eu achei que ela faria como Lloyd Bridges em Apertem os Cintos: O Piloto Sumiu, e em cada cena iria aparecer usando um tipo diferente de droga.
A despeito de mal conseguir ficar em pé, Raffi obtém uma credencial para Picard abordar O Artefato, mas há uma série de imposições e condições, entre elas a de que ele deverá fazê-lo sozinho, e em um espaço pré-determinado (embora ele esse espaço seja uma sala vazia de onde ele é deixado para vagar livremente... Vá entender esses protocolos de segurança).
Enquanto lida com os traumas que a espaçonave Borg lhe traz, Jean Luc é amparado por Hugh (Jonathan Del Arco), mais um que conhece o trauma de ser assimilado pela coletividade, e que pode levá-lo até Soji.
O problema é que Soji chegou a um ponto crucial, extremamente próximo da ativação, e Narek viu a oportunidade de agir, e não pretende desperdiçá-la, numa jogada que finalmente coloca Soji e Jean Luc Picard juntos, e em fuga.
Conforme eu disse lá em cima, muito do que não funciona em The Impossible Box é o quanto o capítulo é focado em Soji. Tudo nesse episódio advoga contra os showunners e a maneira como eles escolheram retratá-la. Em um episódio nós fomos capazes de nos conectar e conhecer Dahj mais do que conseguimos em cinco com a outra irmã. Soji simplesmente não tem reações humanas que justifiquem a sua importância. Ela é desprovida de profundidade ou personalidade sendo pouco mais do que uma tela em branco onde os outros podem projetar suas opiniões a respeitos de androides (desculpe, sintéticos...).
Não ajuda que seu relacionamento com Narek seja totalmente despropositado e livre de qualquer química de uma forma que faz com que os dois personagens pareçam mais antipáticos por conta do envolvimento, ela burra e ele mal-intencionado.
Por sorte o capítulo foi bondoso com Jean Luc, ao dar a Patrick Stewart a oportunidade de revisitar seu momento mais sombrio durante seu período como Borg, e também re reconectá-lo com Hugh, personagem egresso da quinta temporada d'A Nova Geração, e que partilha das atribulações do almirante reformado.
Claro, a nostalgia para com ANG é responsável por parte do que faz as interações entre ambos eficientes, mas finalmente ter alguém disposto a ajudar Jean Luc Picard sem ressalvas após seis episódios de gente mandando o maior capitão da história da Frota Estelar se foder uma vez atrás da outra foi um alívio.
E falando em ajudar Picard e se foder, o desfecho do episódio sugere que a tripulação da La Sirena tenha perdido um de seus membros...
Entre idas e vindas, The Impossible Box foi um bom episódio apesar de irregular. Star Trek: Picard passou tanto tempo preparando terrenos que eu francamente esperava que a segunda metade da série fosse bem melhor, mas os roteiristas seguem cometendo erros no que deveria ser a principal força do programa: Seus personagens.
Vamos ver se, a bordo da La Sirena, Soji consegue se tornar uma personagem menos vazia, ou se a trama consegue avançar de maneira mais suave sem precisarmos acompanhá-la sozinha a cada semana.

"-Por favor, meus amigos, escolham viver."

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