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quarta-feira, 11 de março de 2020

Resenha Série: Better Call Saul, temporada 5, episódio 4: Namaste


Um dos testemunhos da qualidade de Better Call Saul é a maneira como, ao contrário de outras séries, o espectador não precisa ficar contando os episódios pra ver a coisa engrenar. Só agora, quando comecei a escrever a resenha do episódio disponibilizado ontem na Netflix, me dei conta de que fora o quarto episódio, e cheguei a sentir uma ponta de tristeza ao imaginar que a temporada estava chegando à metade, até me lembrar que Better Call Saul tem dez episódios por ano e não oito, e respirar aliviado.
Seja como for, eu não assisto ao programa esperando as coisas engrenarem, porque Better Call Saul está sempre onde deveria.
Namaste começa com Jimmy visitando uma loja de penhores, onde procura por um item em particular, sem saber ao certo o que é. É um daqueles momentos em que alguém entra em um estabelecimento e, quando encontrar o que deseja, saberá.
Mas então voltamos no tempo, para a manhã seguinte à noite que encerrou o episódio passado, após Kim retornar com o espírito quebrado de Tucumcari e suas interações com o senhor Acker.
Kim, por sinal, ainda não terminou com sua incessante busca por tomar o lado do homem comum nas pelejas legais da vida. E após tentar, sem sucesso, convencer Kevin Wachtell a realocar seu call center e deixar o rancho do senhor Acker em paz, ela resolve apelar para a artilharia pesada e conseguir, para o velho teimoso, a melhor ajuda legal possível na batalha contra o banco Mesa Verde...
Enquanto isso, Gus Fring está em sua própria batalha, para se manter um passo a frente do inimigo em sua guerra contra os Salamancas e o DEA na forma de Hank Schrader e Steve Gomez.
Se havia alguma dúvida do quanto Gus está absolutamente enfurecido com os mais recentes desdobramentos de sua querela com Lalo, basta ver o tratamento glacial que o normalmente afável gerente da Los Pollos Hermanos dispensa a Lyle, seu funcionário na lanchonete enquanto aguarda estoicamente pelo fatídico telefonema de Victor, que irá confirmar o andamento do plano que ele criou para manter as aparências à custa do sacrifício de seus ganhos pessoais.
Eu dizia, na época em que assisti Breaking Bad, que Hank Schrader merecia seu próprio spin-off, tratando de minerais, sua vida com Marie e sua luta contra o tráfico de drogas na fronteira dos EUA com o México. Em Namaste eu me lembrei por que. É bastante claro que o policial percebeu alguma coisa de errado com toda a operação, mesmo que ela tenha sido, em essência, um sucesso, envolvendo prisões e apreensões (pra quem assistiu Breaking Bad, a maior apreensão de sua carreira até ali, talvez?), da mesma maneira que, à certa altura, Jimmy consegue perceber que há algo errado com o convite de Howard para um almoço amigável.
Se em um primeiro momento Jimmy parece balançar diante da oferta de emprego do sócio de seu falecido irmão, afinal de contas, ela representa o tipo de validação pela qual Jimmy brigou ferozmente por três temporadas enquanto era afastado da firma por Chuck, basta que ele veja a placa do Jaguar de Howard para perceber que a oferta de emprego é muito mais um passo na jornada que redenção que Howard deseja trilhar do que a chance de ouro pela qual Jimmy McGill esperou por tantos anos.
Ele é Saul Goodman, agora, e Saul Goodman não faz prisioneiros, não importa se ele tem que falar grosso com um par de viciados imbecis no xadrez, armar uma ceninha durante um julgamento, ou usar recursos visuais incomuns para convencer um cliente em potencial a aceitar sua representação. Saul/Jimmy conhece as pessoas, e esse é seu maior trunfo, mais do que sua persistência ou sua lábia, e quanto mais Jimmy entender isso, mais profundamente ele estará enterrado sob os paletós extravagantes de Saul Goodman e sua lista de clientes mais perigosos.
O que, por sinal, nos leva de volta até Mike.
O ex-policial segue na fossa. A exemplo de Gus, ele ainda está juntando os pedaços após todo o caso da fuga de Werner, e se para Gus as perdas decorrentes disso foram basicamente materiais, Mike parece ter executado uma parte de sua alma junto com o engenheiro alemão. Seu estado é tão óbvio que Stacey diz, com todas as letras, que prefere que ele não cuide da neta na sua noite de plantão. Até que ele consiga curar o que está o corroendo por dentro, Mike não é bem-vindo como babá e nem provedor, e isso o lança ainda mais fundo no poço, e em um caminho de situações potencialmente auto destrutivas que termina de maneira surpreendente dando a entender que Gus Fring está reagrupando suas tropas, e que o momento para paz chegou ao fim...

"-Foi um pouco não-ortodoxo, mas se liga nisso. As duas mais belas palavras da língua inglesa: 'Julgamento anulado'."

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