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segunda-feira, 9 de março de 2020
Resenha Série: Star Trek: Picard, Temporada 1, Episódio 7: Nepenthe
Uma das coisas que Star Trek: Picard vem fazendo com bastante insistência desde seu primeiro episódio, é se afastar o máximo possível de A Nova Geração.
É um movimento obviamente calculado por parte da equipe criativa, provavelmente com intenção de fazer com que o novo seriado pareça menos com uma sequência da série-mãe, e mais como uma outra história situada naquele universo, afinal, Picard não é uma série sobre explorar novos mundos e encontrar novas formas de vida e novas civilizações, mas sobre chafurdar na podridão oculta sob a superfície da Frota Estelar.
Nepenthe, sétimo episódio da temporada muda sensivelmente esse paradigma ao nos colocar em contato, não com um, mas com dois membros da tripulação da Enterprise D, os agora casados Will Riker (Jonathan Frakes) e Deanna Troi (Marina Sirtis) vivem no planeta que dá título ao capítulo, onde construíram uma vida idílica com direito a pizzas feitas de tomates plantados na terra em um forno ao ar livre e uma filha adolescente que vaga pela floresta caçando com arco-e-flecha.
Seria bom, pra mim, saber que Riker e Troi tiveram um final feliz, mas não é o caso.
Os dois tiveram sua cota de tragédias na vida, uma ligada aos eventos que colocaram a trama da série em movimento, e que assombra todos os membros da família Troi-Riker e que, ao longo do capítulo, a audiência vai recebendo a conta-gotas até que todo o mosaico seja revelado.
Isso dá a Frakes e Sirtis a oportunidade de reprisar personagens profundamente conhecidos com novas notas de tristeza e reflexão, nessa tarefa eles são ajudados por Lulu Wilson, que interpreta Kestra, a filha do casal, que a despeito de sua vivacidade também não mascara seus sentimentos de luto.
O mais interessante é que essas interações também trazem à tona o melhor de Picard.
Na companhia de seus velhos colegas de elenco, Patrick Stewart se aproxima novamente da candura de A Nova Geração em detrimento da encarnação por vezes desastrada que temos visto em episódios recentes de Star Trek: Picard (sério, nem me deixe começar a listar as bobagens que o almirante reformado vem aprontando.).
Se a estada em Nepenthe é uma ótima para Picard, não se pode dizer o mesmo de Soji, que já na chegada é confrontada com o fato de que não é um ser humano de verdade (Kestra não é particularmente polida na hora de perguntar se a filha de Data é uma androide). Interrogada a respeito de violinos, Sherlock Holmes, saliva e muco a jovem fica bastante agressiva, e chega a entrar em modo Regiane Alves e dar um safanão em Picard, em quem deixa claro que não confia plenamente, até ser amaciada por Riker e Troi, mais habituados com a presença de crianças birrentas em seu meio. Jonathan Frakes parece se divertir bastante nos momentos em que ele e Picard finalmente conversam sem a barreira de postos militares entre eles, chegando a se referir à "clássica arrogância de Picard", enquanto Deanna vai ainda mais longe e chama o seu ex-capitão na xinxa. O mais interessante nessas interações é que, a despeito de não haver mais hierarquia militar entre eles, o que cria um novo grau de liberdade, os três personagens são obviamente amigos de longa data, e eventualmente estão trabalhando em uníssono para trazer Soji para o seu lado.
Tais interações inclusive, melhoram Soji, que fica mais humana (embora continue irritante...) .
E enquanto Nepenthe dá a Picard alguns de seus melhores e mais reflexivos momentos, o resto da tripulação da La Sirena está lidando com problemas cada um à sua maneira.
N'O Artefato, Hugh e Elnor estão lidando com os membros da Tal Shiar da melhor maneira que podem. O ex-guarda-costas de Picard, por sinal, tem a chance de mostrar que pode, sim, levar uma espada para um tiroteio e levar a melhor, até mesmo contra Narissa, mas até mesmo o discípulo das freiras guerreiras de Romulus tem seus limites, e eventualmente ele se vê encurralado o suficiente para precisar pedir socorro (o que, talvez, traga de volta Jeri Ryan?).
na La Sirena as coisas estão um pouco menos desesperadoras, mas apenas um pouco.
Após a cena de abertura do episódio nos mostrar o que realmente aconteceu entre Agnes e a comodoro Oh no Japão as ações da doutora Jurati ficaram um pouco (mas apenas um pouco) menos nebulosas. Ela matou Bruce Maddox a mando da comodoro (e de eventuais demais conspiradores por trás da derrocada moral da Frota Estelar), mais do que isso, ela é o ponto de ligação entre a La Sirena e Narek, que sai em perseguição à nave de Cris Rios usando Agnes como objeto de rastreio.
Isso dura até a cientista ser assoberbada por uma crise de consciência ao se dar conta que seus laços com o lado malvado da história ameaçam envenenar os demais membros da tripulação uns contra os outros, e tomar medidas drásticas.
Como todas essas linhas narrativas irão confluir na sequência permanece por ser visto agora que a La Sirena tem um novo destino, o planeta sem nome onde Soji e Dahj nasceram...
Conforme eu disse lá no começo, é preocupante que uma série que está tão obviamente preocupada em andar com as próprias pernas como é o caso de Star Trek: Picard, tenha seus melhores momentos justamente quando abraça o material-fonte com mais decisão.
Por sorte Nepenthe foi um dos melhores episódios do seriado em um momento chave. Após dois capítulos que não primaram pela qualidade, esse sétimo episódio deu uma renovada no fôlego do programa e garantiu que eu esteja interessado em voltar à La Sirena essa semana.
"-Então você quer ficar até a bunda em Romulanos pelo resto da vida..."
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