Nelson não era uma pessoa muito sociável. Na verdade, Nelson era bastante anti-social. Nelson não era anti-social como você, que não gosta de pessoas te espremendo em danceterias, nem como você, que não se sente á vontade em grupos onde não conhece quase ninguém. Oh, não. Nelson era muito anti-social. O suficiente pra se manter afastado de todos, pra se manter sozinho sem nem sequer dar bom dia aos vizinhos. Nelson erigiu um muro ao seu redor para garantir sua própria solidão, e nem sequer gostava da solidão, ele apenas não gostava de gente. Não era uma decisão baseada em dados ou em alguma racionalidade duvidosa, tipo "As pessoas estão destruindo o mundo, por isso não gosto delas...", não. Nelson não gostava das pessoas, ponto. As pessoas com seus olhares, com suas vozes, com seus toques... Nelson detestava as pessoas. Nelson era o tipo de pessoa que, em uma história infantil, criaria cobras. Uma criação de cobras era a única coisa capaz de fazer jus á total, plena e absoluta falta de empatia ou simpatia de Nelson pelas pessoas.
Nelson trabalhava em casa, evitava ao máximo o contato com o mundo exterior, e quando mantinha algum, era desagradável, pra garantir que as pessoas se mantivessem afastadas dele, fazendo questão de mostrar em todas as cores seu desprezo por elas. Isso, além de garantir a solidão que Nelson tanto prezava, deu á ele uma péssima fama. As pessoas que o viam nos lugares que ele era obrigado á frequentar, como o supermercado, lhe lançavam olhares desdenhosos, isso quando lançavam algum. Na maior parte do tempo, as pessoas fingiam que não o tinham visto. Seus vizinhos largavam a porta do prédio e andavam mais rápido quando ele se aproximava, aumentavam o volume da TV quando ele batia as janelas de seu apartamento, deixavam á sua porta as roupas que ele eventualmente derrubava do varal em suas áreas de serviço.
As pessoas devolviam silenciosamente á Nelson o desprezo que ele lhes dispensava de maneira tão alardeada, e essa situação causava e justificava o comportamento de Nelson.
Nelson se abstinha de viver, sim, pois viver, mais do que estar respirando, é participar dessa instituição injusta e imperfeita chamada humanidade. Nelson renegava o dever de dar ás pessoas a oportunidade de serem surpreendidas por ele, de surpreendê-lo ou, que diabos, de agir exatamente como ele esperava para que ele pudesse mandar tudo lá pra casa do Capita e pensar consigo mesmo "eu não disse?".
Nelson não conhecia o prazer de um abraço, de um aperto de mão, não sabia como era o frio na barriga ao lembrar de um pequeno vexame, ou a sensação cálida ao relembrar um beijo.
Nelson tinha todas as ferramentas para viver, mas preferiu fazer-se morto, e o pior de tudo: Ninguém sentiu sua falta.
"Está vivo! Vivo!!!"
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