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quinta-feira, 5 de novembro de 2009
Calvin & Haroldo
Ontem terminei de ler Calvin e Haroldo, A Hora da Vingança, mais recente volume das compilações das tiras em quadrinhos de Bill Waterson que a Conrad vem publicando no Brasil.
É incrível como a cada volume que leio tenho mais forte a certeza de que, se alguém criou algum quadrinho melhor do que Calvin e Haroldo, o manteve em segredo.
Nas tiras de Waterson, o moleque hiperativo e seu fiel e mordaz tigre de pelúcia destilam um humor em certos momentos ácido como soda cáustica, e em outros tão doce que parece que o leitor tem novamente seis anos e ganhou uma barra de chocolate.
O guri de cabelo arrepiado repleto de opiniões definitivas á respeito de tudo tem em si um pouco de cada um de nós, e talvez aí, nessa inevitável identificação, repouse parte do encanto das tiras.
Quem jamais se sentiu uma vítima por ter de levantar cedo e ir pra aula? Quem jamais se viu desanimado no final da tarde de domingo, incapaz de aproveitar as horas finais do dia porque o final de semana estava acabando, ou foi pego de surpresa por um grito da professora enquanto viajava por galáxias muito distantes dentro de seu próprio caça estelar? Qual de nós já não enxotou uma garota de seu "clube exclusivo", ou mandou tudo lá pra casa do Capita e fugiu de casa após uma travessura apenas para ser encontrado alguns metros mais adiante?
Calvin faz tudo isso. Claro, de nada adiantaria o quadrinho ser repleto de situações familiares se não fosse bem escrito, e Waterson é um poeta (Ás vezes literalmente, como em lindas tiras aquareladas onde os recordatórios trazem poemas maneiraços.) adicionando uma pitada de sarcasmo às aflições infantis de Calvin, tornando-as muito parecidas com as nossas próprias (O desapontamento de Calvin com relação á humanidade ás vezes reflete bem demais as minhas opiniões).
Além disso, há a mãe e o pai de Calvin (Engraçado que hoje em dia, eu acho eles tão excelentes quanto o personagem principal, coisa que não acontecia nos meus tenros anos de infância.), Susie Derkins, a aplicada vizinha e colega de escola de personagem central, e provavelmente a melhor personagem feminina dos gibis ao lado da Morte de Neil Gaiman, e, claro, Haroldo (Hobbes no original), o inseparável tigre de pelúcia de Calvin, que alterna suas participações entre ser a voz da razão do moleque, um competidor feroz, ou simplesmente o melhor amigo do guri, o acolhendo quando o resto do mundo todo parece injusto, e é nessas ocasiões em que Waterson nos mostra que a felicidade, não importa se temos seis ou sessenta anos, está nas coisas mais simples.
"História é a ficção que inventamos para persuadir a nós mesmos de que eventos são reconhecíveis e a vida tem ordem e direção"
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