Pesquisar este blog

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Quero meu pavor de volta.


E eis que houve um tempo em que eu ligava. Eu me importava, eu ficava chocado, e sentia medo.
Houve um tempo em que antes de dormir eu juntava as mãos e rezava fervorosamente pedindo á Deus, não por mim, mas por outras pessoas. Rezava sentindo meu coração encolhido de angústia, tristeza e dó pelas situações ás quais muitas pessoas estavam sujeitas.
Era um tempo em que eu ficava pasmo ao ler jornais e assistir noticiários, em que o sensacionalismo me fazia esbugalhar os olhos e a incredulidade me açoitava como um chicote de fatos apavorantes nos quais eu não podia nem queria acreditar.
Foi-se esse tempo. A humanidade (enquanto instituição.) me roubou o dom do choque. As pessoas (generalizando, mesmo.) conseguiram tirar de mim o assombro, nada mais me surpreende. Não importa quão torpe seja a ação, quão desprezível, quão lastimável, eu não me surpreendo, eu não fico chocado.
O dom da raça humana de mandar toda a moral e decência lá pra casa do Capita, essa tendência quase patológica de sempre se superar no tocante a ações tenebrosas e ímpias acabou com a minha capacidade de sentir ojeriza ou pavor.
Houve um tempo em que eu sentia medo de muita coisa, hoje, não mais. Hoje eu não tenho mais medo de nada, quando eu saio ás ruas eu estou sempre, sempre preparado para sofrer alguma espécie de violência. Espero por um assalto, por um atropelamento, por, pelo menos, um xingamento de um pseudo-torcedor do time rival, se não acontecer nada disso, ótimo, se acontecer, não será surpresa.
Eu odeio as pessoas. Ninguém em especial, não se ofenda, quando digo "as pessoas" estou, novamente, generalizando, mesmo. E, como não sou hipócrita (A maior parte do tempo.), incluo-me.
Eu odeio as pessoas por terem tirado de mim o medo, por terem me roubado o choque. Eu as detesto por terem tirado de mim a capacidade de ficar horrorizado, por roubarem a minha expectativa de um Deus que fiscaliza e intervém, e me deixado com nada senão a certeza de que nós, cada um de nós, quando tiver a oportunidade, fará o seu pior.
Hoje eu não tenho mais pavor, eu não ficarei chocado mesmo no dia em que nós matarmos uns aos outros até a última criança.
Foi-se o tempo. Queria o meu pavor de volta...

"Havia um tempo, em que eu vivia, um sentimento quase infantil..."

Nenhum comentário:

Postar um comentário