Maldito seja, Warren Ellis. Maldito seja por ter escrito Planetary. Maldito seja por se juntar a John Cassaday, Laura Martin e David Baron e ter criado essa espetaculosa obra em quadrinhos.
Maldito seja, malditos sejam todos por tê-la feita tão curta.
Sim, curta.
Pois com o lançamento de Deixando o Século 20, terceiro volume da série na republicação da Panini, e volume em que a atual publicação alcança o ponto até onde a Devir e a Pixel haviam chegado entre 2005 e 2008, há uma dicotomia de sentimentos.
É como descobrir que a ex-namorada a quem tu amava encontrou alguém melhor e está feliz. Da mesma forma que tu te sente feliz por ela, existe aquela percepção clara de que algo se perdeu. É assim com esse terceiro e glorioso volume de Planetary.
Da mesma forma que existe uma excitação em saber que o próximo volume mostrará o desfecho da série, que mantendo a qualidade da publicação até aqui, deverá ser ótimo, existe certa melancolia em saber que O Baterista, Jakita Wagner e Elijah Snow deixarão de aparecer periodicamente nas bancas desenterrando o passado deste nosso mundo estranho.
O terceiro volume de Planetary tem 6 (excelentes) histórias publicadas originalmente nas edições 13 a 18 da Planetary Magazine.
Na primeira, Século, vemos um jovem Elijah Snow viajando pela alemanha em 1919. Ele vai até um castelo abandonado onde encontra monstros e evidências de uma antiga conspiração que o levam até Londres, na Inglaterra, onde encontra Sherlock Holmes, o maior detetive do mundo, já em idade provecta, na companhia de um vampiro.
Referências óbvias a Frankenstein, conde Drácula, Holmes e, claro, à Liga Extraordinária de Alan Moore.
A história seguinte, Ponto Zero, mostra o momento em que o problema de Snow com os quatro tornou-se pessoal, além das óbvias alusões ao Quarteto Fantástico, existe outra a Thor, e também o momento exato em que Snow foi vítima de Randall Dowling, tornando-se o andarilho amnésico que conhecemos no primeiro volume.
A terceira história da edição, Canções de Criação, Snow, com sua memória quase que totalmente recuperada faz emendas ao período em que esteve afastado ao mesmo tempo em que resolve lembrar aos Quatro que é bastante perigoso, também, além de referir a um explorados chamado Carlton Marvel (referência ao Capitão Marvel, mas também à editora Charlton).
A ela segue-se Hark, onde o líder do Planetary coopta Anna Hark para sua causa e promove um reencontro.
As referências mais claras da edição, além da óbvio desfecho do arco iniciado em Estranhos Portos, onde Jim Wilder viajou à Sangria, são os filmes de kung-fu românticos de Zhang Yimou e Ang Lee.
A seguir, visitamos novamente o passado de Elijah Snow. É 1933 e ele descobre o caminho até a cidade perdida de Opak-Re, uma joia de alto desenvolvimento humano e científico oculta no coração da África.
Lá, conhecemos Kevin Sack, lorde Blackstock, um nobre britânico criado na selva com bom trânsito entre o povo local, Anaikah, primeiro amor da vida de Elijah Snow, e até mesmo pistas da origem de Jakita Wagner.
A mais clara referência na história é, claro, ao Tarzan de Edgar Rice Burroughs, o aristocrata inglês John Clayton III, lorde Greystoke (Até na capa original, aludindo à revista All Star Magazine, de outubro de 1912, primeira aparição do personagem) , mas há ainda uma referência sutil ao Superman.
Fechando a edição com chave de ouro, temos O Clube do Canhão, na história o espião Stone, John Stone oferece uma dica a Elijah Snow.
Ele fala sobre um objeto em órbita translunar a 150 anos. A órbita prestes a terminar atrairá a atenção dos quatro, dando a Snow uma chance de bater forte em seus inimigos.
Mais do que isso, a história ainda mostra um estranho lançamento espacial datado de 1851, numa bela homenagem a Da Terra à Lua, de Jules Verne.
Claro, Planetary é muito mais do que simples referências e homenagens (e há muitas outras além dessas, que com certeza podem ser encontradas pelo leitor mais atento e obsessivo), a trama oculta sob o verniz da revisão da cultura pop do Século XX é realmente interessante, bem construída e magnética.
O formato americano, com capa cartão e papel bom no miolo, por módicos R$19,90 são os mesmos das duas edições prévias.
O formato americano, com capa cartão e papel bom no miolo, por módicos R$19,90 são os mesmos das duas edições prévias.
A ocasião é agridoce.
Planetary está por terminar. Vida longa a Planetary.
"Bom dia, doutor Dowling. Doravante as coisas vão só piorar."
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