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quinta-feira, 6 de março de 2014

Resenha Cinema: Tudo Por um Furo



Em 2004 um dos personagens cômicos mais engraçados do cinema nas últimas décadas surgiu na comédia O Âncora: A Lenda de Ron Burgundy.
O personagem título, vivido por Will Ferrell, era o maior âncora do jornalismo televisivo no horário nobre de San Diego na década de 70.
Ron, um completo imbecil, absolutamente chauvinista, convencido, infantil, que era a voz da verdade para o povo da cidade, que aguardava ansiosamente para ouvi-lo, via seu mundo ser sacudido ao ser obrigado a dividir a bancada com a primeira apresentadora feminina de noticiários, Veronica Corningstone (Christina Applegate).
Ron Burgundy fez uma carreira modesta no cinema. Não chega a surpreender. A base de fãs de Will Ferrell não chega a ser enorme nos EUA, e no resto do mundo deve ser desprezível (segunda-feira conheci o fã de Ferrell de Porto Alegre além de meu irmão e eu, vi o sujeito comprando ingressos para O Âncora no cinemark vestindo uma camisa com a cara do ator estampada na frente).
Seus fãs, porém, embora poucos, são fiéis. E, no boca a boca, nos DVDs e na TV a cabo, Ron Burgundy e seus parceiros do noticiário, os igualmente imbecis Brian Fantana (Paul Rudd), Champ Kind (David Koechner) e Brick Tamland (Steve Carell), acabaram conquistando mais pessoas.
Ao longo dos últimos nove anos, a turma do Canal 6 acabou encontrando seu nicho, e formando uma audiência capaz de justificar uma continuação.
Como o filme anterior, que usava a explosão do feminismo e o fim do estilo macho-man de bigodão e peito cabeludo para sustentar uma hora e meia de bobagens da melhor qualidades, a sequência também parte de uma premissa carregada de verossimilhança, mas, infelizmente, de uma verossimilhança muito mais atual.
O execrável título brasileiro, Tudo Por um Furo, feito sob medida para evitar que as pessoas lembrassem do filme anterior, e para ocultar o fato de que se trata de uma sequência de cujo primeiro filme quase ninguém assistiu, faz justiça, porém, ao mote do filme, o momento em que o noticiário virou entretenimento.
Na trama, Ron Burgundy e sua esposa Veronica Cornigstone apresentam um noticiário vespertino em Nova York.
Com a iminente aposentadoria do âncora do mais prestigiado noticiário de horário nobre, Mack Tannem (Harrison Ford), eles esperam ficar com a vaga, o que se comprova fato, mas apenas até certo ponto.
Veronica é aprovada por Mack, mas Ron, não.
Humilhado, ele obriga Veronica a escolher entre ele ou o trabalho.
Alguns meses depois vemos Ron, apresentando os shows aquáticos na Flórida, mergulhado em um espiral de desgraça e ostracismo após perder o emprego e romper com Veronica.
Mas apenas até ser procurado pelo produtor Freddie Shapp (Dylan Baker), que acena com uma nova oferta de trabalho para Ron:
Um emprego como âncora no primeiríssimo canal de notícias 24 horas do mundo, a GNN.
Ron aceita o trabalho contanto que possa recrutar sua antiga equipe, Champ Kind, nos esportes, Brick Tamland na meteorologia, e Brian Fantana como repórter de rua.
Com seus companheiros a seu lado, Ron chega à GNN, mas apenas para descobrir que ficou com o pior horário da emissora, das duas às cinco da madrugada.
Entretanto, disposto a recuperar seu posto como número 1, especialmente motivado após uma rixa com o bamba da emissora, Jack Lyme (o Ciclope James Marsden), Ron e seus colegas começam a pensar em como tornar o noticiário mais atrativo.
Então pensam, por quê, ao invés de mostrar às pessoas o que elas precisam saber, não mostrar apenas aquilo que elas querem ver?
E tome patriotismo barato, perseguições cobertas ao vivo, escândalos envolvendo celebridades e reportagens com animais, lançando a audiência a níveis estratosféricos e colocando o apresentador mais classudo de San Diego no topo do mundo. Mas por quanto tempo essa fama e sucesso manterão Ron no topo antes que ele coloque tudo a perder?
É ótimo.
A fita, novamente co-escrita por Ferrell e o diretor Adam McKay tem duas horas de non-sense non-stop, a profusão de piadas é tão descontrolada e em tons tão variados que é impossível, mesmo para quem não é fã de comédias, não rir de, pelo menos, algumas delas.
O elenco principal segue ótimo. Ferrell e Carell são dois dos melhores comediantes do cinema americano, Paul Rudd também não é nenhum novato na arte de fazer papel de boçal, e David Koechner tem em seu Champ o melhor papel de sua carreira.
O texto carregado de besteirol é um prato cheio para o elenco, engrossado pela presença de Maegan Good (E bota good nisso), Kirsten Wiig, Greg Kinnear, Josh Lawson, além de uma constelação de participações especiais incluindo Liam Neeson, Will Smith, Marion Cotillard, Kirsten Dunst, Tina Fey, Amy Poehler, Sacha Baron Cohen, Jim Carrey, John C. Rilley, Kanye West e Vince Vaughn.
Em suma?
Assista no cinema, Ron Burgundy e sua equipe não merecem passar mais dez anos longe. E nem a audiência.

"-O quê? Nos colocaram no horário do cemitério!
-Eu não tenho medo de fantasma."

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