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sábado, 8 de março de 2014
Resenha Cinema: Walt nos Bastidores de Mary Poppins
OK, ok... Eu sei que a hora de traduzir os títulos de filmes, livros e quadrinhos estrangeiros de modo a torná-los mais atraentes e acessíveis ao grande público deve ser um momento tenso. Sei que a ideia geral deve ser sempre fazer o melhor e mais fiel trabalho possível. Por vezes o serviço é feito de maneira tão acertada que superam os originais. Imagine O Poderoso Chefão intitulado "O Padrinho", ou Rastros de ódio sendo chamado de "Os Procuradores", ou Demolidor, o herói cego de Hell's Kitchen, sendo "O Audacioso"... Entretanto, há outras vezes... A maioria das vezes, em que a tradução simples funcionaria a pleno contento...
Essa é uma dessas vezes.
Walt nos Bastidores de Mary Poppins, é um título mal escolhido, mal ajambrado e até mesmo mal intencionado para o Saving Mr. Banks do original. Otítulo nacional parece feito para convencer a audiência que Disney e sua luta para tornar o livro de P. L. Travers um filme são os protagonistas da trama.
A verdade é bem o oposto.
O longa de John Lee Hancock (de Um Sonho Possível) é muito mais focado na escritora australo-britânica e na sua relutância em aceitar vender os direitos do seu livro, Mary Poppins, para que Disney fizesse dele um filme, algo que o poderoso animador da Disney tentava a vinte anos.
Travers (Emma Thompson), ameaçada de perder sua casa, acaba aceitando considerar a ideia em 1961, e para isso, é convidada a se encontrar, em Los Angeles, com o produtor do filme, Don DaGrady (Bradley Withford), os roteiristas Richard e Robert Sherman (Jason Schwartzman e B. J. Novak), e o pai do Mickey em pessoa, Walt Disney (Tom Hanks).
Uma pessoa intransigente e difícil de se relacionar, Travers chega à Hollywood francamente disposta a melar a negociação, fazendo toneladas de exigências absurdas e demandando controle criativo sobre a produção de fazer J. K. Rowling se morder de inveja.
Entretanto, enquanto coloca defeito em tudo e é britanicamente fleumática com todos a seu redor, a autora começa a remoer reminiscências de seu passado, e a tornar cada vez mais evidente o paralelo entre o chefe da família de seu livro, o Mr. Banks do título original, e seu próprio pai, o banqueiro fracassado Travers Goff (Colin Farrell), e a ideia de salvar o senhor Banks, e a memória de seu pai, começa a ficar tentadora.
Completamente chapa branca, ignorando os lados mais sombrios dos protagonistas Travers e Disney , e pintando o conflito de ambos com tintas tão leves que tornam o filme quase uma comédia na maior parte do tempo, Walt nos Bastidores de Mary Poppins, ainda consegue agradar.
Carregado de uma ternura quase palpável, o roteiro de Kelly Marcel e Sue Smith caiu nas mãos de um diretor bem intencionado e de um elenco muito mais do que competente.
A interpretação de Emma Thompson é excelente, e apesar da completamente despropositada mudança da personagem ao longo do filme, a inglesa dá nuances e expressões muito verdadeiros à sua Travers, de modo que, graças à atriz, a personagem escapa de se transformar unicamente em um pastiche da voz e do sotaque da autora de verdade (Copiados, diga-se de passagem, à perfeição, conforme atesta um trecho gravado da voz da P. L. Travers original nos créditos de encerramento). Se o texto não faz o mesmo por Tom Hanks, com muito menos chances de tornar seu Walt Disney mais do que meramente camaradão, ajuda Colin Farrell a realizar um ótimo trabalho como o pai da escritora, e Paul Giamatti com seu amigável motorista Ralph.
Longe de ser um documento biográfico acurado de qualquer um dos retratados, Walt nos Bastidores de Mary Poppins é um filme tocante, bonito, divertido, e cheio de bons trabalhos, que vale demais a ida ao cinema.
"Ventos no oeste/ Nevoeiro vai entrando/ Como algo em preparo/ Quase começando/ Não posso apontar/ O que aguarda adiante/ Mas sinto que o quê se avizinha/ Já aconteceu antes."
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