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segunda-feira, 5 de maio de 2014

O Espetacular Homem-Aranha 2: A Segunda Vez é Ainda Melhor


Conforme havia prometido quando vi o trailer do filme no começo do ano, sábado fui ver O Espetacular Homem-Aranha 2 - A Ameaça de Electro uma segunda vez.
Acho que é sempre positivo rever filmes que te empolgam demais na estréia. Te dá uma nova perspectiva e a possibilidade de sair do embasbacamento de fã e ser mais objetivo na hora de notar eventuais defeitos.
Nesse review, podem haver spoilers, então, se ainda não viu o filme, e não quer informações sobre o enredo, pare de ler.

OK, daqui pra frente é por tua conta e risco:

A "História Jamais Contada:

Um dos grandes defeitos do primeiro filme era a insistência na linha narrativa que mostrava Peter tentando descobrir o que acontecera a seus pais após o abandonarem.
Essa insistência chegou a gerar a suspeita de que o roteiro de James Vanderbilt estivesse tentando mostrar uma predisposição de Peter a ser o Homem-Aranha, como se Richard Parker houvesse usado seu filho como cobaia de sua experiência.
De tão descabida, essa linha de história foi eliminada do corte final do filme (se é que existiu de fato), o que deixou inúmeras arestas por aparar.
Elas foram aparadas no novo filme, e talvez, seja essa a linha da história que mais incomoda.
Peter, com seu tio morto, com a tia endividada, Gwen indo pra Inglaterra (Sem contar todos os problemas super-heroicos), continua mais preocupado com seus pais mortos mais de dez anos atrás do que com os problemas imediatos que o assolam no presente.
Ainda assim, a forma como Alex Kurtzman e Roberto Orci fecharam a conta de Richard e Mary Parker no filme é bacana. Fiel aos quadrinhos e sem apelar ao absurdo de eles serem espiões (é, no gibi é assim).
Até a predisposição genética é confirmada de uma maneira mais... Elegante, digamos. Embora uma que demande muito mais suspensão de descrença e conforto com coincidências fortuitas.
Então, esse ponto, que é o mais baixo do filme, é superado antes do desfecho.

Harry Osborn, o melhor amigo que ninguém conhecia:

O Harry Osborn de Dane DeHaan ficou excelente. A interpretação do ator para o melhor amigo de Peter Parker foi ótima, quando eles conversam e sacaneiam um ao outro, há fluência e camaradagem crível na tela, e quando Harry se torna perverso, ele é muito mais convincente do que o "meigo" James Franco.
Mas mesmo tendo gostado muito do filme, a amizade duradoura dos dois soa forçada. Se eles não se viam desde os doze anos, como é que, tendo passado toda a adolescência afastados, os dois se encontram e ainda são melhores amigos?
Talvez se possa especular que Peter, sendo um jovem tímido e excluído, guardasse boas lembranças de quem foi seu melhor amigo na infância, quando os pais dos dois trabalhavam juntos, mas e Harry? Sedo um jovem bilionário revoltado com o mundo, porque ele ainda guardaria boas lembranças de Peter?
Poderíamos acreditar que seria pelas mesmas razões, mas é uma "melhor amizade" que exige um pouco de malabarismo de quem tenta justificá-la.

Electro, o vilão vítima:

Ninguém mais, e me incluo aí, aguentava os vilões vítima dos filmes de Sam Raimi. Raimi, gente boa até a medula, parecia incapaz de conceber um vilão malvado de verdade, de modo que todos os antagonistas do Homem-Aranha de Tobey Maguire eram bons sujeitos que acabavam sendo vítimas de experimentos.
Aí, na hora de recomeçar a franquia, colocam quem, de vilão principal?
Curt Connors, o Lagarto. Uma vítima do próprio experimento.
Podemos relevar que o Lagarto, ao contrário do Dr. Octopus e do Homem-Areia, era vítima de sua personalidade reptiliana já nos gibis, e funcionou bem na telona, criando um inimigo cascudo e um aliado interessante para o herói numa versão mais leve da relação pai/filho que Peter teve com Norman Osborn em Homem-Aranha.
No novo filme, Max Dillon aparece como uma nova vítima, mas apenas até se tornar o vilão.
Um nerd excluído e achincalhado, ao se ver cheio de poder, resolve dar vazão à raiva e à vaidade de um ego pisoteado ao longo dos anos.
Embora não seja o Electro do quadrinho, um escroto de carteirinha que se torna um vilão dos mais calhordas, a versão de Jamie Foxx é muito bem sacada pois é vítima até certo ponto, mas ao se tornar vilão, não rompe totalmente com o personagem que havíamos conhecido no início do filme: Um otário carente que era uma bomba relógio, não muito diferente dos atiradores solitários tão comuns nos EUA, mas turbinado por super-poderes elétricos.

Rino, o acessório:

Aleksei Sytsevich, o mafioso russo que se torna o Rino, aparece duas vezes no longa. A versão rinoceronte mecânico do vilão, aparece por cerca de três minutos, e olhe lá.
Está longe de ser um show de atuação de Paul Giamatti, o ótimo ator que vive o vilão no longa entrou na brincadeira e surtou total no papel. Sua interpretação é o mais estereotipada possível, mas a questão é:
Quem liga pra fidelidade quando se fala no Rino?
Pra tu ver como ninguém está muito preocupado, o vilão nem sempre foi russo. Em sua origem, ele era algo irlandês, e chamava-se Alex O'Hirn. A versão russa é mais recente, ligada ao Camaleão e a Kraven o caçador, por aí se vê que a origem do Rino e sua personalidade não necessariamente importam.
O Rino do longa é um amálgama entre a versão tradicional 616 e a Ultimate (que usa o traje mecânico), e serve muito mais pra emoldurar o longa do herói com um personagem a quem os fãs conhecem e que os espectadores do cinema, com sorte, verão de novo mais adiante.

A trilha sonora de Hans Zimmer:

Não se pode dizer muita coisa sobre Hans Zimmer exceto que o sujeito é o John Williams de uma geração, e esse é o melhor elogio que eu posso fazer a um compositor de trilhas sonoras.
Se seus temas para O Espetacular Homem-Aranha 2 não são tão chiclete quanto os de Danny Elfman para os filmes de Raimi, e nem são tão executados quanto a partitura de James Horner (da qual eu tinha gostado bastante), a trilha é muito bem sacada.
O tema do Aranha tem metais como toda a trilha de super-herói deveria ter, pra ficar com cara de fanfarra, mas ganha guitarras e um ritmo mais ágil que mostra que Peter Parker é jovem e se diverte sendo super-herói, espertíssimo.
O tema do Electro, então, está sensacional, criando um clima de tensão pra cada explosão do vilão.

As queixas infundadas:

Electro conserta os dentes ao se transformar?
Vi gente se queixando que o "gap", o vão estilo Madonna entre os dentes do Max Dillon desaparece quando ele sofre seu acidente. As pessoas perguntam que porcaria de vilão é esse que conserta os dentes ao se transformar. Mas não. Ele não vira um ortodontista elétrico.
Os dentes dele derretem.
Se tu prestar atenção às cenas subsequentes dele após a transformação, vai ver que seus dentes estão todos deformados, derretidos devido à eletrocussão dentro do tanque de enguias.

O Povo se junta pra ver as batalhas do Aranha!
Sim. Todo mundo se acotovela pra ver as brigas do Aranha junto aos cordões de isolamento da polícia.
Alguém acha isso estranho?
Pensa comigo: Se no nosso mundo real, onde qualquer um pode ser vítima de bala perdida sem fantasiados com super-poderes pra te levar pro hospital, situações de refém com marginal armado e vítima com arma na cabeça, tem mundos de gente olhando em volta, com a polícia sendo obrigada a montar cordão de isolamento ao redor do crime, será que alguém acha que num mundo onde super-heróis e super-vilões existissem e se engalfinhassem na rua, ninguém iria querer assistir in loco?

A "Mãozinha" de teia.
Eu nem sei como explicar isso pras pessoas sem sentir um pouco de dó de quem não entendeu...
A certa altura do filme, Gwen está caindo, e o Aranha lança sua teia para pegá-la. É um momento tenso, e, conforme a câmera lenta (muito bem utilizada) acompanha o fio em seu mergulho, na ponta do feixe, surge um formato de mão.
OK... Não. O Homem-Aranha não faz teias em forma de mão (nos filmes, nos quadrinhos já fez até coisas mais elaboradas), aquele também não é o formato habitual das teias. É apenas um recurso visual usado pra mostrar a teia como uma extensão do herói, bem como seu desespero para alcançar a namorada enquanto ela cai.
Esses festival de queixas quanto à presença da "mãozinha" é um depoimento bastante forte com relação ao retardo mental de uma geração incapaz de entender alguma coisa sem que ela seja explicada.
E depois eu reclamo quando os filmes são excessivamente expositivos.

O que há de positivo que fica mais evidente na segunda vista:

-Gwen Stacy. A namorada de todos nós.
Duvido que algum leitor que quadrinhos que conheceu a Gwen não se sentisse meio namorado dela. A loirinha era tudo aquilo que uma namorada deveria ser: Bonita, inteligente, divertida, compreensiva...
Emma Stone conseguiu mostrar tudo isso nos filmes, e mais. É descolada, engraçada, meiga. Se as atuações de Garfield e DeHaan merecem aplausos, a da senhorita Stone não fica atrás. Ela colocou Kirsten Dunst, Bryce Dallas Howard, Elizabeth Banks e a filha do senhor Ditkovic todas juntas, embaixo do salto de sua bota.
-O Relacionamento mais maneiro dos filmes de super-heróis.
Peter e Gwen conseguiram superar, e com folga, os melhores relacionamentos de filmes de super-heróis. Não tem Tony Stark/Pepper Potts, nem Steve Rogers/Peggy Carter, nem ninguém. A química entre Emma Stone e Andrew Garfield, namorados na vida real, é genial! Os dois, sacaneando um ao outro cheios de ternura, indo e voltando em seu relacionamento, fazendo planos apaixonados, comandam. Se tivesse um derivado estrelado apenas pelos dois, sem uniformes ou super-vilões, eu provavelmente iria assistir, porque eles são ótimos em cena.

-Peter Parker, fotógrafo.
Com dois vilões, o relacionamento Peter e Gwen, o conflito em casa com a tia May, e a obrigatória resolução da trama paralela dos pais de Peter Parker, o filme ficou tão curto que a participação de Shailene Woodley como Mary Jane foi cortada, e a de Felicity Jones como Felicia (Hardy?) foi brutalmente reduzida, ainda assim, houve espaço pra colocar uma breve menção (na verdade são três) ao fato de que Peter Parker complementa seu orçamento com fotos do Homem-Aranha vendidas ao Clarim Diário de J. Jonah Jameson.
-Problemas financeiros da família Parker.
Um elemento importante das histórias do Homem-Aranha é a pobreza. Nos filmes de Sam Raimi essa questão foi levada muito ao extremo, com um Peter Parker incapaz até de alugar um apartamento, vivendo em um quarto mequetrefe de uma pensão fuleira.
No longa anterior, não havia dado tempo de mostrar os problemas financeiros da família Parker, mas, ainda que de forma tímida, eles dão as caras na nova aventura, com May tendo que se virar para manter a casa e pagar os estudos de Peter Parker.
-Filme gibi.
Tantas referências aos quadrinhos, algumas inspiradíssimas, como a sequência em que vemos o dia a dia de Peter como Homem-Aranha, incluindo uniformes manchados de tinta, sujos de peixe, parcialmente destruídos, cobertos de fuligem, e ensopados, o que termina numa clássica cena do Homem-Aranha sofrendo de um violento resfriado comprando remédios na farmácia (I'm sbider-ban".

-Peter Parker, o espetacular Homem-Aranha.
É chover no molhado, mas é preciso dizer novamente: Andrew Garfield é sensacional no papel título. Ele dá a Peter Parker personalidade, espinha, caráter. Ao Homem-Aranha ele oferece verve, bom-humor, agilidade, carisma. Em segundos de tela ele já faz a audiência esquecer que existiu outro Homem-Aranha antes dele. Compará-lo a Tobey Maguire é como comparar Christian Bale a Michael Keaton no papel de Batman. Um é o artigo genuíno, o outro servia para aqueles filmes.
Não se deixe levar pelas críticas das viúvas ensandecidas, não se apegue à amargura de quem não suporta a novidade, assista ao filme e tire suas próprias conclusões, apenas tenha boa vontade. Não se prive de finalmente ver o Homem-Aranha nas telonas.

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