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quinta-feira, 1 de maio de 2014

TODOS SAÚDEM AO REI


Em 2002 os filmes de quadrinhos engatinhavam.
X-Men e Blade haviam feito carreiras decentes e nada mais nas bilheterias. Haviam acenado com a possibilidade de vida inteligente além do sublime Superman de Richard Donner e do histérico Batman - O Retorno de Tim Burton.
Parecia que podia haver mais, mas quem se arriscaria a colocar nas telas um super-herói para segurar um filme inteiro sozinho sobre os ombros correndo o risco de virar um pastiche histriônico como o Batman de Kilmer ou (que Odin nos perdoe) de Clooney e Schumacher?
O Homem-Aranha foi esse herói.
O Homem-Aranha foi o pioneiro a quem todos seguiriam depois, incluindo os X-Men de Singer, o Batman de Nolan, e os coloridos heróis bilionários da Marvel.
O herói com quem toda a audiência podia se identificar foi a estrela polar dos filmes de quadrinhos ao unir coração, cérebro, pixels e humor na medida certa em um evento que marcaria uma geração de fãs de maneira tão indelével que todos os equívocos do filme seriam perdoados.
Quando a segunda parte foi lançada, dois anos depois, um novo patamar foi atingido, e isso apenas tornou o tombo do terceiro longa mais doloroso.
Essa mágoa permaneceu, e foi tão profunda que aqueles que conheceram o Homem-Aranha através dos filmes de Sam Raimi acreditavam piamente que Tobey Maguire era Peter Parker e que Mary Jane fora seu primeiro amor. Era o poder de uma história bem contada.
Tão bem contada que levou leitores de gibi como eu e outros que conheço a quase perderem as estribeiras apontando que, por melhores que os filmes de Raimi fossem, o VERDADEIRO Peter Parker, o VERDADEIRO Homem-Aranha ainda não haviam sido realmente encarnados na telona.
Ele seguia inédito, escondido dos olhos do grande público por trás das capas dos gibis dos anos sessenta, setenta e oitenta da Marvel.
Quando tivemos um vislumbre dele em O Espetacular Homem-Aranha, o filme de origem que nasceu odiado por legiões de fervorosos membros do "team tobey", não pareceu o suficiente.
Haviam desvios de rota demais em O Espetacular Homem-Aranha para que uma audiência rancorosa com o fim da série anterior e a partida de Maguire, Raimi, Franco e Dunst percebessem a possibilidade que existia ali.
Na magreza atlética do desengonçado Andrew Garfield, havia uma paixão inédita num intérprete de super-herói no cinema:
Um fã.
No filme de 2012, Garfield encarnou o Peter Parker/Homem-Aranha que todos os fãs de quadrinhos reconheceriam. Um jovem inteligente, introspectivo, capaz de grande ironia, e com um coração de um herói.
O Espetacular Homem-Aranha talvez tenha feito apostas erradas com sua "história jamais contada", mas TAMBÉM EXISTIAM EQUÍVOCOS NOS FILMES ANTERIORES!!!!!
E ao relevar os óbvios equívocos de O Espetacular Homem-Aranha, podia-se ver o potencial que existia ali.
Dois anos mais tarde, eu me sentei numa sala apinhada de gente do Cinemark, com uma hora de atraso, o ar-condicionado sonegado dos tenazes fãs que resolveram encarar a sessão até além das três da madrugada, e todas as mazelas desapareceram.
O Espetacular Homem-Aranha 2 - A Ameaça de Electro é tudo o que o Homem-Aranha deveria ser nas telonas. Nunca, nem mesmo nos coloridos e descompromissados filmes dos estúdios Marvel/Disney, tampouco no fetiche sombrio e realista da DC Warner, um filme foi tão quadrinho.
O Homem-Aranha de Andrew Garfield é uma insana mistura de vigilante e cartoon, que não sonega acrobacias, atos de justiça ou as piadinhas que todos gostariam de ver.
Quando ele age, o ESPETACULAR tem que ser escrito com todas as letras maiúsculas para fazer justiça ao que acontece na tela.
Na pele de Peter Parker, Garfield continua mantendo o nível alto, enterrando a versão de Tobey Maguire com talento e atitude pra justificar cada ato do personagem.
As lágrimas, os suspiros e os sorrisos são são em vão.
O romance com Gwen Stacy, uma luminosa Emma Stone, a namorada de cada fã do herói, é brilhante, terno, honesto, vivo.
A amizade com o Harry Osborn de Dane deHaan tem fluência, por súbita que seja.
A relação com a tia May de Sally Field é tão conflituosa e cheia de amor quanto qualquer relação mãe e filho, e a necessidade de descobrir o que aconteceu com seus pais, é tão humana que nós nos apressamos em perdoá-la.
Vou fazer o costumaz review do filme logo ali adiante, não se preocupe.
Mas por hora, quero apenas dizer que o rei está de volta.
Saúde-mo-lo, todos.

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