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sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Rapidinhas do Capita


E a Marvel divulgou artes promocionais que mostram as "equipes" de Vingadores que irão se enfrentar em Capitão América: Guerra Civil:


De um lado a equipe pró-registro, formada por Homem de Ferro (Robert Downey Jr.), Viúva Negra (Scarlett Johansson), Visão (Paul Bettany), Máquina de Combate (Don Cheadl) e Pantera Negra (Chadwick Boseman).


De outro, a equipe anti-registro, formada por Capitão América (Chris Evans), Gavião Arqueiro (Jeremy Renner), Homem Formiga (Paul Rudd), Falcão (Anthony Mackie), Agente 13 (Emily Van Camp) e Soldado Invernal (Sebastian Stan).

Os dois lados devem quebrar o pau em Capitão América: Guerra Civil, que estréia em 5 de maio de 2016, dirigido por Joey e Anthony Russo e escrito por Christopher Markus e Stephen McFeely, duplas egressas de Capitão América: O Soldado Invernal.

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Nenhuma das artes promocionais dá sinal da Feiticeira Escarlate (Elizabeth Olsen), do Hulk (Mark Ruffalo) ou do Homem-Aranha (Tom Holland), que, especula-se, estarão no filme, que ainda tem no elenco William Hurt, como general Ross, Daniel Brühl, como Barão Zemo, Frank Grillo como Ossos Cruzados e Martin Freeman.


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E outra:
Saiu a primeira foto oficial de Michael Fassbender no filme que adaptará a série de games Assassin's Creed à telona:


Bacana, né? O longa que adaptará a bem sucedida série de jogos eletrônicos da Ubisoft mostrará uma história inédita no cânone da série, mostrando um homem chamado Callum Lynch (Fassbender), descobrindo-se um ancestral do assassino espanhol Aguilar, que atuou pela ordem que opera nas sombras para servir à luz durante o Século XV. Além de Fassbender, o elenco terá Marion Cotillard e Ariane Labedno, o roteiro é de Adam Cooper e Bill Collage, dupla de Êxodo: Deuses e Reis, o longa será dirigido por Justin Kurzel, que já trabalhou com Fassbender no inédito Macbeth.

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Resenha DVD: Cake - Uma Razão Para Viver


Mais um daqueles casos que não se pode compreender no cinema brasileiro, de filmes que têm um título perfeitamente traduzível e incluso na trama, mas as distribuidoras preferem colocar um subtítulo duvidoso, Cake - Uma Razão Para Viver (Ou apenas Bolo, e há um bolo com papel importante no filme...) é uma dessas dramédias Indies às quais nos habituamos nos últimos quinze anos, onde atores rotulados como comediantes podem tentar mostrar que sabem mais do que o cinemão hollywoodiano em geral os permite.
Acho que todos nos lembramos da boa atuação de um comedido Steve Carell em Pequena Miss Sunshine, o primeiro exemplo a me vir à cabeça, talvez porque Carell continuou fazendo papéis menos espalhafatosos e óbvios em dramédias indies nos anos seguintes e com bastante sucesso, obrigado, que o digam o muito bacana O Verão da Minha Vida e o excelente Procura-se Um Amigo Para o Fim do Mundo.
Outra egressa da comédia rasgada que já havia descoberto as benesses do cinema independente havia sido Jennifer Aniston, a eterna Rachel de Friends, que estivera no ótimo Por Um Sentido na Vida, mas depois desandou a fazer comédia romântica em cima de comédia romântica, chegando ao fundo do poço de trabalhar como par de Adam Sandler naquele papel infeliz que sempre fica reservado nas comédias do ator à uma atriz que fazia sucesso na TV.
Mas a ex-senhora Ross Geller deve ter caído em si, ou tido um momento de lucidez, e encontrou esse Cake.
E, mais importante do que isso, encontrou a personagem principal, Claire Bennett.
Claire nos é apresentada em um grupo de apoio para pessoas que sofrem de dores crônicas. Nessa primeira sequência, a coordenadora do grupo, Annette (Felicity Huffman), realiza um exercício para ajudar as participantes a lidarem com o recente suicídio de uma de suas colegas, Nina (A gracinha Anna Kendrick), o que desencadeia um violento acesso de sarcasmo de Claire, e culmina com Annette e as demais membros do grupo, sugerindo que ela procure por um novo grupo, mais compatível com sua personalidade.
Claire é um repelente de gente.
Advogada recém divorciada e ainda com coisas do ex-marido Jason (Chris Messina) em casa, Claire sofre de violentas dores após um acidente que também a deixou coberta de cicatrizes.
Grosseira, amarga, inapropriada, sarcástica, mandona e cheia de manias, Claire é viciada em analgésicos, os quais eventualmente manipula e mente para conseguir, resmunga incessantemente durante a hidro terapia, e seus únicos laços de contato real são com o jardineiro Arturo, com quem eventualmente faz sexo, e com a empregada mexicana Silvana (A ótima Adriana Barraza).
Conforme seu vício em pílulas aumenta, e sua modesta lista de "amigos" míngua, Claire passa a ficar obcecada pelo suicídio de Nina, chegando a visitar o local de onde Nina saltou (um alto viaduto de rodovia), e alucinar com visitas do fantasma da jovem sugerindo-lhe que siga o mesmo caminho.
Claire acaba descobrindo o endereço de Nina, passando a partilhar um laço com o viúvo Roy (Sam Worthington), e o filho do casal, tudo para evitar confrontar sua própria tragédia pessoal.
Por mais que Cake seja um filme terrivelmente formulaico, inautêntico em seu desenrolar, é incrível o trabalho de Jennifer Aniston no papel principal.
A atriz encontra um equilíbrio em sua atuação que vai muito além da maquiagem (as cicatrizes falsas) ou da falta dela (cara lavada o tempo todo, cabelo oleoso e sem penteado), além do andar rígido, ou dos eventuais gemidos de dor, tudo muito bem executado, fazendo com que cada passo e movimento da personagem pareça uma tarefa árdua. Aniston cria um olhar vazio, uma expressão de alguém em visível e inegável desespero por alívio.
Não só ela, mas também Adriana Barraza. A atriz mexicana empresta ternura e doçura à Silvana, mas também humanidade, com direito até a arroubos de frustração, e chega a ser uma pena que ela não tenha mais espaço na tela.
Aliás, o que talvez seja o grande problema de Cake, é justamente a chegada de Roy e do filho dele e Nina à vida de Claire (ou a chegada dela à vida deles, no caso.), a relação dela com o viúvo é desnecessária, e empalidece um bocado na comparação. Mais desnecessárias ainda, são as constantes aparições do fantasma de Nina, listando os prós e contras do suicídio.
Olhando Cake no conjunto, é fácil entender porque o filme não fez grande alarde entre a crítica especializada, mas é difícil entender porque Aniston não foi um pouco mais laureada pela sua excepcional performance, e se tornou, ao menos pra mim, a grande injustiçada do Oscar por não ter sido ao menos indicada.

"Me conte uma história em que tudo acaba bem pra bruxa malvada..."

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Rapidinhas do Capita


E enquanto não chega a primeira temporada de A.K.A. Jessica Jones, vão seguindo as filmagens da segunda temporada da excelente Demolidor.
A produção que pode ter o Justiceiro de Jon Bernthal como um dos vilões publicou uma foto do traje do herói dentro de uma caixa no Twitter com os dizeres "O uniforme faz o homem".


Nos comentários da postagem, um usuário publicou uma outra foto, de Charlie Cox (ou de um dublê?) com o traje, que parece bem mais vibrante em sua paleta de cores.


O traje do Demo na série, ficou parecendo roxo e grená, e talvez tenha sido o único senão de todo o programa cujos treze episódios foram sensacionais. Uma ajeitadinha no tom de cor do uniforme seria bastante bem vinda na segunda temporada.
Se as cores reais do traje, sem filtros, forem as das fotos acima, é meio caminho andado pro Demolidor usar um uniforme efetivamente vermelho no próximo ano do programa.

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E enquanto Batman Vs Superman: A Origem da Justiça não sai, Michael Shannon, o general Zod de O Homem de Aço deu uma entrevista afirmando que estará, sim, no filme, e com uma mudança interessante:
Nadadeiras no lugar das mãos (?).
O ator declarou que "Estava e seu figurino, e não podia usar os dedos porque na seguência eu tinha nadadeiras no lugar das mãos". "Então eu tinha essas nadadeiras de cera nos meus dedos, de modo que não podia abrir a porta, e eu podia ouvir Zack (Snyder) tipo 'Onde está Shannon? Onde ele está, caralho?', e a equipe inteira esperando ao redor. E eu estava meio que batendo na porta com minhas nadadeiras e 'Me deixem sair daqui!'", declarou o ator que disse que, se não fosse por um técnico que abriu a porta, teria sido demitido.
Por mais engraçadinha que seja a história de Shannon, resta saber porque diabos o general Zod teria nadadeiras no lugar dos dedos?
Especulou-se que o personagem, que aparece brevemente no trailer como um cadáver, poderia ser a origem do vilão Apocalypse, que nos quadrinhos mata o último filho de Krypton, e no longa, seria um criação de Lex Luthor com base na genética alienígena de Zod.

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O ator pode, no fim das contas, estar apenas fazendo confusão com o formato das luvas usadas por ele. Talvez ele apenas tenha garras, esporões ósseos, ou alguma outra forma de mutação na tal cena, que pode ser sua transformação em Apocalypse.
O que nos leva a pensar que Apocalypse está no filme?
Bom, desde antes da divulgação das primeiras imagens se especula que o monstrão cinzento seria um dos antagonistas do filme. Especulou-se recentemente que as cenas de luta envolvendo a Mulher-Maravilha no trailer fossem de um embate entre a princesa das amazonas e Apocalypse, e não Superman ou Batman.
O defunto de Zod, e suas "nadadeiras" são apenas mais um indício.

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

A Demo de PES 2016


Foi após passar um final de semana tendo minha paciência testada pela minha conexão de internet que eu consegui experimentar a demonstração de PES 2016, edição anual da franquia futebolística da KONAMI que divide com a série FIF da EA Sports a preferência de futebolistas digitais no Brasil.
Faz algum tempo que, conforme a qualidade da DEMO, decido se vou comprar FIFA ou PES no ano corrente. Devo dizer que, o máximo que aconteceu até agora, foi em três ocasiões comprar os dois jogos, sem jamais ter comprado PES ao invés de FIFA.
Já enumerei em outros comparativos as razões que me fazem preferir o game da EA, e não há razão para re-re-repeti-los, até porque, essa nem sequer é uma postagem de comparação, já que a demo de FIFA sai só em setembro.
Vamos então analisar a versão incompleta de Pro Evolution Soccer.
A demo é restrita unicamente ao modo exibição, onde pode-se escolher entre Bayern de Munique, Roma, Juventus de Turim, Corinthians, Palmeiras, Seleção do Brasil, e seleção da França.
Há apenas dois estádios disponíveis, o estádio da Juve, e o Itaquerão, e ambos são bastante detalhados.
Na hora em que a bola rola, uma grata surpresa, os jogadores parecem ter um pouco mais de peso, o que torna a movimentação mais interessante, o toque de bola ganhou em fluidez, e os comandos seguem tremendamente fáceis para qualquer pessoa que tenha alguma familiaridade com jogos de futebol em geral (embora eu várias vezes chegue na cara do gol e faça um cruzamento devido ao hábito dos comando de FIFA), mesmo no modo Superstar, ainda é possível, com um pouco de treino, jogar e fazer frente mesmo a um super adversário. Os goleiros estão um pouco melhores do que em outras versões, oferecendo um pouco mais de desafio, embora fique a impressão de que determinados ângulos de entrada na área comprometam o desempenho dos arqueiros. Entrar em uma diagonal, não importa o modo de dificuldade, ainda é quase garantia de gol.
Os dribles são funcionais e intuitivos, alguns jogadores os executam com mais facilidade, enquanto outros se enrolam com a bola.
As comemorações não são mais estáticas, e podem ser ativadas de acordo com o botão pressionado (embora cada jogador, aparentemente tenha apenas um determinado conjunto de celebrações), e a parte gráfica nos jogadores com feições digitalizadas é muito boa na maior parte dos casos.
Nos times europeus, jogadores como Totti e Buffon são imagens cuspidas e escarradas de suas contrapartes reais, e embora tenham expressões um pouco rígidas, não chegam a comprometer os gráficos do game.
Os jogadores brasileiros, por sua vez, são meio esquecidos. Mesmo modelos digitais como o do goleiro Cássio, por exemplo, não chegam a ser cem por cento. A melhor feição digitalizada nas equipes de Corinthians e Palmeiras é a do volante Arouca, enquanto Ralph, Edu Dracena e Wagner Love têm rostos reconhecíveis, embora longe do detalhamento dos craques europeus.
O grande incômodo em termos de gráficos do game é a desproporção dos atletas. Os jogadores são todos bonequinhos parrudos e com uma cabeçorra, parecendo maquiados para interpretarem anões em O Hobbit, nada, porém, que estrague a diversão, ponto alto do jogo.
É difícil fazer um juízo definitvo de uma amostra inacabada de um game, mas dependendo de como forem corrigidos alguns problemas com a versão 2016 da franquia, esse pode acabar sendo um daqueles anos em que eu comprarei FIFA e Pro Evolution.
De vez em quando, é divertido jogar um arcadezão entre amigos.

sábado, 15 de agosto de 2015

Resenha Cinema: Missão: Impossível - Nação Secreta


De quatro em quatro anos, mais ou menos, Tom Cruise aparece nas telonas do cinema para mostrar que "impossível" não é uma palavra que tenha espaço no dicionário de Ethan Hunt.
Desde 1996 (minha nossa... Quase 20 anos.) Ethan Hunt e a Mission Impossible Force dão as caras para mostrar que James Bond não está sozinho no mundo.
Embora o filme de Bryan dePalma lá de 96 seja incensado como o melhor da franquia, devo dizer que meu favorito era o Protocolo Fantasma. Eu realmente gostei da irreverência que Brad Byrd empreendeu ao longa, que aprendeu a rir de si mesmo e dividir a ação entre a equipe sem tirar os holofotes de Cruise (claro que ter a épica Paula Patton no elenco não fazia mal algum...). O quarto filme da franquia estava até na minha lista de filmes favoritos de 2011, de modo que, com boa parte do elenco retornando para o quinto filme, que teve um trailer excepcional apresentado alguns meses atrás, ficava difícil não estar ansioso pra conferir a nova missão impossível de Hunt e seus amigos.
Na direção, saiu Byrd (que preferiu fazer Tomorrowland), e entrou Christopher McQuarrie, roteirista de Os Suspeitos (Keyser Sose, motherfucker. Keyser Sose) e diretor do bom Jack Reacher - O Último Tiro, e do excelente No Limite do Amanhã, que escreveu a história ao lado de Drew Pearce (de Homem de Ferro 3).
No longa, Hunt e Benji Dunn (Simon Pegg)estão em Minsk, na república de Belarus, tentando impedir um grupo de separatistas de fugir do país com uma carga de gás de nervos supervisionados pelo agente William Brandt (Jeremy Renner). Com a ajuda de Luther (Ving Rhames) e uma proeza suicida ao melhor estilo Cruise, eles conseguem.
Esse sucesso, no entanto, parece não ser suficiente para convencer o chefe da CIA Alan Hunley (Alec Baldwin) e uma comissão do senado dos EUA de que a IMF é necessária.
Na verdade, os malditos burocratas acreditam que a agência de Hunt, Brandt e companhia é desleixada, desnecessária e tem mais sorte do que juízo, e decidem dissolver o grupo no exato instante em que Hunt é confrontado pelo Sindicato (que fora brevemente mencionado na reunião do time no final de Protocolo Fantasma e era a grande antagonista na série de TV), uma nação secreta de agentes especiais altamente treinados para fazer exatamente o contrário do que o IMF faz.
Hunt é capturado pelo Sindicato, mas consegue escapar com a ajuda de uma agente inimiga, Ilsa Faust (a deliciosamente atlética e lânguida Rebecca Ferguson, que parece ter um outdoor de néon sobre a cabeça piscando "Femme Fatale"), apenas para descobrir que agora sua agência não existe mais, e ele está descreditado, sem apoio logístico, técnico ou financeiro.
Cabe a Hunt, com a ajuda de seus colegas mais leais e mais a imprevisível Ilsa Faust, tentar impedir que os planos nefastos do Sindicato obtenham sucesso, enquanto são procurados pela CIA numa volta ao mundo que passa por Viena, Casablanca e Londres.
Pode-se falar tudo de Missão: Impossível, menos que os filmes não são divertidos. Eu duvido que alguém saia insatisfeito do cinema após ver um filme da série se souber do que se trata. Missão: Impossível é garantia de entretenimento de primeiríssima qualidade, alguns filmes são melhores, outros, nem tanto, mas todos funcionam, e esse Nação Secreta certamente se perfila entre os melhores capítulos da franquia, e parte desse êxito deve-se ao fato de que Missão: Impossível - Nação Secreta sabe exatamente que tipo de filmes quer ser, uma matiné de espionagem divertida, e sucede em sê-lo.
Usando e abusando dos mais variados clichês da série para criar reviravoltas e mais reviravoltas, chegando a flertar com a auto-paródia, mas sem jamais esquecer de manter o foco, Missão: Impossível - Nação Secreta é uma divertidíssima montanha-russa de cinema de aventura, e, como todas as películas anteriores, merece a visita ao cinema.

"Tempos desesperados, medidas desesperadas..."

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Ideal


O Otão, triste, desenxabido, choroso, curtindo uma daquelas dores de cotovelo que volta e meia assaltam os corações partidos após um fim de relacionamento.
O Otão já tinha chegado àquela fase em que a dor pela mulher amada se diluiu em um desencanto geral com todas as mulheres e na descrença para com o amor como um todo. Ele se punha, junto com o amigo Heraldo, a chorar as pitangas. E elucubrava:
-A mulher ideal tem que me amar... Só isso. Só me amar. - Disse Otão, modesto, olhando pro próprio colo meio desacorçoado.
-Não precisa mais nada. Eu não quero nada. Só quero que ela me ame. Que goste de mim do jeito que eu sou. Sem agenda oculta, sem segundas intenções. Apenas amor incondicional. - Filosofou, tristonho.
-Então a tua mulher ideal é a tua mãe. - Disse o Heraldo, que já não aguentava mais a tristeza do Otão. -A velha te ama incondicionalmente. Sem segundas intenções.
O Otão ficou olhando incrédulo pro Heraldo, que continuou:
-Mulher ideal... Ideal. A palavra já está dizendo. Não existe. Tu não vai encontrar. Ela é uma ideia. Então coloca mais coisa aí. Todos os adicionais de fábrica e mais uns lances que não existem. A minha mulher ideal tem que ser linda. Linda demais... Tem que ser um monstro de Frankenstein da Victoria's Secret, estilosa que nem a Gisele Bündchen, ter os pernões da Naomi Campbell no auge, os peitos da Katy Perry, a barriga da Jennifer Garner, os pés da Anne Hathaway, a cara da Megan Fox, gostar de fazer sexo ao menos uma vez por dia, ser inteligente, gostar de cinema em geral, Guerra nas Estrelas em particular, cozinhar bem, gostar de comer porcaria e não engordar. A minha mulher ideal usa roupas discretas na rua, mas por baixo tá sempre de lingerie tesuda, incluindo cinta-liga, mesmo que isso não faça sentido quando ela tá de calça jeans e camiseta do Radio Head. Tem ser prendada, ser descolada, engraçada, boa de cama, liberar o brioco de vez em quando, gostar de fazer sexo oral e não cuspir, tem que ser cheirosa, ter a pele macia, ser meio vadia quando estamos sozinhos e meio bissexual.
O Otão ergueu uma sobrancelha como quem desiste:
-Mais alguma coisa ou esse teu retrato falado do chauvinismo tá completo?
O Heraldo fez uma careta de quem pensava e lembrou:
-Ah, claro... - Disse ele, despertando a esperança do Otão. -Ela tem que ter gosto de bacon!
Aí o Otão largou de mão.

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Todo Mundo Tem Problemas


Todo mundo tem problemas.
É uma máxima. O mais comum dos lugares-comuns. E, diga-se de passagem, uma verdade irretorquível. É a mais pura das verdades. Realmente.
Todo mundo tem problemas.
Mas não é apenas para afirmar o óbvio que se presta essa máxima. Ao dizer que todos têm problemas, o que se quer dizer é que tu não deve se preocupar com os problemas alheios, mas sim com os teus próprios. Quer dizer que tu não deve ficar lamentando pelos outros, quando tu tem tuas próprias questões a resolver, mas na infância, eu não ligava pra essa máxima, e nem pra verdades irretorquíveis, e eu era particularmente sensível.
A visão de alguém triste me incomodava.
A visão de alguém faminto, passando necessidades, mais ainda. Eu literalmente perdia a fome ao ser confrontado com a fome de outrem. Era automático.
Certa feita, num dia qualquer, logo que o McDonald's chegou ao Brasil, minha avó me levou ao que, então, acredito que fosse a única loja da rede em Porto Alegre. Ficava na Praça da Alfândega, perto dos antigos (e saudosos) cinemas Imperial e Guarani.
Antes que entrássemos na lanchonete, fomos abordados por diversos meninos de rua, magros e esfarrapados, que suplicavam por hambúrgueres como os que viam as pessoas comendo através das janelas.
Passamos reto pelos meninos, fizemos nosso pedido, e, ao recebê-lo, nos sentamos à mesa. Mas a mesa era próxima da vitrine, e lá de dentro eu enxergava os meninos famintos na rua.
E não consegui comer. Disse à minha vó que não estava mais com vontade, e ela me olhou reprovadora e disse:
-Tu quer dar o sanduíche pra aquele guri na rua que eu sei.
Ela se levantou, visivelmente brava, apanhou a bolsa e me levou embora, permitindo que, no caminho, eu desse a caixa com o hambúrguer e as fritas ao menorzinho dos meninos que se amontoavam diante da lanchonete.
Eu fiquei, então, mais satisfeito por ter dado aquele hambúrguer a um faminto, do que jamais teria ficado após comê-lo.
Na época em que o Documento Especial passava no SBT, eu fiquei literalmente semanas, chorando antes de dormir por causa da visão de uma criança de colo recebendo água da mãe em uma colher de chá durante uma reportagem sobre a seca no nordeste do Brasil.
Semanas.
Durante o dia eu ia à escola, brincava, lia meus gibis. Mas à noite, ao me deitar e colocar a cabeça no travesseiro, eu ia fazer minhas orações (eu acreditava em Deus quando era pequeno, e rezava antes de dormir), era assaltado por aquela imagem. A mulher, aparentando muito mais idade do que realmente tinha, segurando aquele bebê tão pequeno no colo, tentando fazê-lo tomar água da colherinha... E a notícia, narrada por Roberto Maya, de que a criança morreria alguns dias mais tarde, aquilo me tirava o sono, me fazia chorar de escorrer lágrimas.
Eventualmente, essa minha faceta ficou mais evidente para meus pais e avós. E eu comecei a ouvir o mantra de que todo mundo tem problemas.
Em casa mesmo, minha família tinha vários. Problemas financeiros, de saúde, de comportamento... Mas pra mim, um teto sobre a cabeça, três refeições por dia, roupas e água e energia elétrica eram uma benção, mesmo que as roupas eventualmente fossem de segunda mão, vez que outra faltasse uma refeição, ou que a energia elétrica não fosse lá tão constante... Ser confrontado com tanta gente que tinha tão menos... Me fazia sentir afortunado.
Claro... O tempo passa, as pessoas crescem, e essa capacidade de empatia se desvanece. Nós não aprendemos que "todo mundo tem problemas", apenas que os nossos são mais importantes.
Deixar de comer pra alimentar um faminto deixa de ser um ato que gere satisfação, e se torna uma impensável tolice. Porque é que eu, que me esfalfo trabalhando desde os 14 anos de idade, vou deixar de comer pra alimentar um vagabundo?
Perder o sono com a tragédia de alguém distante se torna impraticável, à medida em que sempre há uma tragédia ocorrendo em algum lugar, e hoje em dia tomamos conhecimento de todas a ponto de ficarmos anestesiados.
Os nossos próprios problemas rugem na nossa cara o tempo inteiro, e não sobra um minuto sequer para suplicar a um poder maior por ajuda, pois se há um poder maior, ele parece não se preocupar com nada do que acontece por aqui. Estamos por nossa conta, e é cada um por si.
Todo mundo tem problemas, e eu tenho que cuidar dos meus.
Mas de vez em quando, é difícil não perceber os problemas alheios... Hoje mesmo, havia um homem sentado na calçada perto de onde eu trabalho. Os braços apoiados nos joelhos, o rosto escondido no espaço entre os antebraços. Suas mãos e pés muito sujos, eram testemunho do trabalho de alguém que passara horas batendo pé, de chinelos de dedo, procurando nos contêineres de lixo por material reciclável que enchia o carrinho de super-mercado que ele carregava consigo.
Os cabelos dele estavam limpos e bem cortados, suas unhas sujas, mas aparadas. Não era um vagabundo. Era um trabalhador. Alguém que tivera menos sorte do que eu, ou tu, ou a maioria das pessoas que nós conhecemos.
Ele ficou sentado um bom tempo ali. Eu o vi duas ou três vezes da janela do serviço antes do almoço. E quando o meio-dia chegou, eu estava ansioso para passar por aquele sujeito e oferecer a ele uma garrafa de água gelada nesse dia calorento. Talvez, algum trocado para que ele almoçasse...
Saí com a garrafa de água na mão, mas o homem não estava mais lá.
E enquanto eu comprava meu almoço, ele já havia desaparecido da minha mente, como desaparecera o menino que me pediu um hambúrguer anos atrás, ou o bebê que morreu de desidratação na edição Vidas Secas do Documento Especial...
Todo mundo tem problemas, mas os meus são mais importantes pra mim. Os teus, são mais importantes pra ti. E nessa toada, todos nós morremos sozinhos, sem jamais receber a ajuda de ninguém...
É um mundo muito, muito triste esse em que nós vivemos.

A Medida de um Homem


Quatro bêbados à mesa.
Já haviam ultrapassado todos os limites em que ainda se poderia dirigir de volta pra casa, até o temerário "O Ernesto dirige melhor bêbado.", de modo que estavam ali, apartados da sociedade, ébrios e resmungões até que o primeiro tivesse coragem de ir dormir sob a inevitável torrente de insultos proveniente do ato de ser o primeiro a deixar o seio (cheio de cerveja) dos amigos.
O Ernesto, aquele que supostamente dirigia melhor bêbado, já alcançara um estado de torpor em que estava mais dormindo do que acordado. Quem estivesse sóbrio e o olhasse, inclusive diria que metade da sua cara estava dormindo, já que o olho esquerdo estava fechado, e o canto da boca sob este olho jazia torto e caído, e um filete de baba estava prestes a escapar dali. Ainda assim, Ernesto permanecia sentado rijo, como se tivessem vestido sua camisa no espaldar da cadeira, e embora ele eventualmente cabeceasse o ar, logo erguia a cara parcialmente paralisada e grunhia alguma coisa em desacordo com que os demais falavam.
Os outros eram o Negão Meia-Noite, o dono da casa, o Cícero e o Bira.
O Cícero se chamada Odilei, e tinha esse apelido porque sua cabeça achatada e de dimensões avantajadas faziam os demais o acharem parecido com um cearense, devoto de padre Cícero, daí até o Negão Meia-Noite batizá-lo de Cícero, foi um pulo.
Negão Meia-Noite chamava-se Estevam, e seu apelido era devido ao tom retinto de sua pele, mais escuro que a meia-noite, segundo Cícero, que, por sinal, guardara rancor do apelido dado pelo amigo. Bira se chamava Ubirajara, em homenagem a um avô que nunca conheceu, e "Bira" era nada além da redução óbvia, o único que não tinha apelido era o Ernesto, porque era muito chato.
Eram todos homens na casa dos trinta e tantos anos, filhos de uma geração de homens criados pelas mães enquanto os pais trabalhavam, filhos da aurora de uma série de dogmas sobre criação dos filhos que embora não os tenha tornado imbecis inúteis completos como os millenials, também não fez maravilhas pela sua postura de adulto.
Todos eles se consideravam "jovens", todos eles chamavam suas namoradas e ficantes de "minha guria", todos tinham certo receio em assumir determinadas responsabilidades, e o único deles que tinha uma esposa (ao menos na teoria, já que o Bira não era casado de papel passado com a Suélen, só morava junto), acabara morando com ela por causa da insistência da própria, e, tivesse voz ativa para negar, muito provavelmente o teria feito, mas, como dito ali em cima, era de uma geração de homens criados pelas mães enquanto os pais trabalhavam, de modo que via a namorada alguns anos mais velha como uma figura de autoridade e não pôde dizer "não" pra ela ao receber um ultimato.
De qualquer forma, o Cícero, o Ernesto, o Negão Meia-Noite e o Bira haviam concordado que, àquela altura, ninguém mais ia pra casa, e que o negócio era esticar a noite do pôquer até a manhã seguinte ao pôquer na casa do Negão Meia-Noite, e ir embora no outro dia quando o único senão seria a dor de cabeça e o gosto de cabo de guarda-chuva na boca.
Entretanto, embora estivessem todos com muito sono, eles sabiam que quem sucumbisse primeiro e dissesse "vou me recolher", seria alvo de uma torrente de insultos, chamado de viado, de franchona, de bichinha, de frouxo, e nas semanas seguintes seria constantemente lembrado de que fora dormir e estragou a noite que tava indo tão bem e a conversa que estava começando a ficar tão boa.
Como ninguém estava disposto a ser esse pária, eles continuavam na mesa, terrivelmente bêbados, todos falando ao mesmo tempo, gritando frases definitivas sobre tudo, política, futebol, cinema, sexo e religião, mas falavam todos ao mesmo tempo, com as línguas enroladas, de modo que ninguém entendia nada, e só Deus sabe quantas conclusões preciosas estariam sendo perdidas ali.
Após um bom tempo nisso, calhou de o Negão Meia-Noite começar a falar enquanto os outros bebiam de seus copos (menos o Ernesto, que tentava beber com a cara torta e deixava escapar pelo canto do lábio adormecido todo o líquido que entrava em sua boca.).
Negão Meia-Noite disse:
-Somos uma geração de frouxos. De frouxos, ouviram bem? Uma corja de sujeitos que não honram as calças. Que não honram as cuecas. Que não valem o que cagam.
Os outros ficaram olhando pra ele. Graves recriminações mereciam atenção e silêncio.
-Eu tenho trinta e seis anos. - Dizia o Meia-Noite. -Com 36 anos meu pai já era casado, tinha um apartamento, uma casa na praia e três filhos... E eu? O que é que eu tenho com 36 anos? Uma namorada que eu não aguento ver mais de três vezes na semana, e um aluguel pra pagar todos os meses por um apartamento onde eu nem gosto de morar...
Soluçou.
Bira chegou a levar a mão ao ombro do Negão para consolá-lo, mas percebeu que não era choro, era efeito do generoso gole de cerveja que ele tomara para pontuar sua frase, e que se transformara em um arroto.
O Cícero bateu a caneca na mesa e disse:
-Eu tenho trinta e sete. Com trinta e sete meu pai já tinha matado dois homens e cumprido pena. Eu não brigo desde a segunda série, porque quando briguei, apanhei e fiquei com medo de me machucar. Se alguém ameaça me bater, eu me encolho e fico com vontade de fugir. Meu pai, se alguém ameaçasse bater nele, quebrava uma garrafa na cara do sujeito e degolava ele com os cacos pontigudos do gargalo...
-"Ponchiaguds". - corrigiu o Ernesto, meio dormindo.
-Que se foda. - Esbravejou Cícero. -Se tu corrigisse meu pai, ele te dava um soco na cara e uma cuspida no estômago... Ou o contrário... Mas eu? Eu esbravejo porque tu é meu amigo e eu acho que metade de ti morreu e sei que tu não vai me bater...
Deixou a cabeça pender sobre os braços cruzados na mesa e todos fizeram alguns segundos de silêncio até ele erguer a cabeça e dizer, com a voz embargada:
-Mas eu não fui dormir!
Ergue-se um breve burburinho de desaprovação dos demais.
Bira falou:
-O meu pai... Qualquer coisa que estragava em casa, ele arrumava. Qualquer coisa. Chuveiro, telefone, rede elétrica, fogão, máquina de lavar... Tudo. O véio desmontava, e reconstruía sem deixar sobrar peça. Descobria o que não tava funcionando, substituía, e o negócio passava mais meia dúzia de anos sem dar problema... Tudo, menos carro. O carro o véio levava ao mecânico. Mas meu vô? Meu vô consertava tudo o que meu pai consertava e carro, também. Motor a diesel... Desmanchava, limpava peça por peça, e montava de novo. Épico.
Apoiou o queixo na mesa e continuou:
-Eu não sei nem trocar pneu. Não sei nem trocar fusível. Se estraga alguma coisa em casa, a Suélen nem olha pra mim... Ela diz logo "tem que chamar um homem pra arrumar a tomada do quarto". Porque eu não sei arrumar a tomada... Ou porque eu não sou homem? Se eu fosse homem, arrumaria a tomada do quarto, chamaria a Suélen pra testar, e quando ela visse que estava funcionando, eu comeria ela de quatro, ali, na frente da tomada. Sem ligar se ela gozou ou não. Ia gozar e me levantar, afivelar o cinto e ir beber uma cerveja vendo o futebol...
Bebeu um gole de cerveja e fitou os outros. Todos sérios, algo deprimidos. Menos o Ernesto, parcialmente morto, com seu olho fechado e a boca torta. O Negão Meia-Noite falou:
-Nós não temos aquilo que faz um homem, gurizada. Não temos hombridade. Não temos contato com o barro, não temos sangue debaixo das unhas... Somos uma corja de filhinhos da mamãe criados a Ovomaltine e leite com pêra... Não construímos nada...
-Não matamos ninguém, não sabemos brigar... - Disse Cícero.
-Não somos capazes de consertar nada... - Completou Bira.
-Nhaumjabemuhdobráobostrzapleibó...? - Resmungou Ernesto.
Os outros olharam pra ele.
-Quê? - Perguntou Meia-Noite.
-O bstr da pleibó... - Disse Ernesto, o olho fechado, a boca pendendo no canto esquerdo, com as palavras escapulindo semi proferidas.
-Que é que ele tá dizendo? - Perguntou o Cícero, rindo.
-O bosser da pleibó! - Rosnou Ernesto, articulando com dificuldade.
-Pôster da Playboy? - Perguntou Bira, incrédulo.
-Éeeeeeh... - Aquiesceu Ernesto. -U homê tequissabê dobrá o bostr da pleiboh...
Os outros agora se juntavam ao redor do Ernesto como cientistas ao redor de uma tumba recém aberta.
-Um homem o quê, Ernesto? - Perguntava Negão Meia-Noite, batendo de leve no rosto zumbi do amigo.
Ernesto suspirou impaciente:
-Dbrá o posser...
-Um homem tem que saber dobrar o pôster da Playboy! - Disse o Bira erguendo os braços.
-Iss... - Concordou o Ernesto. -É zóuqui um hômi naumpod passá a vizem aprendê zuzinhu.
Os outros três se entreolharam. Cícero falou:
-Negão, tu tem uma Playboy aí?
Meia-Noite sorriu:
-Mas ah, se não tenho...
Saiu à procura. A verdade é que com o advento da internet, dos smartphones e tablets, Playboy deixara de ser um artigo de primeira necessidade na casa de um homem, mas Negão Meia-Noite ainda tinha uma, que pra ele, era especial. A última que comprara:
A da Cléo Pires.
Catou da sua estante de revistas o volume grosso típico das edições de aniversário, com a capa dominada pela atriz espraiando-se lânguida, e a exibiu como se fosse um troféu.
Abriu a revista com facilidade na sessão do pôster, e desdobrou a foto em três seções, cada uma do tamanho de uma página, onde ela posava com as mãos acima da cabeça apoiando-se contra uma parede cor-de-rosa.
Habilmente, Negão Meia-Noite dobrou novamente o pôster, deixando-o oculto dentro da revista sem nem uma pontinha mais para fora das páginas.
Solenemente, ofertou a revista a Cícero, para que ele tentasse.
Cícero resfolegou. Estava bêbado e fazia muito tempo desde a última vez que vira uma Playboy. Fora o segundo ensaio da Adriane Galisteu.
Respirou fundo, abriu o pôster ignorando completamente a nudez da modelo, e voltou a dobrá-lo com cuidado, sobrepondo as páginas com esmero, e, com um suspiro, fechou a revista, constatando aliviado, que não deixara sobrar nenhum pedaço do pôster para fora das páginas, e nem dobrara a foto gigante fora das marcas apropriadas.
Estendeu a revista ao Bira, que abriu o pôster e deu uma boa olhada, dobrando os cantos da boca pra baixo e balançando a cabeça em sinal de aprovação perguntando-se porque não assistia mais novela. Então dobrou o pôster com cuidado. A seção central sobre a primeira, colada à lombada da revista, e a última colocada sobre as demais até que também se enfiasse no regaço de onde saíam as páginas, para então fechar a publicação, e ver que não havia nada fora de lugar, em nenhuma espécie de deformação devido à má dobradura.
Bira largou a revista sobre a poltrona ao lado da estante e abraçou Meia-Noite e Cícero, os três saltitando como se tivessem marcado um gol.
Eram, afinal de contas, homens de verdade!
Podiam não saber consertar coisas, não ter erigido patrimônios, e serem incapazes de vencer uma briga, mas por Deus, todos sabiam como sobrar apropriadamente um pôster da Playboy.
Não eram homens de negócios, homens habilidosos, e nem homens de ação, mas eram homens!
Aliviados, se despediram rapidamente, e Meia-Noite foi pro seu quarto, de onde voltou com lençóis para os amigos forrarem o sofá e o colchão inflável, e, desejando boa-noite a todos, recolheram-se.
Apenas após uma meia hora o Ernesto percebeu, ao esquadrinhar o ambiente com seu olho acordado, que os amigos haviam ido dormir, e, antes de ele próprio fazê-lo, recriminou-os com a boca torta:
-Bandiviado fidasputa mduxaru zuzinho nssa porradssa mes benaor auia cunvers taficanu boa...

sábado, 8 de agosto de 2015

Resenha Cinema: Quarteto Fantástico (2015)


Durante um bom tempo a Fox foi solenemente demonizada por nerds mundo afora. Muito dessa caracterização nada lisonjeira, vinha de fãs enfurecidos com o tratamento que a raposa do inferno (sim, eu era um desses fãs. Ou sou...) dispensava ao seu universo licenciado.
Veja... A Fox é a precursora (ao lado da New Line, de Blade) do sistema de licenciamentos que permitiu que a Marvel fizesse filmes de qualidade a exemplo da DC.
O primeiro grande filmes de super-herói da Marvel, foi X-Men, de 2000. Produzido pela Fox.
O estúdio também produziria X-Men 2, Demolidor, com Ben Affleck, Elektra, com Jennifer Gardner, X-Men 3, Quarteto Fantástico, Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado, e X-Men Origens: Wolvernine, e de Demolidor pra cá, dá pra entender porque é que todo o nerd que já enfiara o nariz dentro de um gibi odiava os caras.
Se os X-Men se recuperaram após o retorno de Bryan Singer ao universo mutante, e o Demolidor teve a sorte de reverter à Marvel que transformou o vigilante cego da cozinha do inferno em uma excepcional série, o Quarteto continuava no limbo.
Os dois filmes de Tim Story, de 2005 e 2007, que tinha o elenco formado por Ioan Gruffudd, Jessica Alba, Michael Chiklis e Chris Evans eram comediazinhas leves de dar coma diabético até nos executivos dos estúdios Marvel. O primeiro filme, diga-se de passagem, nem era ruim. Tinha uma aura colorida e boba de matiné que inclusive funcionava e acenava com a possibilidade de melhora, talvez reflexo do pavoroso filme de 1994, produzido pelo Deus Maior dos filmes B, Roger Corman, que pode ser visto no Youtube.
Ainda que não fosse o sonho de nenhum fã, o Quarteto de 2005 fez uma carreira decente no cinema, triplicando seu orçamento e garantindo uma sequência, Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado, em 2007.
O filme tinha um trailer espetacular, e fez muita gente pensar que o filme seria o "X-Men 2" do Quarteto.
Mas não foi.
O filme não funcionou, os bons elementos do primeiro longa sumiram na megalomania, o fim do mundo foi tratado de maneira demasiado leve e arrecadando menos que o antecessor para um orçamento mais alto, o Quarteto foi arquivado.
Mas...
Como eu disse antes, os X-Men se recuperaram com a volta de Synger. A Marvel provou que o Demolidor poderia ser um sucesso, os Vingadores faturaram bilhões de dólares, e a Fox não estaria disposta a perder uma franquia da Marvel, de modo que precisava fazer um novo Quarteto antes que os direitos revertessem ao estúdio da editora.
Surge Josh Trank.
O jovem diretor que conseguiu sucesso de público e crítica com o excepcional Poder Sem Limites, um filme de super-herói de baixíssimo orçamento galgado muito mais em ideias do que em efeitos visuais mirabolantes cabia como uma luva nas ideias ( no orçamento) da Fox.
Reapresentar a Primeira Família da Marvel nos cinemas com um reboot que pudesse coexistir com os X-Men de modo que o estúdio pudesse fazer um crossover e ter seus próprios Vingadores! (Embora X-Men e Quarteto sejam supergrupos igual os Vingadores e por consequência, já sejam meio que... os próprios Vingadores... Da Fox, saca?)
Trank fechou acordo em 2012 e se pôs a trabalhar ao lado de Simon Kindberg (da série X-Men) e Jeremy Slater para tornar a criação de Stan Lee e Jack Kirby um filme que valesse a pena ser visto.
Logo na escolha do elenco, começaram as polêmicas. Se a ideia de ter um jovem Quarteto que ressoava como a versão adolescente dos quadrinhos Ultimate deu lastro à escalação de Miles Teller como Reed Richards, e Kate Mara, apesar de feinha, não era uma tragédia no papel de Susan Storm, a Mulher Invisível, escalar Michael B. Jordan para dar vida ao novo Tocha Humana parecia o tipo da decisão tomada unicamente com intuito de incomodar os fãs dos quadrinhos.
B. Jordan, um ator negro, iria viver um personagem que, nos quadrinhos, sempre foi caucasiano. O loiro irmão de Sue Storm.
Eu, particularmente, acho uma bobagem alterar a etnia dos personagens. Se escalassem um ator branco no papel de Pantera Negra ou Falcão, todos provavelmente teriam ficado tão aborrecidos quanto eu fiquei, mas enfim...
Na sequência, mais um par de decisões duvidosas, Jamie Bell, o Billy Elliot, foi contratado para ser O Coisa, e Toby Kebbell, de Rock'n Rolla e Planeta dos Macacos: O Confronto, ganhou o papel de Dr. Destino.
Reg E. Cathey ganhou o papel de Dr. Franklin Storm, pai de Susan e Johnny, enquanto Tim Blake Nelson (que estava engatilhado para se tornar o Líder na sequência de O Incrível Hulk que nunca aconteceu) ganhou o papel de Dr. Harvey Elder, vilão clássico do Quarteto, Toupeira, mas o personagem foi transformado em Dr. Allen antes do lançamento.
Com o elenco escolhido, diretor e roteiristas a postos, começaram os trabalhos.
Fontes ligadas à Fox se queixavam à boca pequena na imprensa que o Quarteto de Josh Trank era mais Poder Sem Limites 2 do que um filme de gibi, o trailer saiu sem empolgar ninguém, e este blogueiro maldoso que vos escreve chegou a taxar o filme como "O reboot menos aguardado do ano".
O filme teve suas filmagens encerradas.
E depois reiniciadas.
Sites gringos diziam que todo o final do filme seria refilmado para torná-lo mais palatável à audiência, fazendo-o mais parecido com um filme de super-herói e algo que pudesse existir no universo dos X-Men.
Novos trailers saíram, e o interesse continuava morno, às vésperas da estréia as críticas especializadas pareciam não ter nada de muito positivo pra falar a respeito do filme.
Ontem, um dia após a estréia, fui encarar o Quarteto para ver se o fantasma era tão feio assim.
Quarteto Fantástico abre em 2007. O jovem Reed Richards, na quarta série, é chamado por seu professor para dizer o que quer fazer quando crescer. Ele deseja ser o primeiro homem a se teletransportar.
Quando confrontado por seu (péssimo, diga-se de passagem) professor, que lhe diz que isso não pode ser construído, Reed informa que já o fez.
Seu colega de classe, Ben Grimm, percebe que o outro moleque fala sério, e mais tarde acaba o ajudando em seu primeiro teste prático.
Corta pra sete anos no futuro. Na feira de ciências da escola, Reed e Ben (já com as caras de Teller e Bell) apresentam a mais recente versão de seu teleportador na feira de ciências da escola. Seu professor continua sendo um babaca, e apesar de eles saberem que o teleportador funciona, eles não sabem pra onde estão teleportando as coisas. O doutor Franklin Storm (Cathey) e sua filha Susan (Mara) aparecem, e informam o jovem cientista de que ele descobriu a viagem interdimensional.
O Dr. Storm é diretor do Instituto Baxter, um consórcio de jovens gênios por trás de grandes descobertas em termos de ciência e tecnologia nos últimos anos.
Sua mais recente pesquisa envolve a descoberta de uma Terra alternativa chamada Terra Zero, um mundo paralelo ao nosso onde podem haver respostas à perguntas que ainda nem formulamos.
Os gênios do Instituto Baxter descobriram a dimensão paralela, mas ainda não haviam sido capazes de trazer coisas de volta de lá como Reed.
O jovem recebe uma bolsa integral de estudos, laboratórios e recursos para ajudá-los a tomar parte no que talvez seja a maior descoberta da história da ciência.
Trabalhando ao lado de Sue, de Victor Von Doom (Kebell), um rebelde gênio da informática (ei, ao menos ele não é um hacker cheio de drones como chegou a ser especulado), e do filho do doutor Storm, Johnny (B. Jordan), um esquentadinho (sacou o trocadilho?) aficionado por corridas e desafiar autoridades, Reed e o Instituto Baxter conseguem dominar a viagem interdimensional, abrindo as portas para a Terra Zero, e um mundo de descobertas infindáveis.
Entretanto, ao serem informados de que a expedição que irá à outra dimensão será formada por membros da NASA, e não por eles próprios, Reed, Johnny e Victor, acompanhados de Ben Grimm, decidem ir primeiro, fincar a bandeira e ganhar seu lugar na História da Ciência.
Na Terra Zero, porém, a curiosidade científica de Victor cobra seu preço, e os exploradores são expostos à violentas energias interdimensionais que os alteram de maneira inexplicável antes que Sue possa trazê-los de volta e também ser exposta.
Sofrendo anomalias orgânicas agressivas além da imaginação, os viajantes são mantidos sob supervisão do governo dos EUA, em segredo de todos, para serem usados como armas.
Ao menos até ua nova viagem à Terra Zero acontecer, e revelar um novo e tenebroso perigo, e as novas habilidades do grupo serem necessárias para salvar o mundo.
Vejamos... Como explicar o Quarteto Fantástico de Josh Trank...
Bem, ainda ontem ou anteontem, o jovem diretor publicou (e logo em seguida removeu) no twitter uma nota onde dizia mais ou menos que havia tido uma visão fantástica que teria se tornado um grande filme, e sido avaliada de maneira positiva pela crítica mas que essa visão jamais se concretizou.
Isso diz tudo a respeito de Quarteto Fantástico.
O filme tem um primeiro ato interessantíssimo, repleto de promessas. As cenas do breve flashback da infância de Reed e Ben é algo Ambliniana, como os filmes produzidos por Spielberg nos anos oitenta, gritando Viagem ao Mundos dos Sonhos. enquanto o tempo passado no edifício Baxter, é cheio de boas sacadas. Existe uma química genuína entre Teller, Jordan e Kebbel, que inclusive faz um ótimo discurso a respeito de reconhecimento e de quais feitos são lembrados, Cathey cria um personagem interessante e crível com seu doutor Storm, dando lastro à ideia de família imbuída na origem do Quarteto.
A viagem à Terra Zero e a consequente descoberta dos super-poderes é tratada com uma nota de filme de horror que é, de fato, refrescante, de modo que a primeira metade do filme, ainda que irregular e recontando uma história de origem relativamente recente, flutua entre muito boa e regular.
Infelizmente, há o terceiro ato.
E é nesse ponto em que o longa perde totalmente a mão, deixando de lado todas as boas ideias e se tornando um filme de super-herói tão terrivelmente convencional que arranca bocejos, e acavalando o desenvolvimento dos personagens (em especial do Ben Grimm de Jamie Bell, que passa a primeira metade do filme quase sem aparecer, e a segunda escondido embaixo do CGI e com a voz distorcida eletronicamente) de maneira apressada rumo a um desfecho que parece ter sido feito a toque de caixa pra caber no orçamento e em uma econômica metragem de 100 minutos.
Se a teoria de que a primeira metade é o filme de Trank, e a segunda o filme que o estúdio o forçou a fazer, a revolta do diretor é até compreensível. A primeira metade de Quarteto Fantástico é realmente agradável e divertida, enquanto a segunda é quase nauseabunda.
O resultado final, no entanto, talvez leve a um questionamento sobre quem é que está certo:
O diretor "gênio criativo" que se recusa a dançar conforme a música do estúdio ditatorial, ou o diretor operário que tenta tornar o mais "seu" possível o espetáculo do estúdio?
Talvez Christopher Nolan, Sam Raimi e Bryan Singer fossem dizer que a resposta está em um meio termo que Quarteto Fantástico, infelizmente, não soube encontrar.

"-Ele é mais forte que qualquer um de nós.
-Sim, ele é. Mas não é mais forte que todos nós juntos."

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Melhor Lembrança


-Pensa na tua melhor lembrança. - Ela sugeriu, cobrindo-lhe os olhos e afagando-lhe o cabelo molhado com os dedos finos.
Ele estava deitado, de barriga pra cima na cama dela, no quarto dela, coberto com nada além do lençol vermelho dela. A cabeça dele, estava apoiada na coxa fina e branca dela, e ele tentou se remexer pra tirar o cabelo molhado da perna dela, mas ela o deteve.
-Deixa. - Disse. -Pensa na tua melhor lembrança.
Ele mexeu as sobrancelhas sob a mão dela como que para mostrar que estava confuso.
-Melhor lembrança... Em que sentido?
Ela, mantendo o tom de voz calmo, disse:
-Qualquer um. Só pensa... E me diz onde tu foi mais feliz...
Ela sorriu maliciosamente, e se esgueirando de sob a mão dela, virou-se para beijá-la no púbis.
-Fui muito feliz aqui mesmo, não faz nem meia hora...
Ela deitou pra trás, apoiando-se nos cotovelos, mas mantendo as pernas em posição de lótus, dando-lhe espaço para a manobra. Sorria, mas ele percebeu que não era aquilo o que ela queria.
Pudera.
Acabavam de sair de um banho demorado que fora precedido por uma sessão de mais de uma hora e meia, justamente, daquilo. Ele a beijou no púbis, entre os pelos macios, subiu beijando-lhe o ventre, o umbigo, as costelas evidentes que se fechavam no topo do estômago. Beijou-lhe um seio, e então o outro, e o peito, o ombro, o pescoço, a bochecha e os lábios.
Passou a mão no cabelo fino dela, e a trouxe para perto, beijando-lhe a boca novamente. Beijou por alguns segundos, massageando-lhe a nuca com a mão sob os cabelos dela, então, descolou os lábios dos dela e sorriu.
Puxou o elástico de cabelo vermelho ensopado do pulso, e amarrou um rabo de cavalo bem alto na cabeça, com mais uma volta, transformou o conjunto num coque improvisado, mas eficiente.
Ela olhou pra ele o tempo todo. Um meio sorriso no rosto.
-Tu nunca fala sério comigo. - Declarou. Não estava acusando, estava declarando. Como se fosse uma verdade à prova de contestação.
Continuou:
-Tudo o que eu sei de ti é empírico. É o que eu posso descobrir a partir de observação. É muito difícil conviver com uma pessoa assim. Eu falo tudo de mim. Te procuro, choro no teu ombro, me abro, te deixo saber tudo sem tu nem precisar perguntar. Eu me entrego inteira, verbalmente e por escrito, e te dou tanta informação, que tu se torna a pessoa que mais sabe de mim. Aquela pessoa pra quem eu não tenho nenhum segredo. Isso te coloca numa posição de vantagem tão grande entre nós que é até injusto. Tu sabe, tu viu, e por isso tu sempre sabe o que me dizer porque tu sabe tudo o que eu penso sem esforço. Eu entrego. Aí, com duas palavras, eu te deixo entrar na minha casa, subir na minha cama, tirar minha roupa e me comer. A gente faz isso, toma banho, e tu deita e eu penso que esse é um momento pra equilibrar as coisas. Um momento em que tu vai estar mais acessível, mais relaxado, mais aberto... Que tu vai estar pelado aqui comigo e nesse momento tu não vai ter nenhuma barreira, afinal, tu tava dentro de mim há meia hora atrás, e isso quer dizer intimidade. E aí...
Ela parou e olhou pra ele. Ele a encarava sério. Ela sorriu triste e continuou num suspiro:
-Aí eu te peço um insight... É uma manobra arriscada, eu sei. Tu não é o tipo de cara dos insights verbais... - A voz dela embargou brevemente, mas ela respirou fundo, engolindo em seco, e continuou. -Tu geralmente escreve... Eu te pedi isso. Uma lembrança. Não era pra me dar. Era só pra dividir comigo. Sem analisar, sem fazer piada nenhum grande alarde, sabe...? Só... Dividir. E o que eu consigo com isso? Te fazer ir embora. Tu tenta me comer de novo, e eu não tô no clima, e aí tu começa a te arrumar pra ir embora. E eu fico me sentindo um lixo. Porque tu me come e sai, e eu fico aqui, pensando no que eu fiz de errado, e eu não consigo entender, porque tu não vem com manual, eu tô tentando, é assim contigo, tentativa e erro. E eu erro e erro e erro, e contigo eu só erro, e... Sabe? Eu não sei mais... Não sei mesmo. Desculpa a tempestade de merda, tá? Não era pra ser assim. Mas eu obviamente não sei como era pra ser, porque se soubesse tu não ia estar procurando a tua cueca, que, por sinal, ficou lá na sala.
Ele levantou da cama e saiu do quarto.
Ela ficou deitada na cama, virou-se de lado e se cobriu. Ficou segurando o choro, esperando que a porta batesse pra chorar. E aí, meu amigo, azar do goleiro, ela ia chorar, mesmo, de soluçar, de os vizinhos pensarem que ela tava apanhando. Porque, que merda, aquilo era muito ruim e ela não ia fingir que tava tudo bem quando não tava.
Ouviu um barulho vindo do banheiro. Era a torneira abrindo, e o armário do espelho.
"Filho da puta." Ela pensou.
"Vai escovar os dentes antes de ir embora pra não sair com bafo de buceta? Se ele colocar aquela cara barbuda nessa porta eu jogo um negócio nele, ai se jogo.".
Ele, de fato, colocou a cara ali de novo. Não só a cara. Entrou no quarto de novo, ainda completamente pelado, mas trazia a cueca na mão. Colocou a roupa íntima sobre a poltrona ao lado da cama, e apagou a luz, o que fez com que o quarto se inundasse da luz amarela das lâmpadas de mercúrio da iluminação pública quatro andares abaixo.
Puxou o lençol e deitou do lado dela, encostando o corpanzil quente contra as costas dela.
Pousou a mão pesada sobre o ombro dela:
-Eu tinha uns nove anos... Ficava na casa da minha avó durante a semana porque era muito perto do colégio, e meus pais não tinham grana, meu pai fazia muita merda naquela época, foi um período em que ele esteve viciado em drogas, bebendo muito, então faltava grana... Como meu irmão mais novo tinha acabado de nascer, era pesado pra minha mãe cuidar dos três com pouco dinheiro, então... Era... era... Mais fácil pra todo mundo, sabe? Minha mãe e ele cuidavam só da minha irmã e do meu irmão recém-nascido, e eu ficava colado na escola, e aliviava o lado deles financeiramente.
Pra mim era tipo colônia de férias mesmo em época de aula. Minha vó me dava brinquedos, roupas, eu podia andar sozinho por aí... Ler meus gibis, brincar com massa de modelar e meus Thundercats. No final da tarde minha vó brincava comigo, depois eu assistia os desenhos da Hanna-Barbera na Manchete enquanto brincava com meus bonecos e esperava a janta.
Ele tirou a mão do ombro dela, e apoiou a cabeça sobre o punho.
-Acho que minha lembrança mais feliz seria dessa época... Um dia qualquer daqueles, em que eu estivesse sentado no chão da sala da minha vó. Assistindo Herculóides ou Jornada nas Estrelas na TV, brincando com o Panthro e o Lion-O enquanto minha vó fritava galinha na cozinha pra janta. Ela fazia uma galinha frita muito boa, o cheiro enchia a casa e só de lembrar, eu fico salivando... Aí, o meu avô chegava do trabalho, a gente sentava à mesa, e via novela enquanto comia.
Ele silenciou um momento. Como que fazendo força pra lembrar:
-Mas sabe... As tardes eram boas... Mas as noites, não. As noites terminavam cedo demais na casa da minha vó. Antes das dez ela se recolhia. Meu avô antes disso. E eu ficava sozinho no quarto, olhando a lua pela janela... E não era bom. Então... Talvez tenha sido minha adolescência, meus quinze anos, quando eu era um guri bonitinho e tinha muitos amigos no colégio, e as gurias queriam ficar comigo... E depois da aula eu encontrava meus amigos da rua e nós íamos jogar bola, ou ao cinema, ou só ficar conversando na esquina... Meu pai tinha resolvido os problemas dele, a grana não era tão curta... Mas ao mesmo tempo, naquela época eu fiz muita coisa de que não me orgulho. Minha personalidade ainda estava em formação e eu ainda não tinha discernimento de certo e errado como tenho hoje... E lembrar daquele tempo nem sempre é bom.
Ele se debruçou sobre ela, e viu que os olhos dela haviam transbordado. Ela tinha lágrimas escorrendo dos olhos e molhando a fronha verde-esmeralda do travesseiro.
Ele secou os olhos dela, mais como quem diz "Não chore" do que para efetivamente secá-los. E continuou:
-Talvez tenha sido a tarde de sábado que eu passei sozinho em casa com a minha primeira namorada. Linda, alta e esguia do meu lado... Achando que ela e eu envelheceríamos ao lado um do outro, nos casaríamos, teríamos filhos e repetiríamos aquilo todos os dias dos anos vindouros... Mas eu era muito imaturo, e não tinha pra oferecer a segurança e a constância de que ela precisava... Ou as entradas nas festas com a minha segunda namorada, que era sempre a menina mais bonita do salão e fazia eu me sentir bem comigo mesmo por estar do lado dela, os dois altos, brancos e vestidos de preto como se fôssemos o Adam e a Eve de Amantes Eternos... Mas ela e eu não tínhamos nada em comum, passávamos o tempo todo discutindo e eu odiava aquelas festas...
Ele a virou pra si:
Ou talvez tenha sido com a minha terceira namorada. Que conheci na faculdade, e que era muito bonita, divertida e espirituosa e muito mais inteligente do que eu. Por quem eu briguei e quase perdi minha matrícula, que me conheceu quando eu me tornei quem eu queria ser, e até me ajudou a formar de vez e de fato minha personalidade... Mas ela foi embora e eu nunca soube o que foi que eu fiz de errado... Pode ter sido trocar presentes de Natal no banco da praça com a minha quarta namorada, ouvindo o tema de Friends no MP-3... Ou assistir desenhos com a minha quinta namorada no domingo à tardinha na casa dela... Mas eu coloquei tudo isso a perder, também. E, por mais que as outras pessoas não pudessem ver, eu podia. Então, esses momentos felizes todos, também desembocam em momentos de tristeza...
Ela ainda chorava. Ele sentiu, também, uma lágrima fugidia lhe escapar do olho, e sumir em sua barba:
Eu não consigo decidir qual foi meu momento mais feliz, qual é a minha melhor lembrança. Eu não sei eleger um. É impossível pra mim. Minha mãe sair do coma? Foi ótimo. Mas não era felicidade genuína. Era alívio após um momento traumático. É como ficar feliz depois de ter sido atropelado por não ter ficado paraplégico. Ganhar dinheiro? Viajar? Eu não consigo ver isso... Essas coisas, como felicidade maior, lembrança melhor... Eu sou um sujeito de drops. Acho que os pequenos momentos de felicidade que eu designei pra ti, juntos, são a melhor lembrança da minha vida. Um passe de calcanhar que funcionou numa pelada no parque, um feriadão na praia com os amigos, um primeiro beijo com sabor de halls de cereja, passear sozinho nos cômoros de areia na praia, levar meus irmãos ao cinema... Eu não posso eleger um em detrimento dos outros. Mesmo estar aqui, contigo agora... Não é melhor do que o que eu já fiz e do que o que já me aconteceu. Não importa quão bom seja.
Inclinou-se pra frente e a beijou na boca.
-Boa noite, meu amor.

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Na Nossa Cara o Tempo Todo


Olhava os DVDs e Blu-Rays na livraria Saraiva, junto à prateleira pensando se devia investir uns trocados no box da trilogia do Cavaleiro das Trevas de Christopher Nolan em formato de alta definição. Olhava o box diante de si enquanto estalava os dedos, vestido com uma camiseta do Capitão-América, jeans e tênis vermelhos.
Parou momentaneamente de estalar as juntas, e, enquanto apanhava a caixa com os filmes, percebeu que ainda ouvia o ruído característico de dedos sendo forçados para causar o ruído.
Ouviu os dois estalos mais agudos do dedo mínimo, dois de um anelar, mais um do médio, outros dois do indicador, e o estalo grave de um polegar.
Absorto, riu consigo mesmo ao perceber que era exatamente a ordem, e o tipo de movimento, que ele fazia com os próprios dedos, ao menos na mão esquerda. Na direita, não conseguia estalar o dedo mínimo, devido à uma fratura jogando futebol anos antes.
Aguçou os ouvidos para tentar escutar a sequência dos estalos. O grave do polegar, dois do indicador, médio, dois do anelar, e silêncio.
Ergueu as sobrancelhas, curioso.
Quem estaria estalando os dedos exatamente como ele fazia?
Virou-se paulatinamente, como quem não queria nada, para olhar em volta. Percebeu, atrás de uma prateleira de pouco mais de metro e meio que os separava, uma moça.
Estatura mediana, cabelos negros, pele muito branca. Usava óculos de grau de armação preta quadrada e simples, vestia uma camiseta azul do Capitão-América, calças jeans e um tênis All-Star vermelho.
Chegou a sorrir ao perceber que a desconhecida e ele, estavam trajados como se fossem um par de vasos. Viu que a moça havia parado de estalar os dedos e segurava um box de blu-ray da trilogia O Senhor dos Anéis.
Achou interessante a combinação de visual e gosto cinematográfico dela. A olhou com mais atenção. O cabelo, preto, era grosso e encaracolado. Ele logo percebeu que era bem cuidado e que, se ele tivesse paciência pra cuidar do cabelo, o dele poderia ser daquele mesmo jeito. As sobrancelhas dela eram bem desenhadas, visivelmente tiradas fio a fio diante de um espelho com esmero. Aquele arco que elas desenhavam deixavam claro que, sem o cuidadoso trabalho da pinça, ela teria os proverbiais "maranduvás" sobre os olhos.
Não era exatamente bonita, mas estava longe de ser feia. Estatura mediana pra alta, alguns quilos acima do peso, mas uma construção física correta. Em alguns círculos, seria considerada atraente. Ela ergueu os olhos do Blu-Ray e olhou pra ele, direto nos olhos, olhos castanho-escuros iguais aos dele, e uma solitária pinta embaixo do olho esquerdo.
Ele, sem saber o que fazer diante do olhar dela, sorriu sem jeito, erguendo as sobrancelhas. O gesto foi repetido à exatidão por ela.
Foi quando ele teve certeza:
Deparava-se com sua contra-parte feminina no shopping.
Como se um estranho portal dimensional se houvesse aberto por perto do Barra Shopping Sul, e de lá, daquela realidade alternativa, tivesse saído, inadvertidamente, sua versão feminina. Igual a ele até os últimos detalhes, exceto que em gênero invertido.
Ficou com ânsias de perguntar a ela como fora sua vida.
Se ela fora muito chegada a seu avô, se tivera uma relação turbulenta com a mãe e grande ternura pelo pai, se tinha um irmão do meio e uma irmã mais nova, se seu primeiro namorado fora um loiro baixinho que quase não falava, se seu segundo namorado era um camarada horroroso de feio, mas muito gente-boa, se ela já havia encontrado o amor de sua vida e era um sujeito muito alto, com quem não tinha nada em comum...
Percebeu-se atraído pela contraparte.
Achou estranho, mas não conseguia evitar. Julgou que era natural já que a atração surge entre criaturas análogas, e haveria criatura mais análoga a ele do que ele próprio em gênero inverso?
Ficou imaginando as implicações morais de se sentir atraído por uma versão feminina de si mesmo, e as implicações práticas. Sexo entre os dois seria de alguma forma reprovável? Uma espécie de incesto, ou apenas uma masturbação tremendamente elaborada? Haveria terror caso eles se casassem e tivessem filhos? Nasceria uma ninhada dele próprio, crianças que, à despeito do intervalo entre o nascimento de cada uma, pareceriam gêmeos, já que, aparentemente os dois partilhavam o mesmo material genético exceto por um X a mais ou Y a menos? Isso não geraria filhos defeituosos? Versões dela e dele ao estilo Slot, de Os Goonies?
E conseguiriam chegar a tanto, ou a reação dos dois ao tentarem contato íntimo fosse como a de Marty McFly ao beijar a versão jovem de sua mãe em De Volta para o Futuro?
Ele não soube dizer.
Estava hipnotizado olhando nos olhos de si próprio. Percebeu que passara vários segundos olhando para a moça sem dizer nada, com ela sustentando-lhe o olhar. Perguntou-se se era possível que ela e ele tivessem pensado exatamente a mesma coisa naquele momento, e se ela perguntaria já que era mulher e, em tese, seria mais verbal que ele.
Mas ela não disse nada. Apenas sorriu, virou as costas e começou a andar em direção aos videogames.
Ele ficou olhando, então percebeu que precisava perguntar. Não conhecia outro caso semelhante na ciência ou na literatura, precisava falar com ela, ouvir-lhe a voz. Fez a volta na prateleira que os havia apartado e correu até onde a perdera de vista, e a viu abraçada a um sujeito de cabelos loiros muito finos. Era algo magricela, mas tinha um rosto bonito, olhos azuis e era alto. Bem mais alto que ela.
Refreou-se ao vê-la acompanhada, e fincou olhos no homem junto dela, que se virou e o olhou, e então olhou pra ela, como que percebendo a inegável semelhança.
Sua versão feminina, que estava abraçada à cintura do loiro alto, o olhou, e sorriu.
-Vamos? - Disse para o loiro. -É quase hora do nosso filme.
O loiro maneou a cabeça em sinal de positivo, e pôs-se a andar.
Deram alguns passos e ela parou, olhou pra trás, e sorriu dizendo:
-Estava na minha cara o tempo todo...
Abraçou o altão novamente, e andou pra fora da loja, deixando-o aturdido para trás.