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sábado, 8 de agosto de 2015

Resenha Cinema: Quarteto Fantástico (2015)


Durante um bom tempo a Fox foi solenemente demonizada por nerds mundo afora. Muito dessa caracterização nada lisonjeira, vinha de fãs enfurecidos com o tratamento que a raposa do inferno (sim, eu era um desses fãs. Ou sou...) dispensava ao seu universo licenciado.
Veja... A Fox é a precursora (ao lado da New Line, de Blade) do sistema de licenciamentos que permitiu que a Marvel fizesse filmes de qualidade a exemplo da DC.
O primeiro grande filmes de super-herói da Marvel, foi X-Men, de 2000. Produzido pela Fox.
O estúdio também produziria X-Men 2, Demolidor, com Ben Affleck, Elektra, com Jennifer Gardner, X-Men 3, Quarteto Fantástico, Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado, e X-Men Origens: Wolvernine, e de Demolidor pra cá, dá pra entender porque é que todo o nerd que já enfiara o nariz dentro de um gibi odiava os caras.
Se os X-Men se recuperaram após o retorno de Bryan Singer ao universo mutante, e o Demolidor teve a sorte de reverter à Marvel que transformou o vigilante cego da cozinha do inferno em uma excepcional série, o Quarteto continuava no limbo.
Os dois filmes de Tim Story, de 2005 e 2007, que tinha o elenco formado por Ioan Gruffudd, Jessica Alba, Michael Chiklis e Chris Evans eram comediazinhas leves de dar coma diabético até nos executivos dos estúdios Marvel. O primeiro filme, diga-se de passagem, nem era ruim. Tinha uma aura colorida e boba de matiné que inclusive funcionava e acenava com a possibilidade de melhora, talvez reflexo do pavoroso filme de 1994, produzido pelo Deus Maior dos filmes B, Roger Corman, que pode ser visto no Youtube.
Ainda que não fosse o sonho de nenhum fã, o Quarteto de 2005 fez uma carreira decente no cinema, triplicando seu orçamento e garantindo uma sequência, Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado, em 2007.
O filme tinha um trailer espetacular, e fez muita gente pensar que o filme seria o "X-Men 2" do Quarteto.
Mas não foi.
O filme não funcionou, os bons elementos do primeiro longa sumiram na megalomania, o fim do mundo foi tratado de maneira demasiado leve e arrecadando menos que o antecessor para um orçamento mais alto, o Quarteto foi arquivado.
Mas...
Como eu disse antes, os X-Men se recuperaram com a volta de Synger. A Marvel provou que o Demolidor poderia ser um sucesso, os Vingadores faturaram bilhões de dólares, e a Fox não estaria disposta a perder uma franquia da Marvel, de modo que precisava fazer um novo Quarteto antes que os direitos revertessem ao estúdio da editora.
Surge Josh Trank.
O jovem diretor que conseguiu sucesso de público e crítica com o excepcional Poder Sem Limites, um filme de super-herói de baixíssimo orçamento galgado muito mais em ideias do que em efeitos visuais mirabolantes cabia como uma luva nas ideias ( no orçamento) da Fox.
Reapresentar a Primeira Família da Marvel nos cinemas com um reboot que pudesse coexistir com os X-Men de modo que o estúdio pudesse fazer um crossover e ter seus próprios Vingadores! (Embora X-Men e Quarteto sejam supergrupos igual os Vingadores e por consequência, já sejam meio que... os próprios Vingadores... Da Fox, saca?)
Trank fechou acordo em 2012 e se pôs a trabalhar ao lado de Simon Kindberg (da série X-Men) e Jeremy Slater para tornar a criação de Stan Lee e Jack Kirby um filme que valesse a pena ser visto.
Logo na escolha do elenco, começaram as polêmicas. Se a ideia de ter um jovem Quarteto que ressoava como a versão adolescente dos quadrinhos Ultimate deu lastro à escalação de Miles Teller como Reed Richards, e Kate Mara, apesar de feinha, não era uma tragédia no papel de Susan Storm, a Mulher Invisível, escalar Michael B. Jordan para dar vida ao novo Tocha Humana parecia o tipo da decisão tomada unicamente com intuito de incomodar os fãs dos quadrinhos.
B. Jordan, um ator negro, iria viver um personagem que, nos quadrinhos, sempre foi caucasiano. O loiro irmão de Sue Storm.
Eu, particularmente, acho uma bobagem alterar a etnia dos personagens. Se escalassem um ator branco no papel de Pantera Negra ou Falcão, todos provavelmente teriam ficado tão aborrecidos quanto eu fiquei, mas enfim...
Na sequência, mais um par de decisões duvidosas, Jamie Bell, o Billy Elliot, foi contratado para ser O Coisa, e Toby Kebbell, de Rock'n Rolla e Planeta dos Macacos: O Confronto, ganhou o papel de Dr. Destino.
Reg E. Cathey ganhou o papel de Dr. Franklin Storm, pai de Susan e Johnny, enquanto Tim Blake Nelson (que estava engatilhado para se tornar o Líder na sequência de O Incrível Hulk que nunca aconteceu) ganhou o papel de Dr. Harvey Elder, vilão clássico do Quarteto, Toupeira, mas o personagem foi transformado em Dr. Allen antes do lançamento.
Com o elenco escolhido, diretor e roteiristas a postos, começaram os trabalhos.
Fontes ligadas à Fox se queixavam à boca pequena na imprensa que o Quarteto de Josh Trank era mais Poder Sem Limites 2 do que um filme de gibi, o trailer saiu sem empolgar ninguém, e este blogueiro maldoso que vos escreve chegou a taxar o filme como "O reboot menos aguardado do ano".
O filme teve suas filmagens encerradas.
E depois reiniciadas.
Sites gringos diziam que todo o final do filme seria refilmado para torná-lo mais palatável à audiência, fazendo-o mais parecido com um filme de super-herói e algo que pudesse existir no universo dos X-Men.
Novos trailers saíram, e o interesse continuava morno, às vésperas da estréia as críticas especializadas pareciam não ter nada de muito positivo pra falar a respeito do filme.
Ontem, um dia após a estréia, fui encarar o Quarteto para ver se o fantasma era tão feio assim.
Quarteto Fantástico abre em 2007. O jovem Reed Richards, na quarta série, é chamado por seu professor para dizer o que quer fazer quando crescer. Ele deseja ser o primeiro homem a se teletransportar.
Quando confrontado por seu (péssimo, diga-se de passagem) professor, que lhe diz que isso não pode ser construído, Reed informa que já o fez.
Seu colega de classe, Ben Grimm, percebe que o outro moleque fala sério, e mais tarde acaba o ajudando em seu primeiro teste prático.
Corta pra sete anos no futuro. Na feira de ciências da escola, Reed e Ben (já com as caras de Teller e Bell) apresentam a mais recente versão de seu teleportador na feira de ciências da escola. Seu professor continua sendo um babaca, e apesar de eles saberem que o teleportador funciona, eles não sabem pra onde estão teleportando as coisas. O doutor Franklin Storm (Cathey) e sua filha Susan (Mara) aparecem, e informam o jovem cientista de que ele descobriu a viagem interdimensional.
O Dr. Storm é diretor do Instituto Baxter, um consórcio de jovens gênios por trás de grandes descobertas em termos de ciência e tecnologia nos últimos anos.
Sua mais recente pesquisa envolve a descoberta de uma Terra alternativa chamada Terra Zero, um mundo paralelo ao nosso onde podem haver respostas à perguntas que ainda nem formulamos.
Os gênios do Instituto Baxter descobriram a dimensão paralela, mas ainda não haviam sido capazes de trazer coisas de volta de lá como Reed.
O jovem recebe uma bolsa integral de estudos, laboratórios e recursos para ajudá-los a tomar parte no que talvez seja a maior descoberta da história da ciência.
Trabalhando ao lado de Sue, de Victor Von Doom (Kebell), um rebelde gênio da informática (ei, ao menos ele não é um hacker cheio de drones como chegou a ser especulado), e do filho do doutor Storm, Johnny (B. Jordan), um esquentadinho (sacou o trocadilho?) aficionado por corridas e desafiar autoridades, Reed e o Instituto Baxter conseguem dominar a viagem interdimensional, abrindo as portas para a Terra Zero, e um mundo de descobertas infindáveis.
Entretanto, ao serem informados de que a expedição que irá à outra dimensão será formada por membros da NASA, e não por eles próprios, Reed, Johnny e Victor, acompanhados de Ben Grimm, decidem ir primeiro, fincar a bandeira e ganhar seu lugar na História da Ciência.
Na Terra Zero, porém, a curiosidade científica de Victor cobra seu preço, e os exploradores são expostos à violentas energias interdimensionais que os alteram de maneira inexplicável antes que Sue possa trazê-los de volta e também ser exposta.
Sofrendo anomalias orgânicas agressivas além da imaginação, os viajantes são mantidos sob supervisão do governo dos EUA, em segredo de todos, para serem usados como armas.
Ao menos até ua nova viagem à Terra Zero acontecer, e revelar um novo e tenebroso perigo, e as novas habilidades do grupo serem necessárias para salvar o mundo.
Vejamos... Como explicar o Quarteto Fantástico de Josh Trank...
Bem, ainda ontem ou anteontem, o jovem diretor publicou (e logo em seguida removeu) no twitter uma nota onde dizia mais ou menos que havia tido uma visão fantástica que teria se tornado um grande filme, e sido avaliada de maneira positiva pela crítica mas que essa visão jamais se concretizou.
Isso diz tudo a respeito de Quarteto Fantástico.
O filme tem um primeiro ato interessantíssimo, repleto de promessas. As cenas do breve flashback da infância de Reed e Ben é algo Ambliniana, como os filmes produzidos por Spielberg nos anos oitenta, gritando Viagem ao Mundos dos Sonhos. enquanto o tempo passado no edifício Baxter, é cheio de boas sacadas. Existe uma química genuína entre Teller, Jordan e Kebbel, que inclusive faz um ótimo discurso a respeito de reconhecimento e de quais feitos são lembrados, Cathey cria um personagem interessante e crível com seu doutor Storm, dando lastro à ideia de família imbuída na origem do Quarteto.
A viagem à Terra Zero e a consequente descoberta dos super-poderes é tratada com uma nota de filme de horror que é, de fato, refrescante, de modo que a primeira metade do filme, ainda que irregular e recontando uma história de origem relativamente recente, flutua entre muito boa e regular.
Infelizmente, há o terceiro ato.
E é nesse ponto em que o longa perde totalmente a mão, deixando de lado todas as boas ideias e se tornando um filme de super-herói tão terrivelmente convencional que arranca bocejos, e acavalando o desenvolvimento dos personagens (em especial do Ben Grimm de Jamie Bell, que passa a primeira metade do filme quase sem aparecer, e a segunda escondido embaixo do CGI e com a voz distorcida eletronicamente) de maneira apressada rumo a um desfecho que parece ter sido feito a toque de caixa pra caber no orçamento e em uma econômica metragem de 100 minutos.
Se a teoria de que a primeira metade é o filme de Trank, e a segunda o filme que o estúdio o forçou a fazer, a revolta do diretor é até compreensível. A primeira metade de Quarteto Fantástico é realmente agradável e divertida, enquanto a segunda é quase nauseabunda.
O resultado final, no entanto, talvez leve a um questionamento sobre quem é que está certo:
O diretor "gênio criativo" que se recusa a dançar conforme a música do estúdio ditatorial, ou o diretor operário que tenta tornar o mais "seu" possível o espetáculo do estúdio?
Talvez Christopher Nolan, Sam Raimi e Bryan Singer fossem dizer que a resposta está em um meio termo que Quarteto Fantástico, infelizmente, não soube encontrar.

"-Ele é mais forte que qualquer um de nós.
-Sim, ele é. Mas não é mais forte que todos nós juntos."

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