Pesquisar este blog

quinta-feira, 17 de março de 2016

Resenha Cinema: Deuses do Egito


Alex Proyas era o sujeito que, até o surgimento de Christopher Nolan e o advento de O Cavaleiro das Trevas, havia feito o mais sombrio e pungente filme de super-herói do cinema.
Seu O Corvo, estrelado por Brandon Lee, e trágico dentro e fora das telas, era tudo o que os filmes do Batman de Tim Burton e Joel Schumacher deveriam ter sido: Sombrio, elegante, violento e fiel à origem.
O ex-clipeiro também foi responsável pelo cult Cidade das Sombras, pelo competente sci-fy Eu, Robô, e pelo que talvez tenha sido o último bom filme de cinema estrelado por Nicolas Cage, Presságio (por sinal, seu filme mais recente até o lançamento de Deuses do Egito).
Em suma, Proyas era um desses cineastas bissextos que parecem ter dificuldade em escolher seus projetos, de modo que não chega a ser surpreendente que ele esteja por trás de Deuses do Egito, projeto que esteve ligado a Will Smith por alguns anos e que eu só descobri que havia saído do papel quando teve seu trailer exibido no intervalo do Superbowl em fevereiro.
O trailer acenava com uma grande porcaria fedendo a Fúria de Titãs, e foi sabendo disso que eu assumi o risco de assistir ao longa metragem, uma das grandes furadas do ano em termos de bilheteria até aqui.
No longa conhecemos um Egito de lenda. Um lugar magnífico, berço da vida, onde deuses e mortais coexistem em harmonia sob as graças do deus Osíris (o sumidão Bryan Brown), que governa o reino e maneira magnânima ao lado de sua esposa Ísis (Rachel Blake).
Pro mais feliz que seja o Egito governado por Osíris, o rei está pronto a abrir mão de seu poder. A coroa será passada a seu filho único Hórus (Nicolaj Coster-Waldau, o Jaime Lannister de Game of Thrones).
Hórus não é um deus sábio como seu pai. Um beberrão afeito à caçadas e mulheres que vive um não-romance com a deusa do amor, Hator (a bonitona Elodie Yung).
Quando de sua coroação como o novo rei, todos os deuses e mortais se perfilam para honrá-lo, incluindo o jovem ladrão Bek (Brenton Thwaites, de O Doador de Memórias) e sua amada, a devota Zaya (Courtney Eaton, a Cheedo, a Frágil de Mad Max - Estrada da Fúria).
Mas não apenas eles.
O irmão de Osíris, Set (Gerard Butler), deus do caos, também comparece à cerimônia de coroação do sobrinho.
Seu intento, porém, não é honrar o novo rei, mas sim usurpar o trono.
Set assassina o próprio irmão, e suplanta o sobrinho em combate singular, derrotando-o e roubando seus olhos. A pedido de Hator, porém, Set poupa a vida de Hórus, condenando-o a se exilar na cripta de seus pais, cego e abandonado.
Não bastasse ser um tremendo estraga-festas, Set instaura a escravidão no império, e demanda que Anúbis passe a cobrar ouro para permitir a passagem para o além-vida.
Após um ano, o antes próspero e prenhe de vida império egípcio se tornou um lugar cruel, onde os ricos têm direito sobre a vida dos escravos e nem mesmo os deuses estão livres dos caprichos de Set, que ergue imensos monumentos à própria honra e à glória de seu pai, Ra.
Ninguém ousa desafiar o poder do novo rei, até que Zaya, escrava do arquiteto real Urshu (Rufus Sewell, voltando aos papéis de vilão após um inédito interlúdio em Hércules), descobre a planta para o cofre onde Set mantém os olhos de Hórus.
A jovem acredita que o deus exilado possa retomar o controle do Egito e acabar com o caos e a escravidão se recuperar a visão, e pede a Bek que invada o cofre e roube os olhos de Hórus.
O jovem larápio sucede em seu intento, mas o plano dos amantes é descoberto por Urshu, que mata a jovem.
Bek, então, leva o olho a Hórus e permuta um trato com o deus:
Bek o ajudará a retomar o trono, e, uma vez rei, Hórus ordenará a Anúbis que ressucite Zaya, o que deve ser feito em apenas alguns dias, antes que a jovem chegue ao além-vida.
A frágil aliança entre deus e mortal, porém, passará por diversas provações, uma vez que destruir o senhor de todo o Egito é uma jornada que os levará das alturas do navio solar onde Ra (Geoffrey Rush) enfrenta o demônio Apep ao final de cada dia, às profundezas do mundo dos mortos, onde as almas oferecem tributos em troca da passagem para a vida eterna.
É ruim.
Não tão ruim quanto o trailer sugeria, mas é ruim.
Deuses do Egito é uma óbvia tentativa de iniciar uma franquia, que hoje em dia nenhum estúdio vive sem franquia. Ele tenta ser uma daquelas fitas de aventura estilo matiné, ao mesmo tempo pretensiosas e ingênuas. O CGI usado sem qualquer parcimônia não é feito pra parecer real, e as sequências de luta variam entre duelos com lanças que remontam à aventura de sandália e espada e confrontos voadores entre robôs pixelizados que parecem uma mistura esquizofrênica entre um filme de super-herói e um clipe do Linkin Park.
Os diálogos do roteiro de Matt Sazama e Burk Sharpless (os mesmos de O Último Caçador de Bruxas e Drácula - A História Nunca Contada), repleto de momentos que parecem carregar uma placa "aplausos" ou "Ria" dependendo da situação, são tão rasos quanto o visual do filme sugere, e a trama não encontra ritmo além de uma sucessão de problemas e soluções estilo videogame, e o Egito nada tem de Egito além das pirâmides e dos nomes das divindades, já que sua população divina e mortal, à exemplo do que ocorreu em Êxodo - Deuses e Reis, é formada quase que exclusivamente por caucasianos musculosos (pra ter uma ideia, há apenas três atores negros com falas no filme. Chadwick Boseman, que interpreta um efeminado deus Toth, Yaya Deng, a caçadora Astarte, e Jeff Coopwood, que interpreta um alto-sacerdote não-creditado), algo estranho para o Egito, um reino no norte da África formado à época majoritariamente por negros e pardos.
É uma pena, o elenco se esforça na medida do possível com seus figurinos berrantes, tamanhos aumentados e sangue dourado, há uma clara intenção de tentar fazer uma boa aventura, mas o roteiro fraco simplesmente não dá suporte ao visual exagerado, e Deuses do Egito acaba sendo outro desses filmes que são lembrados apenas como uma ideia vagamente interessante que não vingou.
Desse modo, fica explicada a gélida recepção que o filme teve nas bilheterias norte-americanas, e já podemos esperar um novo período de ostracismo de Proyas.
Pena.

"-O Egito sempre foi um paraíso. Mas agora, há caos. Deus do ar, você deve proteger os mortais.
-Eu não sei se sou forte o suficiente.
-Então torne-se mais forte."

Um comentário:

  1. Bem, um elenco inexplorado. O filme é incontestavelmente ruim. O roteiro não inova em nada, está cheio de clichês, utiliza muitas soluções extremamente convenientes e é demasiado expositivo em alguns momentos. Os efeitos especiais são extremamente mal feitos, mesmo uma pessoa leiga verá que eles não são convincentes. As atuações também estão bem fracas, nem mesmo o Gerard Butler (ator do óptimo Tempestade: Planeta em Fúria) se salva. Mas, apesar disso tudo, eu não consigo dizer que não gostei do filme. É tudo tão absurdo que eu não conseguia parar de rir. E como não rir?! As cores em geral são extremamente exageradas e brilhantes, mas com destaque especial para o dourado, que compõe quase que a totalidade do cenário (inclusive o sangue dos deuses). Algumas cenas de luta combinam slowmotion e 360° em volta dos combatentes. E o diretor, Alex Proyas (Cidade Das Sombras), não teve medo de representar os elementos da mitologia egípcia de forma fantástica, ele definitivamente não se preocupa que esse universo pareça crível.

    ResponderExcluir