Pesquisar este blog

terça-feira, 12 de julho de 2016

Definitivamente


Era a terceira vez que saíam juntos.
Na primeira, ele a levara para jantar. Sushi, porque ela dissera, antes de ele oficialmente começar a cortejá-la.
Ainda se dizia "cortejar"? Enfim... Ela mencionara que gostava de sushi, e ele a levou para jantar sushi após ela aceitar seu convite, sem saber que ele tinha bastante aversão à ideia de comer peixe cru embrulhado em alga e em arroz, mas enfim, ela valia a pena.
Loira, esguia e com um charme atlético, algo moleque em meio à estampa de princesinha... Ele não sabia explicar, mas não era só a beleza. Nem só a voz... E nem só o cheiro... Aquele perfume fresco... Era o conjunto.
O conjunto não chegava a enlouquecê-lo, ao menos, não ainda, mas certamente o impelia a fazer coisas que normalmente não faria.
No final das contas, até gostou de sushi. Era uma daquelas coisas que ele não gostava sem ter provado. E quando provou, não achou ruim.
No segundo encontro foram ao cinema, ver um filme que ela queria ver.
Ele francamente não prestou muita atenção. Estava olhando só pra ela. Imaginando se deveria beijá-la. Não a beijara no primeiro encontro. Ficou três dias amaldiçoando a própria idiotice. Como podia não tê-la beijado? Ela estava ali, do lado dele, se reborcando inteira naquela poltrona do Cinemark procurando posição pra ver o filme. E o cheiro dela, e a cor que os olhos dela ficaram quando as luzes se apagaram e apenas a tela iluminava a sala... Parecia o Legolas antes da batalha do abismo de Helm. Com os olhos quase transparentes.
Não a beijou durante o filme, porém. Teve receio de ser rechaçado, e ela estava prestando tanta atenção naquela porcaria de comédia romântica...
Mas depois do filme, após terem comido um lanche do McDonald's e ele a ter levado em casa, no Centro de Porto Alegre, ao se despedirem, ele esperou alguns minutos que ela o beijasse, mas como ela não o fez, ele deu um tchau tímido, ao que ela respondeu com um "Tu não vai me beijar?", e ele sorriu aliviado e envergonhado e disse "Graças a Deus!" e voltou e a beijou.
Fora um bom beijo. Bem encaixado, que as pessoas não falam, mas há beijos que, mesmo bons, não encaixam, e culminam com alguém com a boca toda babada, ou então com beijos dados com alguns milímetros de distância e apenas as línguas serpenteando no ar... Entre ela e ele não foi o caso.
Os lábios se encaixaram, e houve língua, mas... Sabe? Tudo certinho. Tudo no lugar.
Se viram e se beijaram ao longo dos três dias seguintes, mas foi só na sexta-feira que marcaram de sair novamente.
Esse era aquele terceiro encontro. Ela e ele combinaram de ir ao teatro. Ele não era grande fã, mas ela já havia lhe falado antes de sua paixão por teatro. E então ele foi.
Mais tarde, naquela mesma noite, ela convidou ele pra subir. Ele não aceitou, num primeiro momento. Tinha vergonha da mera ideia de conhecer os pais dela.
Mas ela o tranquilizou. Era uma sexta-feira e seus pais haviam viajado para voltar só no domingo à noite.
E então ele subiu, sentindo, dentro de si um pânico de antecipação que se inflava na boca do estômago feito um balão que aumentava cada vez que ela tocava no braço e na mão dele enquanto o elevador se movimentava prédio acima com ele escorado, teso feito um pato na chuva, no espelho atrás de si.
Uma vez no apartamento, ela e ele se sentaram no chão, e beberam refrigerante do mesmo copo enquanto assistiam TV.
Ele se lembrava de ter sorrido por dentro quando ela chegou com um copo de refrigerante, apenas. Era um copo gigantesco, daqueles de um litro, de acrílico vermelho. E ela disse que, se eles dividissem, era uma coisa a menos pra lavar.
Ele pensou "Eu poderia me apaixonar por essa guria.".
Ela sentou colada nele, e enquanto viam TV, ela se colou mais e mais. Ele estava hesitante. Sem saber como se portar, mas à certa altura, o relógio de pulso dele deu sinal de meia noite, e ele contou que, quando era criança, adorava segurar o relógio do pai diante dos olhos nas raras ocasiões em que chegava até as altas horas da noite, e ver quando vinte e três e cinquenta e nove se convertia em zero hora.
Ele contou, e sorriu. E ela, com uma expressão séria no rosto, se aproximou dele e o beijou.
Ele correspondeu. E eles se beijaram com sofreguidão. Ela tirou a camisa dele, e ele abriu o vestido dela, que devia ter dezessete milhões de botões nas costas, o que o fez se sentir um parvo, mas abriu-lhe o sutiã com insuspeita destreza, o que lhe concedeu uma ponta de orgulho. E assim que ela abriu-lhe o cinto e os dois se viram apenas usando roupas de baixo, ele olhou pra ela de boca aberta como quem diz "Eu não acredito no quanto essa mulher é linda", ainda que de fato ele acreditasse na beleza dela, mas tivesse dúvidas de o que ela fazia junto com ele. Continuaram se beijando com sofreguidão, ela o buscando sob a cueca boxer azul-marinho, enquanto ele a livrava da calcinha de algodão branca, azul e rosa.
Ele foi mais rápido, e foi nesse momento, em que ela, deitada de costas no carpete, completamente despida, separou levemente os lábios e sussurrou "Me lambe...?", com a interrogação hesitante no final, como quem não sabe se será atendida.
Incauta.
Desde a primeira vez em que ela lhe tocara de leve no ombro durante uma conversa, sorrindo com os olhos semicerrados, ele estava disposto a qualquer empreitada que culminasse em contato mútuo, imagine agora? Vendo-a ali, deitada, sem roupas, os cabelos espalhados, abertos como um halo em volta de sua cabeça apoiada no chão?
Ele viveria de bom grado para momentos em que pudesse acariciá-la dali por diante.
"Me lambe", pediu, ela. E ele lambeu. Lambeu como se fosse um felino lavando a cria. Como se fosse um cachorro e ela sua dona. Como ele se fosse um peregrino há dias no deserto e ela um picolé de limão.
Caiu de língua nela.
Cada recôndito, cada canto, cada milímetro cúbico de pele descoberta, e era bastante, porque ela estava toda nua.
A lambeu até sentir cãibra no queixo, orgulhando-se particularmente dos momentos em que ela arfava seu nome baixinho, ou arqueava as costas e crispava as mãos.
Aquilo o excitava demais, mandava a dor embora, fazia o cansaço desvanecer, desanuviava sua mente.
Espremeu a língua rija entre os dentes e começou a fustigá-la entre os lábios de baixo. Ele gemeu e sua respiração se tornou pesada, e quando o corpo dela amoleceu inteiro, e sua língua se encharcou, ele soube que a fizera feliz, e era uma sensação boa demais tê-la feito feliz.
Mas queria mais. Aquela era uma mulher por quem poderia se apaixonar, e ela merecia o melhor que ele tinha a oferecer ainda que não fosse muito. Agarrou-a pela nádega, erguendo-lhe a perna, e a fez pousar o pé esquerdo sobre sua escápula direita, enquanto, com a outra mão, abriu bem sua perna direita.
Ainda com a cabeça em seu púbis, se pôs a lamber devagar e com pressão moderada todo o delicado conjunto oculto entre suas coxas bem torneadas. Ela estava úmida, quente e brilhosa, e exalava um cheiro almiscarado pujante. Ele sentia que aquele cheiro forte lhe pertencia, tendo em vista que, quando começaram seus ritos íntimos ela estava toda perfumada, fresca como se acabara de sair do banho.
Ele a lambeu uma vez, duas, três, na quarta, aplicou mais pressão, e na quinta, encolheu a língua, colocando-a dentro dela. Assim ficou, remexendo a língua dentro dela, e de quando em quando, a removia inteira, e passeava em volta, do púbis à virilha, da virilha ao períneo, vez que outra, mais adiante.
Foi na primeira investida mais decidida à essa área mais adiante que ela teve um espasmo e fechou as pernas atléticas como se fosse um alicate ao redor de sua cabeça, chegando a fazer um ruído como um tapa quando a parte de dentro de suas coxas se cerraram contra suas orelhas.
Mais tarde ele se lembraria de que, naquele momento, achou que tudo tivesse ido pro brejo.
Aquele era o tipo de fiasco que matava uma relação nos seus primeiros suspiros. Ela contaria às amigas, entre risos "O cara tentou lamber meu cu na primeira trepada, me fez cócegas e eu esmaguei a cabeça dele com as pernas", e ele contaria aos amigos humilhado, que "amadorismou na nora de chupar a mina e ela teve um acesso de riso depois de espancá-lo com as coxas" e tudo terminaria ali.
Como uma história anedótica para contar aos amigos por algum tempo.
Mas quando ele olhou pra ela, meio sem saber o que fazer, ela ainda olhava pro teto. Sorriu e disse pra ele:
-Desculpa...
Ele ia dizer que não tinha problema, mas ela falou antes, enquanto se apoiava nos cotovelos e o olhava nos olhos:
-O teu óculos tá muito gelado.
Estendeu a mão esquerda, tirou os óculos do rosto dele, e os colocou.
"Meu Deus..." ele pensou. "Eu acho que amo essa guria.".
Ela se reclinou de novo e disse:
-Continua. Prometo que eu não faço mais que nem a Pris no Deckard.
Ele parou enquanto a beijava. "Não, não... É oficial. Eu definitivamente amo essa guria.".

Nenhum comentário:

Postar um comentário