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segunda-feira, 11 de julho de 2016
Resenha DVD: A Garota Dinamarquesa
Desde a primeira foto de Eddie Redmayne caracterizado de mulher parecendo uma mistura de si próprio com Bryce Dallas-Howard e Jessica Chastain, tinha-se a impressão de que o vencedor do Oscar por A Teoria de Tudo tinha tudo pra repetir a dose um ano depois.
O primeiro trailer do longa reforçou a ideia, pincelando um drama pujante sobre a vida de um transexual na década de vinte.
Eu acabei pulando A Garota Dinamarquesa nos cinemas por alguma razão, mas assim que o longa foi lançado em DVD, eu corri pra locadora para conferir o drama, e francamente, estou desde que subiram os letreiros pensando em como categorizar o filme.
Ele é bom, ou não?
Eu gostei, ou não?
A Garota Dinamarquesa conta a história de Einar Weneger (Redmaye, excepcional), um pintor de paisagens de moderado renome e sucesso em Copenhague, na Dinamarca.
Ele é casado com Gerda Wegener (Alicia Vikander, de O Agente da U.N.C.L.E., e EX-Machina), uma pintora de retratos e, a despeito de ela, por vezes se ressentir da sombra do marido, eles mantinham um relacionamento saudável e apaixonado. Trabalhando e vivendo juntos, comparecendo a eventos e tentando ter um filho.
As coisas começam a mudar quando, em 1926, precisando acelerar o trabalho em um retrato, e sem modelo disponível, Gerda pede que Einar vista meias-calça e sapatos de salto-alto para ajudá-la a completar uma pintura.
O que parecia apenas uma bobeira entre dois apaixonados, logo escala para Eijar usando lingerie sob as roupas masculinas, algo que inicialmente diverte e até excita Gerda, e alcança um pico quando o casal atende a um evento social com Einar incorporando Lilli, sua "prima", totalmente travestido.
Se as coisas saem brevemente de controle quando Lilli é assediada por Henrik (Ben Wishaw), Gerda não tarda a descobrir que Lilli é sua musa inspiradora, e é através de inúmeros retratos da modelo que sua carreira aflora e finalmente supera a sombra de Einar.
O problema é que Einar começa a ser soterrado por Lilli, uma presença cada vez mais constante na vida do casal, e não tarda para Gerda perceber que seu marido não é mais a pessoa com quem ela se casou.
Com Einar sofrendo a cada minuto que passa em sua identidade masculina, incapaz de trabalhar e se submetendo a tratamentos para tentar erradicar seu transtorno de gênero que não fazem nenhum bem, não resta alternativa a Gerda, senão apoiar Lilli e sua busca por identidade.
A Garota Dinamarquesa é um filme repleto de predicados. Bem atuado, com show de Redmayne e Vikander (justamente agraciada com o Oscar de atriz coadjuvante), uma direção segura de Tom Hopper, o mesmo de O Discurso do Rei e Os Miseráveis, belíssima fotografia de Danny Cohen, belos figurinos, design de produção caprichado, mas, meu Deus, que filme chato.
Francamente, por mais que eu tenha tentado me envolver com o drama, e tenha percebido toda a lista de qualidades do filme, a história simplesmente não emociona. Falta pujança ao roteiro de Lucinda Coxxon para gerar momentos de emoção genuína ainda que teoricamente possuísse ferramentas para tal. Momentos belíssimos, como a sequência na casa de strip-tease se perdem em um mar de obviedade e é difícil saber a quem culpar.
A história do primeiro transsexual a passar por uma arriscadíssima cirurgia de mudança de gênero, e de sua esposa o apoiando em todo o processo parece a matéria da qual prêmios de atuação e direção se alimentam e talvez esse seja justamente o problema... O fato de o filme ser tecnicamente perfeito e emocionalmente vazio.
Eu realmente não sei se é machismo de minha parte, homofobia, ou algum outro tipo de preconceito, mas a história do personagem central realmente me pareceu estéril a maior parte do tempo, enquanto que a provação pela qual Gerda passa, muito mais palpável, é reduzida a pano de fundo.
Tom Hopper opera com estilo no campo mais seguro e asséptico possível, mantendo o filme acessível para mais audiência e mais premiações com sua elegância e valor de produção, mas cria um longa metragem sem alma ou coração, feito para ser apreciado peça por peça separadamente (as atuações; os figurinos; a trilha sonora; a fotografia...), porque todas essas belas ferramentas, juntas, não sustentam o cerne do filme.
É uma pena. Havia grande potencial em A Garota Dinamarquesa, mas no meio do caminho faltou algo que pudesse fazer a diferença entre "bela produção" e "belo filme".
Tremendo desperdício de potencial, mas não necessariamente um filme ruim.
Assista e tire suas conclusões.
"-Como se sente?
-Inteiramente eu mesma."
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