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sexta-feira, 8 de julho de 2016

Resenha Cinema: Florence: Quem é Essa Mulher?


Na melhor tradição do cinema brasileiro, onde é inaceitável que um longa metragem tenha por título apenas um nome próprio, Florence Foster Jenkins se transformou em Florence: Quem é Essa Mulher?, dando ao longa de Stephen Frears uma cara de sessão da tarde oitentista que facilmente dividiria a grade semanal com Quem é Essa Garota?... Ainda assim, foi-se o tempo em que eu levava os títulos brasileiros de filmes em consideração, embora eu ainda fique pasmo com o amadorismo das distribuidoras.
O que sobra aos obtusos escolhedores de títulos nacionais, porém, transborda em Meryl Streep:
Talento.
E um filme protagonizado pela mulher que entra nas cerimônias do Globo de Ouro e do Oscar com a mesma naturalidade de quem vai fazer um xixi de manhã é sempre um programa que vale a pena. O trailer de Florence ainda acenava com uma participação de Hugh Grant no que parecia ser uma volta à sua zona de conforto com um tipo bobão e carismático de inglês aristcrático e Simon Helberg, o Howard de The Big Bang Theory em um surpreendente papel de destaque numa óbvia comédia.
O que mais se poderia esperar do longa cujo mote é a história de Florence Foster Jenkins (Streep), uma abastada herdeira nova yorkina que, durante toda a sua vida, foi uma devotada mecenas da música na grande maçã?
Florence mantinha um clube de amantes da música para senhoras da alta sociedade, contribuía com vultuosas somas em dinheiro para a montagem de espetáculos e era amiga íntima de grandes maestros e condutores.
Casada com o devotado St. Claire Bayfield (Hugh Grant), Florence dedicava seu tempo a concertos e apresentações até que, em 1944, tocada durante uma ópera, resolveu tentar uma nova investida na própria carreira musical.
Munida de uma fortuna e de determinação pétrea, o casalchamou um famoso professor de técnica vocal para se dedicar aos "extenuantes" treinamentos de Florence, que se matava com uma hora de trabalho diária. Ás vezes duas.
Para acompanhá-la em sua empreitada, Florence e Bayfield contrataram o pianista Cosme McMoon (Helberg), que seguiria a espevitada socialite em sua aventura musical, descobrindo, no caminho, que Florence, a despeito de sua inefável paixão pela música, não sabia cantar.
Pior, ainda: Florence era completamente surda à própria falta de talento, e, protegida de todas as críticas por Bayfield e pela própria fortuna, jamais ouvia a verdade sobre sua minguada capacidade vocal.
O mundo feliz de Florence e Bayfield, porém, foi chacoalhado quando, tomada de fervor patriótico, a aspirante a cantora lírica resolveu animar as tropas americanas com um espetáculo de canto para três mil ouvintes no Carnegie Hall, uma empreitada que colocou St. Claire em uma posição complicada, sem controle sobre a audiência, e Cosme, que realizaria o sonho de tocar num dos grandes palcos do mundo, ao lado de uma artista que não sabia cantar.
Baseado na premissa e no trailer, Florence parece apenas uma boa comédia, mas Stephen Frears, diretor de filmes como Alta Fidelidade e Philomena, sabe equilibrar a comédia e o drama inerentes à uma biografia.
O casamento muito particular entre Florence e Bayfield, sua luta contra a sífilis e mesmo a forma como sua tentativa de se tornar uma cantora lírica não deixava de ser uma disparatada vaidade de uma ricaça entediada são facetas que afastam o roteiro de Nicholas Martin do mero viés cômico, e dão ao elenco espaço para brilhar.
Obviamente ninguém brilha mais do que Streep. A desgraçada é um tipo de criatura, e seu talento chega a ser irritante. Não será surpresa e nem injustiça se Florence lhe render outra indicação ao Oscar.
Quem surpreende é Hugh Grant. Por trás do aristocrático charme britânico e do jeito pateta em certos momentos, o ator de 56 anos mostra que, assim como os Pokémons, evoluiu, e entrega uma tocante interpretação de um marido apaixonado e devotado, enquanto Helberg dá seu recado com seu timming cômico habitual.
Ainda há espaço para a bonitona Rebecca Ferguson e Nina Arianda aparecerem.
Não se deixe enganar pelo trailer óbvio ou pelo título nacional cretino, Florence: Quem é Essa Mulher? é um ótimo filme, repleto de risadas, alguns momentos tocantes e performances fortes de um bom elenco trabalhando sob a batuta de um diretor que manja de seu trabalho.
Aposta certa. Assista no cinema.

"-As pessoas podem dizer que eu não sei cantar, mas ninguém pode dizer que eu não cantei."

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