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segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Diferenças


Ele acordou sentindo a luz do Sol entrar pelas janelas abertas do apartamento banhando a cama de uma luz dourada.
Ao abrir os olhos, percebeu-a sentada nua, em posição de lótus de frente para a janela. A iluminação matutina, o corpo nu dela, a forma como suas nádegas firmes se aninhavam parcialmente no lençol como se provocando em um jogo de mostra e esconde...
Seus cabelos presos de maneira despreocupada atrás da cabeça, fazendo com que pequenos fios dourados escapulissem do coque improvisado lambendo-lhe os ombros e as costas delicadas que ganhavam um halo dourado por conta da luz, compunham um cenário magnífico e poético que a faziam parecer como uma gloriosa diathim.
Tudo o cenário foi arruinado pela sensação gelada que ele sentia na bochecha denunciando que dormira de boca aberta e a baba certamente escorrera-lhe pelo rosto como se ele fosse Jabba, o Hutt.
Sentia o inchaço nos próprios olhos, o hálito da manhã e ao erguer a cabeça do travesseiro percebeu o desgrenho do próprio cabelo.
Era inacreditável como sempre acordava parecendo um taun-taun...
Ficou pensando em como eram diferentes dormindo ela ele... Não que não fossem diferentes, muito diferentes quando acordados, ele um nerd grandalhão e barbudo, ela, uma graciosa e esguia moça com quê de bailarina, eram muito e genuinamente díspares, mas dormindo...
Dormindo eram ainda mais.
Pareciam filhos de mundos distintos de galáxias bem, bem distantes.
Ela dormia bonito.
Ficava fresca, lábios e olhos fechados, aninhada... Já a vira dormindo. Lembrava-se de ter acordado uma vez de madrugada pra ir ao banheiro, e que ao voltar, sentou-se na cama e a ficou observando, perguntando-se se estava rompendo algum tipo de barreira. Era muito cedo da manhã... Antes das cinco, e uma luz azulada entrava pela janela, iluminando-a de leve.
E ele a olhou, e percebeu que, à exceção da maquiagem borrada nos olhos, ela estava bonita como se tivesse se aprontado pra sair. Se passasse a mão nos cabelos, bastava se vestir e pronto. Poderia ir à qualquer festa ou evento com aquele mesmo rosto.
Conhecera uma quantidade limitada de mulheres na vida, admitia. Mas dentre todas as que conhecera, ela era, fácil, a que dormia mais bonito.
Ele?
Ele roncava, dormia de boca aberta, babando, cabelos desgrenhados, todo esparramado na cama, a pele, por alguma razão, ficava muito oleosa enquanto dormia, a ponto de se perguntar, pela manhã, se alguém passara azeite em sua testa e nariz durante a madrugada.
Ela dormia de pijama, calça e camiseta, ou blusa de alças e short.
Tudo bonito, combinado, feminino e cheiroso como ela só.
Ele dormia com pijama improvisado. Calção velho, cujo elástico da cintura já não era confiável pra usar pra correr ou jogar futebol, e camiseta desbotada cujas mangas ele arrancava com as mãos quando resolvia que precisava de um pijama novo.
Mesmo quando dormiam nus a disparidade continuava lá.
Porque ele, nu, era uma bagunça medonha, e ela, nua, era uma visão.
E ali estava ele, feito um nativo de algum planeta distante à beira de uma singularidade cósmica aterrorizante, massivo e desgrenhado, e ela, esguia, miúda e delicada como a filha do lado mais claro de uma lua de Saturno.
O que foi que ela viu nele?
Como podia suportá-lo?
Ela se virou levemente, tinha um meio sorriso no rosto. Avançou engatinhando feito uma bothana sobre a cama:
-Bom dia, bela adormecida...
Ele cobriu a boca enquanto esfregava os olhos temendo estar remelento pra piorar ainda mais as coisas:
-Não! - Disse, enquanto ela se debruçava sobre ele. -Tô com bafo...
Mas ela o pegou pelo pulso com decisão e disse:
-Tudo bem... Ainda não escovei os dentes, também.
O beijou.
E enquanto ele segurava a parte de trás da cabeça dela com uma das mãos, e sua cintura com a outra, todos os parsec que separavam seus planetas de origem desapareceram, e ele deixou suas inseguranças pra lá.
Estava ocupado demais para elas, sendo feliz.

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