Pesquisar este blog

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Resenha DVD: 13 Horas: Os Soldados Secretos de Benghazi


Em 2012, após a queda do ditador Muammar Kaddafi, a Líbia se tornou um dos lugares mais instáveis do mapa múndi pós-primavera árabe.
A maioria dos países que possuíam embaixadas ou postos diplomáticos no país norte-africano se retiraram. Os Estados Unidos não fizeram isso, porém.
Os norte-americanos mantiveram uma embaixada em Trípoli e um posto da CIA em Benghazi, onde a agência de inteligência dos EUA tentava monitorar o destino dos armamentos removidos dos arsenais de Kaddafi após a queda de seu regime.
A segurança desse complexo da CIA em Benghazi era encabeçada por seis ex-membros de esquadrões de elite norte-americanos.
Em 13 Horas: Os Soldados Secretos de Benghazi, o diretor Michael Bay, da série Transformers, conta a história dos ataques ao posto diplomático e ao complexo da CIA na cidade no dia 11 de setembro de 2012 pela ótica de Jack Silva (John Krasinski).
Jack é um ex-fuzileiro naval que agora atua como contrato privado de segurança. Não é o emprego dos sonhos de Jack, mas o dinheiro é bom, e ele precisa, eventualmente, completar seu orçamento doméstico já que sua carreira como corretor imobiliário não vem tão bem.
Jack chega a Benghazi para trabalhar com seu amigo Tyrone "Rone" Woods (James Badge Dale) e sua equipe, formada por Chris "Tanto" Paronto (Pablo Schreiber), Dave "Boon" Benton (David Denman), John "Tig" Tiegan (Dominic Fumusa) e Mark "Oz" Geist (Max Martini).
O contrato de Jack é para apenas seis semanas de trabalho, mas Benghazi é um dos lugares mais perigosos e instáveis do planeta naquele período, e seis semanas podem ser um período longo.
Especialmente quando a equipe de segurança precisa agir sob a batuta de um chefe de departamento da Cia, Bob (David Costabile) que é a encarnação viva do burocrata extremamente afeito às regras.
Apesar da tensão e de eventuais percalços com as milícias locais, o grupo faz seu trabalho com relativa tranquilidade. Ao menos até a chegada do embaixador americano Chris Stevens (Matt Letscher).
Stevens e sua equipe, formada por dois agentes do Departamento de Estado são alocados em um complexo diplomático que mais parece um resort do que uma embaixada.
A despeito dos alertas de Jack, Rone e equipe de quê a segurança do local é absolutamente ineficiente, os seguranças de Stevens sustentam a permanência no local.
As coisas pioram ainda mais quando um encontro entre o embaixador e o prefeito de Benghazi, planejado para ser uma reunião discreta, se torna um circo midiático, alertando todas as milícias, grupos rebeldes e terroristas locais da presença de Stevens na região.
No dia 11 de setembro de 2012, o posto diplomático onde Chris Stevens estava é invadido por um grupo de dezenas de terroristas fortemente armados que não têm dificuldade em invadir o local.
Do complexo da CIA, Rone e seu time conseguem ver toda a ação, e embora estejam prontos e dispostos a partir em auxílio a Stevens e seu staff, são impedidos por Bob, que lhe ordena diretamente que permaneçam no complexo.
As ordens de não interferência continuam até que os seis ex-soldados resolvem simplesmente ignorá-las e sair se autorização.
Embora consigam matar vários inimigos e resgatar um par de seguranças, o grupo de Silva não encontra o embaixador no prédio em chamas, e retorna ao complexo da CIA, que agora é o foco dos inimigos.
Enquanto pedem desesperadamente por apoio aéreo que jamais chega, e por uma equipe de resgate presa em Trípoli pela burocracia líbia, cabe a esses seis soldados liderar uma defesa impossível durante as treze horas mais longas de suas vidas.
Assistindo ao filme fica bastante claro que Michael Bay estava tentando emular Falcão Negro em Perigo, excelente filme de Ridley Scott que também mostrava um grupo de soldados em uma região hostil que eram pegos de surpresa na armadilha de uma missão que dava terrivelmente errado.
O problema é que Michael Bay não é Ridley Scott.
Nas mãos do diretor de Bad Boys a história dos soldados secretos de Benghazi é contada sem nenhum tipo de nuance ou profundidade, simplesmente jogada na tela da maneira mais abrangente possível, com seis heróis que são a encarnação viva da virtude tendo suas mãos atadas por burocratas absolutamente obtusos com uma burrice quase caricatural.
Os mocinhos do filme são virtuosos e para por aí. Nenhum deles ganha nenhum tipo de desenvolvimento além de eventuais "falei com minha esposa hoje", ou "sinto falta dos meus filhos"... Krasinski é quem mais chega perto, com um pequeno arco dramático envolvendo sua esposa, que tem seu pico na sequência em que, por vídeo conferência, ele descobre a gravidez dela. Cena conduzida por Bay como um parto feito com fórceps.
Se o diretor obviamente não tem paciência para desenvolver personagens, ele certamente tem para suas sequências de ação, e trata as de 13 Horas da mesmíssima forma que trata as de Transformers.
Sério.
Exatamente da mesma.
Os combates no longa são repletos de todos os vícios e clichês visuais de Bay, das explosões cartunescas à edição hora acelerada, hora em slow-motion, passando pela câmera que gira ao redor de um personagem e a confusão com o período do dia (Na mesma sequência é noite fechada, amanhecer e dia claro, a edição simplesmente não liga pra uniformidade), tudo igual que nem todos os outros trabalhos de Bay, mas com mais sangue.
A soberba do cineasta é tamanha que ele chega a homenagear a si mesmo, conforme uma cena mostrando a queda de um morteiro é absolutamente igual à sequência da queda de uma bomba em Pearl Harbour enquanto conduz com sua costumeira falta de tato o roteiro simplório de Chuck Hogan, que também não ajuda.
13 Horas: Os Soldados Secretos de Benghazi falha como filme de ação e como relato da memória dos envolvidos na situação. Nas mãos de um cineasta mais competente, a história verdadeira da equipe de Rone, Jack e companhia poderia ter sido um grande filme. Nas mãos de Bay se torna uma bagunça pirotécnica absolutamente indistinguível de todo o restante da sua filmografia.

"-Deus não cria guerreiros para que se aposentem, irmão."

Nenhum comentário:

Postar um comentário