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sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Resenha Cinema: Ben Hur


Eu devo ter assistido ao Ben Hur de 1959 ao menos uma vez considerando-se quantas vezes eu comecei a ver o filme, ou peguei partes dele passando na TV ao longo da minha infância e adolescência.
Vou confessar que, ainda que eu respeite a importância de Ben Hur para o cinema, seus onze Oscar e tudo mais, eu tenho um certo problema em avaliar esses longas megalômanos de outrora por conta da estética.
Eu não vou, obviamente, ficar fazendo piada com a forma de Charlton Heston atuar em Ben Hur ou em Os Dez Mandamentos, a sua abordagem para os papéis nesse filme seguem o modelo teatral e exagerado que os épicos de sandálias e espadas partilhavam nas décadas de 50 e 60, mas posto isso, se alguém atuasse da maneira como Heston, Yul Brynner e Victor Mature atuavam em seus épicos de sandálias e espadas cinquentistas hoje em dia, cuspindo texto de maneira empostada como se fosse Escritura, seria considerado um tremendo canastrão.
A estética do cinema mudou. As linguagens e formas narrativas, também, de modo que um filme parrudo e de queixo quadrado como o Ben Hur de 1959 (que por sinal já era um remake) poderia, sim, ganhar um remake com nova linguagem, estética e efeitos visuais. Num tempo como o nosso, onde remakes e adaptações são as molas que propulsionam o cinema, porque é que uma história universal como a de Judah Ben Hur ficaria de fora?
A ideia de uma nova versão era apenas natural.
O que eu jamais consideraria uma ideia das melhores era a empreitada ser dirigida por Timur Bekmambetov, o diretor cazaque de Guardiões da Noite, O Procurado e Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros.
O histórico do cineasta acenava com um Ben Hur repleto de explosões, edição surtada e efeitos digitais exagerados.
Ainda assim, ontem eu resolvi dar uma chance ao longa, e me surpreendi.
Ben Hur já abre com o início da sequência da corrida de bigas onde Judah Ben Hur (Jack Huston, de Boardwalk Empire e Trapaça) e Messala Severus(Toby Kebbel Quarteto F4antástico, World of Warcraft) se opõe no circo romano de Jerusalém.
Antes que os competidores ganhem a pista, porém, a narração de Morgan Freeman nos leva de volta oito anos no passado, quando Judah Ben Hur era um jovem príncipe judeu, e Messala o órfão romano adotado como filho por sua família.
Os dois cresceram como irmãos, e eram tão unidos quanto competitivos, mas Messala, que era apaixonado pela irmã de Ben Hur, Tirzah (a gatinha Sofia Black-D'elia), sabia que jamais teria a permissão da mãe dos irmãos, Naomi (A bonitona Ayeleth Zurer, de O Homem de Aço e Demolidor), para casar com ela.
É por isso que Messala resolve se alistar na legião romana, para ganhar status e fortuna, e ser mais do que um órfão.
Enquanto Messala vaga pelos quatro cantos do vasto império romano levando a justiça do imperador aos seus súditos e enfrentando os bárbaros por toda a parte, Ben Hur seguiu sua vida em Jerusalém.
Um jovem abastado, de alto nascimento e privilégio, Ben Hur não se importa com as lutas por liberdade dos zelotes judeus e suas rusgas com os conquistadores romanos. Tudo o que Ben Hur deseja é que as coisas continuem como estão.
Ele se casa com a escrava Esther (Nazanin Boniadi de Homeland), e conhece o jovem carpinteiro Jesus (Rodrigo Santoro) enquanto se mantém apartado das intrigas locais.
Quando Messala volta para casa, agora como um capitão do império romano com placa peitoral de cobre e elmo emplumado, ele e Ben Hur logo percebem que os três anos que passaram apartados não mudou o afeto que sentiam um pelo outro, mas alterou suas visões de mundo.
Quando uma tentativa de assassinato contra o governador Pôncio Pilatos ocorre na casa de Ben Hur, o romano deseja sangue.
Para salvar sua família, Judah assume a culpa pelo atentado, e enquanto sua mãe e irmã são condenadas à cruz, ele é levado para servir como escravo nas galés romanas até a morte.
Após cinco anos remando nos porões romanos, um evento fortuito liberta o ex-príncipe, que auxiliado pelo criador de cavalos e apostador de corridas de bigas Ilderim (Morgan Freeman), tem a chance de retornar à sua terra natal e buscar vingança contra Messala, mas talvez esse não seja o plano de Deus para Ben Hur.
Eu preciso dizer... Ben Hur me arrancou lágrimas.
O filme de fato funcionou pra mim e chega a ser difícil acreditar que Timur Bekmambetov tenha conseguido trabalhar o roteiro de Keith R. Clarke e John Ridley de maneira tão bem equilibrada entre as sequências de ação e o drama.
A ação, especialidade de Bekmambetov, por sinal, é muito boa...
A primeira grande sequência, nos porões do navio, toda mostrada do ponto de vista de Ben Hur e dos escravos nos remos é muito bem sacada, com uma montagem extremamente esperta. E a corrida de bigas do final do filme, é sensacional, com todo o cardápio esperado, condutores atropelados e arrastados, cavalos se empilhando e bigas capotando enquanto a tensão só aumenta rumo ao desfecho do sangrento espetáculo.
Mas por bem montada e espetaculosa que seja, a ação desse novo Ben Hur é secundária. O roteiro está mais interessado em contar a história de Judah em paralelo com a de Cristo. E a de Messala.
Toby Kebbel, por sinal, faz muito bem sua parte para contribuir nesse intento. O ator dá dimensões e profundidade ao personagem impedindo-o de se tornar um vilão óbvio e declarado.
Jack Huston não faz um Ben Hur de cara fechada que exala retidão como fizera Heston. Seu Ben Hur é afável, falho, por vezes hesitante, e perfeitamente crível. Os dois atores mandam bem como protagonistas.
Morgan Freeman é um ator que chegou a um patamar de sua carreira em que pode ficar vomitando sabedoria por uma hora com sua voz de veludo e nos convencer, e Rodrigo Santoro faz um Jesus digno e humano, com seu discurso de amor e esperança.
Nem tudo são flores, claro.
Personagens como Tirzah e Naomi são usadas como acessórios, e o segundo ato é um tanto arrastado, mas isso não chega a ser um pecado imperdoável, já que o primeiro ato é competente e o terceiro é acima da média.
Talvez o Ben Hur de 2016 não tenha a grandiloquência do antecessor de 1959, sua pretensão e fome de prêmios embrulhados em mais três horas e meia de megalomania... Mas isso não é uma grande perda.
A mensagem de redenção e amor da história está inteira lá, embrulhada em um filme pipoca divertido e bem feito.
E que vale demais a visita ao cinema.
Assista.

"Lembra-se de quando eu me feri e você me carregou com toda a sua força, o mais longe que pôde?"

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