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quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Adeus, Sua Alteza


Ontem deu-se a passagem de Carrie Frances Fisher, que além de uma reconhecida escritora, roteirista, e uma das poucas pessoas públicas a tratar abertamente questões relacionadas a vícios e problemas mentais, foi uma atriz com mais de noventa trabalhos entre cinema e TV, e, de maneira mais marcante, a eterna princesa Leia Organa de Star Wars.
Foi com a personagem de vestido impecavelmente branco e estranhos coques laterais estilo fone de ouvido que Carrie Fisher entrou para o panteão dos personas fundamentais da cultura pop.
Fundamental porque a Leia de Carrie Fisher era tão essencial a Star Wars quanto o Luke Skywalker de Mark Hammil, o Han Solo de Harrison Ford ou o Darth Vader de James Earl Jones (desculpe-me David Prowse), é inevitavelmente um dos primeiros rostos e vozes que nos vêm à mente quando pensamos na mais proeminente ópera espacial do nosso tempo, e o símbolo mais maneiro do bom feminismo na cultura pop (e que me desculpe a Mulher-Maravilha), ao representar de maneira orgânica e natural uma paridade de gênero até então inédita no cinemão de aventura/ficção.
Leia rompeu o modelo tradicional de princesa.
Era tão central à ação quanto Luke e Han, os outros co-protagonistas da história, e por vezes melhor resolvida no que queria fazer.
Sua interpretação e o roteiro de George Lucas (e depois de Lawrence Kasdan) transformaram Leia num ícone.
A partir dela, uma menina podia ser uma princesa e rolar na sujeira, trocar tiros com malfeitores, saltar se pendurando em cordas feito o Tarzan, resgatar a si própria se achasse que os outros heróis estavam demorando demais, pilotar um speeder em alta velocidade pela floresta de Endor, usar um longo vestido branco, um biquíni dourado ou um traje camuflado de selva, dizer que amava um salafrário, fazer amizade com pequenos ursinhos/macacos ou estrangular um abusado sapo/verme gigante até a morte.
A princesa Leia podia fazer o que quisesse, até deixar de ser uma princesa pra se tornar uma general, e nenhum de nós duvidava ou questionava.
Muito do poder de Leia emanava de Carrie Fisher, que aos dezenove anos e medindo um metro e meio de altura se impunha e fazia pouco de Darth Vader e Wilhuff Tarkin de maneira convincente mesmo com uma estranha ponta de sotaque inglês em suas primeira falas, e que mesmo não tendo a mais convencional das belezas, galgou degrau a degrau um lugar muito especial no coração de toda uma geração.
Aos sessenta anos de idade, um ano após retornar àquela galáxia bem, bem distante, enquanto divulgava seu mais recente livro, Carrie Fisher se foi.
Seria mais uma perda a se lamentar em um ano repleto de perdas lamentáveis.
Mas mestre Yoda me ensinou que devemos nos regozijar por aqueles que se juntam à Força ao nosso redor. Não lamentá-los.
Então eu, que sou um aplicado padawan, farei isso:
Vou ficar feliz por Carrie Fisher, que se tornou um ser iluminado, longe da nossa rude matéria.
Adeus, sua alteza.

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