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quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Resenha Cinema: Sully: O Herói do Rio Hudson


Clint Eastwood chegou aos 86 anos de idade esbanjando disposição.
O eterno Dirty Harry se tornou um diretor prolífico que chega a lançar dois filmes no mesmo ano, e ainda que se possa questionar algumas de suas escolhas recentes, não se pode negar que o caubói de faroeste espaguete se transformou em um cineasta com recursos e assinatura visual consistentes.
O Clint diretor pode não ter o carisma do Clint ator, mas talvez tenha mais talento e seja mais versátil, navegando pelo romance de As Pontes de Madison até o drama sobrenatural de Além da Vida passando pelo western de Os Imperdoáveis, a ficção científica de Cowboys do Espaço e o musical de Jersey Boys: Em Busca da Música, sempre em busca de conflitos que ilustrem suas histórias, seja o conflito físico entre jogadores de rugby, ou de um político contra a mentalidade instaurada em seu país, ou o de um velho com um mundo novo no qual não se encaixa ou de um pistoleiro contra outro... Os conflitos pautam a filmografia de Eastwood.
E esse Sully: O Herói do Rio Hudson, que adapta o livro Highest Duty: My Search for What Really Matters do ex-piloto comercial Chesley Sullenberger não é exceção, já que vemos no longa a luta de Sully para provar aos burocratas das agências de reguladoras de transporte de passageiros que seu miraculoso pouso forçado no rio Hudson em janeiro de 2009 não foi um ato de imprudência, ainda que todas as simulações computadorizadas e relatórios de equipamentos digam o contrário.
Os acontecimentos da ocasião foram amplamente divulgados, pouco depois de decolar do aeroporto de Laguardia em Nova York, o vôo 1549 da American Airways se chocou com um bando de gansos canadenses perdendo ambos os motores.
Incapaz de retornar ao aeroporto, Sully (Tom Hanks) decidiu-se por uma amaragem no rio Hudson.
A Junta Nacional de Segurança em Transportes (NTSB na sigla em inglês), porém, preferia que Sully tivesse tentado o retorno ao Laguardia, ou tentado chegar ao aeroporto de Teterboro, em Nova Jersey, o que, segundo os cálculos e simulações, seria possível.
Após o caso, enquanto aguarda os laudos finais das investigações da NTSB e lida com o assédio da imprensa e da opinião pública, Sully passa a se questionar se, de fato, o rumo que escolheu era o mais acertado, ou se seus quarenta anos de experiência o cegaram para algo óbvio e ele cometeu um erro que colocou em risco a vida de 155 pessoas.
Há que se tirar o chapéu para Eastwood e o roteirista Todd Komarnicki. Não é tarefa fácil pegar uma história da qual o desfecho todos conhecem e cujo evento principal durou 208 segundos e transformar isso em um filme de cento e trinta e seis minutos capaz de causar tensão.
Ainda assim, o feito é alcançado por Sully: O Herói do Rio Hudson.
É difícil abstrair o fato de que todos sobreviveram sem nenhum arranhão quando o airbus A-380 de Sully bate de barriga nas águas gélidas do Hudson. Aliás, palmas para o octogenário Clint Eastwood, que mostra que, não só não tem medo de CGI, como também que se pode usar o recurso para mais do que um raio caindo do céu com um cinturão de detritos ao redor.
Toda a reprodução do acidente é perfeita a ponto de a audiência sentir nos dentes o impacto da aeronave com a água.
Claro, todo o talento de Clint e de Komarnicki não seriam capazes de segurar o filme sem um grande trabalho de elenco, felizmente, isso fica muito mais fácil com a presença de Tom Hanks.
O ator já tira de letra o papel do sujeito comum capaz de fazer o impossível quando necessário. Em Ponte dos Espiões, Apollo 13, À Espera de Um Milagre e em Capitão Phillips Hanks já deixou em claro que, quando não está sendo preguiçoso, ele tira esse tipo de papel de letra.
Hanks é um camarada de aparência mediana com um talento acima da média. E transferir isso para o piloto veterano de fala pausada é sopa pra um intérprete de seu calibre e carisma.
Também é bom ver Aaron Eckhart em um bom papel de destaque após as escorregadas de Frankenstein: Entre Anjos e Demônios e Invasão a Londres.
Sua interpretação do co-piloto Jeff Skiles é natural, relacionável e oferece um contraponto caloroso e relaxado ao jeitão rígido de Sully.
O elenco ainda conta com uma subaproveitada Laura Linney no papel da esposa de Sully, além de participações de Mike O'Malley, Jamey Sheridan, Michael Rapaport, Anna Gunn, Sam Huntington, Holt McCallany entre outros.
Com a orquestra afinadinha e um maestro que, a exemplo do personagem principal, sabe o valor da experiência em seu ofício, Sully: O Herói do Rio Hudson é um bom filme com picos de excelência.
Tem seus defeitos, mas é, no geral, um bom programa para amantes de cinema, de Tom Hanks, e de Clint Eastwood, o último macho de Hollywood.
Vale a ida ao cinema.

"-Tudo é sem precedentes até que aconteça pela primeira vez."

Um comentário:

  1. Obrigada pela resenha do filme. O filme Sully, O Herói do Rio Hudson é um dos meus preferidos. Li o livro em que esta baseado o filme Sully faz alguns anos e foi uma das melhores leituras até hoje. Parece surpreendente que esta história tenha sido real. Considero que outro fator que fez deste um grande filme foi a atuação de Tom Hanks, seu talento é impressionante. É bom.

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