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quarta-feira, 24 de maio de 2017

Resenha Série: Deuses Americanos. Temporada 1 Episódio 4: Git Gone


Chegando à metade de sua primeira temporada, Deuses Americanos dispensou a estrutura de episódio com a qual a audiência havia se habituado, das vinhetas com os deuses antigos ao relacionamento entre Quarta-Feira e Shadow, e se concentrou em mostrar um ponto de vista da história que ainda não havíamos visto:
O de Laura Moon (Emily Browning).
Não era difícil saber, após o final de Head Full of Snow, que a falecida ganharia seu espaço ao sol na sequência, o que era difícil de imaginar é que seria num episódio tão bom.
Git Gone nos apresentou a personagem que conhecíamos apenas através da visão idealizada de Shadow como uma mulher infeliz, levando uma vida vazia do trabalho de crupiê em um cassino pra casa, onde vivia com um gato do qual nem sequer gostava, numa existência tão miserável que chegou à uma tentativa de suicídio usando sua hidromassagem e inseticida (da marca "Git Gone", donde o título do episódio).
Quando ela conhece Shadow, ele aparece como um sopro de vida para Laura, um ladrão e trapaceiro charmoso que não liga para as regras e chega a tentar convencê-la a ajudá-lo a roubar o cassino onde ela trabalha, mas não demora para que, conforme a vida com Laura domestique Shadow, ela volte a se sentir infeliz e vazia.
O diretor Craig Zobel, que quebrou a sequência da David Slade, que dirigiu os primeiros três episódios, faz um ótimo trabalho ao mostrar a audiência o tamanho da depressão de Laura e suas consequências, fica bastante claro que Laura se sente amortecida, e que todas as suas decisões são tentando sentir alguma coisa. É por isso que ela leva um ladrão pra casa, por isso ela começa a trair o marido preso com o vizinho, por isso ela resolve participar do roubo ao cassino. Laura era uma variante do adolescente idiota que se corta, ela fazia coisas estúpidas e dolorosas para se lembrar que estava viva porque sua vida não tinha propósito.
Não deixa de ser irônico, então, que após sua morte, quando conhece Anúbis, Laura finalmente ganhe propósito.
E não só isso, como fica claro na sequência que amarra uma ponta solta de The Secret of Spoons, a moeda de Mad Sweeney fez mais do que apenas trazer Laura de volta do túmulo.
Por sinal, a segunda metade do capítulo, que mostra o que aconteceu depois de Laura ter morrido enquanto fazia um boquete em Robbie (Dane Cook) no carro, é menos empolgante do que a primeira, ainda assim, pudemos reencontrar Aubrey, a viúva de Robbie, uma personagem que serve como lembrete de que existem pessoas normais nesse mundo, e o faz de maneira genuinamente engraçada em meio a um episódio pesado, que brecando o andamento da série, deu uma luz importante à Laura, uma personagem que, agora, a audiêcia conhece de maneira muito mais profunda do que Shadow conheceu, e que em Git Gone ganhou um retrato incrivelmente humano e complexo, numa interpretação acima da média de Emily Browning que mostrou que, apesar de ser uma vaca, Laura Moon é uma vaca que somos capazes de entender, mesmo que não sejamos capazes de gostar.
Ao sair do formato utilizado até aqui, Deuses Americanos esqueceu seus protagonistas por um episódio e deixou bastante claro o quão forte é o programa, que não perdeu nada em qualidade, e ainda ofereceu contexto e espetáculo.
Já entrei naquele momento em que estou sofrendo por faltarem apenas quatro episódios pro final da temporada...

"-Eu tentei trepar com Shadow em cima do seu túmulo. Me pareceu justo.
-Era justo..."

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