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segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Resenha Cinema: Thor: Ragnarok


Apesar do que o público em geral possa dizer, eu sempre gostei dos filmes do Thor.
O primeiro longa, lá de 2011, era uma correta fita de origem que, se ressentia de mais tempo para desenvolver a relação entre Thor e Jane Foster e para dar um fecho mais redondinho para sua trama, mas que funcionava a contento. O segundo longa, Thor: O Mundo Sombrio, de 2013, a despeito de ser o mais pichado pela crítica e pelo público, me ganhou. Era uma violenta salada de referências, tinha humor, ação e doses de drama, e, pra mim, tinha sido muito mais divertido do que os outros dois filmes de super-herói lançados naquele ano: O Homem de Aço e Homem de Ferro 3, chegando a entrar na minha lista de preferidos de 2013.
Uma coisa que esses dois filmes tinham em comum, além de Tom Hiddleston roubando a cena, era o fato de que Thor funcionava melhor quando o roteiro fazia graça com o deslocamento social do deus do trovão em nosso mundo.
O Thor que quebrava canecas no restaurante e pendurava o Mjölnir no suporte de guarda-chuvas da casa de Darcy era muito mais humano e relacionável do que o furioso deus-guerreiro que ia a Jottunheim matar Laufei porque sim.
A inadequação da divindade bárbara mística/medieval em nosso mundo era sempre uma válvula de escape bacana para histórias que, em um universo habitado por playboys bilionários filantropos em armaduras tecnológicas, soldados da Segunda Guerra com super-poderes e gigantes verdes enfurecidos, conseguiam se sobrepôr em estranheza.
Provavelmente o diretor Taika Waititi via as coisas dessa mesma maneira, e resolveu fazer de Thor uma comédia de ação e aventura cósmica da mesma estirpe de Guardiões da Galáxia, deixando que Chris Hemsworth chafurdasse na comédia física para se tornar, finalmente, o protagonista de seu próprio filme.
Porque previamente, o deus do trovão sempre foi facilmente eclipsado por Anthony Hopkins no tocante a talento dramático, e especialmente por Hiddleston, intérprete de Loki, que esbanja carisma na pele do deus da trapaça.
Entre esses dois, Thor parecia quase um acessório do roteiro de seus filmes, o sujeito que estava ali para salvar o dia por dever de ofício, e não por vontade própria, agindo como um herói agiria porque era seu trabalho e não porque ele queria.
Taika Waititi parece decidido a mudar isso e tornar Thor um herói pela qual a audiência esteja disposta a torcer.
Thor: Ragnarok abre com o deus do trovão encarcerado em Musphelhein, domínio de Surtur (Clancy Brown), o senhor dos reinos infernais. Ele está lá em razão de sua busca, através dos nove mundos, por pistas a respeito de suas visões em Vingadores: Era de Ultron, mas acaba sendo atraído de volta a Asgard após perceber que há algo de errado no comportamento de seu pai, Odin (Hopkins).
Nenhuma surpresa.
Todos nós nos lembramos que, ao final de Thor: O Mundo Sombrio, Loki havia tomado o lugar do Pai de Todos após forjar sua própria morte, e agora rege Asgard sem a mesma diligência de seu pai.
Thor retorna ao lar para encontrar Skurge (Karl Urban) ocupando o posto de Heimdall (Idris Elba) no comando da ponte do arco-íris enquanto Asgard celebra o deus da trapaça em monumentos e peças de teatro (uma hilária representação da morte de Loki no segundo filme, com Matt Damon, Luke Hemsworth e Sam Neil interpretando Loki, Thor e Odin) com "Odin" atendendo ao espetáculo comendo uvas e prenunciando as falas.
Não tarda para que o deus do trovão desmascare seu irmão e volte à Terra para procurar pelo pai de todos.
Após uma breve audiência com o Doutor Estranho (Benedict Cumberbatch), Thor e Loki vão ao encontro de Odin, que revela que sua ausência no trono de Asgard causou o retorno de Hela, a deusa da morte (Cate Blanchett, linda de morrer).
Hela se alimenta do poder de Asgard, se torna mais forte a cada segundo, e é mais forte do que Thor, Loki e os dois juntos. Ela destrói o Mjölnir como se fosse feito de vidro, e toma o rumo do reino eterno lançando Thor e Loki para um lixão do cosmos: Sakaar.
Em meio a dezenas de portais dimensionais, o planeta Sakaar é domínio do Grão-Mestre (Jeff Goldblum), um déspota cheio de bons modos que organiza grandes torneios de gladiadores e sobrevive de mão-de-obra escrava (apesar de não gostar dessa palavra).
Assim que chega a Sakaar, Thor é cooptado pela catadora 142 (Tessa Thompson), na verdade, uma Valquíria exilada após sofrer a maior das derrotas nas mãos de Hela milhares de anos atrás, e levado ao Grão-Mestre, onde é transformado em um lutador de arena junto com outros exilados, como o kronan Korg (Taika Waititi, hilário), o insetoide Miek, e o grande campeão da arena de Sakaar: O incrível Hulk (Mark Ruffalo).
Preso no reino do Grão-mestre, sem seu martelo, Thor precisa encontrar um jeito de retornar a Asgard e impedir que Hela comece a levar adiante seus planos de dominar todo o universo, mas para isso, ele precisará sobreviver ao seu confronto com o incrível Hulk, e da ajuda de pessoas que não parecem dispostas a abraçar sua causa.
Ao assumir-se como uma comédia de ação, Thor: Ragnarok acerta a mão e entrega o que provavelmente é o filme mais divertido da Marvel desde o primeiro Guardiões da Galáxia. Embora haja muito fanboyzinho com vocação pra fiscal de piada torcendo o nariz para o humor escrachado do longa, é fácil perceber porque a Marvel escolheu essa abordagem para o Thor após as tentativas de levar o personagem mais a sério não terem sido bem-sucedidas.
Se Thor fosse um filme isolado, sem necessidade de se conectar ao restante do universo Marvel, provavelmente seria mais plausível criar o épico de 300 milhões de dólares imaginado por Matthew Vaughn lá atrás. Não é o caso. Não é assim que a Marvel faz cinema, e por mais que haja gente que não goste, o resultado financeiro não acena com necessidade de mudanças, de modo que o importante é encontrar uma forma de tirar a melhor experiência possível do personagem dentro da fórmula Marvel.
Taika Waititi fez isso.
Ele torna o roteiro de Eric Pearson, Craig Kyle e Christopher Yost em um colorido carnaval de referências espaciais/mitológicas numa trama que brinca, de maneira leve, com a ideia do que faz um herói ser um herói, e cada pessoa procurando seu lugar no mundo porque, sob toda a pirotecnia e as piadas de Thor: Ragnarok, esse é o cerne do filme:
Thor, Loki, Valquíria, Hulk/Banner, até mesmo Hela e Skurge, estão todos tentando encontrar seu lugar no plano das coisas. Cada um deles tem uma ideia de quem devem ser, de quem querem ser, mas ainda não sabem ao certo como, ou porquê.
Thor provavelmente é quem melhor ilustra essa busca, ainda que o faça através de comédia muitas vezes pastelão. O Thor de Waititi é um idiota social, e nós gostamos dele por isso. Ele constantemente diz que "isso é o que os heróis fazem" antes de tomar alguma atitude potencialmente suicida e cheia de bravura, embora apenas ao final do longa, ele entenda porque os heróis agem dessa forma. Claro, ainda há tempo para que ele pareça sério ou solitário, mas isso dura pouco, e fica pouco em nossa memória, e nem importa, a mensagem é transmitida de maneira mais do que satisfatória por um elenco extremamente à vontade. Chris Hemsworth obviamente está se divertindo ao tirar sarro sem dó nem piedade de si próprio, Hiddleston sempre deixou claro o quanto é fácil para ele interpretar o deus da trapaça, e Hopkins segue tirando Odin de letra (ganhando até um momento para brincar de ser Loki). A Hela de Cate Blanchett mantém a média da Marvel, é sensacional logo que aparece, e vai se tornando menos e menos interessante conforme a filme anda, e é uma pena que não tenham dado à bela e talentosa atriz mais oportunidades, tanto de explorar o background de Hela e compor uma personagem mais profunda e interessante, quanto para interagir com Hiddleston e Hopkins, ainda assim, é sempre um deleite ver Cate Blanchett em cena.
O restante do elenco também está bem, Mark Ruffalo manda bem tanto como Hulk quanto como Banner, Tessa Thompson é bonita e fodelona, e Jeff Goldblum está ótimo como o afetado Grão-Mestre.
A trilha sonora, como de hábito, é quase invisível de tão discreta, e só se sobressai, mesmo, a Immigrant Song que embalou os trailers e aparece no filme para duas grandes sequências de ação.
Por sinal, quem se preocupava com Waititi comandando sequências de ação, o temor era infundado. O diretor neo-zelandês o faz com galhardia, cenas como a cavalgada das Valquírias montadas em pégasos fazendo uma carga contra Hela, ou todo o combate entre Hulk e Thor na arena de Sakaar deixam claro que não falta estilo ao cineasta, que torna Ragnarok o filme da Marvel com mais assinatura de seu diretor depois de Guardões da Galáxia.
Ao oferecer um respiro e uma nova abordagem ao deus do trovão, Waititi conseguiu o que a Marvel Studios ainda não havia conseguido fazer em seis anos de tentativa:
Tornou Thor a estrela de seu filme, e fez com que a audiência fique ansiosa por vê-lo novamente.
Certamente vale a ida ao cinema. O 3D é absolutamente dispensável. Há duas cenas pró-créditos.

"-Asgard não é um lugar.
-É um povo.
-E Esse povo precisa de você."

Um comentário:

  1. Desde que vi o elenco deste filme imaginei que seria uma grande produção, já que tem a participação de atores muito reconhecidos, pessoalmente eu irei ver por causo do ator Idris Elba, a propósito, eu o recomendo na A Torre Negra, vi que a transmitiria aqui: https://br.hbomax.tv/movie/TTL608754/A-Torre-Negra, é uma historia que vale a pena ver. Para uma tarde de lazer é uma boa opção.

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