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sábado, 3 de março de 2018
Resenha Cinema: Três Anúncios Para um Crime
O cinema... O mundo em geral, hoje em dia, é feito pra crianças e adolescentes, ou pessoas de qualquer idade que pensam como crianças e adolescentes. O cinemão de modo geral abraçou desavergonhadamente essa faceta graças aos bilhões arrecadados pela Marvel e sua fábrica de fazer dinheiro em bilheterias.
Eu sei, eu sei... Como é que esse nerd que corre pra pré-estréia de qualquer coisa da Marvel levanta os dedos pra se queixar de cinema de super-heróis?
Não estou me queixando. Já disse que adoro o cinema da fórmula Marvel. Acho descompromissado, bacana e divertido. Curto muito.
Meu ponto é que meus interesses no cinema vão além da fórmula Marvel. Eu gosto de outras coisas. E, em geral, me entristece ver todo o holofote recaindo sobre adaptações de quadrinhos, franquias e adaptações.
A sétima arte tem mais a oferecer do que isso.
E, de vez em quando, um filme surge pra nos lembrar que o cinema também pode ser feito pra adultos.
Martin McDonagh, diretor de Sete Psicopatas e um Shi-Tzu (um filme correto nas que não me impressionou particularmente, exceto pela companhia no cinema) e o ótimo Na Mira do Chefe é o responsável por Três Anúncios Para um Crime, não apenas um filme para adultos, mas um baita de um filme pra adultos.
No longa conhecemos Mildred Heyes (Frances McDormand), uma mãe divorciada que perdeu a filha em um crime hediondo sete meses atrás.
Após alguma celeuma seguida ao ocorrido, o caso começou a esfriar. O DNA colhido da cena do crime não encontrou correspondência no banco de dados da polícia e FBI e, sem suspeitos, não houveram prisões e a investigação empacou.
Mildred não está satisfeita com isso, e resolve alugar três outdoors na estrada que liga sua casa à cidade de Ebbing, no Missouri, para lembrar à opinião pública que sua filha continua sem justiça.
Ela coloca em letras garrafais uma mensagem constrangendo o chefe de polícia Bill Willoughby (Woody Harrelson) a se mexer na busca pelo homem que estuprou e matou sua filha.
Não demora para que toda a comunidade de Ebbing comece a ser afetada pela decisão de Mildred, além de Willoughby, que já tem um bocado em seu prato, os outdoors de Mildred afetam do policial Jason Dixon (Sam Rockwell), um sujeito preconceituoso e bruto que idolatra o chefe, ao responsável pelo aluguel das placas, Red Welby (Caleb Landry-Jones) passando por seu filho adolescente Robbie (Lucas Hendges), por sua colega de trabalho Denise (Amanda Warren) e seu ex-marido Charlie (John Hawkes).
Mildred está sendo consumida pela raiva, mas se recusa a ir sozinha, e não lhe importam as consequências pra ver os culpados serem pegos, ou ver o circo pegar fogo. O que vier primeiro.
Espetacular.
O roteiro de McDonagh é um trabalho de gênio. Redondo, equilibrado, minucioso, ele se dá ao luxo de não centrar todas as suas fichas em McDormand, que está simplesmente demolidora em sua performance.
A atriz faz seu melhor trabalho desde a oscarizada atuação em Fargo. A atriz mastiga com gosto cada uma das cenas em que aparece, reduzindo o texto inteiro à emoção em estado puro.
McDormand, porém, não está sozinha. Woody Harrelson rouba cada minuto em cena, carimbando com gosto sua participação no filme, e, junto com os dois, está Sam Rockwell. O ator aparece inchado e nocivo no papel do caipira burro e racista escondido atrás de um distintivo.
Os três encabeçam o elencaço que ainda conta com Peter Dinklage, Zeljko Ivanek, Samara Weaving, Abbie Cornish, Sandy Martin e Clarke Peters, todo mundo na ponta dos cascos e com espaço pra brilhar graças ao script impecável que oferece diálogos saborosos para todos os atores em um momento ou outro.
Maia do que isso, o texto de McDonagh subverte expectativas, tornando a solução do crime um acessório absolutamente dispensável em uma trama que, em outras mãos, descambaria facilmente para a investigação policial. Em Três Anúncios, o crime mal chega a ser um catalisador para o dominó de causa e efeito que se segue à decisão de Mildred de puxar as orelhas da polícia local.
O longa nem mesmo ousa demonizar ninguém. Em certos momentos a audiência tem razões para questionar a mãe obstinada. Em outros, podemos simpatizar com o policial cretino. A zona cinzenta é ampla. Humana. Verdadeira.
Três Anúncios Para um Crime não é apenas um ótimo filme, nem um dos melhores filmes desse ano. É o melhor filme de 2018, até aqui. E certamente vai estar encabeçando muitas listas de melhores do ano em dezembro.
Assista no cinema.
Não se prive de ser tratado como um adulto.
"-Eu não acho que esses oudoors sejam.uma coisa muito justa...
-No tempo que você está desperdiçando aqui, chorando feito uma puta Wiiloughby, provavelmente alguma outra menina está sendo retalhada por aí."
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