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segunda-feira, 30 de julho de 2018
Resenha DVD: Operação Red Sparrow
Em outros tempos, eu teria certamente assistido Operação Red Sparrow no cinema.
Ainda que eu não seja, exatamente, um fã de Francis Lawrence, diretor conhecido por seu bom trabalho nos três últimos filmes da série Jogos Vorazes, Eu Sou a Lenda e Constantine (um tremendo guilty pleasure), gosto de histórias de espionagem, não tenho aversão a filmes com mulheres fortes no papel central, e sou um admirador do trabalho de Jennifer Lawrence, (que não classificarei como delicinha).
Ainda que nem sempre a atriz encontre papéis à altura de seu talento, e seja, pra muitos, um problema na série X-Men, com sua estrela pessoal alçando Mística à uma posição de destaque que jamais existiu nos quadrinhos, especialmente do lado dos mocinhos, Lawrence é um nome que me leva ao cinema dentro das circunstâncias corretas, e Operação Red Sparrow, vendido como algo entre a história de origem da Viúva Negra e um romance de John le Carré, configurava uma dessas circunstâncias.
Mas eu ando sem paciência pra ir ao cinema.
Estou envelhecendo e me tornando comodista, e ter que ajustar meus horários aos do cinema, com suas sessões dubladas, salas cheias de gente que não fecha a matraca e celulares perenemente ligados está longe de ser minha ideia de conforto, de modo que pulei a ida à sala escura do shopping e apenas ontem assisti ao filme em DVD, no conforto da sala escura da minha casa.
O longa narra a história de Dominika Egorova (Lawrence), primeira bailarina do Bolshoi que vive uma vida relativamente confortável ao lado de sua mãe adoentada Nina (Joely Richardson) em Moscou. A posição de destaque de Dominika garante que as duas tenham um apartamento razoável, uma cuidadora para Nina durante os ensaios e apresentações da dançarina e uma rotina sem grandes sobressaltos.
As coisas mudam drasticamente de figura quando Dominika, durante um número com seu colega Konstantin (O bailarino Sergei Polunin), quebra a perna. A fratura é grave, e ainda que a jovem não tenha problemas para voltar a andar normalmente, sua carreira como bailarina está acabada.
Prestes a perder o apartamento e a cuidadora de sua mãe, Dominika é confrontada por seu tio Vanya (Matthias Schonaerts).
Vanya (que na Rússia é nome de tio, não de tia) tem um alto cargo numa das agências de inteligência russa, sempre viu em sua sobrinha a esperteza e a dureza necessárias para fazer uma carreira na espionagem, e oferece à jovem uma forma de seguir sendo útil ao Estado enquanto toma conta de sua mãe e de sua casa.
Após armar uma presepada que termina com a jovem sendo violentada por um escamoso empresário que despertou a ira do serviço secreto russo, Vanya a envia para a Escola Estatal 4, onde ela se juntará ao programa Red Sparrow.
Os Red Sparrow são um grupo de jovens russos de mente estreita que recebem um específico treinamento para seduzir alvos em potencial. "Todos os seres humanos são um quebra-cabeças de carência", diz a instrutora-chefe do local, interpretada pela ótima Charlote Rampling, e os Red Sparrow são treinados para se adaptarem ao papel de qualquer que seja a peça faltante.
O treinamento de Dominika, onde ela aprende a abrir fechaduras, roçar as mãos na coxa dos outros, sussurrar em ouvidos alheios e acariciar mamilos é relativamente curto, embora ainda haja tempo para ela sofrer uma nova tentativa de estupro e se despir inteiramente diante de seus colegas de classe.
Dominika logo recebe sua primeira missão, e precisa viajar a Budapeste para monitorar um agente da CIA, Nate Nash (Joel Edgerton) para tentar descobrir quem é seu contato infiltrado na inteligência russa, uma tarefa que demandará todo o rol de talentos da jovem, e a enredará profundamente na teia de mentiras e conspirações da nova Guerra Fria entre Rússia e Estados Unidos.
Como o inferno, Operação Red Sparrow está cheio de boas intenções.
O roteiro de Justin Haythe, baseado no livro de Jason Matthews toma seu tempo, alongando o filme o quanto acha necessário para contar sua história e garantir que as peças estejam assentadas no tabuleiro antes de começar suas reviravoltas. Em nenhum momento o filme parece inclinado a pegar leve com a audiência, e não economiza em violência e nudez gráficas de uma forma que se pensaria que um estúdio fosse evitar em tempos de movimentos como o Me Too e o questionamento do papel da mulher em Hollywood.
Sob diversos aspectos, a brutalidade à qual Dominika é exposta, torna-se um exercício de exposição da figura de Lawrence, que tem estampa de sobra pra passar um filme inteiro mostrando o corpão, mas ajuda a entender porque o filme foi recebido meio de cara torta pela crítica especializada, praticamente toda ela com os dois pés fincados no politicamente correto. Seria difícil elogiar um filme onde uma mulher nua é forçada a fazer sexo com o colega que tentou violentá-la, ou torturada de maneiras diversas e criativas durante interrogatórios, mas da mesma forma é difícil dizer que essa qualidade degenerada de Operação Red Sparrow é o único problema do filme.
Lawrence e Edgerton não são exatamente um casal que exale química, e quando muito do filme depende de a audiência aceitar que eles estão dispostos a correr riscos um pelo outro, isso é um problema. O pior é que há um momento de suspense muito bacana no começo da ligação dos dois, um xadrez de intriga inicial que funciona muito bem, mas infelizmente é pouquíssimo explorado.
Francis Lawrence dirige o longa de maneira algo aborrecida, tornando suas duas horas e vinte surpreendentemente arrastadas para um filme onde Jennifer Lawrence aparece nua tantas vezes e que tem um elenco de apoio com nomes como Ciarán Hinds, Jeremy Irons e Mary Louise-Parker (cuja ótima sequência no hotel é um dos pontos mais altos do filme).
Apesar de seus problemas, porém, a ousadia de Operação Red Sparrow é digna de nota, e qualquer coisa com Jennifer Lawrence vale uma espiada, nem que seja pra ver a raça com que a guria veste (ou no caso despe) a camisa e se esforça para atuar em alto nível mesmo sendo obrigada a fazê-lo com um sotaque algo canastrão.
Apesar de não uma obra cinematográfica acima de qualquer suspeita, o longa é bem-produzido tem um elenco interessante, algumas cenas de realmente deixar na ponta da cadeira, e garante duas horas e vinte de entretenimento OK.
Vale a locação.
"-A Guerra Fria não acabou. Apenas se partiu em mil pedaços."
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