Atenção! Spoilers a seguir!
Uma coisa interessante a respeito de Can't Front on Me, penúltimo episódio da temporada de Luke Cage, foi que houve um equilíbrio entre alguns encerramentos, e ainda há pontas soltas para o final da temporada amarrar. É um equilíbrio que nem todas as séries da Marvel/Netflix conseguiram alcançar, eventualmente deixando tudo pra um inchado último episódio da temporada, e, em outras ocasiões, deixando o season finale anticlimático por ter resolvido quase tudo no episódio 12.
O penúltimo episódio nos mostrou que Black Mariah despirocou de vez. A pretensa rainha do Harlem deu o passo definitivo em sua jornada rumo ao lado (mais) sombrio ao começar a traficar drogas em conluio com a máfia chinesa. Agora, ela tenta juntar japoneses e italianos sob seu guarda-chuva criminoso sob a promessa de trânsito livre de mercadorias no Harlem, e a fachada de legitimidade que seus negócios e capital político podem proporcionar.
Mais do que isso, Mariah começa a vender heroína com o nome de Bushmaster, para forçar o bandido jamaicano a sair de seu esconderijo e confrontá-la, o resultado é John McIver encurralado pelos mafiosos chineses em um centro de distribuição que seria sua cova se não fosse a chegada de Luke e uma das melhores sequências de ação da temporada (eu ainda gostei mais de Luke e Danny trabalhando juntos em The Main Ingredient). Durante essa breve trégua entre os dois, vemos Bushmaster concordando em não matar nenhum criminoso ao lado de Luke, dando mais uma prova de que ele não é, nem de longe, o vilão completamente podre que Mariah se tornou.
Mariah, aliás, está na boca do povo. Mais precisamente de Shades, que conforme prometido, entrega tudo o que tem feito desde que espancou Luke em Seagate em troca de imunidade. A imunidade que ele recebe, por sinal, parece um pouco excessiva, mas vá lá. A narrativa da temporada tem se esforçado pra mostrar a polícia de Nova York numa posição de fazer escolhas difíceis e escolher o menor de dois males, mas depois do acordo que deixou Mariah livre após vender armas altamente ilegais a Bushmaster ter Shades recebendo imunidade por múltiplos homicídios e conspirações criminosas é quase de revirar os olhos. Novamente Theo Rossi manda bem e nos ajuda a comprar a ideia. A forma como ele parece se divertir prestando seu depoimento é particularmente bem sacada, especialmente quando comparada à vergonha que ele sente ao descobrir que a mãe de Comanche ouviu seu depoimento.
A questão é que o depoimento de Shades é só parte do acordo. Ele ainda precisa conseguir o .38 cromado com cabo de madrepérola que Mariah usou para matar Anansi no Gwen's, e ligá-la a crimes que possam garantir a prisão da herdeira de Mamma Mabel. Mas não é apenas Shades e a polícia que querem a cabeça de Black Mariah. Bushmaster está com os dedos coçando para esganar a vilã, e conta com a ajuda de ninguém mais, ninguém menos que Tilda Dillard.
A filha de Mariah desistiu de vez de acreditar em qualquer redenção para sua mãe, e está disposta a apoiar Bushmaster para garantir que o reinado de Mariah chegue ao fim. A única coisa entre o vingativo Bushmaster e Mariah é Luke Cage, e quando o herói aventa a possibilidade de olhar pro outro lado enquanto os dois se matam, uma grande festa é anunciada no Harlem's Paradise, enchendo o clube com a população local, e forçando Luke a estar lá para impedir dano colateral.
Apesar de alguns problemas Can't Front on Me foi um bom episódio. As cenas de ação foram muito boas, e toda a sequência do interrogatório de Shades foi material de primeira, compensando coisas como a obviedade do blefe de Luke enquanto falava com Mariah, ou o fato de Bushmaster ignorar completamente os avisos de Tilda a respeito da dose que deveria usar do coquetel de Sombra da Noite que ela lhe preparou.
Aliás, qual o problema de personagens de gibi e seringas? Wolverine também fora advertido veementemente de que não deveria usar todo o suco verde de poder mutante em Logan, e ainda assim usou, Bushmaster faz a mesma coisa... Os cientistas que provém esses troços devem começar a pensar em doses menores já que egressos dos quadrinhos têm dificuldade em assimilar instruções simples.
De qualquer forma, Luke Cage se prepara pra sua hora final com um bom ritmo, e parece ser perfeitamente capaz de encerrar seu segundo ano em uma nota bem positiva.
"-Finalmente... Uma vitória.
-Nós não ganhamos merda nenhuma. Isso ainda não acabou."
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