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segunda-feira, 3 de dezembro de 2018
Resenha DVD: Missão: Impossível - Efeito Fallout
Não é de hoje que a série Missão: Impossível se tornou uma ferramenta para Tom Cruise lidar com uma crise de meia-idade que os faz agir como se tivesse merda na cabeça e se colocar em situações de extremo risco em nome de nada além de provar que consegue fazer suas próprias proezas físicas, mas, rapaz, não é de hoje que essas proezas físicas se tornam momentos sensacionais de filmes de ação que, de modo geral, estão entre os melhores do gênero cada vez que são lançados.
A franquia vai muito bem, obrigado, e simplesmente não tem filme ruim (Sério. Eu gosto de todos. Até Missão: Impossível 2 é um filme divertido e apesar de tudo o que dizem, foi uma prazerosa sessão de cinema pra mim no distante ano 2000), mas, na minha opinião, encontrou seu melhor equilíbrio a partir de sua quarta incursão, Protocolo Fantasma, quando o formato com uma equipe de agentes se tornou mais palpável no que fora, antes, uma série onde Ethan Hunt basicamente resolvia tudo sozinho enquanto os demais agentes eram pouco mais que uma plateia.
Efeito Fallout está na mesma vertente de Protocolo Fantasma e Nação Secreta, filmes onde, mesmo que o protagonista tenha o maior holofote, ainda precisa realmente trabalhar em equipe para cumprir suas missões.
Na trama do longa, o primeiro da franquia a ser uma sequência direta de seu predecessor, após a captura de Solomon Lane (Sean Harris) a nação secreta de espiões assassinos encabeçada pelo ex-agente do MI-6 se transmutou em uma organização chamada de Os Apóstolos.
Trabalhando com um fundamentalista conhecido pelo codinome John Lark, essa organização planeja mergulhar o mundo no caos detonando três bombas sujas em pontos-chave do planeta utilizando três núcleos de plutônio soviético adquiridos no mercado negro.
Ethan Hunt (Cruise), Luther Stickell (Ving Rhames) e Benj Dunn (Simon Pegg) são incumbidos de interceptar essa negociação, comprando o plutônio primeiro. Entretanto, quando a negociação é melada pelos Apóstolos e acaba em um impasse, Hunt não é capaz de deixar Luther morrer em nome da missão, colocando armamento nuclear nas mãos do sindicato terrorista, um fracasso que coloca a MIF sob o escrutínio da CIA, na forma da superintendente Erika Sloane (Angela Basset), que impõe ao diretor Hunley (Alec Baldwin) a presença de um agente de confiança dela na operação de recuperação do plutônio.
O escolhido por Sloane é o agente August Walker (Henry Cavill). Se Ethan Hunt é um bisturi, Walker é um martelo, conhecido por seus métodos truculentos de resolução de problemas totalmente distintos da abordagem não-letal de Hunt. Forçados a trabalhar juntos, a dupla precisa encontrar a traficante de armas conhecida como Viúva Branca (a gatinha Vanessa Kirby) e tentar descobrir o paradeiro do plutônio, numa missão que fará com que os caminhos de Hunt se cruzem novamente com Lane, e com Ilsa Faust (Rebecca Ferguson) numa jornada que é tanto pela manutenção da ordem mundial, quanto uma cruzada pessoal para o agente número 1 da MIF.
Missão: Impossível - Efeito Fallout, é um desses raros filmes que são perfeitos dentro de sua proposta, e isso é muito mais do que dizer que o longa é uma ótima fita de ação. Não. O longa é uma perfeita combinação de todos os aspectos técnicos da criação de um filme. Uma demonstração de sintonia extremamente fina entre cada um dos elementos envolvidos, do roteiro à direção passando pela atuação além de edição, som e trilha sonora.
Pode parecer exagero, mas não é.
Ainda que Missão Impossível - Efeito Fallout empalideça na comparação com o que, pra mim, é o grande filme de ação do cinema recente, Mad Max: Estrada da Fúria, não há como negar que os dois filmes compartilham muito de suas qualidades.
Sem perder tempo, o longa de Christopher McQuarrie localiza a audiência na trama tirando os detalhes do caminho para poder mergulhar na ação. Não há vilões fazendo monólogos e nem burocratas aflitos repassando os fatos para o presidente, a trama é enxuta, firme e linda que nem a Letícia Spiller, e quando a ação começa, somos conduzidos de uma sequência excelente à próxima com uma fluidez macia e, como em Mad Max, a geografia da ação é sempre clara, de maneira a deixar a audiência saber onde cada um dos elementos está, e o que está fazendo.
É difícil escolher a melhor cena de ação de Missão: Impossível - Efeito Fallout. Temos saltos de pára-quedas que dão errado, uma espantosa sequência de luta no banheiro de um evento de moda, tiroteios, perseguições automobilísticas, a desde já clássica perseguição de helicópteros e, claro, a obrigatória sequência em que Tom Cruise corre (e eventualmente quebra o tornozelo saltando de um edifício para outro).
O cinematografo Rob Hardy e o editor Eddie Hamilton fazem maravilhas refinando a ação filmada por McQuarrie colocando a audiência em posição de se sentir caindo, acelerando, batendo e apanhando com Hunt, Walker, Ilsa e cia. de uma forma que, nas sequências de ação paralelas do ato final do longa, eu me percebi roendo unhas de coração acelerado.
E, eu sei, mesmo que ninguém assista a um filme da série Missão: Impossível esperando ver grandes atuações, nós temos algumas ótimas atuações nesse filme. Ving Rhames tem ao menos um grande momento, Henry Cavill se esforça para ser mais do que apenas uma versão bombada de Hunt, enquanto Rebecca Ferguson merecia mais papéis como Ilsa Faust e menos coisas como Hércules e A Garota do Trem em seu currículo. A mulher é bonita, carismática, ótima atriz e uma tremenda heroína de ação, pena ela não ter sido a Capitã Marvel do cinema como chegou a ser especulado.
Cruise, por sua vez, finalmente envelheceu, e, finalmente, deixa isso transparecer, um pouquinho, em sua interpretação de Ethan Hunt.
O superespião ainda é capaz de proezas inacreditáveis e sobrevive com alguns arranhões a coisas que fariam qualquer ser-humano ser reduzido a gelatina, mas, considerando-se o tanto de suspensão de descrença que um longa como Missão: Impossível demanda, é legal ver que o astro está disposto a assumir a passagem dos anos e entregar um personagem mais relacionável para a audiência terráquea.
Conversando com um conhecido sobre Arranha-Céu: Coragem sem limites, filme que eu vilipendiei sem dó nem piedade aqui nesse espaço, fui questionado por que era "tão difícil simplesmente aproveitar um filme de ação à moda antiga onde o herói chuta a bunda dos bandidos". Eu respondi apontando todas as falhas do roteiro do longa de The Rock que se sobrepunham ao cerne do longa, e me impediam de torcer por aquele super-homem, e acabei taxado de "amargo" pelo meu camarada apaixonado por Dwayne Johnson.
Eu não discuto que sou mesmo um pouco azedo, e, admitindo isso, uma das melhores coisas que eu posso dizer a respeito de Missão: Impossível - Efeito Fallout, é que o longa varreu meu azedume. O filme oferece uma (cada vez mais rara) chance de deixar política, sexismo e outras bandeiras do mundo real em stand-by por duas horas e pouco e se importar apenas com o que está acontecendo na tela. É um autêntico representante da melhor vertente do cinema de ação megalomaníaco com coração e cérebro e, novamente, um dos melhores filmes do ano.
Valeria uma ida ao cinema com folgas, e certamente vale a locação.
Se a tarefa era divertir, entreter, derrubar uns queixos e deixar a audiência na ponta da cadeira, parabéns, senhores Cruise, McQuarrie e companhia.
Missão cumprida.
"-'Sua missão, caso decida aceitá-la'... É assim, não é? Eu me pergunto, você já escolheu não aceitar?"
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