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segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Resenha DVD: O Protetor 2


Quatro anos atrás, eu fui uma das pessoas que elogiaram O Protetor. Adaptação cinematográfica da série de TV oitentista The Equalizer, onde Robert McCall, um ex-espião se tornava detetive particular para equalizar as chances de pessoas comuns em situações além de suas capacidades. A trama do longa de Anthony Fuqua estrelado por Denzel Washington, Chloë Grace Moretz (que eu tenho a impressão de que propositadamente alterna a posição de seus dois primeiros nomes para me atrapalhar...) e Marton Csokas era basicamente a mesma do programa de TV, mas com mais pancadaria. O Robert McCall de Washington era um ex-operativo da CIA com um conjunto de habilidades muito particular, adquirido ao longo de uma carreira muito longa, habilidades que o tornavam um pesadelo para homens como qualquer vilão que lhe cruzasse o caminho.
Em outras palavras, sim, era meio que um chupim de Busca Implacável, uma desculpa para um quase sessentão Denzel Washington deixar de lado seus dotes dramáticos e se concentrar em ser cool e esfaquear uns pescoços. Era uma divertida sessão de cinema, que distraía por duas horas e onde o mocinho vencia o vilão, não me lembro se o apunhalando, baleando ou explodindo, o que meio que dá a ideia de que, por divertido que fosse, O Protetor não era particularmente memorável.
Por isso, talvez, minha surpresa ao saber que Washington faria a primeira sequência de sua carreira justamente para O Protetor, quatro anos e mais duas indicações ao Oscar depois do primeiro longa, e minha completa e absoluta falta de interesse em ir pro cinema para assistir ao filme. No sábado, porém, após falhar em alugar o filme do Ursinho Pooh, me deparei, na locadora, com essa sequência, e, na falta de outras novidades, resolvi alugar o filme.
Na sequência, Robert McCall, após deixar seu emprego na Home-Mart anos antes, é motorista de aplicativo em Boston, num emprego que o mantém perto o suficiente da tragédia humana para estender uma mão amiga aos necessitados, como o idoso Sam Rubistein (Orson Bean), que tenta recuperar uma pintura perdida durante a Segunda Guerra, ou a vizinha Fatima (Sakina Jaffrey), que cuida obstinadamente do jardim do condomínio onde McCall mora, ou o jovem Miles (Ashton Sanders, de Moonlight), aspirante a artista que Robert quer manter na escola e longe do tráfico, além de uma eventual surra brutal em abusadores de moças, ou uma viagenzinha à Turquia para resgatar a filha da dona da livraria preferida... Seja como for, McCall está levando seus dias à sua maneira, devagar e sempre, trabalhando, lendo seus livros, tomando seu chá e fazendo sua justiça enquanto segue lamentando a perda da esposa anos antes.
A rotina de Robert é sacudida quando sua amiga Susan (Melissa Leo) é enviada à Bélgica para analisar um pretenso suicídio de um colaborador da agência. Ao constatar que a morte do sujeito foi, de fato, uma execução, Susan se torna alvo, e quando ela é assassinada, as coisas se tornam pessoais.
Movido pelo desejo de vingar a morte de Susan, McCall une forças ao seu ex-parceiro Dave York (Pedro Pascal) e coloca sua intuição e experiência para funcionar na tentativa de descobrir os responsáveis pela morte de Susan e matá-los bem mortos.
Se era surpreendente saber que Washington resolvera fazer de O Protetor a primeira sequência de sua carreira, fica quase chocante após assistir ao filme.
Novamente dirigido por Antoine Fuqua e escrito por Richard Wenk, responsáveis pelo primeiro longa, O Protetor 2 é superficial e aborrecido além de qualquer explicação plausível para um filme de ação estrelado por Washington. É difícil não imaginar que Wenk tenha gostado do climão de matiné anos 80 do primeiro longa e tentado simplesmente reproduzi-la no script da sequência.
O problema é que "clima dos anos 80" não é, por si só, uma coisa boa. Tampouco criar um roteiro de duas horas de clichês e trama sem sentido que se arrasta de uma sequência de luta hiper editada para a próxima intercalada pela subtrama de Miles, que tinha algum potencial, mas, de tão mal desenvolvida, só serve pra alongar o filme e, talvez, para dar a impressão de que O Protetor 2 é mais do que um filhote de Busca Implacável 2.
O vilão, absolutamente previsível desde a primeira cena em que aparece, tem motivações tão vagas e um modus operandi tão caótico que, até agora, eu ainda não sei bem qual era o jogo dele ao longo do filme.
Nem mesmo o fato de haver uma vasta quantidade de violentas cenas de luta faz com que o longa pareça menos arrastado. Washington está com sessenta e três anos, e não deve ter mais o vigor que lhe permitiu fazer coisas sensacionais como as sequências de luta de O Livro de Eli, de modo que o que vemos são sequências picotadas de pancadaria confusa que acabam com o vilão caído no chão, um dos vícios mais irritantes do cinema de ação recente.
Apesar desses problemas, O Protetor 2 mais que triplicou seu orçamento de 62 milhões de dólares nas bilheterias do mundo todo. Denzel Washington é um ator talentoso e carismático que arrebanhou uma considerável e justificada boa-vontade de fãs de cinema, e eu não me surpreenderia se, em algum momento do futuro, ele recebesse mais um roteiro de O Protetor pelo correio. Resta torcer para que ele realmente leia o script antes de aceitar estrelá-lo.
Absolutamente dispensável, e muito menor do que seu protagonista, O Protetor 2 é produto para fãs inveterados de Washington. Esses, talvez, consigam se manter acordados durante o filme inteiro.

"-Eu vou matar todos vocês e meu único arrependimento é que só vou poder fazer isso uma vez."

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