Tendo ido pouco ao cinema nesse ano, acabei sendo mais seletivo com o que assisti. Isso dificultou um pouco a minha vida na hora de montar a lista dos piores do ano mesmo que, em mais de uma ocasião, eu tenha saído da locadora com um filme escolhido especificamente por seu potencial de figurar no top 10 negativo.
Dificultou, mas não impossibilitou.
Hollywood continua firme e forte em sua produção de filmes ruins, potencialmente turbinados pela joint-venture entre os estúdios norte-americanos e a grana chinesa que gerou alguns frankensteins tenebrosos ao longo de 2018. Sem esquecer que, quanto mais alta a posição nesse ranking, pior.
À lista:
10 - Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindenwald
Uma tremenda decepção após o ótimo Animais Fantásticos e Onde Habitam, Os Crimes de Grindenwald é uma tremenda baderna em termos de roteiro, não faz nenhum sentido do ponto de vista lógico mesmo com a audiência aceitando um mundo onde crianças podem se tornar magos e bruxas e ainda presta um desserviço aos ótimos personagens apresentados no filme anterior.
Com uma trama excessiva e confusa que se espalha por toda a parte sem chegar a lugar nenhum, Os Crimes de Grindenwald está nessa lista não apenas por ser um filme insatisfatório, mas por ser um tombo tão vertiginoso após a qualidade do longa anterior.
9 - Megatubarão
Aposta fácil em uma lista de piores do ano. Com Jason Statham grunhindo e realizando feitos super-humanos enquanto duela com um tubarão de vinte e sete metros de comprimento que, aparentemente, é um peixe carnívoro gigante especialista em infiltração stealth até mesmo quando recebe um rastreador, tamanha sua habilidade em surpreender todo mundo, seja no fundo das Fossas Marianas, seja em uma estação de pesquisa submarina de última geração, seja na praia mais movimentada da Ásia, seria uma surpresa se Megatubarão fosse bom.
O longa de Jon Turteltaub se apóia na esperança de que a audiência esteja se divertindo o suficiente para suspender a descrença a níveis estratosféricos, ou rindo demais para pensar com clareza, mas o longa não é tão divertido assim, e nem tão engraçado.
8 - Han Solo: Uma História Star Wars
O filme que ninguém queria ver, no momento em que não deveria ter sido lançado, o filme solo de Han Solo é uma tentativa de fazer as pazes que ainda estamos bravos demais pra aceitar, o que torna as suas falhas berrantes e suas qualidades discretas. Isso se deve tanto ao fato de a base de fãs de Star Wars ainda não ter superado o estrago que Os últimos Jedi fez na franquia, quanto ao fato de que a bagunçada produção de Han Solo: Uma História Star Wars resultou em um filme de falhas berrantes e qualidades discretas.
Um protagonista sem carisma, um vilão desinteressante e uma história pra qual ninguém liga resultaram na pior bilheteria da história de Star Wars nos cinemas, e um recado claro dos fãs: Não aceitaremos qualquer coisa com Star Wars no título.
7 - Tomb Raider: A Origem
O esforço de tornar Lara Croft humana no novo filme, mais amparado na mais recente trilogia gamística do que nos inúmeros jogos dos anos 90 seria louvável se o produto desse esforço não fosse um filme tão monótono.
O Tomb Raider estrelado pela talentosíssima gatinha Alicia Vikander é um estranho blockbuster arrastado, onde pouca coisa acontece, e, quando finalmente acontece, parece que foi por mera obrigação de ofício, como se roteiristas e diretor estivessem cobrindo uma checklist do que é estritamente necessário em um Tomb Raider.
Quando a melhor cena de ação de um filme sobre a exploração de tumbas ancestrais é uma corrida de bicicletas em Londres, fica claro que, ás vezes, um filme bobo é melhor do que um filme chato, e Tomb Raider: A Origem, é muito chato.
6 - O Paradoxo Cloverfield
Terceiro segmento da mais ou menos franquia engendrada pela Bad Robot de J. J. Abrams, o estrelado Paradoxo Cloverfield surgiu de mansinho nas redes sociais com um trailer tenso que acenava com um suspense de horror espacial ao melhor estilo Alien: O Oitavo Passageiro.
Depois, surpresa, o filme não foi proscinemas, sendo largado na Netflix, se não me falha a memória, em meados de fevereiro, e, eu confesso, esqueci completamente dele, assistindo casualmente numa noite de sexta-feira lá pelo meio do ano quando uma resenha dele já era completamente irrelevante, tão irrelevante quanto o filme em si.
O longa de Julius Onah tem um elenco rico em talento e beleza (Gugu Mbatha-Raw e Elizabeth Debicki, sozinhas, já valem um ingresso pra qualquer coisa...) que é desperdiçado em uma hora e quarenta e dois minutos de clichês sci-fi, ignorância científica e elementos de casa-assombrada mal ajambrados no que parece uma medonha colcha de retalhos de filmes melhores.
Mal e mal há conexões com a antologia e por menores que elas sejam, ainda conseguem a proeza de contradizer os longas anteriores em comparação com os quais é claramente inferior.
Com sua trama de universos paralelos fica a dúvida se existe algum ponto do multiverso onde esse filme funciona.
5 - Desejo de Matar
Eu confesso que, no nosso contexto político atual, o Desejo de Matar de Eli Roth e Bruce Willis (que parece ter largado a carreira de mão e agora está só pelos contra-cheques) deve ter encontrado sua parcela de entusiastas. Afinal de contas, no remake do longa de 1974, o doutor Paul Kersey descobre que a felicidade e a segurança têm a forma de uma semi-automática enquanto o roteiro de Joe Carnahan sugere que todo o liberal cuca-fresca está a uma tragédia de distância de se tornar um conservador linha-dura com carteirinha da NRA (ou, no Brasil, camiseta escrita Olavette).
Com seu anacronismo e pobreza na escolha e condução de seus temas, o longa é uma punheta para aquele tio velho e brabo que espalha corrente com teoria conspiratória no grupo da família, confunde política social com socialismo e está sempre com medo da ameaça comunista.
4 - Rampage: Destruição Total
Ninguém assiste a um filme como Rampage: Destruição Total em busca de poesia, grandes atuações ou um grande roteiro, eu sei, mas Rampage consegue a proeza de ser um filme tão vazio de ideias, atuações e personagens que ele sequer permanece na mente por tempo o bastante para justificar uma crítica.
O longa estrelado pelo "viagra de franquias" Dwayne The Rock Johnson é uma draga. Arrastado, chato, com sequências de ação absurdas demais pra fazer sentido e genéricas demais para empolgar, vilões péssimos e criaturas digitais que não se sustentam. O longa de Brad Peyton consegue a proeza de ser um filme ruim demais pra se gostar e ruim demais pra se odiar. Não há senso de propósito, não há meta, há apenas uma sequência de ação e então a próxima, e então a próxima, e o resultado é o primeiro cataclismo de proporções bíblicas que a gente consegue passar dormindo.
Dwayne Johnson tem presença de tela, carisma e não é um ator terrível, mas ele definitivamente precisa tomar cuidado com os projetos nos quais se envolve, ou ele corre o risco de virar um Bruce Willis prematuro, topando qualquer parada direto em vídeo em troca de um cachê de sete dígitos.
3 - Arranha-Céu: Coragem Sem Limites
Dwayne Johnson tem presença de tela, carisma e não é um ator terrível, mas ele definitivamente precisa tomar cuidado com os prijetos nos quais se envolve, ou ele corre o risco de virar um Bruce Willis prematuro, topando qualquer parada direto em vídeo em troca de um cachê de sete dígitos. Não. Essas linhas repetidas não são um engano. The Rock não esteve em apenas um filme horrível esse ano, mas em dois. Arranha-Céu consegue a proeza de ser ainda pior do que Rampage já que além de ser ruim e vazio, ainda é um pastiche de longas como Inferno na Torre e especialmente Duro de Matar, o melhor filme de ação já feito.
A história do pai de família amputado que enfrenta terroristas em um prédio em chamas para salvar sua família está uns trinta anos atrasada, especialmente quando esse pai de família deveria ser humanizado por uma deficiência física, mas essa deficiência se torna apenas mais um obstáculo facilmente superado por Dwayne Johnson em modo super-homem conforme ele sucede no último segundo de novo, e de novo, e de novo... Juntando-se a isso um centro emocional subdesenvolvido (nós não temos tempo ou material para ligar para a esposa ou os filhos de Johnson), e toda a ação se torna oca. Os riscos não importam porque as pessoas na tela não importam e com isso, o filme também deixa de importar.
2 - Jurassic World: Reino Ameaçado
É complicado para qualquer filme viver à sombra do primeiro Jurassic Park. O senso de deslumbramento da primeira sequência com o braquiossauro na chegada dos visitantes ao parque é algo que, 25 anos depois de eu ter visto o filme pela primeira vez (no cine Cacique, levado pela minha vó.), permanece intocado toda a vez que eu revejo a cena e ouço a trilha de John Williams.
O Mundo Perdido, Jurassic Park III, e Jurassic World, foram filme que sistematicamente pioravam em relação ao longa original, e Jurassic World: Reino Ameaçado é mais uma pá de terra na cova da franquia que segue fazendo dinheiro, e deixando claro que sucesso financeiro não é necessariamente proporcional a qualidade.
O longa não apenas repete os erros do horroroso filme anterior, mas incorre em tantos novos escorregões de lógica que se torna simplesmente impossível suspender a descrença no nível que o roteiro demanda.
A vontade clara de ser um arrasa-quarteirão auto-consciente fazendo perguntas interessantes está tão presente quanto a falha nessa pretensão, resultando em um filme cínico e burro, que não se interessa pela própria premissa, mas sim em criar sequências de ação reminiscentes do primeiro filme, com resultados lamentáveis.
Inchado de questões morais que não tem sofisticação para sustentar o longa de J. A. Bayona que transforma o que já foi um dos filmes fundamentais do cinema em uma franquia cada vez mais genérica, vazia e esquecível.
1 - Círculo de Fogo: A Revolta
Em 2013 Guillermo Del Toro criou o inacreditavelmente divertido, charmoso e bobo Círculo de Fogo, uma versão mais bonita e esperta de todos os filmes e seriados de monstros gigantes destruindo (geralmente) Tóquio em duelos com robôs gigantes.
Cinco anos depois, Del Toro saltou fora do projeto que caiu no colo de Steven S. DeKnight, um diretor sem a mesma experiência, lastro ou visão do mexicano.
O resultado é um longa que troveja idiotice, que tenta ser diversão descerebrada, mas falha em ser divertido, que faz a audiência ter saudade, não de Del Toro (porque é impossível ligar o diretor de O Labirinto do Fauno a esse filme...), mas de Michael Bay no primeiro Transformers.
Círculo de Fogo: A Revolta é inferior ao longa original em todos os aspectos, menos interessante, inteligente, bonito e empolgante, ainda consegue a proeza de estragar personagens de quem havíamos aprendido a gostar no filme anterior, e enfiar um vilão de meia pataca de que não havíamos precisado antes. O longa parece ter sido roteirizado por alguém que não assistiu ao Círculo de Fogo original, mas ouviu falar e resolveu escrever uma sequência assim mesmo, criando uma atrocidade que sapateia em cima do longa original usando os pedaços para tentar garantir um pingo de sobrevida a um produto natimorto:
O pior filme de 2018.
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