Pesquisar este blog

segunda-feira, 16 de setembro de 2019

Resenha Filme: Upgrade


Domingo de tarde, nada pra fazer, resolvi trair a confiança do Paulo da locadora e alugar um filme para assistir no Google Play Vídeo. O escolhido de ontem foi Upgrade, um raro longa protagonizado pelo bom Logan Marshall-Green, um ator que não consegue muitos papéis protagonistas apesar de ter boa aparência e recurso dramático, eu suspeito, porque é parecido demais com Tom Hardy e o britânico acaba ficando com papéis que Marshall-Green poderia ter por ser mais famoso e ter um nome mais curto e com menos letras repetidas; e um raro filme da produtora Blumhouse que não é um horror de fantasmas ou um thriller de psicopatas, mas uma ficção científica, mais ou menos.
No longa, que toma lugar em um futuro não muito distante, conhecemos Grey Trace (Marshall-Green), um mecânico restaurador de carros antigos que ainda não encontrou seu lugar em um mundo cada vez mais digital.
Habituado a trabalho duro feito com a mão na massa, Grey se ressente de seu ofício não ser mais apreciado, e se pergunta o que lhe reserva o futuro em um mundo de automóveis elétricos guiados por computadores.
O seu raio de luz é a esposa Asha (Melanie Vallejo), que trabalha em uma firma de tecnologia especializada em próteses.
A vida de Grey tem uma curva acentuada para o pior quando, após entregar seu mais recente trabalho, a restauração de um Firebird Trans Am para um bilionário do setor de software, voltando para casa, eles sofrem um acidente após seu carro autônomo ser hackeado e parar em um subúrbio pobre da cidade, onde o casal é atacado por quatro criminosos com próteses biônicas.
O resultado do ataque é que Asha é morta e Grey fica tetraplégico.
Incapaz de se adaptar à sua condição de deficiente e entregue à depressão, Grey está flertando com o suicídio quando o bilionário que comprou seu Firebird, Eron Keen (Harrison Gilbertson), surge com uma proposta:
Sua mais nova invenção, o microchip Stem, é capaz de assumir o lugar dos nervos destruídos de Grey, e fazer a ponte entre o cérebro do mecânico e sua espinha, devolvendo-lhe os movimentos. O processo é absolutamente experimental, secreto, e Grey não poderia contar a ninguém que recuperou os movimentos e nem como, já que ele seria basicamente uma cobaia.
Se em um primeiro momento Grey está reticente com a proposta, ele eventualmente opta por aceitá-la, e passa pela cirurgia realizada na residência de Keen que, realmente funciona, e ajuda o mecânico a recuperar a autonomia de seu corpo.
Se Grey fica maravilhado ao recuperar a habilidade de andar, ele fica um pouco menos empolgado com a faceta do Stem da qual Eron não o avisou:
O microchip é mais inteligente do que lhe fora avisado, sendo, de fato, senciente. O aparelho é capaz até mesmo de conversar com Grey enviando pequenas ondas de choque aos tímpanos de seu hospedeiro que passa a ouvir a voz monocórdica do computador em sua cabeça.
Ao perceber a frustração de Grey com a polícia que, após meses, ainda não foi capaz de encontrar nenhum suspeito pelo ataque que custou a vida de Asha, Stem resolve ajudar o mecânico a encontrar os culpados em uma investigação que logo mostra a mais incrível característica da invenção de Eron:
A capacidade de assumir o controle do corpo de Grey quando recebe permissão, e ampliar suas capacidades motoras a níveis quase sobre-humanos, transformando o mecânico em uma máquina de matar, capacidades que são extremamente úteis quando Grey e seu parceiro invisível saem no encalço de criminosos mecanicamente aprimorados.
Então, sim, em 2018, tanto Logan Marshall-Green quanto Tom Hardy fizeram filmes sobre homens normais que recebem em seus corpos entidades capazes de torná-los mais rápidos e fortes e os ajudam em uma jornada de vingança.
Mas esse não é o ponto...
Upgrade é um filme assumidamente despretensioso.
O longa escrito e dirigido pelo australiano Leigh Whanell (um dos sujeitos presos no banheiro no primeiros Jogos Mortais, e roteirista de uma penca de filmes de horror que vão dos três primeiros Jogos Mortais à franquia Sobrenatural quase toda) acena com diversas questões a respeito da disparidade da relação da humanidade com a tecnologia, mas a verdade é que não está realmente interessado em responder nenhuma delas, mas sim levar a audiência à uma fita de vingança temperada com sci-fi de baixo orçamento.
O segredo para apreciar o filme é não levá-lo excessivamente a sério, estar com a suspensão de descrença em dia e apreciar o filme não pelo que ele falha em entregar, como os questionamentos a respeito do homem sendo usado pela máquina tanto quanto o contrário, mas pelo que ele de fato entrega, no caso, cenas de luta muito bem encenadas onde Grey é apenas um espectador enquanto Stem usa seu corpo para realizar prodígios de artes marciais que parecem uma mistura de coreografia de luta com a dança do robô turbinados por um uso esperto de câmera que mantém o protagonista no centro da tela o tempo todo como se o resto do cenário é que se movesse ao seu redor, e uma dose de violência gráfica que entrega as raízes slasher do cineasta responsável.
Se o espectador for capaz de se divertir com a trama de investigação que tem, de fato, boas reviravoltas apesar de as pistas irem sendo atiradas com algum descaso pra fazer a história andar, e as pancadarias bem construídas, e for capaz de perdoar o descaso com certos personagens, como a mãe do protagonista, Pamela Grey (Linda Cropper), ou a detetive Cortez (Betty Gabriel, de Corra!) encarregada do caso que começa a suspeitar das idas e vindas de sua testemunha tetraplégica, que entram e saem de cena porque sim, poderá se divertir com Upgrade que, apesar de suas escolhas duvidosas e/ou preguiçosas, pode ser definido como um bom filme ruim.
Numa tarde modorrenta de domingo, ele certamente distrai por uma hora e quarenta.

"-Veja, você pensou que eu fosse um aleijado, mas não sabia que eu sou um ninja.
-Embora eu seja de última geração, eu não sou um ninja."

Nenhum comentário:

Postar um comentário