Pesquisar este blog

sexta-feira, 13 de setembro de 2019

Top 10 Casa do Capita: Filmes de Terror

Sexta-Feira 13, quando eu era criança, era sinônimo de filmes de terror estilo slasher na televisão. Geralmente Jason Vorhees assumia o facão na Globo, enquanto Freddy Kruegger surgia nos pesadelos de alguma adolescente no SBT, e a Band, antes do advento do Cine Trash, vez e outra dava um espaço para Michael Mayers, e eu, que na infância era um fedelho mórbido com gosto todo particular por filmes de horror, tanto que cheguei a ter meu próprio slasher, (criado em parceria com meu amigo André Crespani e que matou todos os nossos colegas de turma no clássico livro Um Assassino em Terceira Dimensão, que eu francamente não lembro que nota nos rendeu na quarta série) tentava assistir tantos quanto possível.
A minha fase de amor pelo terror não durou além dos onze anos de idade, porém, e eu logo fui deixando Freddie, Jason e Michael para trás e encontrando novas paixões.
Depois de crescido, a construção de um senso crítico não ajudou esse antigo amor a ser revitalizado, já que os filmes do gênero foram se tornando cada vez piores, de modo que hoje em dia, podendo evitar filmes de terror, em geral eu os evito, salvo raras exceções.
Mas hoje é uma sexta-feira 13.
Mais do que isso, é a primeira sexta-feira 13 de lua cheia em vinte e dois anos. E se uma sexta-feira 13 de lua cheira em um dia nublado que ainda guarda o frio do inverno não é dia para relembrar os melhores filmes do gênero, então eu não sei qual outro seria.
Vamos então, a mais um infame Top 10 CAsa do Capita, dedicado aos melhores filmes de terror:

10 - A Volta dos Mortos-Vivos (Dan O'Bannon, 1985)


Mortos-vivos já se tornaram uma parte tão intrínseca da cultura pop que poderia-se fazer uma lista apenas com filmes sobre mortos que se erguem dos túmulos para se alimentar da carne dos vivos. É um subgênero que, hoje em dia, já deve ter empatado com vampiros entre as criaturas de filmes de horror com mais títulos lançados. Embora eu reconheça o impacto e a importância de George Romero para o gênero, o primeiro filme de zumbis que eu vi e amei foi esse O Retorno dos Morros Vivos, co-escrito e dirigido por Dan O'Bannon, ex-parceiro de Romero que, no "divórcio do casal" ficou com a expressão living dead, deixando os dead para Romero.
Seu longa de 1985 não tem a afiada crítica social dos filmes Romeristas, mas é muito mais piadista e roqueiro e, ao contrário da crença popular que credita zumbis corredores a Extermínio, de Danny Boyle, foi o primeiro longa com desmortos velocistas.
Na trama, dois funcionários de um armazém inadvertidamente liberam o gás contido em um tambor do governo dos EUA. Eles reanimam alguns cadáveres com o tal químico e após conseguirem esquartejar o defunto, resolvem incinerá-lo. Quando a fumaça do corpo queimado se junta às nuvens de chuva sobre o cemitério vizinho, tudo vai para o inferno...
Três coisas, além do bom humor de certas sequências e da emoção autêntica de outras tantas tornaram esse filme um favorito pra mim na infância: O "Homem de alcatrão", primeiro zumbi que aparece no filme e a mulher-dividida, morta-viva partida ao meio que é interrogada pelos heróis, duas geniais criações animatrônicas, e a gloriosa nudez total da linda Lynnea Quigley, que povoou meus sonhos muito depois de os zumbis já terem se desvanecido.

9 - A Morte do Demônio/Uma Noite Alucinante 2 (Sam Raimi, 1981/1987)


Eu ainda não havia completado oito meses de idade quando o baratíssimo Evil Dead (ou os Mortos Malvados que no Brasil tornou-se A Morte do Demônio porque alguém da distribuidora não sabia inglês e/ou não viu o filme), longa de horror escrito e dirigido por um jovem, talentoso, entusiasmado e pobre Sam Raimi foi lançado nos cinemas norte-americanos tornando-se um cult de terror.
Seis anos mais tarde, Raimi lançaria Evil Dead II, que, no Brasil, tornaria-se Uma Noite Alucinante 2, mesmo sem existir um Uma Noite Alucinante 1...
Me lembro de, aos oito anos de idade, ir com minha mãe à Stock Vídeo uma locadora na Jerônimo Coelho, do lado do consultório do meu pediatra, para alugar uma fita em uma noite em que dormiria na casa da minha vó, e ter pego quase de imediato a caixa do VHS com a caveira olhando para a câmera.
Mais tarde, assistiria empolgadíssimo ao longa que era tanto uma sequência quanto um remake do filme de 1981.
Tanto em um quanto no outro um grupo de jovens fica preso em uma cabana no meio do ermo e inadvertidamente usam o Necronomicon das histórias de Lovecraft para liberar demônios e mortos vivos em nosso mundo.
Com todos os cacoetes visuais da câmera frenética que se tornaria assinatura de Raimi nos anos vindouros, mais uma mistura brilhante entre horror, senso de humor algo doentio, uma escopeta, e uma moto-serra, é difícil separar A Morte do Demônio e Uma Noite Alucinante II, e esses dois filmes estão, sem sombra de dúvidas, em qualquer lista de filmes fundamentais do gênero.

8 - Tubarão (Steven Spielberg, 1975)


É engraçado pensar que a falta de grana tenha beneficiado o primeiro blockbuster de verão da história do cinema.
Veja, com pouco dinheiro, o tubarão mecatrônico imaginado por Spielberg para adaptar o livro de Peter Benchley (adaptado pelo próprio, mais Carl Gottlieb) simplesmente não convencia, o que obrigou o então novato cineasta a esconder o peixe durante a maior parte da projeção, e contar apenas com uma barbatana, sua câmera e a magistral trilha sonora de John Williams para gerar tensão.
É de se imaginar se o filme teria o mesmo impacto com o tubarão em cena o tempo todo. Sem ele, a sensação de pavor toda a vez que alguém está parcialmente submerso e os dois acordes do oscarizado tema principal começam a soar deixavam todos os seres humanos que têm medo de tubarões (e algum não tem?) uma pilha de nervos.
Ancorado em uma genial dinâmica entre os personagens de Roy Scheider, Richard Dreyfuss e Robert Shaw, o longa era menos sobre uma fera aquática devoradora de gente e mais sobre o medo que esse animal gerava em toda uma comunidade. Há quem diga que Tubarão não é exatamente um filme de terror, mas um longa ancorado em tensão e medos primários certamente se qualifica na minha lista.

7 - Alien, o Oitavo Passageiro (Ridley Scott, 1979)


Além de ter nos proporcionado uma das maiores, senão a maior heroína de ação da história do cinema com a tenente Ellen Ripley de uma estonteante Sigorney Weaver, Alien, o Oitavo Passageiro criou o que possivelmente é a mais sensacional mistura de horror e ficção científica de todos os tempos.
Sete pessoas a bordo de uma nave no meio do espaço, presas junto com um alienígena que começa a matar a tripulação um por um.
Como se esse cenário já não fosse aterrorizante o suficiente por si, o monstro mudava de forma. A audiência não sabia onde o desgraçado estava, e nem como ele seria na próxima vez em que aparecesse, tornando o jogo de esconde-esconde ainda mais triturador de nervos. O roteiro de Dan O'Bannon e Ronald Shusett, a direção de Ridley Scott, o elencaço que ainda contava com John Hurt, Ian Holm e Iaphett Kotto, entre outros, e a aterrorizante criatura desenhada por H. R. Gyger uniram todos os elementos necessários para transforar os estéreis corredores da Nostromo em uma autêntica casa assombrada de onde era impossível fugir, e colocaram toda a audiência na pele da tripulação cada vez que um deles era perseguido, encurralado ou explodido de dentro pra fora.
Eu não devia ter oito anos de idade quando assisti Alien na Sessão de Gala da Globo, e mesmo hoje sou capaz de me lembrar da expressão no rosto do personagem de john Hurt parindo o primeiro xenomorfo. Quantos longas conseguem deixar esse tipo de marca?

6 - Psicose (Alfred Hitchcock, 1960)


Existe uma coisa chamada anacronismo, que me irrita profundamente.
É julgar coisas de outrora com parâmetros de hoje... Quando alguém não quer ler Robinson Crusoé porque o protagonista é um capitão de navio negreiro, por exemplo, ou quando alguém condena Tolkien por todos os seus protagonistas serem brancos, ou acha os efeitos visuais de Superman - O Filme ou Star Wars ruins... Isso é anacronismo.
Muita gente assiste Psicose e acha a história datada ou previsível, mas imagine-se assistindo ao longa em 1960, com uma divulgação propositadamente opaca e liderada pelo próprio Hitchcock, e vendo os primeiros minutos do longa desenrolarem-se como se fosse um suspense noir até o momento em que Janet Leigh entra no chuveiro e a cortina se abre ao som do tema imortal de Bernard Herrmann?
Se até ali Hitchcock era um mestre do suspense, em Psicose ele pela primeira vez colocou um pé no horror (três anos mais tarde ele colocaria os dois no excelente Os Pássaros), e rapaz, que pé pesado tinha o britânico.
A brilhante atuação de Anthony Perkins como o perturbado Norman Bates é apenas a ponta do iceberg entre todas as qualidades de Psicose, e, novamente, se hoje o final parece previsível, imagine-se vendo-o pela primeira vez em um mundo onde Psicose ainda não existia...

5 - O Labirinto do Fauno (Guillermo del Toro, 2006)


Toda a crítica especializada e o Oscar caíram de amores pelo excelente A Forma da Água, mas a verdade é que o trabalho mais intimista, mágico e aterrorizante de del Toro ainda é o espetacular O Labirinto do Fauno.
Tomando lugar em um vilarejo espanhol durante o período de governo do generalíssimo Francisco Franco, o longa de 2006 é aberto a múltiplas interpretações. Nós nunca sabemos com certeza se a pequena Ofélia (Ivana Baquero) está apenas criando um mundo de fantasia onde se refugiar quando os horrores da guerra invadem sua vida pessoal. Serão coisas medonhas como o Homem Pálido e o batráquio gigante sob a árvore apenas reflexos do verdadeiro monstro, o capitão Vidal? Estaria a mandrágora realmente fazendo bem à sua mãe até ser destruída pelo padrasto?
Jamais fica claro. O que está sempre evidente é que a fuga de Ofélia rumo ao mundo subterrâneo de sua imaginação está longe de ser segura, pois nem mesmo o retorcido Fauno que a guia parece ser confiável.
Além das grandes atuações de Baquero, Maribel Verdú e especialmente Sergi López, O Labirinto do Fauno ainda é um dos mais puros exemplares da capacidade de del Toro de imaginar criaturas de linda feiúra e mundos de cair o queixo, e de mostrar que sabe que botões apertar na hora de meter medo na audiência.

4 - Poltergeist: O Fenômeno (Tobe Hooper, 1982)


Poucos foram os filmes que me deixaram sem dormir na minha vida. Poltergeist: O Fenômeno foi um deles.
Eu ainda não frequentava a escola quando assisti ao longa na Globo veraneando com minha família na praia do Pinhal, e me lembro que dormi na cama com a minha vó durante dois ou três dias depois de assistir à história sobre a família que compra uma casa sem tomar conhecimento do fato de que a residência foi construída sobre um cemitério indígena.
Conforme fatos sinistros e inexplicáveis começam a ocorrer na casa, uma equipe de investigações paranormais é chamada quando a pequena Carol Anne é atraída por espíritos malignos e engolida pela TV. lançando a família encabeçada por T. Craig Nelson e JoBeth Williams em uma luta desesperada para recuperar a filha.
O longa produzido e co-escrito por Steven Spielberg é amigável como se imaginaria que um terror produzido pelo diretor de ET seria para os padrões atuais, mas a coleção de objetos flutuantes, vórtices dimensionais e esqueletos na piscina era bem assustadora em 1982, especialmente se tu tivesse seis anos de idade, mas ainda hoje ele deve causar algum efeito em amantes do gênero.



3 - O Enigma de Outro Mundo (John Carpenter, 1982)


Não há lista de filmes de horror sem o nome de John Carpenter.
O sujeito é apenas o homem por trás de Halloween, Christine: O Carro Assassino, Os Aventureiros do Bairro Proibido e do que provavelmente é o filme que mais se aproximou de entender o horror cósmico de H. P. Lovecraft, mesmo que não fosse uma adaptação de Nas Montanhas da Loucura.
Em quem você pode confiar? Quando um terror de outro mundo capaz de mudar de forma se infiltra em uma remota base de pesquisas na Antártica onde todos dependem uns dos outros para sobreviver, a resposta é: Em ninguém.
Ancorado pelo carisma de Kurt Russel e brilhantes efeitos visuais (para a época) assinados por Rob Bottin, O Enigma de Outro Mundo se tornou um clássico cult a exemplo de muitos longas do incompreendido Carpenter. Recheado de sangue, tripas e gosma além de geniais reviravoltas no roteiro de Bill Lancaster e John W. Campbell Jr., o longa deixa a audiência ora coçando a cabeça de suspeição, ora fazendo caretas enquanto um corpo se contorce e distorce revelando sua verdadeira natureza, e provavelmente deixaria Howard Phillips Lovecraft orgulhoso.


2 - O Exorcista (William Friedkin, 1973)


Existem muitos filmes de terror com reputação de amaldiçoados. Nenhum, porém, como O Exorcista, cuja quantidade de ocorrências sinistras no set de filmagens e na carreira dos atores se tornou material de dúzias de lendas hollywoodianas a respeito do filme como se ele tivesse sido tocado pelo próprio Cão...
Tudo balela, claro, haja vista que as carreiras dos melhores atores do elenco (Burstyn e Von Sidow) seguem de vento em popa até os dias de hoje. Mas o longa de William Friedkin estrelado por Ellen Burstyn, Max von Sidow e a jovem Linda Blair fez cinemas nos EUA distribuírem sacos de vômito para clientes. Pessoas eram carregadas desmaiadas pra fora do antigo cinema Cacique em Porto Alegre, e minha tia teve uma paralisia nervosa que durou uma semana após assistir ao longa (sério).
Em meio a tanta celeuma o feito de Friedkin de equilibrar tanto o lado religioso quanto o psicológico das possessões demoníacas em um longa que é, sim, muito assustador, quase passou despercebido.
Quase.
O filme sobre a luta de uma mãe solteira e dois padres para livrar a jovem Regan da possessão do demônio Pazuzu segue sendo o parâmetro para filmes sobre exorcismos mais de quarenta e cinco anos após seu lançamento.
O Exorcista me assustou mais em livro (eu li o volume em uma única noite pois não conseguia dormir de medo aos dez anos de idade), mas assistindo ao longa, já adulto, eu me peguei em mais de uma ocasião, não assustado, mas desconfortável com diversas cenas, e com a trilha... E isso, vindo de um ateu assistindo um filme sobre possessão demoníaca, meus amigos é testemunho da qualidade do longa.

1 - O Bebê de Rosemary (Roman Polanski, 1968)


Eu não lembro quantos anos eu tinha quando assisti O Bebê de Rosemary pela primeira vez, mas eu era pequeno, muito provavelmente pré escolar, assisti na Globo e fiquei francamente apavorado vendo o filme sozinho na sala de casa enquanto minha mãe tomava banho e minha irmã mais nova dormia.
Roman Polanski usou toda a fragilidade de Mia Farrow para contar a história do casal que se muda para um belo apartamento em Manhattan e logo se percebem em meio a uma vizinhança literalmente infernal durante a gravidez da jovem senhora.
Polanski chegou a Hollywood chutando a porta da frente e mostrando toda a sua capacidade narrativa ao jogar com as câmeras para criar um ambiente sempre claustrofóbico de profunda tensão que só aumentava conforme as coisas ficavam mais estranhas, primeiro para o casal, e depois, apenas para a futura mãe.
Eu me recordo ainda hoje do meu pavor conforme Rosemary cambaleava até o berço do recém nascido sob os olhares medonhos de todos os convidados... Ainda hoje, a trilha do longa me causa calafrios e paredes de tijolos à vista em corredores de prédios me deixam nervoso, e nenhum outro filme de horror me assustou tanto em minha vida.

Nenhum comentário:

Postar um comentário