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quinta-feira, 31 de outubro de 2019

O Trailer de The Witcher

E a Netflix acaba de divulgar o primeiro trailer completo de The Witcher, série que adapta os livros de Andrzej Sapkowski que deram origem à série de videogames de mesmo nome.
Na espetaculosa prévia podemos ver Geralt de Rivia, o mutante caçador de monstros sendo envolvido em uma grande conspiração que o obrigará a sair de sua zona de conforto para proteger a princesa Cirilla de Novigrad e impedir a devastação do continente.
Confira:




Produzida por Lauren Schmidt, a série é estrelada por Henry Cavill, Anya Chalotra, Mimi Ndiweni, Freya Allan entre outros, The Witcher ganhou a data de estréia de 20 de dezembro na Netflix.
Haja unha até lá.

quarta-feira, 30 de outubro de 2019

Resenha Série: O Método Kominsky, Temporada 2


Quando eu comecei a assistir a primeira temporada de O Método Kominsky, em fins de novembro do ano passado, eu acho, foi por causa das duas lendas de Hollywood que encimavam o nome da série: Michael Douglas e Alan Arkin.
Os dois veteranos ganhadores do Oscar que flutuam entre estilos com brilhantismo são atores que simplesmente não se ignora, e, bom cinéfilo que sou, não seria eu a ignorá-los.
Matei a primeira temporada da série em uma tarde de domingo, os oito episódios de menos de meia hora permitem esse tipo de maratona especialmente para tipos que não fazem questão de sair de casa num domingo à tarde. E, embora tenha gostado muito do seriado (na verdade não é apenas minha atual comédia favorita da Netflix, é minha comédia favorita da TV em geral), passei o dia todo tentando me lembrar de onde conhecia o nome do produtor executivo que surgira na tela...
Levei um tempo para ligar o nome de Chuck Lorre a suas outras criações, especialmente as mais famosas: Two and a Half Man e The Big Bang Thory, e confesso que, sem os nomes de Douglas e Arkin, provavelmente não teria assistido o programa já que não sou, nem de longe, um fã dos outros seriados mencionados.
Jamais vi graça em Two and a Half Man, e não foi por falta de tentativa. Assisti uma boa dose de episódios da série sem jamais ser cativado por ela. E The Big Bang Theory, ainda mais.
Por conta da temática nerd servir de isca para mim, provavelmente assisti mais The Big Bang Theory do que TAHM, e, ainda que tenha achado que a série melhorou 300% com a inserção das gurias, Bernadette e Amy, no decorrer do programa, não foi, nem de longe, o suficiente pra me manter interessado o bastante pra acompanhar regularmente.
Parte do que me fez demorar tanto para identificar Lorre como o autor de O Método Kominsky foi o fato de que o humor da série era muito mais sutil do que se esperaria do sujeito que fez Dharma e Greg ou Mom. Temperado com uma mistura de candura, melancolia e acidez, a série sobre Sandy Kominsky, o ator que já tinha sido um bambambã de seu ofício, mas agora é professor de atuação em um pequeno estúdio que leva seu nome em Los Angeles e seu agente e amigo Norman Newlander, recém enviuvado após perder a esposa para o câncer é repleta de um humor muito menos histriônico do que as comédias televisivas com risadas gravadas às quais eu estava habituado a ligar o nome do produtor.
Na última sexta-feira a segunda temporada de O Método Kominsky chegou à Netflix e entre sábado e domingo eu acabei com a série me segurando para não ver tudo no mesmo dia.
A segunda temporada não começa exatamente de onde a anterior havia acabado.
Alguns meses se passaram e Sandy e Norm estão indo a um funeral. "É meu terceiro esse mês", reclama Sandy, ao que Norm retorque "Na nossa idade isso é ter uma vida social".
O humor desse segundo ano é menos contido do que fora no primeiro. Há mais piadas que são claramente piadas, a maioria delas de Arkin, que entrega o material com uma rabugice inerente que simplesmente tende a deixar o texto mais engraçado, embora a insistência com essa tática eventualmente chegue perto de esgotá-la.
Michael Douglas tem a sorte de estar envolvido em mais situações cômicas nas quais ele pode apenas brilhar, por exemplo quando descobre que sua filha Mindy (Sarah Baker) está morando com seu novo namorado, um sujeito mais velho, na verdade bem mais velho, e, temendo pelo pior, resolve conhecer o sujeito, Martin (Paul Reiser), apenas para descobrir que o seu genro em potencial tem quase a mesma idade que ele e, pior, que os dois têm muito em comum e podem ser bons amigos.
Outra ótima relação de Sandy é seu namoro/não namoro iô-iô com a aluna eventual, Lisa (a ótima e gatíssima Nancy Travis), cuja natureza do relacionamento não está exatamente clara para o ator veterano que já foi "uma ereção ambulante com um ótimo corte de cabelo", mas hoje em dia parece mais disposto a experimentar outras formas de conexão humana que vão além do sexo, especialmente quando uma visita ao médico o leva à uma assustadora descoberta.
Enquanto isso, Arkin não está lá apenas para ser alívio cômico. No funeral do primeiro episódio ele reencontra uma paixão da juventude, Madelyn (Jane Seymour, linda), que também enviuvou recentemente, e que parece mais do que disposta a se reconectar com seu antigo amor o quanto antes, obrigando Norman a lidar com sua culpa em reencontrar o amor tão perto da morte de Eileen (Susan Sullivan) e o retorno de sua filha Phoebe (Lisa Edelstein) recém saída da reabilitação ao mesmo tempo.
Os melhores momento desse segundo ano da série são exatamente quando ela permite que o humor contemplativo de sua premissa seja levado adiante pelo talento de seus dois protagonistas, de modo que é uma aposta arriscada inserir diversos novos personagens e, mais que isso, usar esses personagens para inserir novas linhas narrativas que, em sua maioria, separam-se umas das outras.
Se por um lado essa decisão expande o mundo da série, por outro, isso nos faz desejar que ela tivesse mais episódios, ou episódios mais longos (algo inédito em se tratando de conteúdo da Netflix, eu sei...).
A primeira temporada era praticamente toda dedicada à relação entre Sandy e Norman, e eu supunha que fôssemos ter mais disso no novo ano. E não me entenda errado, os dois ainda estão lá, e quando estão juntos é ótimo, mas precisando dividir tempo com Martin, Madelyn, Sarah, Phoebe, Lisa e os alunos de Sandy (aliás, este núcleo sim, consegue se valer das piadas mais óbvias para arrancar risadas da audiência) em apenas oito episódios de meia hora, eu gostaria de mais Sandy e Norman.
Esses pequenos problemas, porém, não roubam o brilho de O Método Kominsky.
A série ainda é a melhor comédia na TV atual, e quando dá espaço para seus charmosos protagonistas veteranos explorarem com bom humor temas melancólicos como as indignidades da idade e a presença constante do... Do... Como chama? O sujeito com a ferramenta de colheita? Ah, sim, do ceifador implacável! A série ainda é um prazer de assistir, e uma ótima maratona de final de semana.
Apesar de, eventualmente ter tido a impressão de que o roteiro estava tentando aumentar sua audiência alvo através de piadas mais óbvias O Método Kominsky deixa claro que a exemplo de seus brilhantes protagonistas, ainda tem muita lenha pra queimar em novas temporadas.
As duas temporadas estão disponíveis na Netflix, e vale horrores a pena.
Assista.

"-Eu acho que meu próximo passo é a jornada interior. O caminho espiritual.
-Você vai pra algum Ashram na Índia?
-Talvez eu vá. Veremos. Como diz o ditado: Quando o aluno está pronto, o professor se apresenta.
-E você acha que está pronto?
-Honestamente? Sim.
-Legal.
-Não é?
-Sim... Eu, pessoalmente, sempre pensei que esse mundo é um sonho que Deus está tendo-
-Você não é o professor.
-... Ou talvez você não esteja pronto..."

terça-feira, 29 de outubro de 2019

Saudades Daquela Época


Houve uma época em que eu te olhava e me lembrava da beleza do mundo.
Hoje em dia, eu olho a beleza do mundo e me lembro de ti...

O Trailer 2 de Star Wars: O Mandaloriano

A Disney divulgou ontem o segundo trailer de Star Wars: O Mandaloriano, série que acompanhará um caçador de recompensas da mesma ordem de guerreiros de Django e Bobba Fett se aventurando pela orla exterior daquela galáxia bem, bem distante fora do alcance da Nova República.
Confira a prévia abaixo:



Produzida por Jon Favreau, O Mandaloriano tem no elenco Pedro Pascal no papel título, mais Gina Carano, Giancarlo Esposito, Ming-Na Wen, Carl Weathers, Werner Herzog e Nick Nolte, entre outros.
Com episódios dirigidos por Taika Waititi, Bryce Dallas Howard, Dave Filoni, Deborah Chow e Rick Famuyiwa, o seriado estréia em 12 de novembro na Disney +, cujo conteúdo, inicialmente, deve ser disponibilizado no Brasil pela Amazon Prime Video.

Resenha Filme: Bem-vindos a Marwen


Fazia já algum tempo que eu vira o trailer de Bem Vindos a Marwen, acho que foi em meados de outubro do ano passado... E me pareceu uma boa prévia para um filme que tinha potencial. Era, afinal de contas, um longa de Robert Zemeckis que, a despeito de seus eventuais tropeços, costuma ser um cineasta inventivo, que não se esquiva de grandes desafios e que tem em seu currículo pérolas como Uma Cilada para Roger Rabbit, Forrest Gump e De Volta para o Futuro. Lembro de ter mostrado o trailer pro meu irmão e falado que queria ver o filme. Mas os meses passaram e nada de Bem-vindos a Marwen estrear nos cinemas brasileiros.
Eventualmente, quando já tinha até esquecido do longa, me deparei com ele na lista de filmes para locação do Google Play e após deixá-lo para mais tarde algumas vezes, resolvi assistir o filme no sábado passado.
No longa conhecemos Mark Hogancamp (Steve Carell), um homem preso em um mundo de fantasia.
Outrora um habilidoso ilustrador com diversos créditos como desenhista em histórias em quadrinhos e um vasto portfólio de arte bélica, especialmente da Segunda Guerra Mundial, Mark perdeu tudo após ser agredido quando, bebendo em um bar, comentou com outros clientes do estabelecimento que gostava de usar sapatos femininos, e isso levou a um ataque levado a cabo por cinco homens, e uma violenta surra que não o matou, mas chegou muito perto, colocando-o em coma, obrigando-o a reaprender a andar, e acabando com todas as suas memórias anteriores ao evento, em um ataque tão brutal que Mark, que era um alcoólatra que habitualmente bebia até cair, despertou de seu coma totalmente livre do impulso de beber. O cérebro do sujeito foi reconfigurado a base de pancadas.
Não foi apenas o alcoolismo e sua memória que Mark teve arrancados de si, porém.
Os cinco homens que o surraram também lhe roubaram a capacidade de desenhar, e uma vez que saiu do hospital, ele foi viver em um trailer onde montou uma instalação representando uma pequena cidade na Bélgica durante a Segunda Guerra, o vilarejo de Marwen, onde Mark encena com bonecas e bonecos tipo Barbie e Falcon as aventuras do capitão Hogie, um intrépido soldado norte-americano, e as fabulosas mulheres que o ajudam a proteger o vilarejo dos nazistas que tendem a atacar a cidade em grupos de cinco.
Marwen, suas mulheres e o capitão Hogie tornaram-se a terapia de Mark tanto para tentar relembrar fragmentos de sua vida antes do ataque, quanto para lidar com o trauma que quase custou-lhe a vida. Quase todo o grupo de vingadoras que acompanha Hogie têm contrapartes reais, algumas muito próximas, como a cuidadora Anna (Gwendolyne Christie), sua colega Carlala (Eiza Gonzáles) ou a balconista da loja de plastimodelismo que ele frequenta, Roberta (Merritt Wever), ou a fisioterapeuta G. I. Julie (Janelle Monáe).
Com uma rotina modesta trabalhando como auxiliar de cozinha no mesmo bar onde fora atacado, e continuamente expandindo a pequena Marwen em seu quintal, Mark vê as coisas saírem dos eixos quando é convocado a fazer uma declaração na audiência de sentença de seus agressores na mesma semana em que uma nova vizinha, Nicol (Leslie Mann), se muda para a casa em frente.
Foi apenas após terminar de assistir Bem-vindos a Marwen que eu descobri que o longa é baseado em uma história real. O verdadeiro Mark Hogancamp foi atacado em abril de 2000, e comeu o pão que o diabo amassou durante sua recuperação e após ela, e ele inclusive foi objeto de um premiado documentário em 2010 chamado Marwencol, que é ótimo.
Eu me sinto obrigado a dizer isso porque Bem-vindos a Marwen não é.
Não é nem sequer bom.
Na verdade, é bem ruim.
O longa co-escrito pelo próprio Robert Zemeckis (que repete com Marwencol o que fizera com O Equilibrista) mais Caroline Thompson (de Edward Mãos de Tesoura, O Estranho Mundo de Jack e outros) é equivocado de A a Z, e a despeito de suas boas intenções, parece sofrer com uma necessidade quase patológica de transformar Hogancamp em uma figura mais "limpa" para o público mais amplo possível... Seu alcoolismo é mal e mal mencionado, ele aparece em poucos momentos com um cigarro pendurado nos lábios enquanto fotografa suas miniaturas, mas jamais dá uma tragada, e até mesmo sua sexualidade recebe uma varrida porque interesses românticos e audiências mais família representam uma chance mais clara de sucesso comercial...
Não é apenas esse o problema, porém.
A exemplo do que havia feito com Forrest Gump ao transformar um personagem literário repleto de falhas de caráter em um ícone de pureza e ingenuidade cinematográfica, Zemeckis e Thompson movem céus e terras para fazer o mesmo com Hogancamp, uma pessoa de verdade. A despeito de estar prestes a ganhar uma exposição com suas fotos, repletas de tortura e fetichismo em uma galeria em Nova York, ele vive em uma redoma de inocente reclusão existindo quase como parte da paisagem.
Tudo isso seria mais perdoável se Bem-vindos a Marwen fosse um filme tão bacana quanto Forrest Gump, mas não é.
O ritmo do longa é equivocado, suas atuações problemáticas, e nem sequer os efeitos especiais de ponta que transformam os atores em figuras de ação de si mesmos ou a pitada de auto-referência de Zemeckis na última sequência animada do longa o salvam de ser absolutamente insípido.
Steve Carell não encontra o tom para interpretar Mark como uma pessoa real, e à exceção de Leslie Mann, que ganha um pouco mais de tempo de tela e material para interpretar uma personagem humana, o restante do elenco basicamente faz figuração e dá cara aos bonecos animados de Zemeckis, um cineasta que, conforme eu disse lá em cima, é dos mais respeitáveis, mas talvez devesse repensar algumas das manias que desenvolveu em anos recentes, como a vontade de recontar em forma de obras de ficção o conteúdo de documentários premiados, e enfiar captura de performance toda a vez que a oportunidade se apresenta.
Bem-vindos a Marwen está longe de ser um grande programa, ou sequer um programa razoável, e se tem algum mérito, é oferecer à audiência a oportunidade de tomar conhecimento da história do verdadeiro Mark Hogancamp.
Se tiver ficado curioso, procure pelo documentário Marwencol, disponível no Youtube, é um programa muito mais interessante.

"-Mulheres são as salvadoras do mundo!"

segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Resenha Série: Watchmen: Temporada 1, Episódio 2: Martial Feats of Comanche Horsemanship


Após um primeiro episódio que parecia vastamente interessado em apresentar seu mundo, seus personagens e acenar com mistérios antes de realmente nos contar uma história, o segundo episódio de Watchmen é consideravelmente mais focado em sua trama.
O capítulo novamente abre com um flashback da Primeira Guerra Mundial, quando soldados negros norte-americanos são "bombardeados" com propaganda racial do exército imperial alemão. Folhetos fazendo referência à segregação racial nos EUA e convidando combatentes negros a mudarem de lado durante o conflito.
Um desses folhetos acaba na mão do soldado que vimos lutando para salvar seu filho no episódio passado, e é no verso dessa folha que está o pedido desesperado de "Cuide desse menino" que foi colocado no bolso do garoto durante sua fuga de Tulsa, e que agora encontramos nas mãos de um homem centenário em uma cadeira de rodas (Louis Gossett Jr.) ao lado do cadáver enforcado do capitão Judd Crawford.
Angela, convocada ao local da morte de Judd pelo o sujeito, sabe que é impossível para um idoso ter dominado e matado Judd, e crente que ele tem cúmplices, resolve levá-lo até a padaria que serve de fachada à sua posição na polícia, e interrogá-lo.
O interrogatório, porém, não transcorre como a detetive esperava. Will certamente sabe muito mais coisas do que está disposto a contar e não é necessário dizer que Angela fica intrigada com as coisas que o estranho, chamado Will, lhe diz. Intrigada o suficiente para omitir dos colegas o fato de que foi a primeira pessoa na cena do crime, e que tem um suspeito que insistentemente confessa o crime sob sua custódia.
O relato de Will a respeito de Judd Crawford ter esqueletos em seu armário e a posterior descoberta de Angela de que a declaração era mais literal do que se poderia supôr numa revelação que fazem a detetive ficar mais do que intrigada, confusa.
Durante a batida policial em Nixonville, levada a cabo como uma represália pela morte de Crawford, a Sister Night já apareceu pensando duas vezes a respeito da abordagem de seus colegas ao caso todo. Talvez porque a presença de Will tirar dela qualquer certeza de que a Sétima Kavalaria fosse, de fato, responsável pela morte de seu amigo.
O envolvimento dela com o capitão, descobrimos, começou na Noite Branca mencionada no capítulo passado e contextualizada em um flashback quando Angela e Cal (Yahya Abdul Mateen II) foram atacados por membros da Kavalaria em casa na véspera de Natal num ataque do grupo terrorista orquestrado contra a polícia de Tulsa na época em que as identidades dos policiais eram públicas. Angela despertou após ser baleada para descobrir que inúmeros colegas haviam morrido, mas com Crawford a seu lado, ele próprio vítima de um ataque.
Ter esse relacionamento abalado pelas nebulosas revelações de Will e por sua posterior descoberta na casa de Judd tiram de Angela qualquer certeza sobre para onde dar seu próximo passo, ao menos até o final do capítulo quando Will deixa claro que, quando disse que tinha amigos em lugares elevados, ele não estava brincando.
Não foi apenas de Angela e da conspiração em Tulsa, porém que Martial Feats of Comanche Horsemanship foi feito.
Voltamos à Grã-Bretanha para reencontrar o "senhor da mansão" e ver a apresentação de sua peça em cinco atos Filho do Relojoeiro com a senhorita Croockshanks (Sarah Vickers) e senhor Phillips (Tom Mison).
A cena que acompanhamos é a origem do Doutor Manhattan, quando Jon Osterman é vaporizado na câmara de campo intrínseco diante de Janey Slater. A encenação acompanhada pelo misterioso fidalgo tem consequências trágicas, e confirma uma das suspeitas do capítulo anterior conforme as identidades dos demais membros da produção vão sendo reveladas.
É curioso que, oficialmente o personagem de Jeremy Irons não seja referido como Ozymandias (embora o seja na página da série no IMDB) ou Adrian Veydt, mas constantemente pistas nesse sentido sejam dadas. Ele chama seu cavalo de Bucéfalo, mesmo nome do cavalo de Alexandre da Macedônia, e seu texto para a tragédia de Osterman faz referências ao Nó Górdio, é difícil não ter uma sombra de dúvida no fundo da mente apitando que a insistência da série em nos levar a crer que o Senhor da Mansão é Ozymandias, de seu comportamento às cores que veste, não sejam um despiste dos mais óbvios especialmente em um programa que, até aqui, parece tremendamente interessado em criar mistérios.
Mais um é apresentado, inclusive.
Numa dupla referência ao material-fonte, nós temos um vislumbre de uma série dentro da série. American Hero Story é o programa que Cal e Topher sentam para assistir à noite, e que em seu primeiro episódio começa a contar a história de Justiça Encapuzada.
Justiça Encapuzada foi um dos membros dos Minute Man, grupo de heróis dos anos 30/40 que foi a principal inspirador do Coruja original, Hollis Manson, influenciando o jovem policial a abraçar o vigilantismo fantasiado, e o único dos heróis mascarados de Watchmen de quem jamais descobrimos a identidade secreta.
Além de um óbvio easter-egg aos quadrinhos, American Hero Story surge trazendo uma narrativa paralela à trama principal com a qual carregava uma temática ressonante. Enquanto Watchmen, o quadrinho, tinha o gibi d'Os Contos do Cargueiro Negro traçando um paralelo entre o pirata se tornando um monstro na tentativa de salvar sua esposa e Ozymandias tornando-se um monstro na tentativa de salvar a Terra, Wathcmen, a série televisiva, tem a série American Hero Story mostrando como o Justiça Encapuzada abraçou o vigilantismo para lidar com sua raiva, talvez da mesma forma que Angela eventualmente faça?
Veremos...
O segundo capítulo de Watchmen cresce a partir do primeiro. Muito do episódio se dedica a dar mais substância aos personagens da série nos mostrando como eles se relacionam com a política desse universo ao invés de continuar apostando na exposição pura de It's Summer and We're Running Out of Ice. Nós temos um vislumbre do tamanho dos segredos que o programa está guardando e resta saber se tais segredos serão revelados a contento (desculpe, eu continuo com problemas para confiar no cara de Lost).
Nesse momento o palco principal pertence a Angela Abar e a estranha herança com a qual ela é deixada ao fim desse segundo capítulo, mas a despeito da qualidade da atuação e da beleza de Regina King, os segredos do Senhor da Mansão e de Justiça Encapuzada são tão ou mais instigantes.
Vamos esperar pra ver como as coisas se desenvolvem nos capítulos vindouros.

"-Você é um filho da puta cínico, Glass.
-Então por que é que eu estou chorando por baixo disso?"

terça-feira, 22 de outubro de 2019

O Trailer Final de Star Wars: Episódio IX - A Ascensão de Skywalker

Ontem à noite a Disney lançou o trailer derradeiro de A Ascensão de Skywalker, nono filme da trilogia que promete encerrar a saga da família mais querida daquela galáxia bem, bem distante (que já havia sido destruída por Rian Johnson em Os últimos Jedi).
A prévia final traz a resistência liderada por Poe, Kylo Ren e Rey lutando um contra o outro e lado a lado, possivelmente a morte de C3-PO, e um bocado de belas tomadas ao som de um arranjo ainda mais épico para o tema imortal de John Williams que, quase por um instante, nos fazem esquecer que a Disney apunhalou Star Wars bem na coluna.
Confira:



Dirigido por Jar Jar Abrams (que adora naves espaciais embaixo d'água, o homem já havia transformado a Enterprise em um submarino em Além da Escuridão, e agora fez a mesma coisa com um destróier estelar imperial) a Ascensão de Skywalker tem os retornos de Daisy Ridley, Adam Driver, Oscar Isaac e John Boyega, além de Ian McDiarmid, Mark Hamill e Carrie Fisher. A estréia está marcada para o dia 19 de dezembro.

segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Resenha Filme: Brightburn: Filho das Trevas


Um dos sinais mais claros de que um filme não será bom, é a insistência dos trailers em alardear o nome dos produtores ou do produtor do longa. Quando os trailers de Brightburn, que no Brasil ganhou o estúpido subtítulo de "Filho das Trevas" insistiam em usar o nome de James Gunn, celebrado diretor dos dois Guardiões da Galáxia como produtor do filme, já ficava meio que na cara que essa provavelmente era a única qualidade do longa que parecia ser um "E se o Superman fosse malvado?" (e tivesse desenvolvido a integralidade de seus poderes ainda na infância, um detalhe importante para iniciados no assunto, mas enfim, não vem ao caso...).
Sábado à noite, caçando um filme para assistir no Google Play, titubeei brevemente entre Aladdin e Brightburn, e acabei me decidindo pelo último apenas porque era mais curto (é, eu queria ver um filme, mas não queria ver um filme com mais de duas horas...).
Quando o longa começa, no ano de 2006, nós conhecemos o casal Tori (Elizabeth Banks) e Kyle Breyer (David Denman).
Os dois vivem na pequena cidade de Brightburn, e levam uma vida pacata. Ela é uma artista plástica, ele é um fazendeiro, e os dois parecem ter uma relação saudável o bastante para estarem tentando engravidar embora lutem contra a infertilidade.
Certa noite, os chamegos do casal são interrompidos por uma chuva de meteoros, em meio a qual, há uma espaçonave e dentro dela, um bebê, a quem o casal adota e cria como se fosse seu...
Doze anos mais tarde o jovem Brandon (Jackson Dunn) é tudo o que Tori e Kyle poderiam querer. Prestativo, comportado, o primeiro de sua classe na escola local...
As coisas mudam quando, às vésperas de seu décimo segundo aniversário, Brandon é atraído até o celeiro que guarda em segredo a espaçonave onde fora encontrado. Tentando desesperadamente abrir o alçapão onde a máquina alienígena está trancada em um rompante de sonambulismo turbinado por vozes fantasmagóricas que apenas ele é capaz de ouvir, Brandon eventualmente é despertado por Tori, mas a partir dali, já não é mais o mesmo. Descobrindo não apenas uma série de surpreendentes habilidades que parecem aumentar exponencialmente a cada dia, mas também um sinistro propósito que impulsionou sua vinda à Terra, sistematicamente Brandon divisa seu papel no mundo, e a cada nova descoberta, se aparta mais e mais de seus pais adotivos e do resto da humanidade...
À certa altura de O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel, Bilbo Bolseiro diz que se sente esticado e fino, como um bocado de manteiga espalhado por uma fatia muito grande de pão... A despeito de sua enxuta metragem de 90 minutos, Brightburn é mais ou menos isso: Uma ideia básica esticada muito além de seu verdadeiro potencial.
O longa co-escrito por Brian e Mark Gunn (respectivamente irmão e primo de James) usa a história de origem do Superman para construir um horror slasher com super-poderes que tem todos os piores defeitos dos terrores slasher do cinema, em especial a ineficiência das autoridades, alguns sustos rápidos e a estupidez completa e absoluta de todos os personagens em cena.
Sério.
Há um momento em que fica simplesmente impossível acreditar que pessoas reais poderiam ser tão idiotas, não importa o tamanho da ligação emocional que essa gente pudesse ter com o pequeno Brandon que vai se transformando em um completo psicopata no decorrer de poucos dias a olhos vistos, e esse é um defeito capital para um filme de horror. A partir do momento em que não acreditamos nos personagens em cena, e paramos de ligar para eles, o filme se torna apenas uma sucessão de sequências que tentam gerar tensão sem funcionar totalmente e que deixam a audiência apenas esperando para ver que tipo de atrocidade o moleque esquisito irá praticar a seguir, e tome gore gratuito conforme o monstrinho explora o corpo humano com requintes de sadismo super-poderoso por noventa minutos que se arrastam sem chegar a lugar algum...
Dirigido de maneira estéril por David Yarovesky, que tem apenas o horror A Colmeia, de 2014 no currículo de longas metragens, e sem nenhuma atuação memorável do elenco que ainda conta com Gregory Alan Williams, Meredith Hagner e Matt Jones (Beaver de Breaking Bad), Brightburn é um autêntico exemplar de um estúdio tentando chupar uns trocados da onda dos super-heróis no cinema sem grandes luzes.
Absolutamente descartável, Brightburn não consegue ser uma boa pedida para fãs de filmes de quadrinhos ou de filmes de terror, e nem mesmo ser a resposta mais interessante à pergunta "e se o Superman fosse malvado?". O Capitão Pátria de The Boys, com todos os seus defeitos, está aí e não me deixa mentir...
Passe longe.

"-Eu nunca vou ficar contra o nosso filho!
-Ele não é nosso filho. Ele é uma coisa que nós encontramos na floresta!"

Resenha Série: Watchmen: Temporada 1, Episódio 1: It's Summer and We're Running Out of Ice


Watchmen, o quadrinho, é uma obra-prima da nona arte.
Na verdade, é o tipo de trabalho que consolidou o formato como uma forma de arte para o grande público. Faltariam parágrafos para enumerar todas as qualidades da graphic novel de Alan Moore e Dave Gibbons, mas deixe-me dizer que quem não leu esse quadrinho não sabe o que está perdendo, e que por mais maneira que seja a adaptação dirigida por Zack Snyder em 2009, ela é pálida, esquálida, até, na comparação com o material fonte.
Por isso uma adaptação em formato de série me agradava quando a ideia foi aventada alguns anos atrás.
A HBO, premiado braço televisivo da AT&T, dona do conglomerado que inclui Warner Bros. e DC Comics era exatamente o tipo de criadora de conteúdo que poderia fazer uma baita de uma adaptação à altura da obra original de maneiras que o longa de Snyder simplesmente era incapaz de fazer a despeito de seus acertos.
Mas eis que, balde de água fria, o Watchmen da HBO não seria uma adaptação da graphic novel, mas uma continuação. Uma fanfic imaginada por Damon Lindelof (da elogiada The Leftovers, que eu infelizmente não assisti, e da tenebrosa Lost, que eu não aguentei assistir) para responder o que aconteceu ao mundo na esteira dos eventos descritos no quadrinho de 1986.
Curiosamente, porém, o primeiro episódio da série tem início em julho de 1921, quando encontramos um menino negro assistindo a um filme mudo a respeito do delegado Bass Reeves (um homem da lei negro que realmente existiu e até inspirou a criação do branquíssimo Cavaleiro Solitário).
No filme, Reeves garante, após prender um xerife corrupto, que não haverá justiça das ruas, mas assim que uma bomba explode no teto do cinema e o menino é levado por sua mãe pianista e seu pai soldado para as ruas tomadas pelo motim e pelos linchamentos liderados pela Ku Klux Klan. O cenário em questão é um medonho evento histórico real: A rebelião racial de Tulsa, quando vários quarteirões do bairro de Greenwood, então a mais rica região afrodescendente dos EUA foram destruídos durante um massacre que, especula-se, tenha custado a vida de mais de 300 membros da comunidade negra.
O garoto, com um bilhete no bolso onde se lê "Por favor, cuide desse menino" é colocado em um baú e enviado para a segurança seguindo a mesma mitologia de Moisés ou do Superman, mas ao invés de ser levado para a segurança e adotado por um faraó ou um gentil casal de fazendeiros, o pequeno se vê sozinho no ermo após a morte de seus guardiões temporários, com um bebê nos braços e tendo ao fundo Tulsa em chamas...
Corta pra 2019.
Um homem é parado na estrada por um policial.
É uma parada rotineira igual a tantas outras, exceto por dois detalhes: O patrulheiro usa uma bandana amarela para ocultar seu rosto. E precisa pedir permissão à central para sacar sua arma.
Ao mesmo tempo em que o vigilantismo foi incorporado à polícia na forma do anonimato dos agentes da lei, há (literalmente) um mecanismo contra a brutalidade policial, já que os agentes precisam convencer um supervisor de que estão sob ameaça para sequer ter a chance de disparar sua arma.
No tempo que o policial, um homem negro, leva para convencer seu interlocutor no rádio de que precisa sacar sua arma, o suspeito que ele parou na rodovia faz seu movimento, e usando uma máscara de Rorschach, dispara uma arma automática contra a viatura.
Esse é o 2019 de Watchmen.
Todos os automóveis são elétricos. O Vietnã é um estados norte-americano. A cara de Richard Nixon foi adicionada ao Monte Rushmore. O anonimato dos policiais é garantido pela lei e se todos os tiras usam bandanas amarelas no rosto, os detetives mais ranqueados são quase heróis mascarados com máscaras e/ou uniformes coloridos e nomes de guerra estilosos. Eventualmente uma sirene soa avisando que uma chuva de pequenas lulas irá cair. Esse é o futuro do Watchmen dos quadrinhos, quando Ozymandias acabou com a Guerra Fria simulando um ataque alienígena interdimensional com uma criatura em forma de lula gigante matando milhões em Nova York (e não incriminando Dr. Manhattan), e essa chuva de moluscos parece ser um efeito colateral do evento de 1986...
O presidente dos Estados Unidos é Robert Redford, na Casa Branca há 30 anos, e as questões raciais dos EUA parecem ter sido abordadas de maneira mais direta por esse presidente ator do que teriam sido por Ronald Reagan no nosso mundo, mas não foram totalmente superadas por alguns.
Em Tulsa o grupo terrorista conhecido como Sétima Kalavaria lança uma mensagem em vídeo. O grupo de supremacistas brancos envergando máscaras de Rorschach cita um trecho do diário do vigilante afirmando que irão acabar com os traidores da raça.
Aparentemente a tentativa de Rorschach de expôr os planos de Ozymandias do além túmulo jamais deu certo. A ideia de que o ataque interdimensional de 1986 tenha sido uma conspiração é vista com a mesma credibilidade que teorias malucas como a falsidade do pouso do Homem na Lua, ou que os atentados do 11 de setembro fossem um trabalho interno, tendo sido abraçada apenas por caipiras racistas e ignorantes que partilhavam algumas das visões do vigilante falecido (que era um moralista homofóbico, mas até onde lembro, não era racista...).
O ataque ao policial na estrada dá início a uma ofensiva da polícia de Tulsa, liderada pelo chefe Judd Crawford (Don Johnson) e encabeçada pela policial Angela Abar (Regina King), que esconde sua verdadeira profissão sob a fachada de uma padaria e o traje de super-freira da Sister Night.
Com a ajuda dos detetives Looking Glass (Tim Blake Nelson), Red Scare (Andrew Howard) e Pirate Jenny (Jessica Camacho) Angela e Judd partem para o ataque contra a Kavalaria num movimento que, a princípio parece bem-sucedido, mas logo fica claro que foi apenas a queda da primeira peça do dominó...
Há um bocado de conteúdo nesse primeiro episódio de Watchmen, nada, porém, que nos deixe saber, acima de qualquer suspeita, se a série será boa, ou não.
Obviamente há valor de produção, e Lindelof certamente dedicou um bocado de tempo à construção desse mundo pós-Watchmen e acertadamente faz questão de acenar com a influência em diversos momentos. Nós vemos a Archie do Coruja em ação, há uma ligeira filmagem mostrando o Dr. Manhattan, que vive em Marte e aparentemente é observado por satélites, e Jeremy Irons tem uma breve e interessante aparição, vivendo um personagem que pode, ou não, ser Ozymandias (embora um jornal afirme que ele foi declarado morto), vivendo recluso em um castelo na Grã-Bretanha onde cavalga, medita e datilografa peças de teatro nu enquanto recebe massagens nas coxas, com dois criados que não parecem inteiramente humanos...
Que esses pequenos detalhes chamem mais a atenção do que o tronco da narrativa do episódio com a Sétima Kavalaria e a polícia de Tulsa não chega a advogar em favor desse primeiro episódio (que demanda uma boa dose de conhecimento sobre fatos históricos norte-americanos e sobre o musical Oklahoma! pra ser totalmente compreendido), mas ao menos nos dá a esperança de que esses mundos eventualmente se mesclem e as coisas comecem a, ou fazer mais sentido, ou ficarem mais interessantes, eu estou aberto a qualquer uma das possibilidades.
A nova série da HBO tem seus momentos, constrói a atmosfera certa e parece carregado de boas ideias na tentativa de expandir o mundo da graphic novel na qual se baseia, mas começa apresentando suas ideias de maneira meio bagunçada. Resta saber se é um recurso para manter a audiência no escuro antes de desvelar uma grande conspiração nos próximos oito capítulos, ou apenas uma decisão equivocada.
Eu certamente continuarei olhando pra saber.

"-Tic. Tac. Tic. Tac. Tic. Tac..."

sábado, 19 de outubro de 2019

Resenha Filme: MIB: Homens de Preto - Internacional


Lá se vão sete anos desde que a agência secreta que protege a Terra da escória do universo deu as caras pela última vez nos cinemas.
Em junho de 2012 J (Will Smith) voltou no tempo até 1969 para impedir que um alienígena rancoroso matasse K (Tommy Lee Jones/Josh Brolin), e após o final daquela missão não havíamos mais ouvido falar da Homens de Preto.
Quer dizer, exceto por ruído de estúdio, no caso a Sony, que matutava nos bastidores o que fazer com a franquia. Desde ideias para novas continuações, reboots, e até crossovers com os Anjos da Lei de Jonah Hill e Channing Tatum, o braço cinematográfico da gigante japonesa parecia não saber como ordenhar mais alguns milhões de dólares da marca MIB, que fora um estouro em 1997, mas jamais reencontrara o caminho.
Ao menos até fins de 2017.
Thor: Ragnarok, brilhante reinvenção do Deus do Trovão sob a batuta de Taika Waititi deu à Sony uma ideia: Reaproveitar a excelente química de Chris Hemsworth e Tessa Thompson na série dos Homens de Preto.
A trama abre em 2016, em Paris, quando os da MIB T (Liam Neeson) e H (Hemsworth) chegam à Torre Eiffel, na verdade um portal que usa buracos de minhoca para unir vários pontos do cosmos na Terra, para impedir a invasão de uma entidade alienígena conhecida como A Colmeia.
Corta para vinte anos antes (é, eu sei, essa linha de tempo não faz sentido), quando a pequena Molly (Mandeiya Flory) é acordada no meio da noite e não apenas tem um contato imediato de terceiro grau, mas presencia quando agentes da MIB surgem na porta de sua casa no Brooklyn e neuralizam seus pais após eles terem contato com um alienígena.
Obcecada com a revelação de vida fora da Terra e a existência de uma agência governamental que sabe e acoberta a presença desses seres em nosso planeta, Molly cresce tentando de todas as formas descobrir quem são esses homens de preto e se juntar a eles.
Eventualmente sua dedicação rende frutos e ela consegue chegar à sede da MIB em Nova York (aquela mesma que nós vimos nos outros filmes), e rapidamente convence a agente O (Emma Thompson) a lhe oferecer um estágio na agência (é. Rápido assim.) tornando-se a Agente M.
Imediatamente Molly é enviada em sua primeira missão na sede da MIB em Londres, onde conhece o Agente H, renomado herói que ao lado do, agora Grande T, salvou a Terra usando apenas astúcia e seu atomizador classe D...
Imediatamente M e H estão juntos em uma missão relativamente simples, servir de cicerones a um dignatário interplanetário passando um dia na Terra. Não demora, porém, para as coisas darem uma guinada para o pior, e M e H se verem envolvidos em uma conspiração que os torna alvo de dois assassinos alienígenas impiedosos (os gêmeos Larry e Laurent Bourgeois) lutando por uma arma poderosa o suficiente para devastar sistemas planetários inteiros, e que pode envolver até mesmo agentes da MIB...
MIB: Homens de Preto - Internacional é ruim.
Menos um filme do que uma desculpa para tentar faturar em cima da química entre dois atores que funcionou em outro lugar, o longa dirigido por F. Gary Grey (O mesmo de Straight Outta Compton: A História do N.W.A. e Velozes e Furiosos 8) jamais funciona, é sempre um produto desalmado e estéril.
Grande parte dos problemas do longa passam pelo roteiro, co-escrito por Matt Holloway e Art Markum, que é menos uma história e mais uma série de eventos convenientemente alinhados um após o outro para justificar sequências de ação mornas e piadinhas sem-graça. O script da dupla é tão raso que até mesmo para um blockbuster requentado sobre alienígenas ocultos na Terra ele consegue ser primário. Pra piorar, os dois não oferecem nada de novo à série. A dinâmica entre a agente novata e o agente experiente é exatamente a mesma do primeiro MIB, mas desprovida do carisma de Smith (na época do filme original um astro de marca maior), e da talentosa carranca de Jones, que era muito do que fazia o longa Homens de Preto funcionar.
E não é que Hemsworth e Thompson não sejam carismáticos ou talentosos, os dois têm ferramentas com que trabalhar dramaticamente, o roteiro do filme apenas não lhes dá material para fazê-lo.
As razões de Molly para se juntar à MIB são rasas. Ela viu um alienígena. Ela viu que há uma agência que os mantém em segredo. Ela quer entrar nessa. E lá se vão vinte anos de dedicação... H tem ainda menos estofo. Não sabemos nada dele além de que ele é bonito, festeiro e metido a engraçadinho...
Some-se a esses personagens coadjuvantes que simplesmente não funcionam, como Pawny, o minúsculo alienígena dublado por Kumail Nanjiani, ou a traficante de armas interplanetária Riza (a bela Rebecca Ferguson) e uma trama requentada com um plot twist que não surpreende ninguém, e explica-se por que MIB: Homens de Preto - Internacional foi um retumbante fracasso de público.
Falhando em todos os aspectos, da trama mal-ajambrada à trilha sonora requentada aos efeitos visuais que oscilam entre convincentes e meia-boca, MIB: Homens de Preto - Internacional é um desperdício do carisma de Thompson, Hemsworth e Neeson, de 110 milhões de dólares e de uma hora e cinquenta e quatro minutos da vida de quem assistir ao filme.

"-Você acha que um traje preto vai resolver todos os seus problemas?
-Não. Mas fica bem pra caramba em você."

terça-feira, 15 de outubro de 2019

Resenha DVD: Dumbo


Remakes live action ou "live action" de animações clássicas... Talvez a onda mais irritante do cinema recente (a menos que tu seja Martin Scorsese, nesse caso a onda mais irritante seriam os filmes da Marvel), e, pior, uma onda extremamente lucrativa como podem atestar os bilionários O Rei Leão, Aladdin, A Bela e a Fera e, o longa que, até onde eu me lembro (mas posso estar errado) meio que começou essa onda revisionista quase dez anos atrás: Alice no País das Maravilhas, do mesmo Tim Burton que nesse ano transformou o longa animado Dumbo, de 1941 em uma nova versão de si mesmo para novas (e mais lucrativas) gerações...
O Dumbo de Burton abre nos mostrando o Circo dos Irmãos Médici chegando à uma cidadezinha da Flórida. O ano é 1919 e a Primeira Guerra Mundial terminou, o que está trazendo Holt Ferrier (Colin Farrell) de volta pra casa.
Após lutar na Europa, Holt retorna às suas famílias, tanto à família do circo, onde se apresentava como cavaleiro, quanto à sua família de sangue, reduzida a seus dois filhos Milly (Nico Parker) e Joe (Finley Hobbins) após a morte da mãe das crianças enquanto ele esteve no fronte.
Como desgraça pouca é bobagem, Holt retornou mutilado, após perder o braço esquerdo em combate, e descobre que seu chefe, Max Médici (Danny DeVito,), vendeu seus cavalos para manter as finanças em dia por mais algum tempo, e que a única posição disponível para o ex-caubói no momento é no trato dos elefantes.
Médici inclusive está orgulhoso por ter comprado Sra. Jumbo, uma elefanta asiática prenha que está prestes a dar à luz, o que deixará o circo de posse de um adorável filhote de elefante para atrair as crianças e famílias nas cidades por onde passarem no futuro próximo. Não tarda para que a Sra. Jumbo tenha seu filhote, um bebê elefante com expressivos olhos azuis e orelhas exageradamente grandes que imediatamente o tornam motivo de chacota por sua aparência incomum.
As únicas pessoas que partem para a proteção do mais novo membro da família circense são os filhos de Holt. A aspirante a cientista Milly e o aspirante a cavaleiro Joe fazem tudo em seu poder para proteger Sra. Jumbo e seu filhote, mas infelizmente não há nada que os pimpolhos possam fazer para evitar que um terrível incidente aconteça e a pobre mãe seja separada de Dumbo, como o filhote passa a ser chamado por causa de suas orelhas.
Tentando consolar Dumbo, eventualmente Milly e Joe descobrem que ele é capaz de voar quando aspira uma pluma batendo suas grandes orelhas como se fossem asas, e imediatamente o paquiderme voador se torna a maior atração do Circo dos Irmãos Médici, que lota espetáculo após espetáculo atraindo a atenção do magnata do entretenimento V. A. Vandevere (Michael Keaton), que surge às portas da tenda de Max com uma proposta irrecusável:
Incorporar os números de Médici ao seu colossal circo/parque temático, Vandevere Dreamland, garantindo posições para todos os membros da trupe de Max em sua monstruosamente bem sucedida atração em Coney Island, onde ele deseja dar a Dumbo o co-estrelato no número da bela trapezista Colette Marchand (Eva Green), mas nem tudo nesse negócio da China é exatamente o que parece...
É engraçado como Dumbo tem tantos elementos que nos levam de volta aos melhores momentos de Tim Burton como cineasta, tal qual as presenças de Michael Keaton e Danny DeVito, seus colaboradores frequentes de longas como Batman: O Retorno, Os Fantasmas se Divertem e Peixe Grande (ainda o melhor filme de Burton, na minha opinião), os gloriosos desenhos de produção de Rick Heinrich, os figurinos de Colleen Atwood e a trilha de Danny Elfman (que provavelmente pensava que nós havíamos esquecido a partitura de Edward Mãos de Tesoura...), e ainda assim, provavelmente vai figurar entre os longas menos memoráveis da carreira do diretor, porque Dumbo é todo boas idias que não se confirmam.
Tudo no longa parece estar sempre um passo aquém do que deveria para tornar o filme aquilo que ele aspirava ser, e o roteiro de Ehren Kruger possivelmente é o grande culpado por isso.
O escritor que tem três Transformers e a versão norte-americana de Ghost in the Shell no currículo encheu o filme de protagonistas humanos para esticar os sessenta e quatro minutos do longa animado, mas esqueceu de lhes desenvolver além de arquétipos interessantes, como o ex-soldado mutilado que não sabe se conectar com os filhos, a menina que deseja ser uma cientista ou a artista de circo que deseja ser mais do que um acessório, o que deixa todos os atores deslocados em cena, especialmente Ferrell e Keaton, que realmente não sabem o que fazer com seus personagens, desperdiçando totalmente um elenco talentoso (que inclui ainda Roshan Seth, de Indiana Jones e o Templo da Perdição e uma ponta absolutamente despropositada do ótimo Alan Arkin).
isso somado à uma narrativa mal-ajambrada, que nunca emociona, assombra ou diverte como poderia, tornam a experiência quase estéril, ou, trocando em miúdos:
Se um rematado chorão como eu não se desmancha em lágrimas vendo as trombas entrelaçadas de uma mãe e um bebê elefante quando eles estão sendo separados, é porque o filme simplesmente não funciona.
Assista se for um fã hardcore de Burton, outrossim, espere passar na TV a cabo.

"-Voe, Dumbo... Voe."

segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Resenha Filme: El Camino: Um Filme Breaking Bad


Eu não assisti Breaking Bad durante a exibição da série, que transcorreu entre os anos de 2008 e 2013, mas apenas em 2015.
Em um encontro fortuito com o amor da minha vida num ensolarado e frio sábado de tarde na rua João Alfredo em Porto Alegre, falando sobre seriados após me render tardiamente ao Netflix por conta de Demolidor, comentei que estava me preparando para ver Better Call Saul, e a morena cheirosa que era a minha interlocutora me disse que, antes de ver o spin-off sobre o advogado trambiqueiro, eu precisava ver Breaking Bad, e eu acolhi o conselho e, em cerca de um mês assisti a saga de Walter White e Jesse Pinkman no mundo do crime antes de ver um único capítulo das aventuras de Jimmy McGill e Mike Ehrmantraut.
Não preciso dizer que Breaking Bad se tornou uma de minhas séries favoritas em todos os tempos, que devorei temporadas inteiras em um dia, escolhi personagens a quem odiar (Skyler White, claro, Tuco Salamanca, Todd e toda a gangue de neonazistas...), e favoritos (Walter, é óbvio, Mike, Saul, Hank, que também merecia seu próprio programa...) por quem torcer, Jesse, porém, jamais foi um desses favoritos.
Eu jamais tive paciência com Jesse e suas constantes crises de consciência ou a maneira como ele, que era o criminoso original da dupla com Walter, parecia ser covarde demais para levar a ideia de um império adiante junto com Heisenberg, e era, na pior tradição da prostituta que se apaixona, tanto um traficante quanto um viciado, além de um delator... Tudo isso sempre me manteve algo apartado do personagem, e relativamente alheio à sofrência que eventualmente se tornou seu traço mais marcante...
Claro, minha impaciência com Jesse não significa que eu não tenha me compadecido do destino do personagem na temporada final da série e tampouco que eu não tenha ficado ansioso por El Camino assim que o longa foi oficialmente anunciado.
Na sexta à noite, moído de cansado, eu me sentei com algumas guloseimas na frente da TV à noite e assisti El Camino: Um Filme Breaking Bad.
O longa abre com um flashback, quando Jesse (Aaron Paul) e Mike (Jonathan Banks) conversavam sobre planos de aposentadoria à beira de um córrego, "Para onde você iria recomeçar se tivesse minha idade?", Jesse pergunta. "Alasca", Mike responde, quando um corte abrupto nos leva de volta para os momentos após Walter resgatar seu ex-protegido do cativeiro e ele escapar do complexo onde ficara aprisionado por meses no El Camino de Todd (Jesse Plemons).
A catarse da libertação, igual àquela que víramos em Felina, porém, dura pouco. Imediatamente Jesse precisa manobrar e se esconder na entrada de uma casa qualquer para se ocultar do comboio policial que se aproxima, atraído pelo caos provocado pelo último ato de desafio de Heisenberg.
Pelos próximos cento e vinte minutos, nós acompanhamos Jesse Pinkman em sua luta para realizar o sonho de chegar ao Alasca enquanto foge da polícia e de novos inimigos contando com a ajuda dos amigos que sobreviveram ao reinado de Walter White para fazê-lo, lutando para deixar Albuquerque para trás ao mesmo tempo em que é assombrado pelo trauma de seu período cativo.
El Camino: Um Filme Breaking Bad é ótimo.
Mas não se engane. Ele não é um filme para uma audiência mais ampla. O longa não leva ninguém pela mão e é, sim, feito para ser assistido logo após Felina (Ainda que, de alguma forma, seja bom que ele não tenha sido lançado seis meses após o fim da série, no que teria parecido um movimento meio barato dos envolvidos), e servir de epílogo ao seriado em geral, e a Jesse Pinkman em particular, talvez o personagem que mais sofreu as consequências dos próprios atos e vícios ao longo da série original, saindo da teia de manipulações de Walter e finalmente assumindo o volante do próprio destino e escolhendo seu próprio caminho (sacaram o título?).
O fato de Breaking Bad sempre ter sido um seriado extremamente cinematográfico faz com que a transição para o novo formato não seja traumática como poderia ser para conteúdo de outras séries. Vince Gilligan, o diretor e roteirista do longa, manja do riscado, e consegue contar sua história no formato de longa metragem com a mesma desenvoltura que vimos em Breaking Bad e Better Call Saul, dando-se ao luxo até de fazer pequenas extravagâncias visuais.
No que tange às atuações, o longa pertence a Aaron Paul, um ator que foi indicado ao Emmy cinco vezes durante Breaking Bad (com três vitórias, mais uma indicação ao Globo de Ouro) e que jamais encontrou outro papel que lhe oferecesse as mesmas oportunidades dramáticas que Jesse Pinkman. Ele está ótimo em El Camino, capturando todas as nuances do trauma que seu personagem sofreu durante seu período cativo, que revisitamos em diversos flashbacks, incluindo um bastante extenso com Todd (uma criação tão genial de Jesse Plemons que meu primeiro impulso segue sendo odiar o ator toda a vez que a cara bolachuda dele aparece em um filme), que é a mola propulsora da trama, além da carência de Jesse, que passou toda a duração do seriado procurando, sem sucesso, um modelo de comportamento, mas parece finalmente ter crescido além das roupas de adolescente, do bordão famoso e da sombra de seu ex-professor.
Uma das maneiras que El Camino escolhe para mostrar isso é através do paralelo entre Jesse e Walter. Enquanto Heisenberg terminou seu reinado de crime tão isolado que precisava ocultar a origem do dinheiro que deixara para a esposa e os filhos, forçado a pagar ou ameaçar estranhos para obter auxílio, Jesse imediatamente reencontra amigos que estão lá para a ajudá-lo não importa o risco, como Skinny (Charles Baker) e Badger (Matt Jones). Até Joe (Larry Hankin), o dono do ferro-velho parece disposto a ajudar Jesse apenas por simpatizar com ele de alguma forma. Enquanto o sofrimento e as consequências de ações mal pensadas levaram Walter de bom homem a criminoso, Jesse fez o caminho oposto, e El Camino é o trecho final de sua jornada, e que belo trecho.
Absolutamente obrigatório para fãs de Breaking Bad, um excelente pretexto para aqueles que ainda não viram a série começarem, El Camino está disponível no catálogo da Netflix desde sexta-feira.
Assista.

"-Alasca... Começar de novo. Começar do zero.
-É possível.
-Acertar as coisas.
-Não. Lamento, garoto. Isso é a única coisa que você jamais poderá fazer."

segunda-feira, 7 de outubro de 2019

Resenha Filme: Rocketman


Do ano passado pra cá as salas de cinema foram inundadas por longas que se galgavam na música de heróis do rock'n roll para narrar sua história, começando com o (talvez excessivamente) laureado Bohemian Rhapsody, cinebiografia de Freddie Mercury que levou quatro oscars pra casa na cerimônia de fevereiro, passando por Yesterday, cuja premissa perguntava como seria um mundo sem as canções dos Beatles e A Música da Minha Vida, que embalava a jornada de crescimento de seu protagonista com canções de Bruce Springsteen, antes dos dois últimos, porém, houve outra cinebiografia que eu acabei não indo assistir nos cinemas: Este Rocketman, contando a história de Elton John, que estreou em maio, e que eu não lembro ao certo por que não fui ver.
Sem nada para assistir em um domingo particularmente tristonho, após não ter conseguido dar um pulo na locadora no sábado, resolvi vasculhar o catálogo de aluguel digital do Google Play em busca de uma opção, e optei por fazer justiça a sir Elton por ter-lhe sonegado minha audiência na sala escura meses antes.
Rocketman abre com Elton John (Taron Egerton) chegando à uma sessão de terapia em grupo em uma clínica de desintoxicação usando em sua totalidade um de seus extravagantes trajes de palco, e assumindo imediatamente que é um alcoólatra viciado em cocaína, em sexo e um comprador compulsivo que também tem problemas com maconha, pílulas e controle de raiva.
Dali nós somos imediatamente levados pela mão até a infância de Reginald Dwight (primeiro Matthew Illesley, depois Kit Connor), um jovem prodígio do piano criado por uma avó amorosa (Gemma Jones, da franquia Bridget Jones), uma mãe promíscua (Bryce Dallas Howard, a mulher de Hollywood que mais intercala entre gostosa e gorducha) e um pai ausente (Steven Mackintosh) que ao longo dos anos vai descobrindo na música uma maneira de deixar de ser quem nasceu para ser e se tornar quem quer ser.
Vemos como ele inicia sua carreira musical tocando piano na banda de apoio de um grupo de soul norte-americano em turnê pela grã-bretanha, o desenvolvimento de seu nome artístico (parcialmente roubado de um colega de banda, parcialmente emprestado de John Lennon), e como ele finalmente dá o primeiro passo rumo ao sucesso quando, no final dos anos 1960, conhece Bernie Taupin (um ótimo Jamie Bell) com quem formaria uma longeva e prolífica parceria que renderia os maiores sucessos de sua carreira, e cujas letras o levariam a Los Angeles, onde na boate Troubadour, ele faria a apresentação que o colocaria no mapa do estrelato, além de fazê-lo cruzar o caminho de John Reid (o Rob Stark Richard Madden), que eventualmente se tornaria seu empresário e um abusivo parceiro que estaria ao seu lado quando ele de fato mergulhasse de cabeça em uma vida de excessos que se estenderia pelos anos vindouros.
É difícil não comparar Rocketman com Bohemian Rhapsody. Além de os dois filmes serem a respeito de músicos britânicos extremamente talentosos, extravagantes, homossexuais que criaram hits mais ou menos na mesma época e que se reinventaram para deixar sua existência mundana para trás e se tornarem ícones, os dois longas tem a mão do diretor Dexter Fletcher (que antes de dirigir Rocketman completou Bohemian Rhapsody após a demissão de Bryan Singer) e seguem algo como uma cartilha de filmes biográficos que, se de nenhuma forma estragam a diversão de quem assiste, certamente tornam a coisa toda um pouco previsível.
Nesse sentido, Rocketman leva uma vantagem que é a maneira onírica como o roteiro de Lee Hall integra as canções à narrativa, dando ao filme uma cara de musical das antigas, com os personagens de repente começando a cantar em meio às cenas. Um expediente que funciona melhor em alguns momentos do que em outros. A cena com a família disfuncional do pequeno Reggie Dwight cantando na casa onde o jovem cresceu não é das mais inspiradas, entretanto o momento em que Bernie Taupin se despede de Elton cantando Goodbye Yellow Brick Road é realmente tocante e toda a montagem que vai da tentativa de suicídio na piscina ao palco durante Rocketman é sensacional.
A despeito do envolvimento direto de Elton John (ou talvez por causa dele) Rocketman é bem menos pia do que outras cinebiografias. O longa é frequentemente mais desbocado e aberto no que tange aos vícios e predileções de seu protagonista (a cena de sexo entre Egerton e Madden, que nada tem de pornográfica, por exemplo, fez o longa ser banido dos cinemas de alguns países), o que oferece ao filme um nível de autenticidade maior do que o que estamos habituados a ver em outros retratos de biografados vivos, mas não o impede de cair em algumas armadilhas recorrentes do gênero. Há um excesso de exposição para as resoluções do longa, a necessidade de explicar à audiência o que estamos vendo (como a sugestão de que muito da extravagância de Elton John são uma manifestação da vontade de ser notado por seus pais ausentes, e seu abuso de substâncias uma forma de lidar com a ausência de amor verdadeiro em sua vida, o que, sim, é bastante plausível, mas é quase esfregado na cara da audiência).
E, a exemplo de Bohemian Rhapsody, muito da potência do longa está tanto em sua partitura de hits, quanto na presença de seu protagonista.
Taron Egerton crava os dentes na criação de um retrato vivo e emocional de Elton John, interpretando com garbo e sutileza uma pessoa de verdade e não o pavão de lantejoulas que víamos no palco. Ele exprime com galhardia uma série de pensamentos e sentimentos de maneira muito mais comedida do que o script do longa faz, além de cantar as próprias canções sem jamais precisar imitar o biografado.
Grande parte do que funciona em Rocketman é graças aos esforços de Egerton e sua dedicação ao papel, além de sua química com Jamie Bell e Richard Madden, esse tripé de atores mantém a cabeça do longa fora d'água em seus momentos menos inspirados, e o eleva mais alto em suas melhores sequências.
Rocketman ainda valeria uma espiada nem que fosse pela playlist cheia de clássicos de Elton John que são impossíveis de não cantarolar junto (pra mim é Tiny Dancer, que sempre me faz lembrar de uma pequena morena que eu nunca vi dançar), mas há mais na cinebiografia do que apenas isso. Uma bela direção, produção caprichada, alguns bons números musicais, e atuações acima da média de um elenco que ainda inclui Charlie Rowe, Tate Donovan e Stephen Graham que garantem que Rocketman esteja do lado certo das cinebiografias em geral, nas cabeças das cinebiografias musicais em particular.
Definitivamente vale os R$9,90 da locação digital.

"-Eu tenho o álbum número um nos EUA, de novo, estou prestes a embarcar na turnê mais rentável da história do rock, sou pessoalmente responsável por 5% de todas as vendas de discos do planeta inteiro e tenho o maior adereço de cabeça conhecido pelo Homem, então, sim. Eu acho que estou bem!"

quinta-feira, 3 de outubro de 2019

Resenha Cinema: Coringa


Quando fiquei sabendo que um filme solo do Coringa estava em desenvolvimento, meu primeiro pensamento foi que essa era uma ideia imbecil. Estava na mesma esfera de bobagens caça-niqueis como Venom, Morbius, ou um filme do Sexteto Sinistro, e me parecia ainda pior pois ao contrário da Sony, que detém apenas os direitos do Homem-Aranha para tentar criar um universo de filmes de gibis, a Warner e a DC Comics estão sob o mesmo guarda-chuva corporativo da AT&T de modo que o estúdio tem total liberdade para fazer todos os filmes de super-heróis que quiser sem precisar apelar a tal expediente. Entretanto, quase imediatamente me ocorreu que as melhores histórias da DC são as de seu selo Túnel do Tempo (Elseworlds, originalmente), e eu pensei que, se havia um vilão que merecia seu próprio filme, esse vilão era o príncipe palhaço do crime, um personagem que historicamente não tem uma origem oficial e que segue aberto a interpretações após quase oitenta anos desde sua primeira aparição.
Quando Joaquin Phoenix foi confirmado no papel principal as coisas deram um tremendo passo na direção certa, e o primeiro trailer do filme, em abril, tornou Coringa o projeto mais promissor da DC em muito tempo.
Ontem eu peguei uma sessão de pré-estréia em um horário bem razoável no cinema mais perto de casa e conferi o longa de Todd Phillips.
No filme conhecemos Arthur Fleck (Phoenix, excepcional), um sujeito frágil, solitário e triste que sofre de uma condição neurológica que o faz reagir ao estresse com gargalhadas incontroláveis. Ele vive com sua mãe (Frances Conroy) em um apartamento modesto em um prédio caindo aos pedaços na parte ruim de Gotham City, tem um emprego miserável como palhaço de aluguel e sonha em fazer uma carreira como comediante de stand-up quase tanto quanto sonha com uma figura paterna em sua vida.
Arthur se consulta periodicamente com uma psiquiatra que não lhe dá ouvidos, toma sete medicamentos diferentes que não aplacam seu sofrimento e só não é totalmente invisível porque parece atrair valentões que o veem como um alvo fácil onde exercitar sua covardia ou descontar suas frustrações.
Após anos sendo enxovalhado tanto pelas pessoas a seu redor quanto pelo sistema no qual está inserido, Arthur finalmente reage a uma agressão, e algo estala dentro dele, dando início a um processo que transformará esse homem alquebrado em algo novo e terrível. Algo tão grande que vai muito além de Arthur e se espalha pela cidade decadente onde ele vive como um rastilho de pólvora que dará ao mundo um de seus mais fascinantes monstros.
É fácil entender a dificuldade que a crítica especializada tem tido em categorizar Coringa. Dos oito minutos de ovação e do Leão de Ouro no Festival de Veneza aos cinemas que se recusam a exibir o longa nos EUA, Coringa é um filme difícil de digerir para a nossa sociedade contemporânea.
Os liberais irão se contrair frente à "masculinidade tóxica" de um homem branco abraçando com entusiasmo a brutalidade e a violência. Os conservadores irão apertar os esfíncteres frente à mensagem revolucionária de caça aos privilegiados que o protagonista dispara conforme se aprofunda em sua jornada rumo ao papel de ícone do crime e do terror. Ninguém fica confortável ao assistir Coringa e ninguém deveria.
Não é a ideia.
O longa co-escrito por Scott Silver e Todd Phillips é menos entretenimento baseado em quadrinhos e mais um estudo de personagem. Uma análise do que seria necessário para transformar uma pessoa comum em um monstro. Não é uma jornada fácil de acompanhar. Especialmente quando Phillips transforma Gotham City em uma Nova York dos anos 1970 que grita Táxi Driver, Desejo de Matar e Serpico com uma ambientação decadente e opressiva que serve de casulo para a metamorfose de Arthur.
O ato derradeiro do filme, quando Arthur Fleck realmente abraça a persona homicida do Coringa em toda a sua glória é particularmente medonho e brutal de uma maneira catártica de todas as formas erradas almejadas pela natureza humana.
Sim. É algo pretensioso.
Mas não há nada de particularmente ofensivo em um pouco de pretensão artística. RoboCop seria o filme que é se Paul Verhoeven não visse o longa sobre o policial ciborgue como uma analogia a Jesus Cristo?
Todd Phillips acerta muito mais do que erra na condução da história, e a forma como a audiência no cinema frequentemente ria em cenas que não tinham intenção alguma de ser engraçadas é testemunho do acerto do diretor de Se Beber Não Case e Um Parto de Viagem em narrar a história de Arthur Fleck de uma maneira propositadamente desconfortável.
Outro acerto capital do filme é a atuação de Phoenix.
O ator, esquálido para o papel, cria uma série de tiques e contorções que inicialmente fazem lembrar de seu papel em O Mestre, mas logo ganham uma identidade própria. A maneira como ele desata a rir quase em desespero toda a vez que é confrontado no começo do filme tornam seu Coringa, que ao invés da tradicional gargalhada exercita seu êxtase com passos de dança quase hipnóticos, diferente de todos os demais, mas o ator vai além da mera construção física. Há profundidade emocional em seu Coringa. Ele é menos um agente do caos do que alguém procurando um lugar no mundo e disposto a abraçar qualquer forma de notoriedade que lhe garanta atenção. Ele é uma bomba relógio trágica trazida à vida com galhardia por um ator no auge da forma.
O restante do elenco, que conta com Robert De Niro como o apresentador de talk show Murray Franklin, a bela Zazie Beetz como Sophie, a vizinha por quem Arthur nutre uma paixonite, mais Brett Cullen como o aspirante a prefeito Thomas Wayne além de Glenn Fleshler, Leigh Gill, Shea Whigham e Bill Camp seguram a peteca, mas têm pouco o que fazer além de orbitar Phoenix, que alicerça o longa com tremenda segurança e competência.
Somando-se a óbvia paixão de Phillips pelo projeto ao comprometimento de Phoenix e o valor de produção esperado para uma produção de um grande estúdio, Coringa é um excelente filme que jamais se envergonha de suas origens (a cena durante o talk show alude descaradamente a O Cavaleiro das Trevas de Frank Miller, e Phillips não se furta de nos mostrar novamente uma das cenas mais revisitadas da história das adaptações de quadrinhos), mas as referencia dentro do próprio contexto, em seu próprio tempo e em sua própria abordagem.
É bem possível que fãs de quadrinhos em geral, do Batman em particular gostem mais de Coringa do que a audiência mais ampla, mas qualquer amante de cinema que não esteja demasiado ávido por fazer uma avaliação política do filme será capaz de apreciá-lo pelo que ele realmente é:
Um filmaço.

"Eu costumava achar que minha vida era uma tragédia, mas agora eu vejo que é uma puta comédia."

quarta-feira, 2 de outubro de 2019

Rapidinhas do Capita


Há cerca de dois dias circula na internet o boato de que a Marvel estaria considerando seriamente a possibilidade de trazer um novo personagem ao MCU no terceiro filme solo do Homem-Aranha, que segue sem título, mas ganhou uma data de lançamento para 16 de julho de 2021.
A sequência de Homem-Aranha: Longe de Casa daria sequência ao cliffhanger do último longa, quando a identidade secreta de Peter Parker é exposta por Mysterio (Jake Gyllenhaal) e J. Jonah Jameson, e aparentemente a ideia da Marvel é ter Peter recebendo ajuda legal de uma de suas brilhantes mentes jurídicas.
Com a série da Mulher-Hulk nos planos da Marvel para o Disney +, Jennifer Walters, alter-ego da sensacional prima de Bruce Banner, é uma opção para a posição de advogada de Peter Parker, mas Jen seria um plano B.
Aparentemente a Marvel deseja que o representante de Peter nos tribunais seja o Demolidor.

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Mais do que retirar o Homem sem Medo de sua aposentadoria após os cancelamentos das séries da Marvel na Netflix, Kevin Feige gostaria que o intérprete de Matt Murdock no longa fosse, novamente, Charlie Cox.
O ator que era um dos alicerces da série e capturou com insuspeita maestria todas as nuances do pio herói da Cozinha do Inferno seria a primeira escolha do cabeça da Marvel para interpretar Murdock que, em princípio, apareceria no longa do cabeça de teia apenas em sua identidade civil, como um easter-egg para os fãs, mas pavimentaria o caminho para a adição do Demolidor ao MCU para estrelar uma série própria no Disney + e se juntar ao grupo de personagens passíveis de aparecer em longas da Marvel nos anos vindouros, respeitando o período de dois anos durante os quais a Marvel não poderia usar os personagens d'Os Defensores da Netflix segundo cláusula contratual.

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Outra possibilidade com a adição do Demo ao MCU, seria trazer de volta à Marvel o Rei do Crime, e, novamente, os rumores seriam de que a Disney quer Vincent D'Onofrio, outro dos pilares da série do Demolidor na Netflix, reprisando o papel de Wilson Fisk que poderia assumir o posto de arqui-inimigo do Homem-Aranha no Universo Cinemático Marvel deixando Norman Osborn na geladeira por mais algum tempo.
Apesar de parecer estranho que o MCU fosse reaproveitar não apenas personagens já vistos em outras plataformas, mas também seus intérpretes, a resposta imensamente positiva dos fãs para o retorno de J. K. Simmons ao papel de J. Jonah Jameson na cena pós-créditos de Homem-Aranha: Longe de Casa pode ter sido o termômetro de que a Disney precisava para ver que não há necessidade de se reinventar a roda quando se trata de escalar os atores certos para cada personagem.
Demolidor da Netflix segue sendo uma das melhores adaptações de gibis que eu já vi, e certamente está entre as minhas três preferidas em qualquer mídia e eu digo isso sem nenhum medo de estar exagerando. Ver Charlie Cox, D'Onofrio e, quem sabe, Deborah Ann Woll e Elden Henson se unirem oficialmente às fileiras do MCU seria um tremendo presente para um órfão de Demolidor que ainda não superou a perda de sua série preferida.
A notícia originalmente foi publicada pelo We Got This Covered, e teria vindo de uma fonte com grande histórico de acertos.
Vamos torcer para que esse seja mais um deles.

terça-feira, 1 de outubro de 2019

O Trailer de Aves de Rapina: Arlequina e sua Fantabulosa Emancipação

E a Warner revelou há alguns minutos o primeiro trailer de Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa (versão menos inspirada de Aves de Rapina e a Fantabulosa Emancipação de uma Arlequina, tradução literal do título original em inglês), longa que seria a respeito da sidekick do Coringa mas eventualmente se misturou ao Sereias de Gotham e acabou virando um longa a respeito das Aves de Rapina que já tiveram até seriado no CW na época de Smallville.
A prévia mostra Harley tentando se estabelecer após o fim de seu relacionamento com o Coringa, e formando um grupo de vigilantes para livrar uma jovem do vilão Máscara Negra.
Confira:



Dirigido por Cathy Yen e escrito por Christina Hodson o longa tem, além de Margot Robbie reprisando o papel de Arlequina, Mary Elizabeth Winstead como a Caçadora, Jurnee Smollett-Bell como Canário Negro, Rosie Perez como Reneé Montoya, Chris Messina como Zsasz e Ewan McGregor como Máscara Negra.
O mais ou menos uma sequência de Esquadrão Suicida tem estréia marcada para 7 de fevereiro do ano que vem.

Resenha Game: FIFA 20


Neste ano de 2019, pela primeira vez em nem sei quanto tempo, eu realmente pensei se compraria a edição anual de FIFA, ou não.
Porque embora eu seja um apaixonado por futebol e um fã da série FIFA, a verdade é que, de uns meses pra cá, flertei pesadamente com a ideia de, nesse ano, variar o script e comprar Pro Evolution Soccer, um game de futebol que sigo considerando tecnicamente inferior, mas que conta com os campeonatos brasileiros das séries A e B, oferece divertidas opções de customização e patches para consertar todos aqueles times terrivelmente genéricos do catálogo de campeonatos dos quais a Konami não conseguiu obter a licença, tornando, por exemplo a Premier League, uma coisa deprimente de se olhar.
Minha principal restrição para com FIFA era que, em anos recentes a EA viu seu FIFA Ultimate Team se transformar em uma mina de ouro para a qual os aficionados por modos online sempre voltavam pra deixar mais dinheiro, resolveu investir alguma coisa em um modo história, e mandou os jogadores solitários às favas.
Eu não era capaz de lembrar a última vez em que o Modo Carreira havia recebido alguma atenção da desenvolvedora, e, sentindo-me negligenciado enquanto consumidor, estava considerando seriamente experimentar outros ares (e economizar oitenta reais, já que FIFA custa R$ 279,90 contra os R$ 199,90 de PES).
Mas eis que, por coincidência, a EA resolveu se coçar, e dar uma recauchutada em seu modo single player mais raiz, e, diante desse aceno, resolvi que, 2019 ainda não seria o ano em que eu ia virar a casaca.
Na sexta-feira saí da academia e passei numa loja do Centro para apanhar a minha versão de PS4 de FIFA 20, e após um final de semana de intensa jogatina, vi que não foi apenas o Modo Careira que ganhou um tapa.
Para mim, que até a semana passada ainda estava jogando FIFA 19, logo de cara nota-se que FIFA 20 tem leves alterações visuais que eu francamente não sei se foram necessariamente para melhor. O nível de detalhamento dos modelos dos jogadores parece ter sido levemente esmaecido, talvez numa tentativa de reduzir a diferença entre o visual dos jogadores que têm suas feições capturadas digitalmente para a criação de suas contrapartes eletrônicas e os jogadores com feições mais genéricas (uma discrepância que nunca foi excessiva em FIFA mas que é quase risível no PES). Essa é uma alteração visual muito sutil, mas é na hora em que a bola rola que nós começamos a ver que a EA fez mais do que apenas atualizar o jogo do ano passado na nova versão.
A mais óbvia diferença é na velocidade do jogo.
FIFA historicamente alterna entre games mais cadenciados e mais ligeirinhos, mas a versão atual trouxe um divertido equilíbrio à essa equação ao criar uma variação de velocidade entre os jogadores que simplesmente era ignorada em games anteriores. Quem nunca ficou frustrado ao controlar um Danny Ings da vida correndo em desabalada carreira pela beirada do campo e de repente perceber que um Harry Maguire da vida estava emparelhando contigo pra fazer o desarme?
No ano passado, parte dessa discrepância havia sido polida ao termos jogadores fisicamente mais fortes levando vantagem sobre os magrelos nos lances de divididas de bola, mas a revisão da versão atual parece melhor sacada, criando a sensação de que os jogadores velozes são tão rápidos quanto deveriam e garantindo que, dependendo do teu estilo de jogo, ter um jogador mais veloz, ou mais forte em determinada posição, pode fazer a diferença (que o diga meu ataque do Newcastle United, composto por Callum Wilson e Andy Carrol, fazendo chover). Essa alteração entre força e velocidade dos jogadores torna o jogo mais desafiador, pois se chocar com um zagueiro é quase certeza de ser desarmado, e errar o bote no atacante é garantia de cometer a falta.
Outra diferença é que a bola esse ano parece mais leve. Por vezes um balão pra afastar o perigo da área faz a bola voar de uma maneira que ela parece capaz de entrar em órbita para cair dois passos à frente da área. Não chega a afetar de maneira excessiva os chutes a gol, mas torna lançamentos longos um pouco mais desafiadores até pegar a manha da nova física.
Fora isso, não há grandes diferenças de gameplay na hora de jogar FIFA, à exceção de alguns detalhes cosméticos como animações mais variadas na hora de pegar uma bola de primeira ou chutar de chapa pra colocar um efeito na redonda.
Falando em efeito, as jogadas de bola parada foram total e absolutamente revistas na nova versão, com batidas de pênalti e especialmente de falta se tornando quase um mini-game onde nós escolhemos onde mirar o chute, e, enquanto corremos para a bola, escolhemos que tipo de efeito queremos colocar na batida. É um sistema bastante interessante comparado com a pobreza das cobranças em anos anteriores, mas demanda tempo para dominar. Eu tenho acertado o travessão com bastante frequência, mas ainda não guardei a minha primeira batida na gaveta.
Em relação aos modos de jogo, após três anos o divertido e piegas Jornada foi aposentado pela EA após Alex e Kim Hunter e Danny Williams trilharem seus caminhos no mundo do esporte bretão.
Nesse ano a grande novidade é o Volta Football, que mistura um modo de história cheio de todos os clichês de filmes de superação esportivo com uma herança espiritual do finado e saudoso (para alguns) FIFA Street.
Podendo ser jogado em versoes 3 contra 3, 4 contra 4, 5 contra 5 e Futsal em arenas elaboradas que vão de favelas do Rio de Janeiro ao topo de arranha-céus em Tóquio o Volta Football deve ser divertidíssimo para jogar entre amigos, fazendo malabarismos e dribles revoltantes, tabelando com as paredes e comemorando gols com celebrações excessivas, enquanto modo história, é bastante singelo, menos envolvente do que a coleção de clichês do Jornada, mas distrai, além de ter a vantagem de ser bem mais curto e oferecer opções de personalização particularmente engraçadas que vão dos tênis aos cabelos dos jogadores.
O modo Carreira, por sua vez, ainda que seja meu preferido desde sempre, segue sendo o patinho feio da coisa toda, mas, conforme eu disse ali em cima, finalmente foi recauchutado após anos sendo solenemente ignorado pela EA.
A apresentação das ligas segue sendo um dos maiores trunfos do modo, dos patrocinadores ao HUB televisivo, tudo evoca à perfeição os grandes torneios verdadeiros, Premier League, Liga Santander, UEFA Champions League e UEFA Europa League, todos devidamente apresentados à imagem e semelhança do que vemos ao sentar para ver um jogo na ESPN. As narrações e comentários são ótimos (a Premier League leva vantagem no quesito já que a melhor dupla de comentaristas do jogo é inglesa) e o visual dos jogos tem uma autenticidade que não se vê, por exemplo, no PES. Há a possibilidade de participar de torneios de verão, vender e comprar jogadores, cumprir objetivos secundários propostos pela diretoria e realizar treinos para melhorar as habilidades dos jogadores e torná-los mais eficientes para o time ou mais valiosos para vendê-los durante a próxima janela de transferências, tudo igual que nem foi em anos anteriores.
Nesse anos há a possibilidade de criar seu próprio avatar para ficar à beira do gramado durante os jogos e negociar com atletas e empresários.
Essa era uma opção que eu queria desde que surgiram aqueles modelos pré-estabelecidos esquisitos para interagir com jogadores e empresários dois anos atrás. Eu ficava fulo por não poder fazer um boneco para me representar na beira da cancha, e confesso que é divertido tentar criar um treinador barbudo e cabeludo para aparecer eventualmente comemorando os gols do time diante da casamata (a EA deveria ter disponibilizado óculos de grau entre as opções de customização, porém. E barbas maiores...). É possível fazer um treinador ou treinadora e escolher sua altura, cor de cabelo e roupas além de criar seu rosto da mesma maneira como se faz com jogadores desde sempre...
Outra novidade do Modo Carreira é o foco na moral do time e dos atletas. Conforme navegamos pelo gerenciamento do time é possível ver smiles ao lado do nome dos jogadores que vão dos vermelhos, que estão terrivelmente descontentes, até os verdes, que estão felicíssimos. A moral de cada jogador depende tanto de sua utilização na equipe e de sua performance em campo quanto da maneira como tu escolhe interagir com o atleta, seja diretamente, quando ele pede para começar a próxima partida porque acha que está em um bom momento, quanto indiretamente quando tu responde perguntas a respeito dele durante as coletivas de imprensa.
Eu realmente gosto das coletivas, mas me ressinto de elas se resumirem à escolha de uma entre três respostas possíveis a cada questão e nem sequer serem dubladas. Ao invés de o treinador ter uma voz e falar, nós apenas o vemos mexendo a cabeça e os lábios enquanto a legenda surge embaixo da tela. Com poucas opções de diálogo tanto nas entrevistas quanto nas negociações, a EA poderia ter criado meia dúzia de opções de vozes masculinas e femininas para que o jogador escolhesse a sua no começo do jogo, mas enfim, algum avanço é melhor do que nenhum...
Claro, a galinha dos ovos de ouro da EA, o FUT está de volta.
Eu francamente desprezo esse modo de jogo, mas há um grande alarde sobre a possibilidade de escolher jogadores icônicos de uma leva ainda maior para o seu time, objetivos por temporada e mais opções de customização.
Os fãs da série continuarão ligando o PS4 apenas para jogar o FUT e enchendo os cofres da EA de dinheiro, enquanto aqueles que não foram fisgados pelas ligas online dificilmente vão migrar à essa altura.
FIFA 20 segue sendo um game de futebol lindo, que busca criar a experiência mais próxima de um autêntico simulador de futebol, deixando a parte mais lúdica do esporte para o PES. O game segue sendo extremamente divertido e viciante como sempre foi para os fãs, e a adição do Volta Football adiciona um pouco de variedade aos modos de jogo com partidas rápidas, comemorações elaboradas e disputas de habilidades além de jogar com a notalgia dos órfãos do FIFA Street.
Dar alguma atenção ao Modo Carreira foi uma boa sacada, mas a EA precisa fazer mais, muito mais se quiser continuar trazendo os jogadores solitários de volta no ano que vem (meu irmão, FIFeiro há dezessete anos, migrou pro PES nesse ano...), escolher FIFA por padrão comportamental ainda é uma ocorrência comum, eu suponho, mas é melhor a EA deve parar de se sentar nos louros de ser o melhor simulador de futebol do mercado e oferecer mais a todos os segmentos de clientes no futuro.

"Vamos mostrar ao mundo quem nós somos..."