Pesquisar este blog

quarta-feira, 30 de outubro de 2019

Resenha Série: O Método Kominsky, Temporada 2


Quando eu comecei a assistir a primeira temporada de O Método Kominsky, em fins de novembro do ano passado, eu acho, foi por causa das duas lendas de Hollywood que encimavam o nome da série: Michael Douglas e Alan Arkin.
Os dois veteranos ganhadores do Oscar que flutuam entre estilos com brilhantismo são atores que simplesmente não se ignora, e, bom cinéfilo que sou, não seria eu a ignorá-los.
Matei a primeira temporada da série em uma tarde de domingo, os oito episódios de menos de meia hora permitem esse tipo de maratona especialmente para tipos que não fazem questão de sair de casa num domingo à tarde. E, embora tenha gostado muito do seriado (na verdade não é apenas minha atual comédia favorita da Netflix, é minha comédia favorita da TV em geral), passei o dia todo tentando me lembrar de onde conhecia o nome do produtor executivo que surgira na tela...
Levei um tempo para ligar o nome de Chuck Lorre a suas outras criações, especialmente as mais famosas: Two and a Half Man e The Big Bang Thory, e confesso que, sem os nomes de Douglas e Arkin, provavelmente não teria assistido o programa já que não sou, nem de longe, um fã dos outros seriados mencionados.
Jamais vi graça em Two and a Half Man, e não foi por falta de tentativa. Assisti uma boa dose de episódios da série sem jamais ser cativado por ela. E The Big Bang Theory, ainda mais.
Por conta da temática nerd servir de isca para mim, provavelmente assisti mais The Big Bang Theory do que TAHM, e, ainda que tenha achado que a série melhorou 300% com a inserção das gurias, Bernadette e Amy, no decorrer do programa, não foi, nem de longe, o suficiente pra me manter interessado o bastante pra acompanhar regularmente.
Parte do que me fez demorar tanto para identificar Lorre como o autor de O Método Kominsky foi o fato de que o humor da série era muito mais sutil do que se esperaria do sujeito que fez Dharma e Greg ou Mom. Temperado com uma mistura de candura, melancolia e acidez, a série sobre Sandy Kominsky, o ator que já tinha sido um bambambã de seu ofício, mas agora é professor de atuação em um pequeno estúdio que leva seu nome em Los Angeles e seu agente e amigo Norman Newlander, recém enviuvado após perder a esposa para o câncer é repleta de um humor muito menos histriônico do que as comédias televisivas com risadas gravadas às quais eu estava habituado a ligar o nome do produtor.
Na última sexta-feira a segunda temporada de O Método Kominsky chegou à Netflix e entre sábado e domingo eu acabei com a série me segurando para não ver tudo no mesmo dia.
A segunda temporada não começa exatamente de onde a anterior havia acabado.
Alguns meses se passaram e Sandy e Norm estão indo a um funeral. "É meu terceiro esse mês", reclama Sandy, ao que Norm retorque "Na nossa idade isso é ter uma vida social".
O humor desse segundo ano é menos contido do que fora no primeiro. Há mais piadas que são claramente piadas, a maioria delas de Arkin, que entrega o material com uma rabugice inerente que simplesmente tende a deixar o texto mais engraçado, embora a insistência com essa tática eventualmente chegue perto de esgotá-la.
Michael Douglas tem a sorte de estar envolvido em mais situações cômicas nas quais ele pode apenas brilhar, por exemplo quando descobre que sua filha Mindy (Sarah Baker) está morando com seu novo namorado, um sujeito mais velho, na verdade bem mais velho, e, temendo pelo pior, resolve conhecer o sujeito, Martin (Paul Reiser), apenas para descobrir que o seu genro em potencial tem quase a mesma idade que ele e, pior, que os dois têm muito em comum e podem ser bons amigos.
Outra ótima relação de Sandy é seu namoro/não namoro iô-iô com a aluna eventual, Lisa (a ótima e gatíssima Nancy Travis), cuja natureza do relacionamento não está exatamente clara para o ator veterano que já foi "uma ereção ambulante com um ótimo corte de cabelo", mas hoje em dia parece mais disposto a experimentar outras formas de conexão humana que vão além do sexo, especialmente quando uma visita ao médico o leva à uma assustadora descoberta.
Enquanto isso, Arkin não está lá apenas para ser alívio cômico. No funeral do primeiro episódio ele reencontra uma paixão da juventude, Madelyn (Jane Seymour, linda), que também enviuvou recentemente, e que parece mais do que disposta a se reconectar com seu antigo amor o quanto antes, obrigando Norman a lidar com sua culpa em reencontrar o amor tão perto da morte de Eileen (Susan Sullivan) e o retorno de sua filha Phoebe (Lisa Edelstein) recém saída da reabilitação ao mesmo tempo.
Os melhores momento desse segundo ano da série são exatamente quando ela permite que o humor contemplativo de sua premissa seja levado adiante pelo talento de seus dois protagonistas, de modo que é uma aposta arriscada inserir diversos novos personagens e, mais que isso, usar esses personagens para inserir novas linhas narrativas que, em sua maioria, separam-se umas das outras.
Se por um lado essa decisão expande o mundo da série, por outro, isso nos faz desejar que ela tivesse mais episódios, ou episódios mais longos (algo inédito em se tratando de conteúdo da Netflix, eu sei...).
A primeira temporada era praticamente toda dedicada à relação entre Sandy e Norman, e eu supunha que fôssemos ter mais disso no novo ano. E não me entenda errado, os dois ainda estão lá, e quando estão juntos é ótimo, mas precisando dividir tempo com Martin, Madelyn, Sarah, Phoebe, Lisa e os alunos de Sandy (aliás, este núcleo sim, consegue se valer das piadas mais óbvias para arrancar risadas da audiência) em apenas oito episódios de meia hora, eu gostaria de mais Sandy e Norman.
Esses pequenos problemas, porém, não roubam o brilho de O Método Kominsky.
A série ainda é a melhor comédia na TV atual, e quando dá espaço para seus charmosos protagonistas veteranos explorarem com bom humor temas melancólicos como as indignidades da idade e a presença constante do... Do... Como chama? O sujeito com a ferramenta de colheita? Ah, sim, do ceifador implacável! A série ainda é um prazer de assistir, e uma ótima maratona de final de semana.
Apesar de, eventualmente ter tido a impressão de que o roteiro estava tentando aumentar sua audiência alvo através de piadas mais óbvias O Método Kominsky deixa claro que a exemplo de seus brilhantes protagonistas, ainda tem muita lenha pra queimar em novas temporadas.
As duas temporadas estão disponíveis na Netflix, e vale horrores a pena.
Assista.

"-Eu acho que meu próximo passo é a jornada interior. O caminho espiritual.
-Você vai pra algum Ashram na Índia?
-Talvez eu vá. Veremos. Como diz o ditado: Quando o aluno está pronto, o professor se apresenta.
-E você acha que está pronto?
-Honestamente? Sim.
-Legal.
-Não é?
-Sim... Eu, pessoalmente, sempre pensei que esse mundo é um sonho que Deus está tendo-
-Você não é o professor.
-... Ou talvez você não esteja pronto..."

Nenhum comentário:

Postar um comentário