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terça-feira, 15 de outubro de 2019
Resenha DVD: Dumbo
Remakes live action ou "live action" de animações clássicas... Talvez a onda mais irritante do cinema recente (a menos que tu seja Martin Scorsese, nesse caso a onda mais irritante seriam os filmes da Marvel), e, pior, uma onda extremamente lucrativa como podem atestar os bilionários O Rei Leão, Aladdin, A Bela e a Fera e, o longa que, até onde eu me lembro (mas posso estar errado) meio que começou essa onda revisionista quase dez anos atrás: Alice no País das Maravilhas, do mesmo Tim Burton que nesse ano transformou o longa animado Dumbo, de 1941 em uma nova versão de si mesmo para novas (e mais lucrativas) gerações...
O Dumbo de Burton abre nos mostrando o Circo dos Irmãos Médici chegando à uma cidadezinha da Flórida. O ano é 1919 e a Primeira Guerra Mundial terminou, o que está trazendo Holt Ferrier (Colin Farrell) de volta pra casa.
Após lutar na Europa, Holt retorna às suas famílias, tanto à família do circo, onde se apresentava como cavaleiro, quanto à sua família de sangue, reduzida a seus dois filhos Milly (Nico Parker) e Joe (Finley Hobbins) após a morte da mãe das crianças enquanto ele esteve no fronte.
Como desgraça pouca é bobagem, Holt retornou mutilado, após perder o braço esquerdo em combate, e descobre que seu chefe, Max Médici (Danny DeVito,), vendeu seus cavalos para manter as finanças em dia por mais algum tempo, e que a única posição disponível para o ex-caubói no momento é no trato dos elefantes.
Médici inclusive está orgulhoso por ter comprado Sra. Jumbo, uma elefanta asiática prenha que está prestes a dar à luz, o que deixará o circo de posse de um adorável filhote de elefante para atrair as crianças e famílias nas cidades por onde passarem no futuro próximo. Não tarda para que a Sra. Jumbo tenha seu filhote, um bebê elefante com expressivos olhos azuis e orelhas exageradamente grandes que imediatamente o tornam motivo de chacota por sua aparência incomum.
As únicas pessoas que partem para a proteção do mais novo membro da família circense são os filhos de Holt. A aspirante a cientista Milly e o aspirante a cavaleiro Joe fazem tudo em seu poder para proteger Sra. Jumbo e seu filhote, mas infelizmente não há nada que os pimpolhos possam fazer para evitar que um terrível incidente aconteça e a pobre mãe seja separada de Dumbo, como o filhote passa a ser chamado por causa de suas orelhas.
Tentando consolar Dumbo, eventualmente Milly e Joe descobrem que ele é capaz de voar quando aspira uma pluma batendo suas grandes orelhas como se fossem asas, e imediatamente o paquiderme voador se torna a maior atração do Circo dos Irmãos Médici, que lota espetáculo após espetáculo atraindo a atenção do magnata do entretenimento V. A. Vandevere (Michael Keaton), que surge às portas da tenda de Max com uma proposta irrecusável:
Incorporar os números de Médici ao seu colossal circo/parque temático, Vandevere Dreamland, garantindo posições para todos os membros da trupe de Max em sua monstruosamente bem sucedida atração em Coney Island, onde ele deseja dar a Dumbo o co-estrelato no número da bela trapezista Colette Marchand (Eva Green), mas nem tudo nesse negócio da China é exatamente o que parece...
É engraçado como Dumbo tem tantos elementos que nos levam de volta aos melhores momentos de Tim Burton como cineasta, tal qual as presenças de Michael Keaton e Danny DeVito, seus colaboradores frequentes de longas como Batman: O Retorno, Os Fantasmas se Divertem e Peixe Grande (ainda o melhor filme de Burton, na minha opinião), os gloriosos desenhos de produção de Rick Heinrich, os figurinos de Colleen Atwood e a trilha de Danny Elfman (que provavelmente pensava que nós havíamos esquecido a partitura de Edward Mãos de Tesoura...), e ainda assim, provavelmente vai figurar entre os longas menos memoráveis da carreira do diretor, porque Dumbo é todo boas idias que não se confirmam.
Tudo no longa parece estar sempre um passo aquém do que deveria para tornar o filme aquilo que ele aspirava ser, e o roteiro de Ehren Kruger possivelmente é o grande culpado por isso.
O escritor que tem três Transformers e a versão norte-americana de Ghost in the Shell no currículo encheu o filme de protagonistas humanos para esticar os sessenta e quatro minutos do longa animado, mas esqueceu de lhes desenvolver além de arquétipos interessantes, como o ex-soldado mutilado que não sabe se conectar com os filhos, a menina que deseja ser uma cientista ou a artista de circo que deseja ser mais do que um acessório, o que deixa todos os atores deslocados em cena, especialmente Ferrell e Keaton, que realmente não sabem o que fazer com seus personagens, desperdiçando totalmente um elenco talentoso (que inclui ainda Roshan Seth, de Indiana Jones e o Templo da Perdição e uma ponta absolutamente despropositada do ótimo Alan Arkin).
isso somado à uma narrativa mal-ajambrada, que nunca emociona, assombra ou diverte como poderia, tornam a experiência quase estéril, ou, trocando em miúdos:
Se um rematado chorão como eu não se desmancha em lágrimas vendo as trombas entrelaçadas de uma mãe e um bebê elefante quando eles estão sendo separados, é porque o filme simplesmente não funciona.
Assista se for um fã hardcore de Burton, outrossim, espere passar na TV a cabo.
"-Voe, Dumbo... Voe."
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