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sexta-feira, 2 de julho de 2010
Alarde.
Heitor acordou sentindo os olhos grudentos. Esfregou eles com força, e sentiu sua cabeça doer. Era dia claro, mas ele não fazia nem a mais remota ideia de que horas poderiam ser. Tentou lembrar se era sábado ou domingo. Mas não terminou o raciocínio, lembrou-se por que bebera tanto na noite anterior. Karine. Sua ex-namorada, que o abandonara na frente de casa, após ele apanhá-la no trabalho. A vadia o fizera andar até o trabalho dela, e então até a sua casa, para só então dispensá-lo. Aquela vaca sem coração. Por que não ligara, ou melhor ainda, por que não mandara um SMS? Seria melhor do que usá-lo como guarda-costas naquela boca brava em que morava. Imagine se ele fosse assaltado após um pé-na-bunda? Além do pé-na-bunda, doloroso por si só, ainda poderia ter sido assaltado e aviltado de suas posses. Poderia ter sido baleado, imagine.
Karina, a vaca de sangue frio.
Ele resolveu afogar as mágoas, afogar como jamais afogara antes. Foi para a primeira casa noturna que encontrou e bebeu, bebeu como se não houvesse amanhã, bebeu á ponto de seu fígado lhe enviar um memorando perguntando se estava tudo bem. Heitor bebeu. Dançou, também, ele que nunca dançava, pois Karina não deixava, dizia que ele dançava mal, que ficava ridículo, pois dane-se, Karine, Heitor dançava, dançava como um Fred Astaire com labirintite, mas dançava, e estava feliz.
A noite era um borrão, ele lembrava de ter beijado alguém, e lembrava de ter sentido nádegas em suas mãos. Sim, Karine, Heitor aproveitara a noite do pé-na-bunda como aproveitara poucas durante o relacionamento que partilharam, "ah,ah,ah,ah,ah,ah!", ele pensou em gargalhar como vilões de filme B.
Karine precisava ficar sabendo, precisava ficar sabendo que ele não estava morto, que apenas poucas horas após ela abandoná-lo de forma sub-reptícia e vil, ele já estava vivendo novamente, e bem!
Mexeu-se na cama, e notou que estava nu. Se perguntou se vomitara e por isso tirara as roupas. Foi quando sentiu o toque do látex em seus genitais, e percebeu que usava um preservativo.
Seria possível?
Heitor não apenas beijara e segurara nádegas entre suas mãos, mas também mantivera intercurso? Que palavra idiota, ele pensou. "Intercurso". Comera alguém, sim, assim soava melhor, mais despojado. Ora, intercurso.
Sim, ele comera alguém. Karina precisava saber daquilo. Ela ficaria arrasada ao perceber que Heitor tinha tantas possibilidades quanto haviam estrelas no céu, ele a escolhera apenas por gostar dela, e a vaca o apunhalara pelas costas como uma víbora!A imagem de uma serpente manuseando uma adaga não lhe convenceu, mas enfim, ele achou a figura de linguagem válida.
Ouviu um suspiro atrás de si, virou-se para ver sua amante.
Era um cavalheiro. Um senhor de aproximadamente 50 anos. Grisalho, de bigodes. Dormia profundamente, quase roncando.
Heitor sentiu o sangue gelar em suas veias. Quis gritar e sair correndo, mas achou melhor manter o silêncio.
Karine não precisava saber de nada. Ele não era de ficar alardeando suas conquistas, de qualquer forma.
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