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segunda-feira, 26 de julho de 2010
Resenha Cinema: À Prova de Morte
Foi no sábado à noite que, em uma dessas salas miudinhas de circuito alternativo de Porto Alegre consegui, enfim, assistir À Prova de Morte, filme que Quentin Tarantino escreveu e dirigiu para ser metade do projeto Grindhouse, que o cineasta idealizou com seu parceiro Robert Rodriguez, como forma de homenagear as antigas sessões de cinema populares nos EUA nos anos setenta, com filmes de baixo orçamento em que os gêneros dominantes eram os bloxploitation recheados de terror, monstros, sexo e artes marciais.
A ideia era bacana, dois filmes de dois cineastas que entendem do riscado homenageando um cinema de origem trash em uma sessão dupla.
Infelizmente, em 2007 o pessoal não entendeu a brincadeira. Talvez tenha sido a estética dos filmes, com efeitos visuais totalmente toscos, os cortes bruscos, a fotografia prejudicada, os "rolos perdidos", que faziam algumas sequências do filme desaparecerem sem lá muita explicação, tudo proposital, para evocar as autênticas grindhouses, mas o público deve ter ficado sem paciência e o projeto, após naufragar nas bilheterias dos EUA, foi desmembrado e ficou no limbo.
Planeta Terror, a metade que cabia a Robert Rodriguez, filme de zumbis totalmente podreira no melhor estilo "sangue, tripas e gosma" do extinto Cine Trash da Band ainda chegou ao Brasil, direto em DVD se não me falha a memória, e era um filme divertido, bem intencionado e que tinha um elenco maneiro se divertindo horrores.
A metade de Tarantino, porém, seguia inédita por essas bandas, mas, graças ao sucesso de Bastardos Inglórios, encontrou distribuidora e, após mais de dois anos frequentando apenas festivais, entrou no circuito. Restrito, é verdade, mas ainda assim, melhor que nada, afinal, estamos falando de um filme de Tarantino, e eles sempre merecem ser conferidos.
À Prova de Morte não é diferente.
É um filme divertido, descompromissado, que não deve ser levado muito a sério para ser apreciado, mas ainda é Tarantino.
Na trama, Dublê Mike (Kurt Russel, doido e canastra na medida.) é um dublê especializado em ação sobre quatro rodas, e também um psicopata misógino que usa seu Chevy Nova negro á prova de morte como arma para matar belas e incautas meninas e satisfazer seus anseios doentios.
O filme tem dois momentos bem diferentes, em que o Dublê Mike se vê às voltas com dois grupos distintos de mulheres (Não tão) indefesas.
No primeiro, onde o Dublê Mike controla as ações, a cara do filme é mais Tarantinesca, com todas as características que esperamos encontrar num filme do cineasta:
Lá estão os diálogos longos, ácidos e repletos de palavrões que ficam martelando na nossa memória por muito tempo depois de o filme acabar, a exploração das formas das (belas) mulheres com a câmera fetichista do diretor pegando closes dos traseiros rebolativos das moças ao som de uma trilha sonora ótima (outra marca Tarantinesca), ou dos pés das garotas de pernas compridas, além, claro, da violência extremamente explícita e cheia de estilo, tudo no lugar, conforme a cartilha de Quentin, e em prol da diversão.
No segundo momento do filme, a estética permanece algo Tarantinesca com os diálogos e as personagens femininas fortes, mas o estilo Grindhouse ganha mais força, alcançando seu ápice no excelente duelo entre dois carangos envenenados por estradas empoeiradas em plena luz do dia, onde Mike encontra oposição à sua altura, ele armado com seu Chevy Nova preto 68, suas adversárias em um Dodge Challenger branco 1970, numa bela referência ao duelo Bem x Mal.
Vale destacar que as atuações do elenco principal são muito boas, e que, mesmo que não fossem, só as duas sequências com muscle cars, e a lap dance de Vanessa Ferlitto (Arlene / Butterfly) ao som de Down in Mexico já valeriam o ingresso.
No fim das contas, a lição permanece: Não perca, jamais, a chance de ver um filme de Tarantino, sempre vale à pena.
"Ei, Pam? Lembra quando eu disse que esse carro era à prova de morte? Bem, eu não estava mentindo, esse carro é 100% à prova de morte. Mas, para se beneficiar disso, querida, você tem, MESMO, que estar no meu assento."
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