Pesquisar este blog

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Ateísmo?


É feio ser ateu. Quando você diz que é ateu, as pessoas te olham atravessado, como se tu estivesse cometendo algum gravíssimo (Rá!) pecado.
A falta de fé, em um mundo onde praticamente todas as pessoas têm algum tipo de fé, não é bem vista. O ateu é um pária. É um sujeito que não acredita em nada, e portanto, não merece crença. O ateu é visto como uma pessoa sem moral, como alguém que não é digno de confiança, que alguma aprontou, já que só isso explica a ideia de um louco, de renegar a existência de Deus. Ou Buda, ou Jeová, ou Tupã, ou Alá, ou Zeus, ou o Polvo Paul, ou seja lá o que for... Pelo menos é essa a impressão que as pessoas crentes parecem ter com relação a quem é descrente.
Outra coisa interessante são os mal-entendidos em que nós, ateus, nos envolvemos. Eles são fruto do fato de que vivemos em uma sociedade que justifica suas preferências de uma forma bastante simples:
Avacalhando as crenças alheias.
Tu já deve ter visto uma cena parecida, alguém diz:
-Eu sou da Igreja Universal.
-Universal? Sério? Ahahahahah.
-Tá rindo do quê? Tu é católico, pedófilo e nazista!
É, nós somos assim, é mais fácil atacar a preferência alheia do que justificar a própria com argumentos. E, no campo religioso, isso é ainda mais evidente, e abre o precedente pros mal-entendidos que eu mencionei antes.
Alguém fala sobre espiritismo. Eu falo, com todas as letras, que acho isso uma tremenda bobagem. O conceito de reencarnação, a história de hospitais espirituais, e reencontro com familares mortos, psicografia e o escambau, pra mim é uma rematada tolice, e se até na TV as pessoas têm o direito de despejar suas crenças religiosas na nossa cara, eu suponho que tenho direito a demonstrar minha descrença quando achar conveniente.
Faço meu pequeno discurso anti-espiritismo, e imediatamente, alguém se alia ao discurso, armando-se com meus argumentos, falando, também, contra o espiritismo, dizendo que grande pataquada ele é, e usando a imensa bobagem que é conversar com fantasmas para justificar, pasmem: O evangelismo.
Opa! Eu não sou evangélico. Comprar uma garrafa com água do rio Jordão pelo telefone, pra mim, é uma bobagem tão imensa quanto entrar na fila para receber uma hóstia, ou receber um passe, ou colar a testa no chão pra pedir perdão por pecados que se pensou em cometer.
Aí, eu digo pro evangélico ao lado que sentar na frente da TV todo dia pra ouvir Edir Macedo, Silas Malafaya ou R. R. Soares, pra mim, é um equívoco tão grande quanto comprar os livros do Kardec e do Xavier.
Aí perguntam qual é a minha religião, e voilá:
Surge a mais notável faceta dos ateus. Nós somos a única vertente que consegue a proeza de unir todos os credos. O evangélico e o espírita apontam suas metralhadoras giratórias contra mim, incapazes de conceber a ideia de que eu não tenho religião, e acho todas elas uma perda de tempo sem par.
O que eu posso dizer pra justificar a minha não-crença? O que eu posso tentar mostrar aos convertidos que eles ainda não tenham visto? Como posso explicar a eles que, a cada minuto de cada dia, eu sou colocado face á face com um mundo onde não há milagres, mas apenas cruéis coincidências?
Eu adoraria abraçar, sem precisar de provas, uma deidade de paz e amor que fiscaliza nossas ações, pune os ímpios e recompensa os bons, mas sério, alguém vê algum sinal, por ínfimo que seja, de mágica divina no nosso dia a dia? Alguém consegue olhar a humanidade, podre como é, e pensar que ela é trabalho de uma entidade superior?
Alguém consegue abrir o jornal, ou assistir ao noticiário, e pensar em qualquer tipo de justiça divina?
As pessoas acreditam em religiões porque precisam da crença. Precisamos acreditar que o perverso poderoso que está acima da lei dos homens será punido por uma esfera superior, precisamos acreditar que o sofrimento será recompensado, e precisamos desesperadamente crêr que voltaremos a ver aquela pessoa amada que se foi.
A religão existe para manter o ser humano sob controle, porque o ser humano não sabe se comportar. Eu entendo a necessidade da religião, acredito que a ignorância das pessoas clame por algum tipo de promessa mágica que garanta o civismo, cada vez mais raro.
Se bem que até para o dogma religioso as pessoas encontram brechas, como as crenças compostas. Você conhece, também, o tipo. A pessoa gosta de determinadas partes de uma religião e as segue, ao mesmo tempo frequenta o templo de outra, e ainda abre o jornal no horóscopo todo dia de manhã, montando um credo que não lhe obriga a mudar seu comportamento, mas criando um que se adapta ao seu modo de vida, não importa o quão torto ele seja.
Eu não. Eu não acho que precise de promessas de recompensa nem de ameaças de punição para agir direito, eu não sou tão alheio ás leis da natureza a ponto de precisar acreditar em uma nova e eterna vida depois da que estou vivendo agora. Eu valorizo meu hoje, e fui educado para saber viver em sociedade, não preciso de ninguém me fiscalizando pra eu me sentir forçado a fazer o que é certo. Tampouco quero continuar vivendo depois que meu corpo morrer. Estou extremamente confortável com a ideia de fim, e a única vida após a morte que espero é a lembrança de meus entes queridos, não preciso nem quero mais nada. Entretanto não quero ser confundido com os ateus de ocasião, aquelas pessoas que renegam todas as religiões, não por que não acreditam em nada, mas apenas por que têm medo de tudo aquilo com que lhe ameaçam, seja o umbral, o inferno ou a casa do Capita, e ignoram todas as religiões apenas para não sentir o peso da própria consciência
É tão ruim ser ateu quando se age da forma mais correta possível sem esperar recomensa ou temer punição? Eu suponho que, se há um Deus, Ele não se importa se eu rezo de joelhos, de olhos fechados ou com a testa no mármore, ele quer apenas que eu me comporte para com meus semelhantes, e isso eu faria mesmo sem as normativas de uma religião, afinal, é a forma certa de fazer as coisas quando você quer que a coletividade funcione.

14 comentários:

  1. Eu acredito em Deus, mas não sigo a nenhuma religião. Acho elas uma grande prisão. Algo para as pessoas controlarem uma as outras. Uma relação sado-masoquista, onde os mais velhos na fé comandam os mais débeis.
    Meu Deus não não precisa de meus sacrifícios, de sangue ou lágrimas; minhas orações servem para eu estar mais tolerante ao meu próximo e poder conviver com ele, apesar dele mesmo e de mim mesma. Leio a Bíblia, mas não é um dogma, são experiências de pessoas com sua fé, e mesmo assim, aquele era o Deus dos Exércitos, que pessoalmente eu não o vejo por esse prisma!!
    Não quero converter ninguém, meus atos podem falar mais que eu no campo ético.

    ResponderExcluir
  2. Fantástico o texto!!!

    Parabens!!

    ResponderExcluir
  3. é sim vc escreve muito bem , meus parabens ! Mais acho que vc igual a todo mundo que não acredita em Deus , so não quer acreditar por que não querem abrir mão das suas coisas ou do modo que vivem por acreditarem ou saberem o que é certo , acham que seguir a Deus é difil e mais facil do que não gostar é não acreditar !rs abraço fique com Deus

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. E você é igual a todo crente, que não suporta que alguém não seja alienado como você. Que segue a risca tudo o que homens mandaram em um livrinho de histórias pra boi dormir. Ateus não precisam de uma recompensa ou de medo para fazer o que é certo. O que é certo? Tudo o que não prejudica o próximo e tudo o que ajuda o próximo sem querer nada em troca, viver em uma sociedade saudável não precisa e ter bom coração não é exclusividade de quem segue uma religião, pois os religiosos na grande maioria são hipócritas, pois pregam tanto a imagem de bons moços e é só olhar o decorrer da história da humanidade pra perceber que as maiores crueldades e atrocidades foram feitas pelas mãos dos religiosos, que usam a religião pra fazer mal às pessoas e justificar que foi em nome de um ser "superior bonzinho e justo"... O ateísmo ele não é hipócrita, porque nós não temos em quem botar a culpa nas nossas ações, se fazemos algo bom é porque queremos não porque um tal de Deus mandou ou pq acha que receberá algo em troca, e se fazemos algo ruim assumimos que foi por culpa nossa mesmo não pq "deus mandou" e se pedimos desculpas é porque nós arrependemos de verdade e não porque temos medo de ir pro inferno, nós assumimos as consequências dos nossos atos e podemos viver sabendo que não há um salvador pra socorrer quando tudo ficar difícil. Então é muito mais difícil ser ateu e não ter certeza de nada, do que viver acreditando em uma salvação ou recompensa.

      Excluir
  4. Você está de parabéns.. belo texto.

    ResponderExcluir
  5. gostei muito e concordo com vc, bacana..
    tbm so ateu, e me olham estranho quando falo isto.

    ResponderExcluir
  6. Olhaa akiie esse texto eu nãao gosteei nadinhaa,pq isso demonstra que vc num acredita em DEUS,e é claro que DEUS quer q todos nós oramos,pq é pela oração que falamos com ele!E é com Muitoo orgulhoo que faloo isso JESUS CRISTO TE AMO ♥

    ResponderExcluir
  7. Muito bom o texto...
    Parabéns

    ResponderExcluir
  8. Ei, Rodrigo! td bem?
    Confesso que li o texto passando o olho rapidamente, mas tenho certeza que você já encontrou seu equilibrio e por isso... nem desejarei feliz 2015, apenas te parabenizo :D obrigada por me explicar tão simplesmente o que é fé em si mesmo
    Ass. Alasc

    ResponderExcluir
  9. 10 anos depois, estou lendo isso. Confesso que é surpreendente aforma como você expressa sua opinião de forma tão simples e tão complexa ao mesmo tempo. Sou ateia e poucas pessoas sabem disso, apenas alguns colegas meus sabem e um deles também é ateu, os demais são evangélicos e mesmo tendo suas crenças eles concordam como a igreja influencia na vida das pessoas que buscam conforto espiritual, mesmo que seja com algo que não existe.
    meus parabéns pelo texto.

    ResponderExcluir