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terça-feira, 13 de julho de 2010

Normalidade.


Era domingo de noite, quase nove horas quando Meredite chegou. Ela hesitou um sengundo antes de colocar a chave na porta, mas quando o fez, girou-a de uma vez só, decididamente.
Ela entrou em casa arrastando a mala de rodinhas, caminhou tranquilamente até a estante perto da porta, deixou a chave no claviculário, encostou a mala na parede, respirou fundo, e entrou na sala.
Deitado no sofá, assomava a figura de um homem. Ele era alto, tinha cabelos pretos lisos cortados bem rentes á cabeça, uma estrutura física atarracada, sólida. Dormia pesadamente, roncando alto.
Na mesinha de centro, á frente do sofá, várias latas de cerveja e sacos de salgadinho vazios, cinzeiros cheios, e anéis d'água, provavemente suados pelas latas quando estavam cheias e geladas.
Ela pensou no quanto aqueles anéis d'água a teriam revoltado algumas semanas atrás, quando ela podia se dar ao luxo de se preocupar com tais bobagens, quando sua vida fazia sentido.
Agora, ali estava ela, parada no meio de sua sala, ela nem sequer tinha certeza se ainda podia chamar aquela sala de sua, olhando com tristeza para o que fora a sua vida.
Ela andou até o quarto, onde abriu o armário e começou a sacar de lá as roupas que lhe pertenciam. Dobrou e empilhou as peças sobre a cama, foi até o gaveteiro, de onde subtraiu suas roupas íntimas e meias, capturou os sapatos do fundo do guarda-roupa, e os colocou, também, sobre a cama.
Ela fazia tudo mecanicamente, olhando unicamente para seu próximo objetivo. Andou até a penteadeira e apanhou perfumes, cremes e maquiagens. Colocou tudo junto à suas demais posses. Sentou na cama e respirou fundo, novamente.
Estava dando um grande passo, estava abandonando uma vida que contruíra ao longo dos últimos anos, que lhe demandara esforço, abnegação e comprometimento, mas, subitamente, nada mais daquilo fazia sentido. Não depois do que acontecera.
Apanhou a pilha de cima da cama, e andou de volta pra sala, andando a passos rápidos, em direção à sua mala.
Ajoelhou-se do lado da mala,a briu-a e enfiou suas coisas lá dentro sem muito método. Fechou a mala com pressa e se levantou. Assim que se pôs de pé oviu a voz que a fez gelar.
-Meredite?
Era ele, o homem que acabara com seus sonhos com meia dúzia de palavras depois de três anos de casamento. Ela titubeou, mas acabou virando para encará-lo. Quiçá pela última vez.
-Oi, Rodolfo. Só vim pegar umas coisas... Não queria te acordar.
-Meredite, o que foi? Por que tu tá indo embora?
-Ah... Depois de tudo que aconteceu... Eu não achei que... Sei lá.
-Amor. Isso ficou pra trás. Volta pra mim. Tudo vai voltar ao normal. Prometo.
-Mas e... E aquilo?
-Acabou. Acabou.
Ela fez uma cara de quem não acreditava.
-Sério. Acabou. Acabou hoje de tarde.
-Então...
-Acabou, amor. Espanha campeã. Na prorrogação. Gol do Iniesta.
-Posso voltar, então?
-Tu nunca precisava ter ido embora.
-Ah... Tá bem, então.
-Vem, vem desmanchar essa mala, vamos tocar a vida.
-A gente precisava comemorar.
-Tá bem. Vamos sair pra comer. Mas depois do Fantástico, que eu quero ver as matérias sobre a final.

Normalidade é isso aí.

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