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quinta-feira, 14 de abril de 2011

Aquilo que cativas...



Chovia em Porto Alegre, mas não estava frio. Era de manhã bem cedo. O Everton e o Acássio estavam sentados juntos na sacada da casa do Acássio conversando e vendo as lâmpadas de mercúrio iluminar de amarelo as poças d'água naquela manhã escura.
-Eu não vou dizer. - Falou o Everton.
-Tu que sabe. - Respondeu o Acássio ainda olhando pra luz que emanava dos postes.
-Não vou. Não vou, mesmo.
-Tá bem.
-É ridículo. Mesmo na minha situação é... É...
-Ridículo? - Arriscou Acássio.
-É!
-Tá bom.
-Eu não sou misse, nem nada pra citar Saint-Exupéry...
-Nunca entendi essa alusão às misses...
-Bom, te garanto que não é elogiosa.
-OK. - Concordou Acássio, sem muita certeza.
-Se fosse pra citar Nietzsche. Nietzsche, sim. Nietzsche é a minha cara. Niilismo de modo geral, cínico, descrente... Cioran, talvez, Sartre, Camus...
-Quem são esse Nite e esse Siorrã? - Perguntou Acássio, confuso.
-Pesquisa no Google.
-Bom, de qualquer modo, é tu que sabe.
-É isso aí. Sou eu que sei. Era só questão de tempo, eu acho...
-Pode ser. - Assentiu Acássio, vago.
-Não posso ficar pensando nisso.
-É... - Suspirou Acássio.
-Tenho que partir pra outra.
-Arram. - Bocejou Acássio.
-Esquecer de tudo.
-..."das dores do mundo" ... - Cantarolou Acássio.
-Meu Deus do Céus, qual é o problema com as tuas referências, criatura?
-Desculpa, desculpa.
-...Enfim...
-Enfim.
-Eu vou indo. O monólogo tá muito interessante, mas eu tenho que trabalhar e tô caindo de sono.
-Bom trabalho, parceiro.
Ewerton levantou, colocou a mochila nas costas.
-Mas ele tinha razão, sabe? O Saint-Exupéry...
-Tinha? - Perguntou Acássio, surpreso.
-Sim... A gente é eternamente responsável. - Confirmou Ewerton. - Mas se tu contar pra alguém que eu disse isso eu racho a tua cabeça.
E saiu de mochila nas costas, deixando atrás de si um Acássio esperançoso pelo amigo.

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