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quarta-feira, 27 de abril de 2011

Não tenho medo.


-Do que tu tem medo? Eu não tenho medo de nada. Nada. Eu nunca sinto medo. Ás vezes fico apreenssivo. Mas medo? Medo não. Tu nunca vai me ver assustado. Se tu duvida eu tenho fotos minhas andando na Fire Whip do Beto Carreiro. É hilário, todo mundo em desespero e eu tranquilo, olhando em volta. Eu não tenho medo de nada. Nunca. Tu nunca vai me ver assustado. Tu nunca vai me ver encolhido de pavor. Nunca.
-Mesmo?
-Não. Eu tenho muito medo de uma coisa... Eu tenho medo de que as pessoas saibam como eu me sinto em relação à elas. Isso é um tipo de poder que não se pode sair dando pras pessoas. Nada pessoal, mas as pessoas são essencialmente más, sabe? Quem vai saber o que elas farão com a informação e o poder nela contido? Eu não quero, nunca, que as pessoas saibam como eu me sinto em relação á elas. Por isso, talvez eu seja tão fechado.
-Só isso?
-Não... Eu também tenho medo que as pessoas me veja como eu sou de verdade. Sem os mecanismos de defesa, sem as barreiras, os bloqueios, eufemismos e a distância que a etiqueta sugere. Eu tenho medo que tu perceba que eu sou um sujeito bobo, que ri de gargalhar, que ás vezes desafina a voz quando fala empolgado sobre alguma coisa, que ás vezes não sabe o significado de uma palavra, ou a origem de uma expressão ou a data exata de um efeméride histórico. Eu não quero que tu veja o meu cabelo bagunçado de manhã, e me veja mancar com a perna dormente até o banheiro pra fazer xixi e pense "Meu Deus, o que foi que eu vi nesse guri?", pois eu não acredito que exista um Deus pra te lembrar de alguma coisa pois eu nem sei o que tu pode ter visto em mim, e nem sei se tu, de fato, viu alguma coisa em mim, ou se tu parece gostar de mim não por algo que tu viu, mas por alguma coisa que tu não viu, e que eu não seja nada além da antítese de alguém que te feriu uma vez.
-Sabe... Quando tu começou a falar, tu disse "as pessoas", depois tu tava te dirigindo diretamente a mim.
-É. É tu que me mete medo, guria.

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