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terça-feira, 19 de abril de 2011

Rapidinhas do Capita


O Cardoso entrou em casa e anunciou pra Fernanda, sua esposa, e pra Marli, sua sogra:
-Como chefe da família e dono da casa, estou instaurando um novo sistema, aqui. A partir de agora, nós vamos operar como uma empresa de telefonia.
As duas não entenderam.
-Tu vai abrir uma empresa de telefonia? - Perguntou Fernanda.
-Não, não... Não foi isso que eu disse. Disse que iríamos operar como uma empresa de telefonia. No mesmo modelo de uma empresa de telefonia.
-Como assim? - Quis saber Marli.
-É assim, minha amada sogrinha. A partir de agora, nós três teremos planos de minutos. Nós ganharemos minutos de acordo com nosso tempo de serviço. Cada hora trabalhada equivalerá a um minuto. Por exemplo: Eu trabalho oito horas por dia, cinco dias por semana, isso me garantirá, inicialmente, cento e sessenta minutos mensais. Atividades que eu realize por fora, como por exemplo, preparar o almoço aos domingos, lavar a louça, levar o cachorro pra passear, etcetera, etcetera... Valem dobrado. No caso, uma hora preparando o almoço? Dois minutos mais. Uma hora passeando com o cachorro, dois minutos mais, e assim por diante.
-Mas como assim, Cardoso, tu vai controlar o telefone aqui de casa agora? - Quis saber a Fernanda, ainda intrigada.
-Não, meu amorzinho, não, tu sabe que eu mal uso o telefone! Eu me refiro a minutos de conversa entre nós.
-Como assim, entre nós? - Perguntou Marli, de olhos arregalados.
-Isso mesmo, sogrinha. Nós teremos um limite para falar entre nós. Poderemos conversar apenas se tivermos minutos disponíveis.
A Fernanda riu:
-Tá de brincadeira?
-Não, meu amor, não estou. É sério.
-Tu tá me proibindo de falar com a minha mãe? - Inquiriu Fernanda com uma sombrancelha erguida.
-Claro que não, meu amor, claro que não. Entre tu e ela, é como se fosse de Net fone pra Net fone. Vocês têm uma conexão que vem de berço, e eu não me atreveria a cortá-la. Entre vocês tá liberado.
-E digamos - Conjecturou Marli. - Que se fale além dos minutos permitidos?
-Aí, minha querida sogra, terá que se pagar por fora.
-Como assim? Tu vai querer dinheiro pra me deixar falar?
-Não, minha ingênua dona Marli. Através de privilégios, claro.
-Privilégios?
-Sim. A senhora quer usar o fogão pra fazer aquele delicioso souflé de chuchu? Uma hora de gás? Troque por um minuto de conversa. A senhora quer ver novela? Um minuto de conversa em troca de um capítulo. A senhora quer ler O Livro dos Espíritos antes de pegar no sono? Um minutinho de conversa em troca de uma hora de luz elétrica.
-Isso é um absurdo! - Exclamou dona Marli.
-Não é necessário se escandalizar, basta sair da minha área de cobertura, eu não sou um ditador. Podem ir conversar em qualquer lugar onde eu não ouça. A operação entra em vigor á meia noite de hoje.
E foi o Cardoso tomar banho. Quando se vestia no quarto a Fernanda entrou:
-A mãe disse que vai embora amanhã. Que talvez dois meses de visita fossem demais, mesmo.
-Mas já?
-Vai se lascar, Cardoso.
-Ó o tempo...

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-Não dá pra parar de pensar nela... É estranho. Eu penso nela quando acordo, antes de dormir, no trabalho, enquanto leio... O tempo todo, ás vezes, parece até que é demais, sabe?
-Sei...
-Mas ainda assim, é maneiríssimo.
-Tenho certeza.
-Mas eu fico meio assim... Eu não sei se vai dar certo. Entende?
-Por quê?
-Por minha causa. Eu tenho uma tendência destrutiva muito forte. Eu me afasto das pessoas e tenho tendência a criar perímetros ao meu redor pra garantir que, mesmo perto, elas não encostem, sabe como é?
-Não.
-Bom, é uma maneira figurativa de dizer que eu nunca me abro inteiramente.
-Ah...
-E por esse tipo de coisa, eu sei lá... Acho que ela pode acabar se cansando, entende? Eu não consigo me expressar direito, nem sei se tenho coragem, nem vontade de conseguir...
-Pra manter alguma distância?
-Sim.
-E por que isso?
-Não sei... Eu acho que, de alguma forma, eu nunca me sinto bom o suficiente pra uma relação. Eu queria ser mais, ser melhor, ser, olha a marmota... Perfeito, entende?
-Ninguém é perfeito.
-...
-Tu sabe disso, não é?
-Em teoria, sim, mas...
-O quê?
-Ela é. Até a raíz dos cabelos.

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-Bom dia, turma, eu sou o professor Vantuirson, e vou trabalhar com vocês a disciplina de química. Eu sei que muitos de vocês não gostam de química. Sei que alguns de vocês gostam de exatas e acham que química envolve muita experimentação, sei que outros de vocês gostam de humanas e acham que química exige muito cálculo, e sei que outros odeiam química por que o Renato Russo odiava. A gente já vai falar sobre isso, mas antes, pra eu conhecer vocês, vou fazer a chamada. Antônio?
-Aqui.
-Ana Paula?
-Presente.
-Beatriz?
-Presente.
-Corine?
-Presente.
Diego?
-Eu!
-Fernanda?
-Aqui.
-Gustavo?
-Presente.
-Heitor?
-Não veio.
-Jorge.
-Eu.
-Laís?
-Aqui.
-Maicon.
-Tô qui.
-Nair.
-Aqui, sôr.
-Paula?
-Presente.
-Rafaela?
-Matou aula pra ir no cinema!
-Rodrigo?
-Dá-lhe, Inter!
-Te controla, colorado. Sandra?
-Ela faltou, tá com cachumba.
-OK, obrigado. Tatiana?
-Presente.
-Thiago Albano?
-Presente.
-Uélington.
-Aqui.
-Vanessa?
-Aqui, psôr.
-Van... Vantuirson?
-Arram... Tu não tá sozinho no mundo.

Não importa a situação, é sempre bom ouvir isso.

3 comentários:

  1. Com certeza a Laís não reponderia a chamada,ela estaria dormindo em cima do Classificação Das Cadeias Carbônicas, cap 3 da apostila de química.

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  2. Não achei as rapidinhas são rapidinhas assim, mas curti muito. Especialmente a última, sensacional!

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