Desde que foi lançado o primeiro trailer de Cavalo de Guerra logo dava pra perceber que era uma arapuca.
Isso mesmo, uma arapuca. Uma armadilha, um plano engenhoso bolado por Steven Spielberg com a colaboração generosa de seu maestro de confiança, John Williams, para fazer a audiência chorar.
Foi nesse final de semana, após um jogo e um churrasquinho com os amigos que eu caí na arapuca de Spielberg. E quer saber?Eu não me arrependi.
Cavalo de Guerra narra as aventuras em que o cavalo Joey se envolve desde que era apenas um potrinho em Devon, na Inglaterra, até a sua vida adulta, quando é comprado por uma fábula pelo fazendeiro Ted Narracott (Peter Mullan) para ser animal de tração, embora seja um puro-sangue.Adotado pelo filho de Ted, Albert (Jeremy Irvine), Joey usa arreios e puxa arados até que Ted, endividado e em uma maré de azar, vê-se obrigado a se desfazer do animal para garantir o teto de sua família. Quem compra o cavalo é o capitão Nicholls (Tom Hiddleston), para ser sua montaria no conflito que se anuncia:
A Primeira Guerra Mundial.
A partir de então, Joey conhece os dois lados do conflito, em um momento nas mãos de alemães, no seguinte sob posse dos ingleses, e até sob a tutela de um fazendeiro na França. A história contada de forma episódica e cheia de núcleos que impede que as duas horas e vinte do filme se tornem cansativas vai sobrepondo os encontros de Joey com vários tipos em situações diversas (nesse sentido há que se destacar a ótima sequência em que o soldado inglês e o alemão se encontram no meio do caminho entre suas respectivas trincheiras), e é nesse período que Joey tem sua fibra testada até o limite, e então além.
Em que se pese que nesse longa Spielberg usa um dos artifícios mais manjados pra arrancar lágrimas (Faça um animal sofrer desgraçadamente por duas horas e vinte e seis minutos), Cavalo de Guerra ainda e um ótimo filme. Todas as qualidades que nos acostumamos a ver nos longas do fundador da Amblin estão lá, a cinematografia excelente, os enquadramentos bacanosos e o uso esperto da câmera, as transições estilosas, e até a trilha sonora de Williams, que já esteve em melhor forma mas ainda é um compositor de mão cheia.
Alie-se a isso um elenco numeroso cheio de atores competentes com destaque positivo para Emily Watson (como Rose Narracott), Tom Hiddleston e Niels Arestrup, e negativo para o jovem Jeremy Irvine (que não oferece muita coisa com seu Albert Narracott e é até meio irritante em alguns momentos), e as lindas sequências em que Joey corre, salta e arfa, e temos, sim, uma máquina de choro (Eu consegui manter os olhos secos até quase o final. Maldito seja, Spielberg), mas também entretenimento emocionante e de qualidade irrefutável.
As pessoas dizem que Spielberg não é mais o mesmo, mas olhando bem, em 2011 ele se aproximou bastante...
"Nós vamos ficar bem, Joey. Nós somos sortudos, você e eu. Sortudos desde o dia em que eu te conheci."
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