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segunda-feira, 2 de abril de 2012

Resenha Cinema: Um Método Perigoso


Eu sou um grande admirador de David Cronenberg.
O diretor canadense de filmes como A Mosca, Gêmeos - Mórbida Semelhança, Videodrome, Scanners - Sua Mente Pode Destruir, A Hora da Zona Morta, Crash - Estranhos Prazeres sempre teve sua filmografia ligada à violência explícita. Essa ligação de sua filmografia com uma qualidade gore chegou a lhe render o nada elogioso apelido de Barão do Sangue, mesmo que seus longas não fossem terrores slashers tradicionais. Muito pelo contrário. Cronenberg tem no seu cartel alguns ótimos suspenses, mas pelo que me lembro, o que mais se aproxima de um terror de fato na sua lista de filmes é a ficção científica A Mosca, coincidentemente aquele que é seu filme mais repleto de sangue, tripas e (muita) gosma.
A predileção de Cronenberg pela violência explícita, porém, sempre foi muito uma questão de estilo do realizador. Talvez uma crítica constante ao tratamento díspar que se dá ao binômio sexo e violência, duas facetas inerentes do ser humano, e onde, estranhamente, sexo escandaliza mais do que eviscerações...
De toda a sorte, o estilo de Cronenberg se refinou com os anos. Seus últimos filmes, o excepcional Marcas da Violência e o ótimo Senhores do Crime tinham, ainda, a presença tanto da violência explícita e altamente gráfica quanto o tratamento aberto da sexualidade. E, em seu novo trabalho, este Um Método Perigoso, o canadense voltou a tratar dos dois temas, e, á despeito de economizar em nudez (Quase nenhuma) e violência (pouca.), esse é provavelmente o seu trabalho que os abrange com mais franqueza.
No filme que adapta o livro A Very Dangerous Method, e a peça The Talking Cure, acompanhamos Carl Jung (Michael Fassbender) e seu trabalho empregando o método da psicanálise em Sabina Spielrein (Keira Knightley), uma jovem russa com tendências masoquistas, bem como sua relação com Sigmund Freud (Viggo Mortensen).
Em se tratando de um filme sobre psicanalistas, há que se ter em mente que Um Método Perigoso é um filme arrastado em diversos momentos. O roteiro, porém, é sólido, e embora pareça haver uma fixação do roteirista por tratar a relação entre Jung e Freud como uma parábola ao holocausto, isso não chega a incomodar. As interações entre os protagonistas são muito interessantes e bem desenvolvidas, se existe o peso da discussão de temas mais duros como as doenças psicológicas aceitação de suas características enquanto indivíduo e inveja, ainda há espaço para algumas ótimas tiradas sarcásticas, especialmente entre Jung e Freud, com sua fixação na ideia de que tudo está ligado ao sexo e seu conforto no papel de patriarcal autoridade máxima da psicanálise.
Aliás, Mortensen está excelente no papel, sem dizer nada, apenas parado lendo uma carta, o ator convence como pai da psicanálise mesmo antes de sua caracterização alcançar a imagem de Freud que todos conhecem. Michael Fassbender mantém sua série de boas performances recentes como um Jung humano e repleto de falhas de caráter. Keira Knightley, por sua vez, não chega no mesmo patamar dos colegas. Não que lhe falte empenho, aliás, pelo contrário. A gatinha inglesa se esforça tanto que acanastra sua Sabina Spielrein, especialmente no primeiro terço do filme, quando ela está internada. Seus trejeitos exagerados com direito a gestos desconexos e uma projeção de queixo de deixar Marlon Brando e Brad Pitt com inveja não convencem, mas certamente não estragam o filme, e, depois que Sabina se livra de sua condição, Keira melhora bastante, também.
Há ainda a interessante participação de Vincent Cassel, como Otto Gross, psiquiatra psicótico que foi paciente de Jung e inspirador da teoria bleueriana da esquizofrenia.
Enfim, Cronenberg mostra que amadureceu, e que apesar de ainda ter predileção por sexo e violência, tornou-se um diretor competente o suficiente para tratar dos temas sem a necessidade de grafismos chocantes.
Palmas pra ele.

"Ás vezes temos que fazer coisas imperdoáveis... Apenas para sermos capazes de continuar vivendo."

Um comentário:

  1. Um dos filmes onde a psicologia está presente. Este eo assunto da hipnose são dois dos que eu gostaria de ver em algumas produções, um exemplo é a nova série série O Hipnotizador, uma história em que um homem revela segredos através desta prática, o melhor neste 2015. como recomendado

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